Saga Sillentya: as Sete Tristezas escrita por Sunshine girl


Capítulo 15
XIV - Visitas


Notas iniciais do capítulo

postando em plena seis da manhã...

ainnn q nervo hoje eu fico até as oito!! (alguém me salva!!)

capítulo com um pouco de suspense e sustos!!!

e a volta de alguém q andava sumido... e por favor não me matem!!!

ah sim, e quem recomendo a música foi a Juliacalasans, obrigada msm, ela me ajudou e muito a ter inspiração pra esse cap.!!!

Boa leitura!!!



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Capítulo XIV – Visitas

“Não se vire

 (Não se entregue a dor)

Não tente esconder

(Embora eles estejam gritando o seu nome)

Não feche os olhos

 (Deus sabe o que há por trás deles)

Não saia da luz

(Nunca durma, nunca morra)”.

(Evanescence – Whisper)

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Na sexta-feira tudo correu de forma tranqüila, é claro que Aidan e eu nos sentamos à mesa no refeitório, e isso deixou a todas as meninas emburradas, lançando-me olhares homicidas, Peter permaneceu irritado como na quinta e Tamara, bem Tamara insistiu novamente naquele assunto de me repartir ao meio com ele.

E mais uma vez eu me encolhi na carteira, receosa de que ela levasse aquilo ao pé da letra.

E quando para a alegria de todos o final de semana finalmente chegou, ninguém conseguiu esconder a satisfação por mais uma semana ter se encerrado.

Mais uma vez aquela rotina estranha repetiu-se, Aidan e eu ainda passávamos muito tempo na companhia um do outro. No sábado nós estivemos perto um do outro durante quase todo o dia. Até que no fim de tarde, com o sol se pondo no horizonte, ele se despediu de mim, prometendo regressar à noite para mais uma vez proteger-me enquanto eu dormia.

Minha rotina seguiu-se completamente normal, a não ser quando minha mãe telefonou do hotel para mim, obviamente querendo saber notícias minhas.

- E então como está a escola? – perguntou-me ela, meus dedos brincavam com uma mecha de meu cabelo, enquanto eu me espreguiçava na cama.

- Está ótima. – murmurei de forma monótona e meio sonolenta.

Minha mãe riu do outro lado da linha.

- Espero que não esteja se metendo em encrencas.

- Pode confiar em mim, mãe, do jeito que as coisas andam eu nunca mais aprontarei nada.

- Eu realmente espero que isso aconteça. – comentou ela de forma engraçada.

Tentei mudar o rumo de nossa conversa, distraindo-a de meu comportamento rebelde do passado.

- E como está a exposição? – perguntei-lhe, não que de fato eu estivesse interessada, mas minha mãe gostaria de dividir com alguém a sua experiência "maravilhosa".

- Ah, querida, você devia ver! Quantas flores lindas e exóticas eles expuseram! Uma mais bonita do que a outra!

- É, eu posso imaginar.

Ajeitei-me sobre o colchão, mudando de posição. Não parecia que aquela conversa terminaria tão cedo.

- Estou com tantas saudades de você! – reclamou ela, e eu ri um pouquinho.

- Eu também estou, mãe.

Ela suspirou do outro lado da linha, parecendo desolada.

O assunto havia acabado, e eu achei estranho que minha mãe não tivesse iniciado outro. Espere, aposto que ela estava chorando, minha mãe era muito sensível nesses aspectos.

Senti que ela não começaria outro assunto, então resolvi fazer um favor a ela, e estava prestes a comentar sobre algo banal, apenas para distraí-la, quando três leves batidas soaram na porta no andar de baixo.

A casa estava tão silenciosa que eu pude ouvi-la claramente. Sentei-me na cama, hesitando, eu devia atender?

Uma pequenina parte de mim lembrou-me que agora eu era um alvo para um certo desertor rebelde, mas a outra me lembrou que se fosse de fato um Mediador, ele colocaria a porta ao chão e não teria batido nela.

A razão prevaleceu então sobre os meus temores, e eu lancei minhas pernas para fora da cama, ainda com o telefone na orelha direita.

