Na manhã seguinte quando eu e as novas enfermeiras fomos conhecer o hospital, Naruto já não estava mais no acampamento. Justo ele que odiava levantar cedo, naquela manhã havia saído antes do sol nascer.

Naruto e eu logo nos tornamos “nós” na voz de duas novas enfermeiras que vieram nos contar que alguns soldados haviam dito que me reconheceram das fotos que o Naruto tinha da “noiva”. Elas ficaram empolgadas dizendo que eu tinha muita sorte de poder estar ao lado da pessoa que eu amava. Preocupada, a única coisa que eu pedi foi que elas guardassem esse segredo, pois eu não queria que me mandassem para outro acampamento.

- Seremos suas cúmplices – uma delas me prometeu.

- Seu segredo está seguro conosco. Os soldados também prometeram não dizer nada.

E num momento de minha vida em que eu pensava que havia conseguido romper o fato do meu amor por Naruto ser um segredo, eu voltava recriar o “nosso segredo”.

O dia passou rápido entre uma explicação e outra do médico responsável pelo agrupamento. O Dr. KarK era um homem de idade avançada e bem experiente, ele me recebeu muito bem e não demonstrou nenhum preconceito por eu ser uma mulher e médica. O hospital improvisado em uma cabana de madeira contava com apenas 12 leitos distribuídos ladoa lado, separados apenas por uma cortina de pano azul, havia também muitos colchonetes que poderiam ser usados em uma emergência. Uma sala minúscula construída aos fundos da cabana servia de centro cirúrgico. Não havia muita variedade de medicamentos, mas os que haviam eram os essenciais para atendimentos de ferimentos dos mais diversos tipos.

À noite Naruto não voltou ao acampamento.  Eu queria perguntar a alguém sobre ele, queria saber onde ele estava e quando voltaria; porém “o nosso segredo” não me deixava perguntar.

A angústia aumentava à medida que a lua subia no céu. Não havia estrelas, apenas a lua reinava solene iluminando o breu da noite.

Não consegui dormir naquela noite, e ao amanhecer eu sentia os efeitos de uma noite em claro; meu corpo estava mole e meus olhos tinham dificuldade em se manterem abertos. Dois angustiantes dias se passaram sem que eu tivesse qualquer noticia do Naruto, e enquanto eu repousava após a refeição, sentada no galho de árvore em frente ao rio onde eu havia me encontrado com ele, fiquei refletindo se eu estava melhor em casa ou ali. Em qualquer lugar que eu estivesse, eu não tinha qualquer noticia dele, eu não sabia se ele estava vivo ou ferido.

Voltei para o hospital e trabalhei exaustivamente por toda à tarde. Ao atardeecer, enquanto voltava para o meu alojamento, eu vi um movimento alegre de soldados que haviam chegado ao acampamento, uma das enfermeiras do plantão noturno passou correndo por mim e rapidamente deduzi que havia algum soldado ferido. Meu coração saltou no peito e eu corri também até o grupo de soldados.

Para o meu alivio, eu logo vi Naruto sorrindo em meio aos companheiros. Havia apenas um soldado que havia se ferido no braço, os demais estavam bem, somente apresentavam alguns arranhões aparentes.

Meu coração se acalmou e eu senti vontade de correr para abraçá-lo, porém me lembrei que isso não era possível. Notei nos olhos dele, quando se encontraram com os meus, o mesmo desejo reprimido de me tomar entre seus braços.  

Girando os calcanhares voltei ao alojamento. Tomei um banho e vesti uma calça de moletom e uma camiseta branca. Sentada na cama fiquei folheando uma revista sem muito interesse.

- Dra Sakura – uma das enfermeiras veio correndo até mim, devo contar que era aquela mesma enfermeira que prometera ser minha cúmplice em esconder o meu relacionamento com Naruto.

- Kymberly, o que aconteceu?

Ela olhou para os lados, desconfiada que alguém pudesse estar nos ouvindo, e bem baixinho disse:

- Ele está te esperando perto do rio. Atrás do nosso alojamento.

Eu ri sem jeito, um misto de vergonha e felicidade.

- Como...?

Ela me interrompeu.

- Anda logo, doutora.

Levantei-me rapidamente e calcei o tênis que estava jogado ao lado da cama. Corri na direção indicada pela enfermeira. Passei pelo meio de um pequeno bosque de árvores secas e altas que havia na parte de trás do alojamento e alcancei a beira do rio depois de 10 minutos de caminhada, Naruto me esperava lá.

Minhas pernas tremeram um pouco, e tomando cuidado para não tropeçar nas pedras, eu fui até ele.

- Eu não acredito que você tenha feito isso! – eu estava furiosa e ao mesmo tempo contente por ele ter me feito encontrá-lo.

- Mas você pediu que eu viesse – ele disse de maneira inocente.

- Eu não pedi nad... Ah, deixa para lá – repentinamente me dei conta do que havia acontecido, e isso me fez sorrir – Acho que finalmente temos pessoas que apoiam o nosso amor.

