Harry Potter e o Amuleto de Merlin escrita por ana_christie


Capítulo 27
A Invasão do Largo Grimmauld


Notas iniciais do capítulo

Oi, pessoal... Super cansada... Trabalhei doze horas seguidas hoje, na verdade, no trabalho, toda a semana foi puxada. Por isso me desculpem por não ter postado capítulo na semana passada. Estou um caco. Mas estou me esforçando para trazer hoje os capítulos esperados de minhas fics. Obrigada a quem me acompanha.



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Era tarde, e Molly e Artur foram dormir, na casa do Largo Grimmauld. Estavam muito tristes, pois através da rádio mágica pirata mundial que os países contra-Voldemort mantinham para poder se comunicar sem interferência do corrupto Ministério da Magia inglês, souberam sobre a morte honrada de Vítor Krum. Estavam muito preocupados, também, pois sabiam que Krum viajara em companhia de Harry e os demais e não sabiam o que acontecera com eles, embora tivessem a certeza que nada muito ruim teria acontecido, pois já estariam avisados. 

A Ordem da Fênix tinha conseguido, durante esse tempo em que Harry, Rony, Hermione e Ana viajavam, algumas vantagens. Não só por suas habilidades, que não eram poucas, como também por causa da visível falta de preparação dos Comensais da Morte. Envolvido pelo delírio do poder, vivendo uma vida de luxo e subserviência que jamais tivera antes, Voldemort relaxava muito o treinamento de seus seguidores. E alguns de seus seguidores entre as criaturas mágicas estavam começando a se incomodar com a maneira como eram tratados, como se fossem inferiores aos bruxos. Carlinhos Weasley, na reserva da Romênia, estava treinando, junto a alguns colegas, dragões dos mais “dóceis” para a batalha iminente, e também fora vitorioso num recente ataque de Comensais contra a reserva, cujo propósito era roubar alguns dos mais ferozes dragões. Na Inglaterra, na região de Liverpool, onde havia a maior incidência de lobisomens do país, Remo Lupin com a ajuda de Tonks, agora considerada pelo Ministério uma ex-auror, vinha conseguindo progressos no aliciamento de lobisomens que, como Lupin, mantinham controle sobre seus instintos ferozes. Contra lobisomens, e Voldemort tinha centenas ao seu lado, eram necessários lobisomens, pois eles sabiam como ninguém quais os pontos fracos de sua espécie e como combatê-los. Em Hogwarts, a AD vinha crescendo num ritmo tão acelerado que tiveram de dividir os participantes em duas turmas, que treinavam em horários e dias diferentes, com o maior cuidado para manter o treinamento em segredo, o que não era fácil. Cada vez ficava mais difícil manter tudo em segredo dos três cruéis professores, Snape, Aleto e Amico, e dos alunos da Sonserina. Os professores McGonagall, Slughorn, Flitwick e outros também ajudavam muito, à sua maneira e dentro de suas aptidões. Flitwick inventava novos e úteis feitiços a serem usados pelos membros da Ordem da Fênix na batalha iminente, feitiços e azarações de ataque e defesa, alguns realmente poderosos e quase cruéis, o que deixava o professor bondoso triste, mas resignado, pois contra Comensais da Morte só esses teriam realmente efeito, fora as Maldições Imperdoáveis, que todos faziam questão absoluta de não usar, apesar de saberem. Somente num caso crítico se atreveriam a algo tão baixo como aquilo. Slughorn desenvolvia novas e potentes poções e venenos de todas as utilidades possíveis, para cura, de ataque, de defesa, alguns até realmente mortíferos. Com seu senso de organização e sua mente brilhante e cheia de estratégias, Minerva McGonagall comandava a Ordem da Fênix com um brilhantismo que só poderia talvez ser superado pelo de Alvo Dumbledore, o maior bruxo desde Merlin.

Por outro lado, alguns problemas também surgiam. Para a decepção dos Weasleys, Percy fez algo pior do que apenas permanecer trabalhando num Ministério corrupto e dominado por Voldemort. Ele se tornou um Comensal da Morte. E tinha ganas de querer destruir seus familiares e cada um dos membros da Ordem da Fênix com suas próprias mãos. A sede de poder e status tinha maculado seu sangue de uma maneira tão poderosa que ele já não conseguia enxergar valores como verdade, bondade, decência e amor. As perseguições aos membros da Ordem também aumentaram muito, e de uma maneira sem controle e verificação de identidades, de tal forma que dezenas de inocentes que jamais pertenceram a organização de combate alguma eram mortos por engano.

Durante esse tempo antes da guerra que todos sabiam estar cada vez mais próxima, ocorreram avarias de pessoal de ambos os lados, embora mais por parte dos mal-treinados Comensais de Voldemort. Por causa da tortura e morte de Dawlish, agora tinham apenas Lorena Fordson como agente dupla no Ministério da Magia. Quem sofrera um baque grande, que apenas o deixara mais decidido a lutar pela justiça, fora Kingsley. Vários Comensais da Morte, entre eles Belatriz e Rodolfo Lestrange, invadiram sua casa e mataram quase toda sua família: pais e dois irmãos. Apenas sua irmã sobrevivera, pois os Comensais tentaram matá-la por último, quando Kingsley e outros membros da Ordem chegarem a casa e os combateram, matando alguns, entre eles o marido de Belatriz, Rodolfo. Esse incidente desesperador não minou as forças do grande líder e auror que era Kingsley Shacklebolt. Ele apenas canalizou a ira, a dor, a tristeza para o combate aos Comensais, tornando-se em pouco tempo o Flagelo de Voldemort, pois caçava e matava muitos Comensais.

Arthur e Molly estavam já dormindo quando algo estranho aconteceu. Havia somente eles na casa e mesmo assim ouviram barulhos que não deviam acontecer. Alguém devia ter entrado na casa do Largo Grimmauld. Arthur foi o primeiro a acordar com o som que ouvia,  e se levantou sobressaltado. Sentia algo estranho, quase como uma premonição. Virou-se para Molly, que dormia a sono alto, e sacudiu o ombro roliço da esposa coberto pela longa camisola branca que usava.

— Querida, querida, acorde!

Sonolenta, ela abriu os olhos. Quando o viu acordado, sorriu ternamente e lhe murmurou:

— De novo, amor? Não se cansa?

Mas pela expressão preocupada dele percebeu que ele não a acordara pelos motivos usuais. Ergueu-se mais na cama, olhando-o com uma preocupação crescente e só nesse momento ouviu os sons que ele ouvira.

— Arthur, o que é isso? Quem poderia ser?

— Bem, pode ser um dos membros da Ordem... Talvez os meninos voltando de viagem... — ele sussurrou, mas numa voz que indicava que não acreditava muito em sua teoria.

— Querido, sabe que se fosse alguém da Ordem, ou os meninos, não apareceria a essa hora sem nos avisar antes por uma lareira ou Patrono. Eles sabem das regras, jamais apareceriam de surpresa e entrariam na casa sem nos acordar.