- Mãe, a senhora pode aguardar alguns minutos? Tem alguém na porta.

Minha mãe iniciou o que seria uma série de reclamações, mas depois desistiu.

- Só não demore muito. – ela pediu-me.

- Tudo bem. – assenti e depositei o telefone no colchão, descendo as escadas como um míssil.

Talvez eu ainda tivesse esperança de que fosse Aidan, o que contrariava é claro o seu modo peculiar de entrar na minha casa, não que eu o soubesse, na verdade eu fazia questão de não sabê-lo.

Minha mão flutuou até a maçaneta e eu a abri, encontrando a figura que decidira visitar-me em uma hora tão inusitada.

Reconheci os traços daquele rosto, o cabelo cor de bronze, os olhos verdes.

- Peter! – exclamei, surpresa.

Ele acenou um pouco tímido e depois sorriu.

- Oi, Agatha.

Eu ainda não acreditava que era Peter, plantado na porta de minha casa no sábado à noite. Permaneci estarrecida por mais alguns segundos, antes que sacudisse minha cabeça e ordenasse meus pensamentos.

- Oi. – fora tudo o que eu consegui murmurar. Era incrível o que aqueles dois irmãos conseguiam fazer, um praticamente obrigava a secretária a passar meu telefone e o outro se sabe lá como havia conseguido meu endereço!

- O que está fazendo aqui? – perguntei a ele, Peter pareceu ruborizar um pouco, depois seus olhos oscilaram entre minha face e a sala de minha casa, ele parecia estar procurando por algo ou talvez alguém.

Ele passou a mão no cabelo desgrenhado, depois suspirou, o rubor ainda ardia em suas bochechas.

- Bem, eu só queria... só queria saber, se você... gostaria de sei lá, sair comigo... agora.

- Ah! – exclamei, esse fora o primeiro convite para sair que eu recebia de um garoto. E aquilo era muito estranho.

Mordi meus lábios e minha mão apertou a maçaneta da porta. Eu não queria magoá-lo, mas também não queria sair com ele. Não haveria maior anomalia no mundo do que eu em um encontro com um garoto.

Então optei pela opção mais fácil: inventar uma desculpa.

- Olha, Peter, bem eu, eu não posso.

- E por quê não? – perguntou-me ele, claramente decepcionado.

- Muito dever de casa. – menti, pareceu-me a melhor desculpa para não magoá-lo muito.

- Ah! – ele exclamou, mas depois sorriu – Mas em pleno sábado à noite?

- Pois é, eu sempre deixo tudo para a última hora.

Peter passou a mão pelos cabelos mais uma vez, nervosismo?

- Ah, tudo bem então. Quem sabe outro dia.

- É, quem sabe. – murmurei, torcendo para que ele realmente não entendesse isso como se eu realmente quisesse sair com ele.

- Te vejo na escola segunda. – murmurou ele.

- Te vejo na segunda. – concordei e vi sua figura afastar-se de mim, cabisbaixa, enquanto seus pés praticamente se arrastavam pela frente da minha casa.

Fechei a porta e suspirei aliviada. Eu havia me livrado de uma boa agora. Subi as escadas novamente, minhas mãos apanharam o telefone novamente, minha mãe devia estar furiosa por eu tê-la feito esperar.

- Pronto, mãe.

- Quem era? – perguntou-me ela, a curiosidade tinindo em sua voz.

- Era só um colega de escola. – murmurei despreocupadamente.

- Só um colega de escola? – questionou-me ela. E só então percebi que havia usado a palavra tão temida por minha mãe: garoto.

- É. – assenti, temendo que ela iniciasse uma verdadeira discussão pelo telefone, mas para a minha total surpresa ela riu do outro lado da linha e eu fiquei chocada.

- Ele é bonito? – perguntou-me ela, ainda rindo.

- Mãe! – eu a repreendi.

- O que foi, querida? É completamente compreensível, você tem 17 anos, é linda, isso é normal!

Tive que tossir para não engasgar.

- Como é que é? – minha voz saiu meio estrangulada.

