Assim que chegámos ao acampamento Percy e Annabeth desapareceram para algum lugar e o meu avô foi dar umas voltas antes de ir embora .. Oh seja, deixaram-me todos sozinha com as duas filhas de Nyx, bufei, e fui com elas até á casa grande, quer dizer, apesar do Sr. D já as ter visto, o Quíron não tinha não é? A menos que ele tivesse um olho adivinho … aff, estou a ficar idiota de novo. Vi-os aos dois a jogar cartas na varanda e aproximei-me.

    - hey Quíron ! - chamei a sua atenção acenando, ele olhou para mim antes de continuar a jogar com o Sr. D e sorriu, chamando-nos.

    - então como correu a missão ? - perguntou com um sorriso desviando o olhar das cartas por um momento.

    - diria que bem - pelo menos para mim, o Percy foi perseguido por monstros o tempo todo - mas não acabou a profecia - reclamei.

    - é, o Sr. D contou-me quando chegou da reunião - olhei para o deus e semicerrei os olhos. Fala barato - tens alguma ideia do que possa ser o final?

    - não, o pior é isso - resmunguei e então lembrei-me das garotas - oh, estas são as filhas de Nyx, Rachel e Sarah.

    - bem vindas ao acampamento meio-sangue - ele falou sorrindo-lhes - o meu nome é Quíron, sou o director de actividades e este aqui é o Sr. D, o director do acampamento - continuou apontando para o deus que revirava os olhos.

    - é , nós sabemos , ele é o deus do vinho - respondeu Rachel com um sorriso curto mas sincero. Ficamos mais algum tempo a conversar e após isso levei-as ao chalé de Nyx .. Que eu não fazia mínima ideia que existisse, mas que havia sido construído pela própria deusa logo após me avisar sobre as filhas. O carinho de Nyx com elas fez-me lembrar quantas saudades tenho da minha mãe, e acabei por passar o resto da tarde enfiada no chalé de Poseidon a  fazer bolas de água e a suspirar. Passado um bocado a corneta soou por todo o acampamento avisando sobre o jantar e eu saí meio que contrariada, para a rua.

    Sentei-me na mesa ao lado de Percy, já que os deuses nunca iriam permitir um chalé para os semi-titã, e peguei num prato pensando em alguma comida exótica. Atirei parte da comida para o fogo e pensei um pouco antes de decidir para quem dedicaria a comida. Para Nyx, Hypnos, Thanatos e meu pai, Oceanus. Sei ser agradecida não é? Afinal Hypnos e Thanatos são filhos de Nyx, e tinham-me ambos ajudado quando estava no Flegetonte. Terminei de comer e fui sentar-me ao lado de Natasha e Nico na hora de fazermos a roda á volta da fogueira e cantarmos com os filhos de Apolo. Alina e Sally apareceram a seguir e ficaram ao nosso lado, e passado segundos Percy chegou com Annabeth. Vi Rachel e Sarah no outro lado da fogueira, e não as chamei pois ambas conversaram animadamente com o Matt e Heyrish. É, parece que se dão bem … Encolhi os ombros e tentei procurar o Chris, acabei por achá-lo com os irmãos, e tocava uma viola enquanto uma garota cantava uma música conhecida dos Evanescence, My immortal. Ela tinha uma voz bastante boa na verdade.
    Foi então que o chão começou a tremer bastante, os semideuses começaram a correr por vários lados, pegando as suas armas assim que viram vários monstros emergir das florestas e do topo do acampamento. Eu afastei-me e fui andando para o chalé de Poseidon tentando passar despercebida pois não tinha qualquer arma comigo, e precisava de Atlantis, maldita hora em que tirei o pendente. Logo depois do ataque, Quíron apareceu de imediato, cavalgando depressa e com duas espada compridas, uma em cada mão, atacando os monstros e mostrando para muitos que ainda era o mesmo de á três mil anos atrás. Mas o que me surpreendeu foi ver o Sr. D - vulgo Dionísio, o deus das vinhas, loucura e festas - aparecer ao meu lado no momento em que eu ia entrar no chalé, pálido como papel.