Ambos pegaram suas varinhas, não perderam tempo sequer pondo penhoares. Monstro não fazia barulho quando se deslocava, e nenhum animal conseguiria penetrar as defesas mágicas que Moody conjurara. Só um tipo de gente entraria na casa do Largo Grimmauld — os Comensais da Morte.

Com os corações batendo acelerados, muito assustados, eles saíram do quarto e começaram a caminhar, as varinhas em riste, indo em direção aos andares de baixo, de onde claramente vinha o som. Quanto mais perto chegavam, mas distinguiam os sons, eram sons de passos, respiração ofegante, coisas sendo mexidas, palavrões, numa mistura que, lá de cima, não dava muito para entender.

— Arthur, acho que é mais de um... Devemos chamar reforços...

— Sim, mandarei um Patrono a Kingsley, Tonks e Lupin, ora, a todos os membros da Ordem que se encontram na Inglaterra.

Ele lançou o feitiço, mas não sabia quanto tempo levaria para os bruxos chegarem. Não podiam correr o risco de deixar os Comensais descobrirem os planos e estratégias da Ordem, que estavam relatados em pergaminhos que infelizmente eram fáceis de serem lidos por qualquer um que entendesse de feitiços decodificantes.

— Vamos, Molly. Temos que fazer o possível até que os reforços cheguem.

Apertou-lhe a mão num ato de carinho, força e resignação. Se fossem muitos, corriam o risco de morrer. Entretanto mais importante, no momento, que a vida deles, era a vitória contra Voldemort e os Comensais da Morte.

Desceram ao andar térreo, de onde vinha o barulho, e esconderam-se atrás da escada que subia para os andares superiores. Dois Comensais da Morte procuravam coisas em armários e escrivaninhas, e outros dois se preparavam para subir as escadas. Esses dois conversavam e riam de maneira debochada e cruel.

— Não deve ter ninguém em casa, pois senão não seria tão fácil nossa entrada, mas pode ser que apenas membros da Ordem da Fênix menos poderosos estejam, talvez dormindo. Vai ser uma surpresa muito grande para eles acordarem com uma Crucio muito bem lançada...

O outro sorriu.

— Pensar que isso foi uma recomendação específica do próprio filho deles... O bastardo do Percy... Grande homem... Comensal há tão pouco tempo e já um assassino frio e grande líder... Aquele ali tem futuro!

Molly, encostada à parede atrás da escadaria, perdeu a força das pernas e escorregou lentamente por ela até ficar sentada no chão. Tapava a boca trêmula com as mãos para não revelar seu choro e sua agonia. Ao seu lado, ela sentia a rigidez de Arthur, que devia estar tão surpreendido e mortalmente ferido quanto ela. O próprio filho deles. Sabiam que tinha passado para o lado errado da guerra, mas não podiam acreditar que fosse tão perverso a ponto de desejar a tortura e morte de seus próprios pais.

Enquanto isso, os Comensais subiam a escadaria e continuavam a falar.

— O rapaz tem sido bem útil... Se não fosse ele, ainda teríamos o idiota do Dawlish nos espionando... As teorias dele são boas, ele conheceu profundamente a Ordem da Fênix e seus membros, nos dá informações valiosas.

— É, se não fossem as dicas dele sobre os possíveis feitiços protetores que o Moody pôs na casa, não teríamos conseguido entrar, como tentamos até hoje. Não sei como o Snape não pôde nos oferecer essas dicas antes... Está ficando velho e fraco...

— Ei, se por acaso os membros da Ordem acabarem vindo aqui hoje, não vai ser difícil para nós vencê-los? Sabe que são poderosos...

— Nem esquenta com isso, cara! Aqui dentro estamos nós quatro, e lá fora o Grayback está uivando como um louco, doido para estraçalhar qualquer bruxo... ou trouxa no raio de centenas de metros que encontrar! Aquilo transformado, com fome e desejo de sangue e morte é pior que vinte Comensais juntos! Até eu tenho medo de chegar perto!

— Eu também! — o outro disse rindo.

Molly e Arthur se olharam em pânico. Fenrir Grayback era o lobisomem mais violento e poderoso que tinham conhecimento, desde crianças, pois ele era bastante velho. Eles o temiam, transformara muitos bruxos inocentes em feras desprezadas pela bruxidade. E como ninguém podia aparatar direto dentro da casa, seus amigos iriam ter de enfrentar a fera. Eles iam ter que acabar com aqueles          quatro comensais sozinhos.

Quando os dois Comensais desapareceram no andar superior, Molly e Arthur saíram do esconderijo e se aproximaram, sem fazer barulho, do cômodo em que os outros dois Comensais estavam. Se enfrentassem primeiro esses dois teriam mais chance que num confronto 2x4.

Os Comensais, que eles não conheciam, estavam na sala após o corredor do hall, jogando o conteúdo de gavetas no chão sem o menor cuidado, deixando peças frágeis dentro delas se quebrarem.

— Droga! Até agora nada! Precisamos encontrar algo e levar ao nosso Lord, ele está muito irritado com os constantes fracassos, se não levarmos algo a ele, se não planos, ao menos corpos de alguns dos malditos da Ordem, nem quero imaginar o que fará conosco...

— Aqui só há pergaminhos e papéis velhos! Para que guardar tanto papel com tantos rabiscos?

Os olhos do outro brilharam.

— Você acabou de matar a charada, Felipe. Não há porque guardar com tanto zelo e segurança papéis velhos, coisas inúteis. Isso deve ser o que a gente está procurando, mas deve estar sob algum feitiço codificante... Eu não sei feitiço de decodificação, você sabe?

— Não, Mário, mas quem sabe Ricardo e Júnior saibam? Vamos até eles, devem estar se divertindo mais que nós, quem sabe já torturaram e mataram um punhado de velhos?

Rindo cruelmente, os dois se viraram e deram de cara com Molly e Arthur. Molly gritou, só pensando em proteger os pergaminhos, sem procurar se defender:

Expelliarmus!

Os pergaminhos voaram direto para suas mãos, mas como ela não estava atenta ao outro bruxo, ele lançou-lhe ao mesmo tempo uma Maldição Cruciatus que a fez se contorcer de dor, embora não se desfizesse dos pergaminhos, por mais que quisesse abrir e fechar as mãos, contorcê-las de dor.

— Molly! — gritou Arthur, sofrendo muito por ver sua esposa torturada daquele jeito. Ele se voltou para o comensal e lançou:

Estupefaça!

O feitiço, entretanto, foi facilmente bloqueado por um escudo Protegus lançado pelo outro Comensal. Mas por causa desse feitiço, que formava um escudo na frente do bruxo, ele foi obrigado a deter a Maldição com a qual torturava Molly. Arthur ficou na frente dela, protegendo-a enquanto ela se recuperava e se incorporava. Com um toque da varinha ela foi capaz de desvanecer os pergaminhos, enviando-os para um lugar seguro. Ao ver isso, os Comensais urraram de ódio.

