Guerreiros celestiais de Ártemis – Teseu

No cânion recém formado no Santuário um jovem rapaz de cabelos verdes e uma esplêndida Kamei rósea se segura às rochas com a corrente que sai de seu braço. Olha em volta, vendo ao longe inúmeros lagos perfeitamente circulares, de águas muito claras. Estava tudo muito estranho, mas ele não fazia idéia do que acontecera por ali.

Um cosmo estranho e poderoso se manifesta no alto da cadeia rochosa, fazendo a ponta triangular de sua corrente reagir, e ao olhar na direção em que esta aponta avista um ser alado vindo em sua direção.

- Um anjo? – pergunta para si mesmo.

Ele avança em alta velocidade, seu cosmo dourado se espalha de forma irregular e seus movimentos são tortuosos. A ponta triangular reage, mas suas esquivas são extremamente rápidas, e indo na direção do rochedo oposto com ela em seu encalço, desvia da trajetória, fazendo-a cravar nas pedras. O garoto está suspenso no meio do cânion, com uma extremidade presa em cada lado do despenhadeiro, enquanto o estranho ser pousa suavemente sobre sua corrente.

Os cabelos loiros e cacheados caem ao lado de seu rosto, com algumas mechas quase na altura do peito, o elmo é pequeno, parecendo uma máscara para os olhos colocada sobre a testa, uma fina toga passa por cima do peito da armadura, segura pelo cinturão desta, formando uma saia grega típica. Os olhos são verdes claros, estampados em uma expressão séria e desafiadora.

- Quem é você? – perguntou o rapaz.

- Um Anjo. – respondeu rispidamente.

- Um servo dos deuses? E Atena? O cosmo dela parece que não consegue mais proteger o mundo. O que está acontecendo?

- A Terra está sendo governada por Ártemis.

E com mais esta resposta seca, pôs-se a andar sobre as correntes do Cavaleiro, como se fosse em terra firme. E ainda com o olhar sério, soltou mais uma frase completamente inexpressiva:

- Eu recebi ordens de matar todos os Cavaleiros de Atena.

Não mais do que um toque no busto do garoto, isso foi o suficiente para, com um brilho dourado, lançá-lo com força para trás. Ele, que vestia uma armadura divina e que passara por tantas experiências, inclusive a de enfrentar um Deus no reino de Hades, agora estava cravado de costas contra as rochas, e para se desvencilhar do próximo ataque, evocou rapidamente o poder de suas correntes, sendo alçado para o topo. Quando parou de pé viu o inimigo alçar vôo sobre sua cabeça, avançando para um lugar mais escuro através de um portal entre a imensa rocha, provavelmente uma ruína do antigo Santuário.

- Onde está Atena? – perguntou firmemente, adentrando o local.

Do outro lado havia luz, era apenas uma passagem para um outro local aberto. Dali de dentro, onde estava, podia ouvir a voz séria do inimigo.

- Atena e seus Cavaleiros venceram vários Deuses. Vocês despertaram a ira dos Deuses, e por isso vão morrer.

Os olhos verdes do Cavaleiro se estreitam, sérios, e ele corre ao encontro de seu inimigo.

- Vocês vão matar Atena também?

- Atena está indo em direção à morte. – disse, sem preocupação.

- O que vocês fizeram com ela?

As correntes começam a ficar tensas, o olhar do rapaz, agora não tão infantis, embora mantivessem a mesma pureza, era de seriedade e desafio. Mas nada disso desfazia a expressão ameaçadora e fria do guerreiro celestial, nem tirava de sua boca as palavras cheias de desprezo para com os acontecimentos.

- Atena está usando o próprio sangue para proteger a humanidade. Quando este sangue acabar, a vida de Atena também...

- Não!

A frase fora cortada, um Cavaleiro como ele jamais permitiria que Atena morresse. Ele salta veloz e decididamente na direção do Anjo, pronto para atacá-lo, mas recebe mais uma rajada de seu poderoso cosmo em seu abdômen, voando novamente para trás, chocando-se fortemente contra o chão. A poeira se levanta, o chão se racha, e o inimigo avança para desferir mais um ataque. O rapaz mantém o olhar sério, tentando reagir, mas é novamente atingido, o impacto de seu corpo derruba a parede atrás de si e seu braço é preso pelas mãos adversárias, que o giram no ar e o lançam contra um enorme pilar que há no centro do novo local onde se encontram.