- Ora, o que foi? Não posso incentivar minha filhinha a paquerar um pouco?

- Não! – minha resposta foi objetiva.

- Ah, não se preocupe, você sempre será o meu bebê! Não importa se tiver um namorado, ou quem sabe uma fila de pretendentes.

- Mãe, eu não tenho uma fila de pretendentes!

Minha mãe riu novamente, divertindo-se às minhas custas. Por que todos criavam esse hábito tão desprezível ao meu ver?

- Tudo bem, meu amor, se você não quer falar de garotos, não vamos mais falar de garotos.

- Obrigada. – soltei, aliviada de que a parte constrangedora tivesse acabado.

- Mas você realmente não tem alguém em vista? – minha mãe perguntou, claramente querendo encerrar o assunto com a minha resposta.

- Er, mãe...

Hesitei. O que eu devia falar para ela? Eu devia simplesmente mentir? Ou eu devia contar a verdade, de que o único garoto que conseguira mexer comigo fora um italiano, com 150 anos de idade e caçador de uma sociedade de seres místicos que se comunicam com espíritos.

Eu podia notar a impaciência de minha mãe do outro lado da linha e estava prestes a respondê-la quando algo me deteve.

As luzes de meu quarto falharam, piscando, para depois apagar por completo, deixando-me no escuro.

O telefone ficou mudo e meu coração acelerou de imediato. Minha respiração ficou pesada, difícil, e eu tive de lembrar a mim mesma de que devia manter a calma.

Depositei o telefone sobre o colchão novamente e deslizei para fora da cama, atenta a tudo o que pudesse mover-se ao meu redor. Mas com tanta negridão eu mal enxergava meu quarto.

Caminhei em passos curtos até a porta de meu quarto que estava recostada. Minha mão trêmula alcançou a maçaneta e com leveza e o máximo de cuidado eu a empurrei, revelando o corredor escuro e mortalmente silencioso.

Hesitei na soleira da porta, meus pés parecia ter sido fixados no assoalho, eu não conseguia me mover.

Estava petrificada pelo medo.

Engoli em seco e passo por passo, avancei.

Cruzei o estreito corredor, apoiando uma de minhas mãos na parede. Algo em minha mente lembrou-me de que eu havia perdido minha única lanterna no incidente de pouco mais de um mês atrás, então a escuridão seria a minha única companheira.

Estaquei diante do alto da escada. E o som de algo sendo derrubado no chão e partindo-se em vários cacos sobressaltou-me; eu não estava sozinha ali.

Cerrei meus olhos e minhas mãos prenderam-se ao corrimão da escada.

- Tem alguém aí? – perguntei, todo o meu ser rezando para que respondessem.

Mas não houve resposta e o silêncio ainda prevalecia naquela casa completamente escura. Pelas janelas da sala uma leve incidência de luz, raios prateados do luar, penetravam, banhando todo aquele ambiente no andar de baixo e dava uma coloração um tanto azulada aos cômodos.

- Acalme-se, Agatha, não é nada. – sussurrei para mim mesma, tentando manter meu autocontrole e minha sanidade incólumes.

Meu pé esquerdo desceu o primeiro degrau, todo o meu corpo estava trêmulo pelo medo, pelo pavor.

O barulho que eu acabara de ouvir parecia ser oriundo da cozinha, então criei coragem e vagarosamente desci os degraus da escada, minhas mãos ainda se prendiam ao corrimão.

Parei novamente quando os degraus acabaram e eu estaquei no assoalho da sala. Estava silencioso novamente.

Girei meu corpo para a esquerda, caminhando sigilosamente, tentando abafar o som de meus passos pela casa.

Adentrei a cozinha, e meus olhos logo notaram o vaso de vidro, ou pelo menos o que restara dele, espatifado em centenas e mais centenas de caquinhos.

Minhas mãos voaram até a o faqueiro em cima da bancada da cozinha e meus dedos fecharam-se ao redor do cabo da lâmina afiada e brilhante.

Puxei-a do suporte, lentamente, aquela seria a minha única chance de defesa.