Lá em cima, ao ouvir os sons de luta no andar de baixo, os outros dois Comensais, que tinham entrado no quarto e visto os lençóis revoltos, descobrindo assim que tinham sido ludibriados, começaram a correr pelo corredor em direção à escadaria. Só tinham tido tempo de entrar em dois cômodos, um quarto obviamente ocupado e uma sala que tinha uma espécie de tapeçaria e um quadro de uma mulher velha que gritara com eles e por isso a calaram com um feitiço Bombarda que destroçara a pintura de sua boca. A diversão, pelo visto, estava acontecendo lá embaixo. Entretanto, foram parados por efeito de alguma poderosa magia que não os deixou dar mais nenhum passo. Arregalaram os olhos, olhando nervosamente em volta. Tinham certeza de que havia um bruxo escondido sob uma Capa de Invisibilidade. Era isso ou um fantasma.

— Quem está aí? — um deles perguntou, assustado.

— Monstro — disse a alquebrada voz de um elfo doméstico velho e acabado que apareceu na frente deles. Ao ver a pele enrugada, o nariz batatudo e vermelho, o corpo cheio de dobras que mostravam sua velhice e debilidade, eles riram com ar de troça e crueldade.

— Um elfo doméstico, Ricardo? Grande oponente, não?

Uma risadinha saiu do Comensal.

— Com certeza, Júnior... Olhe, estou tremendo de medo.

Ergueu sua mão num movimento, a fazendo tremer de uma maneira exagerada. Logo caíram na risada e tentaram andar. O riso morreu quando não conseguiriam novamente dar nenhum passo.

O elfo agora os olhava com um ar de crueldade e ódio que superava o deles e que realmente dava medo, pois seus imensos olhos e sua boca rasgada eram muito evidentes. O Comensal que fingira medo engoliu em seco e uma gota de suor frio escorreu da testa do outro.

— Vocês calaram a Senhora do Monstro. Vocês destruíram ela. Monstro não sabe o que fazer sem a senhora dele para ele cuidar e amar. Até mesmo o menino Harry Potter, um traidor do sangue, foi melhor para Monstro e sua senhora que vocês. Monstro está decepcionado. E muito, muito irritado.

Sua voz era calma e fria, o que revelava um ódio profundo que uma explosão de raiva não demonstraria. Ódio e raiva eram coisas distintas, embora muitas pessoas as vissem como sinônimos. O ódio era algo mais frio, ligado a um rancor profundo que era necessário ser vingado, enquanto que a raiva era algo explosivo e momentâneo que rapidamente desaparecia. E os Comensais sabiam distinguir a diferença.

— Eh... você não pode fazer nada contra nós... — disse com voz hesitante um dos Comensais. — Nós somos bruxos enquanto você não passa de um simples elfo doméstico... Como poderia nos enfrentar?

O sorriso de Monstro foi realmente sombrio e mortal, capaz de lançar uma camada de frio no ambiente.

— Acho que os bruxos aí são daqueles que esquecem algo muito importante. A magia dos elfos... Monstro sabe algumas coisas muito interessantes...  

Enquanto Monstro cuidava dos dois bruxos, lá embaixo Molly e Arthur combatiam os outros dois, que estavam muito irritados e também temerosos da resposta de Voldemort ao seu fracasso. Queriam ao menos levar alguns corpos para animá-lo um pouco e tornar o castigo menos cruel.

***

Tonks e Lupin estavam num banco do jardim da casa em que alugaram em Liverpool. Tinham dado um tempo na missão para namorar um pouco, e após um filme e um bom jantar, ficaram ao ar livre, juntinhos e trocando uns beijos. Fazia tempo que não arrumavam um tempo só para eles. Como a noite em Liverpool estava extremamente nublada, embora não chuvosa, e a lua-cheia não aparecera e ele não se transformara, aproveitara, apesar dos riscos, para respirar um ar fresco com a esposa e espairecer. Tomara também a Poção de Mata-cão, e caso se transformasse, ficaria um lobisomem consciente e com raciocínio, sem ser escravo dos instintos. Estava bastante fresco e gostoso, pois era primavera e as flores soltavam um aroma maravilhoso. Para a sorte deles, estavam sozinhos. E nesse momento um cavalo prateado feito de um material liquefeito e vaporoso correu ao encontro deles. Logo se levantaram, em alerta. Era o Patrono de Arthur. O cavalo disse, na voz dele:

Venha depressa nos ajudar, a sede da Ordem foi invadida.

Lupin e Tonks se olharam, assustados e preocupados com os amigos e com os planos da Ordem da Fênix. Num instante desaparataram, dando ainda mais graças por estarem sozinhos.

***

Kingsley estava treinando na academia trouxa que tinha em casa. Estava suado usando luvas de boxe e batendo com toda força num pesado saco de areia, que balançava fortemente de um lado para outro. Descarregava a dor e o ódio pela perda de seus entes queridos. Quando o Patrono de Arthur apareceu falando “Venha depressa nos ajudar, a sede da Ordem foi invadida”, seus olhos negros brilharam e ele deu um último soco antes de correr para se vestir e pegar a varinha e aparatar, pois queria aproveitar o ensejo para se vingar dos comparsas de Voldemort.

***

Moody lia tranquilamente em sua casa um raro e poderoso livro de magia, aprendendo novas maneiras de defesa. Naquela noite não tinha nenhuma missão nem fazia ronda alguma, estava relaxando, pois estava muito cansado, vinha treinando muito os membros da Ordem nesses últimos dias, ensinando-lhes feitiços, azarações e contra-azarações que podiam ser importantes para a batalha iminente. Ao ver o Patrono equino que falava “Venha depressa nos ajudar, a sede da Ordem foi invadida”, ele apenas deu um enigmático sorriso cínico, murmurando antes de aparatar:

— Realmente, passam semanas sem atacar nada e decidem agir justamente no dia em que decido tirar uma folga. Acho que sou realmente azarado.

***

Em Hogwarts, outros membros da Ordem também receberam o aviso do Patrono, mas naqueles tempos eles estavam muito vigiados, e se saíssem da escola para ir ajudar, demonstrariam com todas as letras que eram membros da organização, oferecendo provas concretas a Voldemort de sua “traição”. Apesar da vontade de ajudar, não foram ao Largo Grimmauld, pois caso fossem, não poderiam voltar à escola e tinham que proteger os alunos de Snape e dos irmãos Carrow na medida do possível. Nem mesmo Hagrid pôde ir.

***

Kingsley e Moody, que estavam em Londres mesmo, foram os primeiros a chegar ao Largo Grimmauld. A noite estava bastante clara por causa da lua-cheia, que imperava no céu londrino, e eles se sentiram expostos, pois não sabiam se havia Comensais fora da casa, vigiando. Começaram a correr em direção ao nª 12 da rua, que não estava desaparecido, como sempre acontecia. Por ter a porta aberta e jogada ao chão, o feitiço que a mantinha escondida não funcionava mais.