Está preso no pilar, com a expressão já dolorida, mas algo lhe chama a atenção na estranha estrutura. Ele a fita com mais atenção, são rostos, bustos esculpidos na pedra, e de figuras bastante conhecidas. Ele se ergue, ainda sem conseguir coordenar os pensamentos, dando de cara com um rosto que já foi conhecido como o de Grande Mestre. Seus olhos se arregalam assustados, ele se contorce no desespero de sair dali, deixando-se cair na água clara que se empoçava aos pés do pilar.

Ele se ergue, o cosmo inimigo se concentra no intento de acertá-lo novamente, os olhos do rapaz se tornam ainda mais sérios e ele não se move um milímetro, encarando o adversário com a grande indignação que acabara de nascer em seu coração ao reconhecer os rostos dos Cavaleiros de ouro.

Os olhos do inimigo finalmente se tomam de surpresa ao sentir uma outra energia no local, uma energia quente e agressiva como o fogo, um pássaro em chamas que se ergue pelos ares. Ele é obrigado a mudar a trajetória de seu ataque para não ser atingido pelo ataque poderoso e repentino, e o cosmo dourado se colide com o rubro em chamas de seu novo inimigo. As energias explodem poderosamente, e as águas se erguem com o elevar daquela aura que se parece com um gigantesco pássaro de fogo.

O rapaz se enche de alegria, reconhecendo imediatamente aquele cosmo.

- Irmão! Você veio!

O guerreiro desce ao chão, com um dos joelhos apoiado a este. O fogo se espalha grandiosamente à sua volta, e ele ergue o rosto com um sorriso abaixo dos olhos cheios de confiança e desafio, com o fogo ainda a envolvê-lo. O menino avança, com o olhar preocupado e entristecido.

- Irmão... Atena... E as almas dos Cavaleiros de ouro...

- Não fale Shun. – interrompe o jovem.

Ele se ergue, pondo-se de frente com o inimigo, e sem perder a calma, o guerreiro celestial inicia seu discurso:

- Atena abandonou a Terra. Para compensar, ela está dando sua vida. Por que vocês se dizem Cavaleiros de Atena, e rebelam-se contra os Deuses?

Ikki olha para trás, fitando o pilar dos Cavaleiros dourados, e não hesita em sua resposta.

- Mesmo que ela esteja nos rejeitando, nós somos Cavaleiros de Atena. Não é pela prova de ser um Cavaleiro com sua armadura, nem pela existência de Atena. A marca de Atena está em cada uma de nossas cicatrizes, que já fazem parte de nós. É compulsivo.

Shun assiste ao discurso, surpreso e atônito ao ouvir a última sentença de seu irmão, com voz séria, firme e intimidadora.

- E como Cavaleiro de Atena... Eu vou derrotar você!

E dizendo estas últimas palavras , seu cosmo se intensifica novamente, o fogo sobe desde seus pés, envolvendo-o por inteiro, quase cobrindo-o pelas chamas. Ele avança furiosamente contra o inimigo, mas sua expressão não se modifica, desvia facilmente, numa velocidade nunca vista pelo Cavaleiro. O golpe envolto em chamas atravessa o inimigo, que toca seu busto com a palma da mão, e como fizera em Shun, o brilho dourado o atira longe facilmente.

- Ikki! – grita Shun, lançando suas correntes para tentar ajudá-lo.

Fênix é cravado na parede, os movimentos inimigos são tão rápidos que ele ainda consegue se virar e contra-atacar Andrômeda, lançando suas correntes para o lado oposto de forma a empurrá-lo para trás. O irmão mais velho se ergue novamente, avançando. Mais uma vês as mãos do adversário se viram para ele, que tenta segurá-las para prendê-lo e atacá-lo. É inútil, o raio de cosmo o fere e sua tentativa de ataque é novamente desviada. Sua mão é presa na do Anjo e ele é atirado com força contra o pilar, desabando na água.