Empunhei a lâmina afiada e prossegui em meu trajeto, rumando na direção dos fundos da cozinha. A escuridão ainda prevalecia por toda a casa e eu tive de reunir toda a minha coragem para continuar vasculhando-a.

Foi quando um outro som sobressaltou-me, vindo de trás da pequena cortina que cobria as janelas da cozinha, acima da longa pia.

Algo se mexia lá atrás.

Aproximei-me cautelosamente, medindo cada passo, certificando-me de que era seguro, meus sentidos estavam atentos a tudo.

Meus olhos conseguiram focalizar o pequeno e estranho volume que se agitava e se debatia por trás do tecido, tentando libertar-se.

Minha mão livre flutuou trêmula até o tecido da cortina e meus dedos agarraram-no cuidadosamente.

Meu coração sofreu um solavanco, e eu ofeguei, mas com muito cuidado puxei o tecido, revelando aos poucos a vidraça da janela.

E então a coisa voou em minha direção.

Abaixei-me, e só então percebi que se tratava de um pombo.

Ele voava por toda a cozinha, chocando-se contra as paredes e os armários, andei um pouco abaixada até a janela e a abri, esperando que ele encontrasse a saída.

O pombo ainda voava atordoado por todo o cômodo, e tive de me abaixar ainda mais para não ser atingida por seu vôo desajeitado.

Parecia que aquilo nunca teria fim, então decidi intervir ao favor da ave. Rastejei-me praticamente, esperando pela oportunidade perfeita para apanhá-lo. E minha oportunidade surgiu quando ele, cansado demais para continuar voando pelo cômodo, pousou em cima da bancada da cozinha.

Agarrei-o, tomando cuidado para não feri-lo com a faca que ainda se encontrava em minhas mãos e então corri de volta à janela onde o lancei para fora, o pombo alçou vôo, desaparecendo de minha vista na negridão da noite.

Fechei a janela e passei a tranca, respirando aliviada. O pombo devia ter entrado pela tarde, antes que eu tivesse fechado toda a casa e devia estar debatendo-se a um bom tempo.

Julguei-o também o responsável pelo desastre com o vaso de vidro de minha mãe, ela não ficaria nada contente com isso.

Tentei estabilizar minha respiração e acalmar meu coração, embora o pombo não pudesse ser considerado o responsável pela queda de energia em minha casa, muito menos pelo telefone ter ficado mudo.

Eu ainda estava com as duas mãos apoiadas na pia, a faca jazendo em uma delas, quando um calafrio subiu por minha espinha, arrepiando todo o meu corpo.

E então eu senti uma estranha presença atrás de mim. Não estava perto exatamente, mas eu podia senti-la, todo o meu ser dizia-me isso e foi então que eu realmente fiquei apavorada, porque sabia que não estava mais sozinha naquela casa escura.

Meus dedos apertaram o cabo da lâmina, semicerrei meus olhos e deixei que minha respiração lenta fluísse livremente por meus lábios entreabertos.

Minhas mãos recuaram da superfície plana e lisa da pia de mármore, e eu me preparei para virar e encontrar aquela estranha figura.

Lentamente meu corpo girou, minhas mãos trêmulas suavam, todo o meu corpo tremulava pelo temor e eu esperava encontrar de tudo assim que me virasse totalmente. Eu esperava qualquer coisa, menos isso.

Fitei a silhueta envolta pela negridão, cabisbaixa, os olhos cerrados. Ele não havia mudado em nada desde a última vez em que eu o vira, um mês atrás.

Ele ainda trajava as mesmas roupas, embora elas parecessem estar mal conservadas e um pouco puídas e sujas, mas ele as usava, ainda.

A faca escorregou de minhas mãos, seu som ecoando por toda a cozinha, enquanto meus lábios escancaravam-se pelo choque e meus olhos esbugalhavam.

O espanto era tanto que eu mal raciocinava. Eu ainda não acreditava que estava vendo ele. Aquilo não podia ser real.

Durante todo esse tempo eu acreditara que ele estivesse morto, Aidan já havia me dito isso tantas vezes, que eu não poderia fazer nada por ele, que ele já estava morto. Mas, se ele estava morto, então como seu corpo poderia estar ali, bem diante de meus olhos incrédulos?

