Nem soube como iria encarar o Bê depois do que aconteceu ontem, eu estava envergonhada e um tanto culpada por ter deixado isso acontecer, por não ter parado quando tive vontade, se é que tive essa vontade.

Me levantei e fui tomar meu banho, deixei que a água escorresse do meu corpo, fiquei sentindo a água quente bater e relaxar meus músculos, estava tensa pelo modo como as coisas se desenrolaram.

Me arrumei e desci pra tomar meu café, Bê ainda dormia profundamente no sofá, tão sereno e lindo. Eu o amava, mas não sabia como, estava confusa sobre meus sentimentos. Pensei muito em Sandro, no que estará fazendo, na suposta aposta, nos segredos e o porque dele ter sumido assim.

Resolvi que hoje eu iria conversar com ele.

Cheguei na escola e procurei pelo Sandro, não o encontrei em lugar nenhum, nem com o grupo que sempre andava, ele não estava em lugar algum. Estava começando a ficar seriamente preocupada, e se algo aconteceu e eu não sei? Ele nem me liga, parece que está fugindo de mim. Meus pensamentos me atormentavam não poderia aguentar mais, precisava conversar com ele o quanto antes, fiz a última coisa que faria em outra situação mas não havia escolha. Fui falar com Jorge, o coordenador pentelho que atazanava minha vida. E que deu chá de sumiço também pra minha alegria.

- Jorge, posso falar com você? - perguntei batendo e entrando em sua sala.

- Entra. - falou - O que foi?

- Olha sei que você sabe que eu nunca iria lhe pedir nada, mas é importante e não tive outra escilha - falei, arrogante como sempre com ele.

- Sente-se e fale o que houve

- É que eu não tenho visto o Sandro e queria saber se pode me dizer se por acaso sabe onde aquele pateta se meteu - falei, sentando-me na cadeira a sua frente

- Bom, não o tenho visto esses dias, deve estar em casa, não soube se está doente ou algo assim? Vocês são tão amigos. - Senti um tom de deboche?

- Olha aqui Jorge, pode parar com esse seu tom pra cima de mim que eu não tô com paciência, eu tô falando sério, eu não o tenho visto por ai e tô realmente preocupada então para de babaquice e me ajuda, eu tô te pedindo ajuda. - ele me fitou por um tempo, talvez pensando se eu falava a verdade

- Tudo bem Juliana, sei que não estaria pedindo minha ajuda se não fosse realmente sério, sei o quanto me odeia - falou, tirando seus óculos e me olhando sério - Desculpe, mas eu não sei sobre o Sandro, mas eu posso te falar o endereço do pai dele, por que vejamos, como eu não sei nada sobre ele ... - estava fingindo, não queria que ninguém soubesse que ele me ajudara - Ele não está em casa, está no pai. Tome o endereço - falou baixinho entregando-me um papel com o endereço

- Obrigada Jorge, obrigada mesmo - agradeci levantando e indo pra porta

- E juliana.. - me virei para olhá-lo - Eu não te ajudei. - Assenti. Sabia que ele perderia a pose de machão se soubessem que teria me ajudado, afinal parece que eu elevara sua posição de Coordenador Alfa diante dos alunos.

****

Cheguei no endereço em que Jorge havia me passado. Era um prédio grande e bonito, continha um jardim  em sua lateral com flores lindas e vi algumas parecidas com as do campo em que Sandro me levou.

Toquei o interfone e uma voz feminina atendeu:

- Sim? Quem é? - perguntou a mulher

- Oi, desculpe encomodar a senhora mas, o Sandro mora ai?

- Sandro? Sim, ele está aqui, quem fala?

- Juliana, uma amiga dele. Obrigada - falei tarde demais, a mulher havia desligado o interfone. Idiota, desligo na minha cara.

Ouvi o portão abrindo e sem hesitar entrei. Subi o elevador e toquei a campanhia de seu apartamento. Quando abriram a porta, vi um Sandro sorrindo ao me ver.

- Oi - falei também sorrindo

- Que saudades de você - disse, me abraçando e me puxando para dentro de sua casa.

- Você está bem? Não tenho te visto no colégio. - falei com uma voz meio trsite

- Estou sim, é que eu tô com uns problemas em casa. E você? Como está? Soube que foi parar na delegacia, me conte isso ... - pediu me levando até se quarto

- Espera, não tem ninguém em casa?

- Só a empregada. Vem. - ainda me arrastando

Entrei em seu quarto, era organizado até demais para um garoto. Deve ser com certeza a empregada, Santa Empregada pra manter um quarto de garoto arrumado.

- Senta - sentei-me na cama, enquando ele ainda de pé, me olhava

- Que foi?

- Nem acredito que está aqui. Estava com saudades de você - andou até mim ajoelhando-se na minha frente.

- Também estava com saudades e preocupada, você não me ligou nem nada, sumiu por duas semanas me deixando a ver navios! - expressão velha, mas graças a minha mãe eu a uso, fazer o que?

- Me desculpe, eu sinto muito não ter ligado e ter sumido assim, é que estou emfrentando uma barra em casa. - falou olhando pra baixo, trsite - Minha mãe, ela não está bem, está doente. Ele bem.. Tá internada, então estou aqui no meu pai enquanto isso.

- Por que não me contou? Você está sofrendo e eu sem saber de nada, eu podia estar aqui com você pra te ajudar. Eu sinto muito Sandro.

- Eu sei, eu sei de tudo isso mas.. só queria me afastar de tudo por um tempo, me acustumar com a ausencia da minha mãe caso ela.. - ele não terminou de falar, me abraçou forte ainda ajoelhado na minha frente, o abracei deixando que chorasse.

- Shii, vai ficar tudo bem, eu tô aqui. E sempre vou ficar.

- Obrigado Ju, você não sabe como é importante pra mim.

Vendo o Sandro daquele jeito por causa da mãe, me fez esquecer o motivo da minha visita, suas palavras entraram em meu coração como um baque surdo, como se meu coração estivesse vazio e aquelas palavras eram o sangue que o bombearia com mais força. Aquelas palavras me fizeram mais viva.

Minha culpa por ter transado com meu primo se foi momentaneamente, as suspeitas que Dylan havia posto em meus pensamentos havia sumido, apenas sentia o abraço de Sandro, me apertando mais e mais, enquanto chorava.

 Aquelas palavras o acalmaram.