 Antes de alcançarem a casa, entretanto, algo imenso pulou na frente deles, o que os fez pular e recuar. Uma sensação gelada desceu por suas espinhas ao verem o que tinham em sua frente. Um lobisomem. Um imenso lobisomem. Um lobisomem que tinha um ar feroz e cruel. Apoiado sobre as patas traseiras, as da frente estendidas de maneira a revelar as imensas garras, as presas afiadas à mostra enquanto um fio de saliva escorria da boca franzida. Eles conheciam aquele lobisomem, já tinham tentado enfrentá-lo vezes sem conta. Era o temível Fenrir Grayback.

Sabendo o quanto era perigoso, Moody e Kingsley recuaram mais uns passos, tentando pensar em maneiras de matá-lo ou conseguir despistá-lo. O lobisomem ergueu a cabeça, soltando um aterrorizante uivo na direção da imensa lua prateada, e atacou-os. Deu um bote certeiro, caindo justamente no lugar em que Moody e Kingsley, caso não tivessem saltado, estariam. A mordida da fera era fatal, transformaria qualquer bruxo em lobisomem.

— Kingsley, você é mais rápido que eu, que tenho essa perna de madeira! Vou despistá-lo para que você possa correr e entrar na casa, Molly e Arthur devem estar precisando de reforços!

— Não, Olho-Tonto, não posso deixar você!

— Mais importante é a segurança dos planos e de nossos amigos! Corra!

Moody correu para um lado, longe da casa, provocando o lobisomem. A fera, que transformada não tinha um raciocínio claro de humano, mas agia sob os instintos de animal, de predador, correu atrás de Moody, tentando atingi-la com suas garras imensas, afiadas e sujas. O ex-auror lançou feitiços de estuporamento e azarações de impedimento que, devido ao grosso couro protegido pela luz da lua-cheia, não conseguiam causar muitos danos à fera, o máximo que conseguiam era deixar seus saltos menos perfeitos e sua velocidade mais fraca. Poucas coisas eram capazes de ferir um lobisomem adulto, como algo de prata enterrado no fundo do coração ou o ataque de um outro lobisomem, que teria força suficiente para enterrar suas garras e presas no couro grosso de um da mesma espécie, transmitindo ao lobisomem sua saliva venenosa. O veneno presente na saliva de um lobisomem era extremamente tóxico a um outro lobisomem.

Apesar de temer pela vida e saúde de Olho-Tonto Moody, Kingsley sabia que ele tinha razão. Aproveitando a distração do lobisomem com as técnicas evasivas de Moody, ele correu em direção ao nª 12 do Largo Grimmauld.

***

Na sala da casa, Molly e Arthur combatiam os Comensais com todos os feitiços que conheciam, exceto as Maldições Imperdoáveis, pois não tinham coragem de lançar esses cruéis feitiços contra seres humanos. O contrário não ocorria, entretanto. Os Comensais utilizavam de todos os golpes baixos que conheciam. Molly e Arthur, que não eram os membros da Ordem que mais treinavam duelos e defesa, cuidavam mais da sede da Ordem e organizavam os encontros, estavam sofrendo bastante, embora não fossem maus combatentes.

De repente, Arthur pensou em algo. Aqueles Comensais não podiam voltar para Voldemort, não podia correr aquele risco. Não só porque sabiam coisas demais, como a existência concreta dos planos da Ordem da Fênix, como também porque não podiam ser presos e mandados para Azkaban, pois ela estava ligada ao governo. Tinham que arrumar uma maneira de fazê-los prisioneiros e deixá-los em algum lugar que em que não fossem encontrados. Só os mataria se fosse totalmente necessário, uma questão de vida ou morte. Um dos Comensais lançou contra ele uma nova Maldição Imperdoável.

Avada Kedavra!

O jorro de luz verde correu velozmente em sua direção, mas como Arthur se desviou se jogando no chão coberto por um escudo Protego Horribilis, ele atingiu um vaso que estava atrás dele, sobre um aparador, que se espatifou em mil pedaços. Arthur se levantou de um pulo e olhou para o bruxo. Tentaria lançar um Bombarda em algum móvel leve que caísse sobre ele e o fizesse perder a consciência e ficar preso. Com o rosto rígido, gritou, mirando num móvel:

Bombarda!

O Comensal , que não percebera a intenção de Arthur, pensando que o feitiço era dirigido a ele, se moveu para o lado errado e foi atingido em cheio no peito pelo jato de luz vermelha e letal. O peito dele foi estraçalhado enquanto ele era jogado para trás, uma expressão eterna de dor, por um segundo, antes morrer.

— Felipe! — gritou Mário, olhando seu colega e amigo com olhos vazios fitando o infinito no chão. Voltava-se agora para Molly e Arthur com um ódio e uma clara expressão de vingança no rosto.

***

No andar superior, Monstro se divertia em torturar os outros dois Comensais com sua magia élfica, diferente da bruxa, mas nem por isso inofensiva. Os Comensais, paralisados no chão, sem conseguir mais que uns débeis movimentos, recebiam uma espécie de feitiço sem varinha lançado pelo elfo doméstico que os faziam morrer de cócegas, como se estivessem recebendo no corpo a azaração das cócegas lançadas por quatro bruxos ao mesmo tempo. Estavam sem fôlego e com os músculos todos doloridos com as contrações involuntárias.

— Têm que pagar! Monstro vai vingar a senhora tão amada e querida dele, ah, Monstro vai! A senhora tão digna e nobre do Monstro, “tadinha” dela...

Em certo momento, pensar na imagem destroçada e muda de sua senhora fez Monstro sucumbir à tristeza. Por mais que desejasse manter os Comensais sobre o castigo que impunha com seu poder mágico, ele não mais conseguiu. Além disso, os elfos domésticos não eram seres que tinham uma magia muito forte. Quando os Comensais se viram livres do poder élfico, levantaram-se com ódio redobrado. Estavam arfantes e com expressões em que se mesclavam a dor, o desconforto e fúria.

— E aí, Ricardo, acha que a gente deve se divertir um pouco com essa coisinha? Se vingar? Eu sentiria um imenso prazer...

— Eu também, Júnior. Mas se lembra que os outros estão sozinhos lá embaixo, combatendo. Não quer que as glórias e recompensas do ataque à sede da Ordem da Fênix fiquem apenas para eles, não? Que honra nós receberíamos com a tortura de um simples elfo doméstico?

— É, tem razão... Mas vamos nos vingar juntos! A Maldição da Morte, nós dois, ao mesmo tempo?

— Com certeza. Um, dois... três! Avada Kedavra!

Avada Kedavra!

Monstro, apesar de ouvir o que eles falaram que iam fazer, ia lutar até o fim para proteger o sacrossanto lar de sua senhora. O corpo de Monstro, com o impacto de duas Maldições da Morte ao mesmo tempo, voou quase até o teto. Ele morreu pensando em sua senhora e que, talvez, se o deus dos elfos gostasse dele, ele encontraria após sua morte o espírito dela.