Porque quem havia retornado para a minha vida depois de um mês de separação, depois que aquele terrível incidente naquela noite negra havia nos separado, era Max, o meu amigo, o meu companheiro de todas as horas.

Seu semblante estava tão sereno, embora eu não pudesse enxergar seus olhos, e sua face estivesse abaixada, eu ainda assim conseguia ver a sua tranqüilidade, ou talvez eu estivesse enganada e fosse indiferença.

Não importava; Max estava vivo e bem.

- Max! – sussurrei, um sorriso formando-se em meus lábios. Eu queria correr até ele, abraçá-lo, dizer-lhe que sentira a sua falta, mas algo me impedia. Porque de certa forma, aquele não era o Max que eu conhecia, não o meu amigo.

Havia uma aura ameaçadora ao seu redor, algo medonho, maléfico. E essa aura repelia-me, causava-me calafrios, deixava-me apavorada, estarrecida.

Outra coisa que me incomodava era o silêncio, Max não dizia nada, e eu sabia que isso não era de seu feitio. Ele sempre fora tão comunicativo, espontâneo, e agora estava tão... tão silencioso.

Não me atrevi a aproximar-me dele, semicerrei meus olhos mais uma vez, havia algo de errado ali.

E minhas suspeitas confirmaram-se todas, quando muito que deliberadamente, vagarosamente, Max ergueu sua face, enquanto que suas pálpebras recuavam, revelando seus olhos, como as cortinas que se abriam para uma janela, a janela da alma.

E o pavor apanhou-me novamente, o susto fora tamanho que eu quase fui ao chão. Meus olhos arderam pela umidade, e eu ofeguei novamente diante do buraco negro que agora eram seus olhos. Eles estavam totalmente tomados pela negridão, como um poço sem fundo.

E eu sabia que aqueles eram os olhos de um assassino, de um monstro, de uma fera loucamente sedenta por sangue e carnificina. Aqueles eram os mesmos olhos para os quais eu, em uma noite trágica, olhei.

Os olhos de um ser condenado, tomado pelas sombras e pela escuridão. Aqueles eram os olhos de um Escravo das Sombras.

E Max havia se tornado um deles, agora seu corpo era recipiente para essas criaturas malignas, sua alma havia sido cruelmente extraída através de um ritual, e agora seu corpo era somente uma casca vazia, que serviria de morada para aquelas criaturas por toda a eternidade.

E todo o meu temor dissolveu-se, esmigalhou-se, esvaiu-se, e em seu lugar surgiu uma fúria incontrolável. Porque haviam machucado meu amigo, haviam o torturado, e agora sua alma estava perdida para sempre.

E tudo aquilo era culpa daquele maldito desertor.

Um rosnado bestial trouxe-me de volta a terra, e eu tornei toda a minha atenção para a criatura a minha frente, enquanto seus lábios curvavam-se sobre seus dentes e ele rosnava para mim.

Dei um passo para trás, recuando. A umidade ainda ardia em meus olhos, e meu desejo de ceder às lágrimas só era suprimido por minha fúria e minha compaixão a Max.

Max avançou em minha direção, seus passos eram curtos e rápidos, ele se movia como uma sombra.

Minhas costas encontraram a estrutura da pia, eu estava encurralada. Max aproximou-se de mim, e eu senti que suas íris negras poderiam devorar-me se quisessem.

E o temor retornou com todas as suas forças, impulsionou-me a circulá-lo com rapidez, enquanto eu me distanciava de sua figura, correndo.

Não olhei para trás enquanto corria, mas senti o ar agitar-se ao meu redor, Max havia se movido novamente, seguindo-me.

E então houve um forte puxão, Max puxou-me com força para trás e eu não consegui lutar contra ela.

Fui ao chão, mergulhando de barriga no chão frio. Caí próximo aos cacos de vidro do vaso e por muito pouco não me cortei em um deles.

Senti duas mãos agarrarem meus braços e virar-me de bruços, e novamente eu encontrei o semblante assustador de Max.

