Na ausência de uma atitude impulsiva por parte dele, eu decidi tomar sua vez e dando dois passos à frente o abracei. Senti minhas bochechas ficarem quentes e meu coração acelerar.

- Eu não podia mais esperar.

- Por que veio? – ele me perguntou de forma direta e seca.

Não gostei do tom de sua voz.

Afastei-me de seu corpo e o encarei brava. Não importava se teríamos que trocar a ordem das coisas, se ele queria começar com o sermão, eu estava preparada para rebatê-lo.

- Residência em primeiros socorros e atendimento em Traumas. Seis meses por dois anos. Assim vou adiantar o término do meu período de residência.

Esse era o meu motivo secundário para ter ido ao Afeganistão.

- Aqui é muito perigoso você, Sakura!

- E para você, não é?

A voz dele repentinamente ficou mais alta e forte.

- Não deveria estar aqui, Sakura. Você...

- Pode morrer?  - eu o interrompi. Ao ouvir minhas palavras seus olhos se entristeceram – Será que é isso que o destino me reserva? Morrer em meio a essa guerra? Pois saiba que eu não tenho medo de morrer. Eu já vi a morte perto o suficiente de mim tantas vezes que...

Num movimentoimpulsivo e rápido, Naruto me tomou em seus braços e começou a acariciar meus cabelos.

- Eu não quero te perder...

O nó volttou a minha garganta. Apoiei meu queixo em seu ombro e agarrei sua jaqueta.

- Então me proteja, como você disse que sempre faria – eu disse num tom de voz bem sério.

Pensei em contar-lhe que longe dele eu estava morrendo aos poucos. Queria dizer-lhe que a minha fobia a tempestades havia piorado e que por conta disso eu fui obrigada a ir a um psicanalista, também queria dizer-lhe que numa sessão de regressão eu descobri que o meu maior medo não era das tempestades, e sim de perdê-lo. No entanto, eu não disse nada porque isso somente traria um sentimento de culpa a ele.

Comecei a abrir os primeiros botões da camisa branca que eu vestia, ele me olhou sem entender o que estava se passando.

- Sakura...  – o rosto dele ficou corado.

Afastei um lado da camisa para o lado e mostrei o colar com o pingente transparente de floco de neve e o anel de ouro com pedra de rubi.

- Não vou me afastar nunca mais de você... Eu não vou embora...

Dando dois passos largos em minha direção, ele me abraçou e eu chorei.

- Naquela cabana a beira-mar, eu disse que eu viria...

Seus lábios rapidamente capturaram os meus e me impediram de continuar falando. Havia tanta saudade e medo em nosso beijo.

De repente escutamos passos que se aproximavam. Joguei meu corpo para trás para nos afastarmos. Separei meus lábios dos dele com urgência.

- Soldado o que faz aqui? – perguntou um coronel para Naruto que prontamente havia se posto numa posição ereta e firme.

- Eu estava...

O coronel olhou para mim e notei que ele fixou seu olhar em minha camisa branca aberta, discretamente a fechei e sorri.

- Esse soldado estava me ajudando a achar o caminho ao meu alojamento. Eu a nova médica residente.

O coronel voltou o seu olhar para Naruto.

- Assim que ajudar a moça, volte direto para o seu próprio alojamento. Não se esqueça de amanhã sairá em missão logo pela manhã.

Naruto bateu continência.

- Certo.

O coronel se pôs a andar dando passos largos e firmes. Eu vi Naruto pouco a pouco exibindo uma expressão der alivio a medida que o coronel se afastava.

- Ufa! Pensei que o velho fosse me dar um sermão.

Minha voz ficou repentinamente baixa e triste.

- Somos bons em esconder dos outros os nossos sentimentos... Em dissimular qualquer situação que possa nos comprometer...

- Não precisamos esconder de ninguém o que sentimos.

Eu olhei-o assustada.

- E por uma acaso pretende sair e contar a todos que eu sou a sua irmã e que estamos apaixonados?! – perguntei um pouco irônica.

- Você é a minha noiva.

Eu abri um sorriso terno.

- Quando voltarmos, você deverá fazer o exame de DNA que comprovará que nós não somos irmãos. Eu falei com o juiz, contei a ele a nossa história.

- Contou ao juiz?! – Naruto quase para trás com o impacto da noticia.

- Não quero mais esconder a verdade sobre nós.

- Mas e quanto a prisão?

- “O nosso segredo” é uma cela que eu construí e está me matando aos poucos. Não dever haver prisão pior que essa no mundo.

Os olhos azuis dele se tornaram ternos e ele tocou em minha bochecha com o dorso da mão. Erguendo minha mão direita eu segurei sua mão.

- Naruto, eu...

- Te amo, Sakura.

Eu sorri e disse baixinho.

- Eu tinha tanto medo de nunca mais ouvir você dizendo isso.

Soltei sua mão que caiu perpendicularmente ao corpo dele.

- O juiz entendeu a nossa situação e prometeu que deixaria tudo como estava até que você voltasse e tudo fosse acertado. Quando nós nos casarmos, ele lhe concederá o Green Card para que possa ficar nos Estados Unidos.

Naruto olhou de um lado para o outro se certificando que não havia ninguém nos espionando, e assim que se sentiu seguro, ele aproximou seu rosto do meu e trocamos um rápido selinho.

- Eu te levo até o seu alojamento.

- Espere. Tem algo que ainda não me contou – ele me olhou de forma questionadora – E quanto a sua missão amanhã? É perigosa?

Naruto riu e deu dois passos largos a frente, flexionou os joelhos e agarrou minhas coxas. Meu corpo caiu por cima de seu ombro.

- O que está fazendo, seu idiota? Me coloca no chão! – eu ordenei.

- Se ficar gritando, as pessoas vão escutar.

- Pois eu não me importo. Tomara que o coronel te deixe aqui lavando toda a louça dos soldados!

Ele ria como uma criança que recebera seu presente de Natal.

- A missão não vai ser perigosa. Além disso, não precisa se preocupar porque eu vou cuidar de você enquanto estiver aqui.

- Acho bom mesmo! – eu empinei o nariz - Isso é o mínimo que você pode fazer, afinal eu estou aqui arriscando a minha vida.

Foi a minha vez de sorrir de forma alegre.

Ele encostou sua cabeça em meu braço.

- Eu sempre vou te proteger.

Naruto me levou no colo até próximo ao meu alojamento. O acampamento estava vazio visto que todos os soldados pareciam estar confraternizando no improvisado pub. Nos despedimos com um aceno de mão e um sorriso nos lábios.