***

Mário, o Comensal que sobrara no andar de baixo, combatia Arthur e Molly com fôlego e ódio redobrados. Apesar disso, era penas um, e a vantagem estava pendendo inteira para os adversários. Quando se sentiu totalmente encurralado, já esperando a morte, uma voz disse, atrás de Molly e Arthur.

— Bem, quer dizer que só vocês estão tomando conta dessa casa enorme? Um grande erro... — disse Ricardo, apontando a varinha para as costas de Molly.

— Ah, vocês, com esses cabelos ruivos, só podem ser Weasleys... — falou Júnior com ironia. — Arthur e Molly Weasley. Seu filho Percy mandou lembranças, sabiam? Quer encontrar vocês no inferno, mas só daqui a muito, muito tempo...

Arthur e Molly ficaram numa posição em que podiam olhar os três Comensais. Acuados, olhavam de um para os outros, sem saber o que fazer.

— Felipe está morto — disse Mário.

— M***! Pensava que escaparíamos sem baixas... — disse Ricardo.

— E aí, conseguiram os planos? Eles realmente existem?

— Sim, mas a rolha de poço aí os fez desaparecerem.

Molly bufou.

— Ora, seus...

— Bem, você vai nos dizer aonde os enviou por bem ou por mal?

Ela ergueu o queixo e o olhou com desafio.

— Jamais!

E sua insolente resposta foi respondida por uma forte Maldição Cruciatus lançada por Ricardo. Ela se ajoelhou, gritando de dor. Arthur se ajoelhou atrás dela, sustentando seu peso, sofrendo por ela.

— Parem com isso!

— Só se nos dizer onde os planos estão!

— Nunca!

Mário, que queria se vingar pela morte do colega e amigo, lançou uma Maldição Cruciatus em Arthur, também, enquanto Ricardo torturava Molly.

— Temos todo o tempo do mundo e todo o prazer também! Podemos esperar enquanto vemos vocês lentamente perdendo a razão por causa da dor!

— Acha mesmo, maldito? — disse uma voz lenta e grave cheia de ódio. Eles se viraram para a entrada da sala e viram um negro imenso e musculoso, realmente assustador. Os bruxos, normalmente, não eram muito musculosos, no máximo atléticos, pois eram poucos os que se exercitavam fora do quadribol, que não exigia tanto dos músculos como os esportes trouxas, e Kingsley praticava halterofilismo e boxe em sua casa, principalmente desde a morte de sua família, como se fosse uma maneira de esquecer a dor com o exercício pesado.  Só depois de um tempo reconheceram o ex-auror.

— Kingsley Shacklebolt!

Ele tinha a fama de ser um auror estupendo, poderoso e muito capaz, e juntava-se a isso, agora, o corpo imenso e forte, que lembrava a eles um rolo compressor trouxa. Ele os olhava com um braço apoiado num armário perto, revelando os grossos músculos, e a varinha em riste na mão do outro braço. Instintiva e inconscientemente os três Comensais recuaram, parando até de torturar Molly e Arthur.

— Vão encarar? — disse Kingsley com um tom de divertimento na voz calma que parecia mais letal que qualquer resquício de ódio que podiam ouvir.

Mário, erguendo o queixo, chegou mais perto dele, sua varinha erguida pronta para um feitiço. Com um feitiço não-verbal muito rápido, Kingsley o paralisou, usando um truque que qualquer bruxo primeiranista sabia, a Azaração do Corpo Preso. Depois, com a velocidade de um raio, aproximou-se dele e o atacou com uma rápida série de cruzados, diretos e ganchos que o fez cair todo machucado. Logo deu-lhe um chute na têmpora que o matou. Enquanto isso se passara, Arthur combatera os outros dois Comensais, tentando evitar que eles continuassem torturando Molly e evitando que interferissem na briga de Kingsley. Com um sorriso cruel, Kingsley se aproximou mais de onde estavam os outros dois, Arthur e Molly, ajoelhada no chão. Olhou o corpo do Comensal que Arthur matara e maneou a cabeça lentamente.

— Muito bom, realmente muito bom... — murmurou, pois ele, desde a morte de seus familiares, não tinha mais escrúpulos em matar. Tornou a olhar para os Comensais, que olhavam, horrorizados, Mário sangrando no chão, alguns hematomas e inchaços já surgindo em seu rosto. — Esse aí é fraco, uma simples azaração e uns bons socos o derrubaram. Com vocês vai ser diferente, só preciso de um golpe, mesmo. E aí? São melhores que ele? Espero, pois não quero perder meu tempo bocejando...

Ele mexeu com os brios dos dois Comensais, pois era isso mesmo que queria, deixá-los irritados, mexer com suas emoções a ponto de perderem a cabeça e cometerem erros na hora do duelo. Arthur e Molly se levantaram, já recuperados da sessão de tortura, as varinhas erguidas e novamente prontos para lutar.

— Ei, vocês podem ficar com um deles para se divertirem um pouco, mas não o matem, ao menos não hoje, pois ele pode nos fornecer informações importantes... — disse Kingsley — escolham um, ou se quiser podem me mandar os dois, assim vou ganhar a minha noite.

Molly, irritada por já ter sido torturada pela Maldição Cruciatus duas vezes essa noite, sendo uma delas aplicada por Ricardo, olhou para ele com ódio.

— Arthur já venceu um, Kingsley, então deixe um deles para mim.

Enquanto Arthur olhava, Molly e Kingsley começaram a combater os dois únicos Comensais que sobraram inteiros.

***

Lá fora, tentando se desviar incessantemente do lobisomem, Moody já estava ficando nervoso, pois não sabia o que fazer para derrotá-lo. Não podia conjurar uma arma ou adaga de prata para tentar matá-lo, pois perdera sua varinha nas loucas tentativas de desvio e fuga para que Kingsley pudesse entrar na casa em segurança. Agora estava pior, pois sem a varinha não tinha como deter ou desacelerar os saltos da fera e os golpes que dava com as garras. Em consequência, Moody já fora muito arranhado pelas garras enormes, afiadas e pontudas, e sangrava muito em vários lugares, inclusive o rosto. Mas não perdia sua típica ironia.

— Vamos, “Totó”, é só isso que consegue fazer? Onde está a famosa capacidade das garras e presas de um lobisomem? Já estou ficando entediado, sabia? — falava entre ofegos e gemidos enquanto continuava com a brincadeira de pega-pega.

Em dado momento, Moody não conseguiu se desviar a tempo. Grayback conseguiu, num salto, cair em cima dele, que caiu de costas com a fera em cima de si. Embora tentasse se soltar e proteger o rosto com as mãos, o lobisomem cravou suas longas e afiadas presas na lateral de sua garganta e ele sentiu a ardência típica das mordidas de lobisomem, quando o veneno de sua saliva entrou em contato com sua corrente sanguínea.