Ele segurou em minhas mãos, enquanto usava o próprio corpo para limitar meus movimentos e manter-me no chão.

Eu estava completamente imobilizada.

Tentei gritar, mas não encontrava forças. Minha voz parecia estar presa em minha garganta e o ar não chegava em meus pulmões.

Então Max soltou minhas mãos, liberando-as, para então as suas próprias, lançarem-se como serpentes, envolvendo meu pescoço, e exercendo uma forte pressão em minha pele.

Ele estava tentando sufocar-me.

Tentei lutar, mas não conseguia, suas mãos estrangulavam-me, roubando-me todo o ar. Eu me contorcia no chão, tentava me libertar, mas eram esforços inúteis, sua força era muito maior do que a minha.

Eu tentava de alguma maneira respirar, mas não conseguia. Parecia que havia uma pedra sobre a minha garganta.

Minhas mãos desesperadas vagavam pelo chão frio a procura de algo que pudesse detê-lo e quando se depararam com o imenso caco de vidro do vaso que fora quebrado não hesitaram em agarrá-lo com a maior força possível.

Ignorei a ardência que surgiu na palma de mão, segurei-o entre meus dedos e com força cravei o caco no pescoço de Max.

Ele gritou, mas era um grito diferente, parecia mais agudo e era insuportável.

Aproveitei a brecha que fora aberta e me livrei de suas mãos em meu pescoço, empurrando-o com violência de cima de mim. Larguei o caco e não olhei para a ferida que devia ter sido aberta em minha palma.

Levantei-me do chão, desesperada para sair de lá e corri. Cruzei a sala, apanhando a chave do carro, eu só tinha uma pessoa a procurar agora.

Porém, antes mesmo que eu pudesse chegar até a porta da frente, algo me agarrou por trás, puxando-me de volta para a escuridão.

Tentei libertar-me novamente, mas não conseguia absolutamente nada. Até que Max derrubou-me no carpete da sala, todo o peso de seu corpo sobre o meu novamente, até que duas mãos apareceram, agarraram Max pelas costas e o arremessaram com força para trás, seu corpo chocou-se contra violentamente contra a parede.

Essas mesmas mãos agarraram meus braços e puxaram-me para cima, os braços envolveram meu corpo de forma protetora, segurando-me perto de si.

Eu não precisei olhar para seu rosto para saber de quem se tratava, todo o meu ser já me dizia quem era o meu salvador e isso me trouxe uma alegria e um conforto imensos.

Meus olhos viram quando Max levantou-se de forma desajeitada do chão, seus olhos tornando-se ainda mais hostis na presença de Aidan.

E então ele rosnou novamente antes de avançar mais uma vez na minha direção e na dele.

Aidan usou uma de suas mãos para empurrá-lo de volta, derrubando-o novamente. Max ainda não havia desistido, porque tudo o que importava para ele era a carnificina, nada mais era levado em conta, este era o propósito de um Escravo das Sombras.

Então ele me soltou, sua mão deixou minha cintura, porém, com delicadeza empurraram-me para trás de seu corpo, protegendo-me atrás de si.

Uma de minhas mãos agarrou sua camisa, lançando-lhe um olhar de súplica.

- Por favor, não o machuque. – sussurrei.

Seus olhos amoleceram um pouco, mas não parecia que houvesse outra saída.

- Eu não tenho escolha, desculpe-me, Agatha.

O desespero tomou conta de mim e eu tremi somente de imaginá-lo machucando meu amigo como ele machucara os outros.

Eu ofeguei novamente quando vi Aidan caminhar passo por passo até Max, que ainda se encontrava um pouco atordoado no chão, porém, ele não hesitou ao levantar-se e investir na direção dele.

Mas Aidan moveu-se com maior velocidade, bloqueou os punhos de Max, e com um movimento sutil derrubou-o no chão.

Max tentou libertar-se da imobilização, porém mais uma vez foi detido por Aidan, e uma de suas mãos envolveram os olhos de Max, e em seguida duas palavras foram proferidas.

- Libertus serviras!