Ele abriu um sorriso travesso e nessa hora eu me joguei contra seu corpo agarrando-me em seu pescoço.

- Hey, Sakura...

- Que bom que não se feriu.

Ele agarrou minha cintura e me ergueu do chão.

- Desculpe não ter contado sobre a missão.

Soltei-me de seu corpo.

- Eu sei, era secreta.

Olhei para frente e vi um largo rio, iluminado pelo luar, cujas águas corriam tranquilamente. 

Comecei a tirar as roupas e Naruto, corado, ficou me observando.

- O que está fazendo? – ele me perguntou sem jeito.

- Eu nunca nadei em um rio assim.

A noite quente era convidativa a um mergulho.

- Vo... Você não saaa... sabe nadar...

No lugar onde vivíamos nos Estados Unidos, a natação não era um esporte popular. Oregon era frio demais para que as pessoas se animassem a nadar nos rios ou praias de águas tão geladas.

- Nesse caso, você vai ter que entrar também.

Naruto era o único louco o suficiente de nós dois que aprendeu a nadar nas frias águas do mar de Oregon.

A água um pouco fria bateu em minha pele quente, e isso me fez arrepiar.

 - E se nos descobrirem aqui? – Naruto estava preocupado.

Eu olhei para trás e o vi sem roupa já entrando no rio também. Comecei a rir.

- Está com medo, é?

Submergi meu corpo nas águas frias do rio que assim como eu pensava não era fundo.

- Sakura, não se afaste tanto!

- O que foi Naruto? Agora decidiu ser o meu irmão mais velho?

Com o corpo submerso, continuei dando passos para trás e, inesperadamente, caí em uma pequena depressão que havia no fundo do rio. Meu corpo submergiu completamente e um pouco de água entrou por minha boca, usando os pés para dar impulso consegui voltar a superfície e nessa hora senti os braços de Naruto em volta de minha cintura.

- Você está bem? – ele me perguntou preocupado.

- Tem um buraco aqui embaixo – eu o avisei enquanto cuspia a água que queimava minha garganta.

Ele me pegou no colo e começou a caminhar de volta para a margem.

- Agora que estávamos nos divertindo?

- O que deu em você? – ele gritou - Poderia ter se afogado!

Percebi que ele estava realmente bravo pela minha imprudência.

Ao chegarmos a margem eu me joguei dos seus braços e me pus em pé. Eu acabei ficando brava também, afinal por que ele reprovava a minha atitude quando era ele que sempre era imprudente?

- Eu já disse que posso me cuidar sozinha! Eu fiz isso por muitos anos...

Dei-lhe as costas, Naruto agarrou meu braço e eu virei à cabeça para trás. Ele agarrou uma mecha molhada de meu cabelo com a mão livre a tirou da frente dos meus olhos.

- Sakura, você é tudo o que eu tenho...

- Eu sei – a raiva foi embora nessa hora.

Nossos lábios se aproximaram e nós nos beijamos. O beijo abriu o caminho para o desejo que se iniciou com carícias urgentes e toques cheios de paixão.

 - Sakura, aqui não...

Eu mordi seu lábio inferior, não deixando que ele continuasse falando.

- Gostaria de me indicar um motel mais próximo? – perguntei irônica e ele riu.

Naruto esticou sua jaqueta sobre as folhas secas no chão e ali naquele lugar improvisado e rudimentar, nós nos entregamos a nossa paixão. Foi maravilhoso sentir os lábios dele sobre a minha pele fria, e suas mãos cálidas e trêmulas segurando minha coluna enquanto copulávamos.

Meus medos pareciam não existir mais e a brisa suave que soprava levou a tristeza embora. Cansados, depois de fazermos amor, nos entregamos ao descanso temporário enquanto olhávamos a lua. Apoiei minha cabeça sobre seu peito e ele ficou amparando as minhas costas com seu braço direito, a sua mão esquerda segurava firmemente a minha mão que estava sobre seu abdômen.

- Está com frio, Sakura?

- Você está tão quente... Naruto, eu tenho tanto medo que alguma coisa aconteça.

Naruto se mexeu inquieto, e empurrando meu corpo para que eu me deitasse sobre a jaqueta, ele se posicionou sobre meu corpo e antes que eu pudesse raciocinar algo, ele me beijou de maneira intensa e apaixonada. E por rápidos instantes descolou seus lábios dos meus para dizer num sussurro.

- Eu também vou viver com você, Sakura... Por você...

Eu tomei seu rosto em minhas mãos e senti um liquido quente escorrer por entre meus dedos. Esforcei-me para sorrir e dizer:

- Logo tudo vai terminar, e poderemos voltar para a nossa casa em Konoha.

Um sorriso alegre surgiu em seu rosto corado e em meu coração eu senti que aquelas palavras se tornariam verdade.

Sorrateiramente voltei ao alojamento. As três enfermeiras que o partilhavam o alojamento comigo já dormiam profundamente. Pela primeira vez, em muitos dias, eu dormi feliz.