Nesse momento, duas pessoas aparataram diretamente na rua. Eram Tonks e Lupin. Viram o que estava acontecendo e se apavoraram com a situação de Moody, embora Lupin também sentisse uma mórbida alegria ao perceber que era Grayback o lobisomem que atacava seu amigo. Adoraria se vingar, fora ele que o transformara quando era uma criança pequena.

— Dora, vá ajudar Arthur e Molly! Eu cuido do Grayback, daqui a pouco a lua-cheia aparecerá e eu me transformarei!

— Mas... Remo..

— Não discuta, se não se tem prata, a melhor maneira de derrotar um lobisomem é pela mordida de um outro lobisomem na carótida! Parta antes que eu... que eu... me transfor...

Não deu nem tempo de terminar de falar, pois a nuvem que cobria a lua se afastou e o Largo Grimmauld inteiro recebeu um banho de claro e prateado luar. O rosto de Lupin se contorceu, voltando-se para a lua. Horrorizada, Tonks, que jamais vira sua transformação, pois ele não permitia, viu como o corpo de seu marido começava a se alongar e os pêlos crescerem, seus músculos a aumentarem de tamanho e mudarem de formato até estourarem as costuras das roupas, que caíram todas em pedaços no chão. Entretanto, Lupin não estava escravo de seus instintos animais e mantinha um profundo nível de consciência, pois tomara a Poção de Mata-cão. Com olhos que exibiam o brilho do raciocínio humano, ele a olhou e, numa voz rouca e diferente, disse apenas uma palavra:

— Vá.

Não foi preciso mais nada. Ao vê-lo em sua forma animal, ela logo percebeu que ele era bastante capaz de lutar contra Grayback, e correu para dentro do nª 12 para ajudar seus amigos.

***

Para derrotar Júnior, Kingsley não precisou de muito. Ele guardou até sua varinha, achando que não precisaria dela. Desde que vinha treinando boxe em casa e fortalecendo seus músculos, raramente fazia uso da varinha para derrotar inimigos. Sabia que a varinha era necessária em certas situações, pois com ela bloqueava feitiços e azarações e podia lançar feitiços de longe, mas sentia um cruel prazer em um corpo-a-corpo, quando sentia com mais intensidade ser ele o causador da dor e da morte do adversário. A chacina de sua família o deixara mais seco e vingativo.

Júnior lançava feitiços, azarações e Maldições nele sem parar, enquanto recuava pela sala. Kingsley, que agora tinha reflexos cada vez mais rápidos, conseguia desviar-se de todos sem exceção, ora se abaixando, ora afastando o corpo para a direita ou para a esquerda, ora inclinando-se para trás. Apesar do corpo alto e forte, ele tinha a agilidade e flexibilidade de um felino. O Comensal já estava com medo, pois sua varinha, que era para ser algo tão poderoso contra alguém que deliberadamente se achava desarmado, parecia algo inútil em suas mãos, era como se Kingsley previsse todos os seus movimentos, os lugares onde queria atingi-lo. Certo momento, não teve mais como recuar. E percebeu também que Kingsley não teria como se defender assim tão perto. Tentou lançar-lhe uma Maldição da Morte, mas Kingsley foi mais rápido, segurando com força a mão da varinha, de modo que o feitiço foi desviado, atingindo uma parede. E movido por um ataque de covardia, tentou fugir, usando de desaparatação para isso. Seus olhos brilharam loucamente quando não conseguiu.

Arthur, que estava vendo tudo recostado a uma parede, comentou, divertido:

— Acho que isso o Percy não deve ter comentado com vocês, não? Só membros da Ordem da Fênix conseguem aparatar e desaparatar aqui dentro, imbecil. Olho-Tonto que fez as defesas da sede, e elas são muito boas. O Percy não esteve presente às reuniões da Ordem da Fênix nos últimos... bem, dois anos. Achava que a gente não ia incrementar, mongol? — ele se voltou, então, para Kingsley. — Mas não o mate, Kingsley... não podemos nos rebaixar ao nível deles.

— Me peça tudo, Arthur, menos para poupar a vida de um desses cães. Não sou o mesmo homem de antes, meu amigo — agora o sorriso frio com que Kingsley brindava Júnior era decididamente apavorante. — Alguma palavra antes que eu acabe com você?

Tremendo nas bases, ele disse:

— P-por favor... t-tenha misericórdia...

— Misericórdia? — Kingsley fingiu pensar um momento. — Não. Vocês não tiveram misericórdia quando assassinaram pessoas inocentes. Então, meu caro, paciência.

Ele segurou Júnior pelo pescoço com força e ira, rapidamente, aos poucos o levantando contra a parede. O Comensal começou a sufocar. Com a outra mão, que segurava a do Comensal, Kingsley bateu com força várias vezes a mão dele contra a parede, de modo que ele afrouxou os dedos e a varinha caiu no chão. Agora Kingsley podia usar as duas mãos, e o Comensal percebeu isso na hora. Em pânico, olhou para o rosto estragado de Mário, ainda desacordado no chão. E quando voltou o rosto para o adversário, soube na hora que estava perdido. Os olhos negros de Kingsley pareciam poços escuros e profundos, sem sentimento algum refletidos ao não ser raiva e asco. Nada de piedade. E gritou quando sentiu o impacto do primeiro dos vários socos que passou a receber. Nos olhos, na face, na boca, no nariz. E não foi só isso. Logo também começaram os socos e joelhadas no abdome. A Maldição da Morte era preferível ao que ele sentia no momento, pois com ela nem se percebia o momento em que a alma deixava o corpo.

— Kingsley, acho que já basta — disse Arthur, que não tinha o sangue frio do amigo. — Acabe logo com ele.

Olhando para o rosto moído do oponente, Kingsley concordou com Arthur. Jamais deixara seu ódio aos Comensais atingir um grau tão elevado. Logo lhe deu um soco tão potente na região da traquéia que lhe quebrou o pescoço, matando o homem em um piscar de olhos.

Arthur fechou os olhos, não suportando ver como seu amigo tinha mudado desde que perdera sua família. O Kingsley de antes não cometeria um ato tão violento. Aquilo era apenas o reflexo do que a dor era capaz de fazer com uma pessoa. E Voldemort era o responsável!

Enquanto isso, Molly combatia o outro Comensal, Ricardo. O combate entre eles era totalmente bruxo. Não usavam de golpes e truques trouxas como Kingsley. Os dois trocavam feitiços.

Bombarda! — gritava o Comensal.

Protego Horribilis! — defendia-se Molly, usando o escudo de magia protetor.

Alarte Ascendare! — lançava Molly.

E o Comensal se protegia com um escudo e revidava com uma Maldição da Morte da qual Molly conseguia se desviar. E assim continuava entre eles, ambos tinham praticamente o mesmo nível de magia e estratégias. Entretanto, quando achou uma brecha na defesa de Ricardo, ela teve a oportunidade de lançar o feitiço que possibilitaria que ele ficasse fora de combate, para assim Kingsley poder interrogá-lo. Um feitiço simples, mas poderoso.