Max debateu-se violentamente após ouvi-las, todo o seu corpo agitava-se em espasmos violentos, enquanto Aidan ainda o detinha no chão.

Levei minha mão ferida até meu peito, só então notando a gravidade dos cortes na palma, o sangue jorrava pelas feridas, encharcando-a e escorrendo por meus dedos.

E depois de alguns segundos o corpo de Max parou de se debater, os membros jazendo no chão como se não tivessem nenhuma vida e ele desabava de encontro ao assoalho, como um boneco sem qualquer movimento.

Aidan respirou fundo, levantou-se e então seus olhos recaíram sobre mim, mais uma vez...

Com muito cuidado e leveza nos movimentos ele limpava os cortes na palma de minha mão, o sangramento já havia cessado, embora as duas linhas avermelhadas cruzassem-na de ponta a ponta.

Mas fora isso, eu estava bem. Eu estava sentada sobre o sofá branco da sala, a luz já havia retornado, e Aidan ainda cuidava de meus ferimentos, ajoelhado perante mim.

O corpo de Max ainda jazia largado no canto da sala, os membros estirados, os olhos cerrados. Aidan havia me dito que ele fizera uma espécie de exorcismo para banir o espírito que possuíra o corpo de Max e mandá-lo de volta para o plano espiritual.

Mas aquilo era temporário, pois uma vez que o ritual de extração era feito ele não poderia ser rompido e logo o corpo de Max seria habitado por uma criatura como aquela novamente.

Eu tentava ao máximo não perguntar a ele como faria para evitar que Max voltasse a se machucar ou voltasse a machucar outros, mas aquela dúvida estava corroendo-me por dentro e a angústia por saber que meus piores temores poderiam confirmar-se me apavorava.

 Esperei que ele terminasse o curativo em minha mão para enfim poder perguntar-lhe.

- Talvez eu devesse levá-la ao hospital, pode ser que precise de pontos. – murmurou ele, terminando de prender a gaze em minha mão esquerda.

- Não se preocupe, ficarei bem. – respondi-lhe.

Seus olhos buscaram os meus no mesmo instante e devemos ter permanecido nos fitando por longos segundos até que ele os desviou.

Aidan se levantou, caminhando lentamente até o corpo de Max. Segui seus passos, estacando atrás dele.

- O que pretende fazer? – perguntei a ele, temendo por sua resposta.

Ele respirou fundo por mais de uma vez antes de me responder e eu senti que naquele momento todos os meus temores haviam se confirmado.

- Não há nada que você possa fazer por ele. Já é tarde, Agatha. A única coisa que podemos fazer por ele agora é dar-lhe o descanso eterno.

- Realmente não há nada? – perguntei, as lágrimas formando-se em meus olhos e descendo como cascatas.

- Sinto muito. – respondeu-me ele.

Eu desabei depois de ouvir isso, e a dor que eu sentia naquele momento era algo totalmente sufocante, devastador. Porque eu sabia que nada poderia ser feito para salvar meu amigo.

Com minha mão boa limpei as lágrimas que desciam por meu rosto e tornei a fitar o rosto rígido de Aidan.

- E o que você pretende fazer com ele?

Ele se aproximou de mim, seus olhos voltando a serem cautelosos enquanto ele, passo por passo, caminhava na minha direção.

Ele estacou a poucos centímetros de mim, seus olhos sondavam-me, analisando-me por um tempo interminável.

- Eu tenho que destruir o corpo dele, Agatha. Tenho que queimá-lo.

- O quê? – eu perguntei a ele, o choque moldando as minhas feições e assumindo o lugar da dor.

- É a única maneira de evitar que o corpo dele acabe sendo possuído novamente.

Respirei fundo, tentando fazer o ar chegar até os pulmões, mas aquela dor estava sufocando-me.

- Eu sei o quanto ele é importante para você, e se houvesse algo que eu pudesse fazer para reverter tudo isso, eu o faria com o maior prazer, não importasse o preço, mas o fato é que não há.

Assenti com um gesto, minha voz havia desaparecido em meio a tanta dor. Enquanto que mais lágrimas desciam como jatos pelo meu rosto.