    - tens que guardar a pérola, Serina, não fazes ideia do que estão a tentar soltar, precisamos de a manter segura ou os problemas serão maiores, todos os outros deuses estão preocupados, uma guerra nova vai começar - ele parecia extremamente sério e eu apenas abri a boca surpresa ao ver que acertara o meu nome. Nem respondi e corri para dentro do chalé, vendo-o de relance desaparecer de novo. Coloquei o pendente do meu pai ao pescoço, a pérola no bolso das calças e corri para a batalha, com um único na minha cabeça. Alguém tinha invocado os monstros para dentro do acampamento.

    Toquei na pedra azul escura do meu colar, soltando Atlantis de imediato e partindo na direcção do Minotauro, que no momento deitava vários meio-sangue ao chão como se jogasse bowling. Aproveitei o momento em que um dos filhos de Ares lhe pregara uma rasteira e atirei-me ao chão, levantando Atlantis ao alto e esperando que ele caísse bem na minha direcção. Claro que assim que entrou em contacto com a minha espada, desfez-se em poeira dourada, que caiu sobre partes do meu corpo. Levantei-me certificando-me de que os outros estavam bem e olhei em redor ao mesmo tempo que sacudia as roupas e procurava os meus amigos. Natasha, Alina e Sally lutavam contra a Hidra, ao mesmo tempo que Nico, Heyrish e Matt lutavam contra o Leão de Nemeia. Percy estava com Annabeth e Chris, e juntos lutavam com Otros, o cão de duas cabeças irmão de Cerberus, tendo logo atrás deles, Sarah e Rachel que lutavam contra a Quimera. Fui ajudar um grupo de filhas de Afrodite, que pareciam desesperadas e já muito cansadas pois não estavam habituadas a lutar e permaneci saltando de grupo em grupo, ajundando no que podia.
    Todos os meio-sangue lutavam como loucos, alguns haviam-se afastado para ajudar os mais feridos mas parecia inútil, pois sempre que destruíam um dos monstros, outros dois apareciam para o seu lugar. Era a confusão total, e ninguém parecia ter ideia de quem os estava a chamar. Dionísio apareceu, criando videiras por todo o acampamento que prendiam os monstros e lhes parecia causar loucura, dando algum tempo aos meio-sangue de se reagruparem e os derrotarem, mas nem isso parecia ser de grande ajuda. Nós precisávamos saber quem os estava a chamar e acabar com isso de uma vez por todas.

    - Serina! - o meu corpo tremeu ao reconhecer aquela voz e a única coisa que pensei na hora foi : só pode ser brincadeira, que merda é esta? Certo que não foi algo muito educado, mas não conseguia pensar em mais nada. O chão continuava a tremer, naquele momento ainda com mais intensidade e foi então que os monstros pararam, olharam para o topo da colina e desapareceram. Uma mulher de vestido violeta assim como os seus olhos apareceu primeiro, fazendo notar-se bem os seus cabelos ondulados castanhos escuros sobre a sua pele clara. Hécate. Pensei reconhecendo-a de imediato. Ao seu lado estava o homem que eu havia visto no meu sonho, Céos, o titã da inteligência. E do outro lado, o meu pai, com um sorriso de canto nos lábios, como se tudo não passasse de uma enorme brincadeira. O que mais me assustou foi ver a pessoa que havia chamado o meu nome, era um garoto com dezoito anos, um pouco musculado, de cabelos castanhos-claros, praticamente loiros e de olhos azuis-eléctricos. Em suas mãos estava uma espada dourada e um escudo prateado com a cabeça da medusa talhada em dourado. O meu coração corria como um louco e senti o meu corpo tremer. Eu conhecia-o, céus. Á anos na verdade, pois sempre estudara comigo antes de eu saber de toda a história dos deuses e fora meu namorado dois anos atrás. O seu sorriso era sarcástico e piscou para mim antes do meu pai revirar os olhos enquanto cruzava os braços e eu finalmente reparava numa garota de cabelo cacheado cor de caramelo e olhos extremamente verdes. Ela segurava uma lança e dizia uma série de palavras em grego enquanto encarava o chão, que só consegui perceber passado um bocado : “ … como filha de Gaia eu te controlo, oh terra, oscila sobre meu poder ..”. Céos notou que eu estava surpresa, na verdade, eu estava apavorada, e sorriu vitorioso, assim como o meu pai, e ele. Disfarcei de imediato o meu receio e peguei com ainda mais força a minha espada, senti o meu corpo começar a aquecer de leve e semicerrei os olhos tentando acalmar-me um pouco antes que começasse a pegar fogo devido á bênção do titã do sol.