“Estupefaça!”, ela pensou, pois se decidira por um feitiço não-verbal que não permitiria ao adversário se defender a tempo, por não poder erguer logo um Feitiço Escudo. E o jorro de magia vermelha que saiu da ponta de sua varinha atingiu o Comensal em cheio no peito. Ricardo arregalou os olhos e caiu no chão, desmaiado. Molly se sentiu feliz por não ter matado, mas estava trêmula, pois aquela fora a primeira vez em que duelara de verdade na vida. Como ela não era naturalmente uma pessoa violenta, sentiu-se mal. Ela caiu ajoelhada, tremendo muito. Arthur, que sabia a sensação que ela sentira, pois ele mesmo se sentia profundamente triste e dolorido pela morte que fizera sem querer, foi até ela e se abaixou por trás, envolvendo seus ombros em um abraço.

— Calma, meu amor, vai passar...

Nesse momento, como um furacão, alguém irrompeu na sala e os três ergueram suas varinhas, mas ao ver a pessoa tropeçar no corpo de Mário, que estava desacordado no chão, logo respiraram aliviados, pois não conheciam ninguém que fosse mais desastrado do que Tonks.

— E aí, pessoal? — ela comentou com seu jeito alvoroçado. — A festa já acabou?

— Como pode ver, Tonks, tudo está bem. Pessoal, como vocês conseguiram passar por Fenrir Grayback? Soube que ele está de tocaia lá fora — disse Arthur.

— Vamos, temos que ajudar Olho-Tonto! Ele desviou a atenção do lobisomem para eu entrar...

O rosto de Tonks ficou triste.

— Não sei se ele irá se salvar... Remo está, no momento, sob a forma de lobisomem, combatendo Grayback, mas quando chegamos, esse estava sobre a garganta de Olho-Tonto...

— Então vamos, vamos! Temos que ver o estado de Olho-Tonto!

Eles correram para a porta da casa, mas não saíram num primeiro momento. Afinal, dois lobisomens ferozes combatiam entre si naquele instante.

***

Transformado, Lupin ficava impressionante. Alto, muito musculoso, bastante peludo e com uma expressão que era de causar medo em qualquer um. Querendo afastar Grayback de Moody, ele uivou alto. Um lobisomem transformado e sem a Poção de Mata-cão só escuta o chamado de sua própria espécie. Na mesma hora que o som do uivo sobrenatural ecoou pelo Largo Grimmauld, Grayback soltou a garganta de Moody, as orelhas lupinas erguendo-se no ar, movendo-se conforme a direção do vento e do som, as narinas farejando o ar. Ele se virou, um enorme lobisomem negro, e olhou o lobisomem castanho que o encarava. Lobisomens, por causa do instinto da espécie lupina, eram extremamente territoriais, e ao perceber, pelo faro, que o lobisomem que dividia o espaço com ele era um macho, todos seus instintos de luta por um território afloraram. Uivou ainda mais alto, como se quisesse estabelecer os limites territoriais e mostrar quem era o mais forte. Ele se pôs nas quatro patas e correu em direção ao outro macho. Parou perto dele e ficou rondando-o, atento. Lupin também o rondava, eles se encaravam nos olhos, era como se um desafiasse o outro.

Sem aviso, Grayback saltou para cima de Lupin, querendo arranhá-lo com suas afiadas garras. Lupin aparou o salto na base da força, mostrando ele mesmo as garras pontudas, louco para enfiá-las no peito de Grayback, louco para se vingar por causa da maldição licantrópica que lhe fora passada pela mordida desse mesmo lobisomem. Ambos passaram a tentar ferir um ao outro com as garras e presas, numa espécie de bailado que envolvia ataques e recuos, encaradas e uivos, cada um querendo mostrar mais poder, ser o macho vencedor e ficar com o “território” e a presa. Apesar de Lupin estar sob o efeito da Poção de Mata-cão, não perdera seu instinto e sua capacidade de caça e luta. Justamente por estar totalmente com os instintos livres, Grayback era mais perigoso e seus reflexos e sentidos estavam mais acurados que os de Lupin. Por isso Lupin não percebeu quando o adversário recuou de uma investida e o atacou com toda a força, pulando sobre ele. Lupin caiu com Grayback em cima de si, a bocarra tentando morder seu ombro e pescoço. Não podia permitir que as presas úmidas de saliva se cravassem nele, pois seria morte certa, a saliva de lobisomem era muito tóxica para os da mesma espécie.

Nesse momento foi quando Arthur, Molly, Kingsley e Tonks pararam à porta do Largo Grimmauld. Quando olharam na direção de onde vinham os uivos, rosnados e ofegos, viram Lupin e Grayback engalfinhados, Lupin em desvantagem sob o peso da fera.

— Não! — gritou Tonks, apavorada, com medo pelo seu marido. Tentou correr até ele, mas foi firmemente agarrada pela cintura por Kingsley.

— Não, Tonks! Você não pode fazer nada, isso é entre eles! Chegar perto de lobisomens é perigo total! Não esqueça que provavelmente o Grayback não está sob o efeito da Mata-cão!

— Mas... mas... — ela olhava para os lobisomens com ar desamparado.

— Deixe isso com Lupin, ele saberá o que fazer! Vamos ver Olho-Tonto! Ele é quem precisa de cuidados no momento!

Viram no outro extremo do Largo um corpo que só podia ser o de Moody. Os quatro correram até ele. Ao ver o estado do amigo, Molly escondeu o rosto no peito de Arthur e os olhos de Tonks se encheram de lágrimas.

— Arthur, ele... ele está... morto?

— Temos que examinar...

O corpo de Moody estava coberto de profundos arranhões de onde o sangue minava, mas o pior acontecera em sua garganta. A lateral do pescoço era uma massa sanguinolenta onde se viam tiras de músculos, tendões expostos e artérias e veias danificadas de onde o sangue escorria, alagando o chão em torno de sua cabeça. Fora isso, seu olho de vidro se perdera em algum lugar da rua, e o oco escuro era assustador. Kingsley se abaixou para saber se ele morrera.

— Ainda respira, mas de maneira superficial e rápida. Seu pulso está fraco e rápido demais. Deveríamos levá-lo ao St. Mungos, mas no estado em que as coisas estão, ele não sairia vivo de lá, o hospital está, como todas as instituições bruxas de Londres, sob o poder do Ministério. A gente mesmo vai ter de salvar nosso amigo.

— Vamos levá-lo para dentro... — sugeriu Arthur.

— Não, seria morte certa, inclusive se fosse carregado por meio de magia. Se o tirarmos daí antes de fecharmos esses ferimentos, ele não irá aguentar.

— Eu sei alguns feitiços e poções de cura, mas antes preciso delas, e de anti-sépticos, estão no meu banheiro, numa bolsa de primeiros-socorros — disse Molly.