- Desculpe-me por isso. – murmurou ele, a voz tristonha.

E então eu sustentei meu olhar, encarando-o diretamente. E mais uma vez sua face demonstrava tanta compaixão pela minha dor, tanta amargura, que eu não consegui conter aquele impulso, muito menos refreei meus atos.

Sem dizer absolutamente nada, eu me lancei em sua direção, minhas mãos buscando seu corpo forte, a minha fortaleza, o meu lugar seguro e minha cabeça repousava gentil em seu ombro largo.

Nossos corpos chocaram-se e eu notei que ele estranhou um pouco meu comportamento, mas depois ele simplesmente cedeu, seu corpo enrijecido amoleceu, seus braços hesitantes buscaram minha cintura, envolvendo-me protetoramente e sua face repousava em meu pescoço, sua respiração quente chocou-se contra minha pele sensível, inspirando em meus cabelos.

E ele apertou-me gentilmente contra o seu corpo, e permanecemos abraçados por um tempo que ao meu ver pareceu interminável. Talvez porque eu estivesse em seus braços, talvez porque eu me sentisse segura, sentisse-me completa e absolutamente feliz.

Seu cheiro reconfortava-me, trazia-me alívio, era como escapar desse inferno que eu vivera por dezessete anos. Era como um cego ao encontrar a luz, um condenado encontrando a sua salvação.

E ter o calor de seu corpo ao meu redor era como a chegada da primavera após um longo e frio inverno. Era como ter todo esse gelo derretido ao meu redor. Era como encontrar um refúgio da turbulenta tempestade. Era como encontrar o oceano de águas tranqüilas e suaves mais uma vez. Era como deixar o olho do furacão e finalmente encontrar a paz.

Porque éramos apenas eu e ele. E mais ninguém.

Éramos nós dois, abraçados, entrelaçados, juntos. E mais nada importava para mim.

Nem mesmo se os céus desabassem sobre nossas cabeças, nem mesmo se todas as estrelas caíssem sobre nós, nada conseguiria abalar a paz que eu estava sentindo naquele momento.

Inspirei seu cheiro mais uma vez, certificando-me apenas de aquilo era real e então me afastei.

Suas mãos moveram-se de minha cintura até a minha face, onde seus dedos trataram de enxugar as lágrimas que ainda corriam por meu semblante.

Seus olhos ardiam de uma forma diferente, brilhavam com uma intensidade diferente enquanto seus olhos continuavam a me sondar.

- Está pronta para fazer o que for preciso? – perguntou-me ele.

Minhas mãos flutuaram até as suas que seguravam em minha face, eu as segurei, envolvendo-as com meus dedos e finalmente lhe respondi.

- Sim, eu estou pronta para fazer o que for preciso.


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Notas finais do capítulo

espera... minha vez de surta!!AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!!tudo bem, passo!!!que fofooo!!!! nhaaaa Agatha sua sortuda!!!! eu é que quero abraça um homem desse!!!! RSRSRSRSRSainnnn e aqui em casa nunca entro um pombo, mas já entro um morcego!!! e eu é claro me tranquei no banheiro e não sai de lá até que o dito cujo tivesse ido embora!!!ahhhhhh pobre Max!!! e pobre Agatha!!! ainnn eu so muito má!!!*xora rios de lágrimas* Adeus, Max, foi bom te conhecer!!!ahhhhh mas agora é bola pra frente!!! e bem eu tenho que confessar algo...*pigarro*preparem-se pq o primeiro beijo está perto!!!AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!!pronto já to melhor, agora que dividi isso com vcs!!ainnn e essa semana eu vou estar mais ocupada do que nunca, se não bastasse o técnico no meu caminho(como sempre) essa semana eu vou começar a procurar o meu vestido de formatura...*frio na barriga*o pior é que eu vou prestar vestibular dois dias depois da formatura!!!*mais frio na barriga*uiiii que medo!!! mas então, voltando, eu axu q essa semana o cap. vai demora mais pra sair, mas se for preciso eu vou correr contra o tempo para trazer ele!!! Até a próxima!!!!Beijoss