O caçula corre até ele, apoiando seu corpo nos braços, estão mergulhados até a cintura pela água. Na mente do adversário, porém, ele admite a incrível determinação de seus desafiantes, apesar de sua expressão imutável, se surpreende em conhecer como realmente são os Cavaleiros de Atena. Shun torna o olhar para ele, sério. "O por que dos Deuses terem nos ordenado a matar os Cavaleiros de Atena. Tenho a impressão de que entendi. Agora, tenho que derrotar os Cavaleiros de Atena. Não posso deixar que esta tremenda força exista no mundo dos Deuses."

Shun toma posição à sua frente, com as correntes tensas. O cosmo do inimigo também se eleva, pronto para derrotá-lo. Ikki tenta se erguer, e parece, como sempre, tentar impedir a ação de seu irmão.

- Shun.

- Eu vou proteger o meu irmão! Não importa o que você diga, Ikki, eu vou lutar! – era a primeira vez que se mostrava tão desejoso em combater.

- Não se engane Shun. Eu também estava pensando em lutar com você, já que sou um Cavaleiro como você.

Seu rosto se ergue com um sorriso fraterno, ele parecia confiar plenamente em Shun, e estar pronto para deixar de lado sua preocupação de irmão para finalmente unir forças com o rapaz. Shun retribui-lhe o sorriso, voltando a fitar o inimigo com seriedade, apertando as correntes entre os dedos.

O guerreiro celestial não pensa duas vezes, salta num mortal na direção dos Cavaleiros, rapidamente atingindo-os. Shun é lançado novamente para trás, Ikki leva uma cotovelada e seu braço é preso, outra vez é atirado próximo ao irmão. Perecem derrotados, sumindo sob a água, e o Anjo se vira, seguindo seu caminho, dando as costas ao pilar.

Gotas de sangue caem sobre a água, gotas que escorrem dos rostos esculpidos no pilar e mancham o local próximo aos Cavaleiros que caíram, fazendo-os abrir os olhos doloridos. Os cosmos conversam entre si.

- Shun... Pode sentir?

- A água está quente, como o calor de Atena, como se ela entrasse em nosso coração.

- Não é só isso, Shun. Os Cavaleiros de ouro estão nos apoiando.

- Sim... E esse calor está me recuperando.

O servo de Ártemis parece sentir que aqueles dois ainda vivem, parando no meio do caminho por um instante. Enquanto isso, Shun e Ikki se levantam uma vez mais, e ao perceber isso o inimigo volta novamente o olhar para eles.

- Em muitas batalhas enfrentamos adversários com cosmos mais poderosos que os nossos. – diz Ikki para seu inimigo – Então... Você sabe a razão de termos chegado até aqui? É porque estamos preparados para morrer lutando. Mas isso não é uma forma de desistir.

- Quer dizer que vocês não temem a força dos deuses? – perguntou o adversário, pela primeira vez mudando seu olhar, sorrindo com sarcasmo.

Mas antes que pudesse perceber, assustou-se com o ataque das correntes que vinham por cima de sua cabeça.

- "CORRENTE DE ANDRÔMEDA!"

Ele se desvia rapidamente, mas é quase pego por um ataque muito mais poderoso, que destruiu grande parte do local.

- "TEMPESTADE NEBULOSA!"

Teve de se esquivar com muito mais perícia, alçando-se ao ar e tentando um contra ataque. Mas é nesse momento que o trabalho em equipe o pega desprevenido, Andrômeda desvia, abrindo caminho para o irmão, que avança com seu cosmo no ápice do poder.

- "AVE FÊNIX!"

O cosmo se transforma numa imensa rajada de fogo que o inimigo não consegue mais defender. Ele é engolido pelo ataque feroz e cheio de poder, e a fênix brilha em chamas em pleno ar, queimando-o por completo.

Os irmãos estão caídos no meio da água, sob o pilar das almas dos Cavaleiros de ouro, que de dentro de seu selo conseguiram assistir a tudo.

- Não foi um erro confiar Atena a vocês. – pronuncia a voz de Shion – Vocês que seguirão os nossos ideais... Nós temos o destino de desaparecermos da Terra. Mas antes disso, nós queríamos mostrar, que nesta era, que nesta Terra... A prova de que nós existimos. Que existiram pessoas honradas que não temeram sequer os Deuses.

Continua...