    - Zachary Storm - rosnei encarando o garoto. Mal podia acreditar que ele estava do lado dos titãs, mesmo que um deles fosse o meu pai, e principalmente, mal podia acreditar que ele era filho de um deus! Esbocei um sorriso de escárnio, não ia deixar de maneira nenhuma o meu passado interferir comigo agora, mesmo que me custasse imenso fazê-lo - então és filho de que deus? - ele retribuiu um sorriso da mesma maneira e fez o seu escudo desaparecer, transformando-se num pequeno brinco prateado que estava no lóbulo da sua orelha esquerda. Passou a mão livre pelos cabelos e sorriu, enquanto os seus olhos azuis faiscavam, dando-me a leve ideia de quem ele era filho.

    - para ti sabes que é Zack, Serina - sorriu piscando o olho, então, deu um suspiro entediado e respondeu á minha pergunta - Zeus - concluiu simplesmente, quase como se o nome por si mesmo já fosse demasiado asqueroso. Um trovão ribombou violentamente no céu e ele encarou-o com a sobrancelha erguida em diversão. Os outros meio-sangue, Quíron e o Sr. D apenas os encararam em silêncio, ouvido a nossa conversa, atentos.

    - então porque estás do lado oposto a ele? - gritei-lhe para que ouvisse bem, mas ele gargalhou alto e olhou para a garota, murmurando alguma coisa que não entendi. Ela assentiu e olhou directamente para mim.

    - que tal assim, se venceres a Zoey numa luta, nós vamos embora e ficas a saber a verdade sobre o meu querido pai - abriu um sorriso perigoso e continuou - mas, se perderes, vens embora connosco e vais ter que nos ajudar - respondeu praticamente cuspindo a palavra pai, enquanto mais trovões eram ouvidos de fundo. Olhei de relance para a garota e semicerrei os olhos, encarando-o novamente. Bem, era melhor tentar que não fazer nada. Vi de canto o meu pai sorrir divertido com a situação e eu podia ler claramente em seu rosto que queria saber as minhas capacidades totais.

    - tudo bem, vamos a isso - respondi calmamente enquanto apertava Atlantis com ainda mais força em minhas mãos. Olhei para os meus amigos de relance e então para o Sr. D e o Quíron - fiquem todos fora disto, vai acabar depressa, vos garanto - informei-os dando um meio sorriso de canto e voltando-me para a frente, rodando a espada em uma das mãos e parando numa posição de defesa enquanto a garota descia a colina e estacava a três metros de mim, com um sorriso suave. Ela começou novamente a murmurar para a terra, mas eu sorri, e avancei na direcção dela antes que terminasse de falar. Se dependesse de mim ela não ia voltar a fazer terramotos tão cedo, fosse quem fosse a sua mãe, eu tinha que vencer aquela luta custo o que custasse. Ela ia sentir na pele o que era mexer com a fúria de Serina Brine e ver o que significa ser filha do oceano de perto.