— Sem problema — Kingsley disse, apontando a varinha para o andar superior da casa e fazendo um feitiço convocatório. — Accio bolsa de primeiros-socorros da Molly!

Em pouco tempo a bolsa branca veio às mãos dele, que a entregou à Molly. Ela se ajoelhou ao lado de Moody. Primeiro, e com delicadeza, cortou a gola da túnica bruxa que ele usava com um Feitiço de Corte, expondo mais o grande ferimento. Primeiro ela jogou uma grande quantidade de anti-séptico bruxo feito à base de sangue de dragão e asfódelo. Em seguida, lançou um Feitiço de cura sobre as artérias e veias rompidas e derramou algumas poções. Tinham que cuidar primeiro daquele ferimento, que era mais perigoso, pois ele estava perdendo muito sangue. Os vasos sanguíneos foram se recuperando na frente deles até estar completamente fechados.

Enquanto isso, Lupin e Grayback continuavam se digladiando. Usando da força de seu corpo de fera, Lupin conseguiu inverter os movimentos, fazendo com que fosse Grayback que ficasse em desvantagem, sob o peso do seu corpo. Entretanto isso não durou muito tempo, e logo os dois rolavam pelo chão, cada um querendo assumir a ofensiva, querendo ficar sobre o adversário e cravar suas presas. Para Lupin também era difícil porque jamais tinha matado alguém na vida, enquanto que a lista de assassinatos de Grayback era quilométrica. Ele não poupava sequer crianças e idosos em suas matanças.

Agoniada, dividida, Tonks repartia sua atenção entre o trabalho de salvamento ao seu lado e a luta desesperada que acontecia mais adiante. Era seu amigo, seu mentor quem estava morrendo diante os seus olhos, e sofria também com a possível morte de seu marido, o único homem a quem amara em toda a vida, ambos sofrendo pelas mãos do mesmo ser perverso e vil. Tinha vontade de correr para ajudar Lupin, mas além de ser perigoso, tanto para ela quanto para ele, Lupin não apreciaria sua intervenção, seu orgulho ficaria ferido caso ela ajudasse a matar o homem a quem queria vencer mais que tudo na vida.

Após fechar as artérias e veias de Moody, Molly aplicou algumas poções de cura e fortalecimento no seu pescoço e por fim aplicou essência de ditamno para fechar a ferida. Uma camada de carne e pele nova surgiu sobre a ulceração.

— É o máximo que posso fazer por ele... Não tenho as melhores poções e não sei os melhores feitiços de cura, um Curandeiro faria um serviço tão bom que não se veria nem mesmo cicatriz, mas não sou formada em Curandeirismo... Fiz apenas um curso básico de cura para poder ajudar a Ordem caso fosse necessário. Agora é com ele e sua vontade de viver... Mas não sei... Ele perdeu sangue demais e não tenho nenhuma poção para repor sangue comigo...

Os demais cortes no corpo, causada pelas garras de Grayback, por serem menos sérios, ela os fechou com o feitiço simples de cura Episkey. Era imprescindível que Moody não perdesse sequer uma gota de sangue a mais do que perdera.

No outro extremo da rua, sentindo que já estava ficando cansado, Lupin percebeu que tinha de ser tudo ou nada. Não tinha forças para continuar numa refrega contínua com o outro lobisomem. Concentrando toda sua força e fúria, ele conseguiu novamente ficar sobre Grayback e não perdeu tempo. Prendeu os braços do lobisomem com seus joelhos, agarrou sua cabeça, expondo seu pescoço, e cravou as presas na garganta da fera, estraçalhando o vulnerável pescoço, isso em fração de segundos. Abriu com suas presas todas as grandes artérias e veias do pescoço do lobisomem, envenenando seu sangue com sua saliva. Então deu um salto para trás, caindo sobre as patas traseiras agachadas, numa posição de ataque, os braços estendidos, em alerta para caso não desse certo.

Grayback se ergueu de um salto, seu próprio sangue escorrendo pelo peito, e se preparou para dar um bote em Lupin, entretanto, suas pernas fraquejaram. Ele ergueu a cabeça, seu pescoço exposto e rasgado recebendo em cheio a luz da lua-cheia. Uivou para a lua, um uivo que era uma mistura de dor, revolta, ódio e resignação. Logo seu corpo foi voltando à forma humana original, um homem nu e magro, de longos e revoltos cabelos sujos e unhas imensas, que caiu no chão primeiro de quatro, depois de bruços. Ele se contorcia e gritava de dor, a respiração rascante. Logo, apenas tremia e soltava curtos ofegos, como uma pessoa envenenada. Quando parou todos os movimentos, Lupin soube que ele estava morto. Sentindo uma onda de adrenalina no corpo, e orgulho pela vitória e pela vingança, e justiça, cumpridas, Lupin se ergueu sobre as patas traseiras, o corpo todo esticado e os músculos contraídos, mostrando toda sua força, enquanto soltava um grande uivo de agradecimento à lua.

Tonks, ao ver a vitória de seu marido, deu um grito de alegria.

— Ele venceu, ele venceu! Valeu, Remo, meu amor!

Ao ouvir a voz de Tonks e reconhecê-la, ele ficou sobre as quatro patas e, mancando, pois também sofrera muitos ferimentos por causa das garras de Grayback, caminhou até ela. Os outros ficaram rígidos, como medo do lobisomem, pois agora ele era mais fera que o amigo deles. Ela, entretanto, já estava acostumada, pois cuidava dele a cada mês, quando a lua-cheia surgia, e sob o efeito da Poção de Mata-cão, ele era inofensivo para os humanos. Tonks abaixou-se ao lado dele e passou as mãos pelos pêlos de seu dorso, acariciando-o. Somente em alguns dias, quando a lua passasse a minguante, ele voltaria ao normal.

— Não se preocupem, ele é inofensivo, agora.

Ao olharem para as casas vizinhas do nª 12, viram que alguns trouxas, temerosos, estáticos, estavam às janelas de suas casas, assistindo a tudo.

— Bem, vamos limpar os estragos e procurar um novo lugar para ficarmos... Agora não podemos continuar no Largo Grimmauld — disse Kingsley. — Arthur, você pode, por favor, alterar as mentes dos trouxas vizinhos? Daqui a pouco irão chamar a polícia, os bombeiros e a ambulância, se é que já não chamaram... Eu vou cuidar do corpo de Grayback e dos Comensais, tanto o morto quanto o que está desacordado. Levarei esse a um lugar onde possa interrogá-lo.

— Eu e Molly cuidaremos de Olho-Tonto e de Remo, enquanto isso, ok, Molly? — disse Tonks.

            — Claro, querida, Olho-Tonto precisa de cuidados, e creio que Remo também.

Enquanto cada um fazia as tarefas designadas, pensavam sobre o problema que seria encontrar uma nova sede para a Ordem da Fênix. Onde encontrar um lugar seguro e central?


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Notas finais do capítulo

Até o próximo, pessoal! Please!!! Comentem!

Beijos carinhosos da Ana



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