Harry Potter e o Amuleto de Merlin escrita por ana_christie


Capítulo 26
Um Mergulho Gelado


Notas iniciais do capítulo

Pessoal! Hello! Como vocês estão? Desculpem pela demora, mas começo do ano vieram me visitar minha irmã, que mora longe, e seu noivo. Além de ter de escrever uma fic de aniversário para uma amiga muito querida (quem quiser ler algo bem hot, vá à meu perfil e leia a fic Blood and sexy). Hoje o capítulo será mais um daqueles cheios de adrenalina, para quem gosta, como eu, de aventuras, está demais! E me custou um bocado escrever, pois tive que fazer umas pesquisas... Espero muito que gostem! E comentem, please!



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Harry, Rony, Hermione e Ana ficaram mais uns dois dias no Egito, por cortesia a Tarek Hassan Al Rachid. O professor estava profundamente agradecido por ter se livrado da influência maléfica do Medalhão que comprara tão inocentemente. E por isso quis agir como um bom anfitrião no seu país, mostrando a eles os principais pontos turísticos e oferecendo uma hospedagem digna apenas de reis. Rony é que realmente apreciou aqueles dois dias, pois foram regados a muita comida e diversão, embora os outros estivessem ansiosos para voltarem à Inglaterra, pois sua jornada ainda não acabara e sabiam que a batalha derradeira estava por vir, cada vez mais próxima.

Quando voltaram, tiveram mais cuidado do que nunca com a manutenção do contato com seus amigos, para evitar que as forças inimigas descobrissem sobre o quartel-general da Ordem. Mas as saudades eram tantas que voltaram a se hospedar na casa do Largo Grimmauld, apesar dos riscos. Quem estava muito saudosa de sua família era Hermione, que não via os pais desde que partira com os amigos para a viagem a Godric's Hollow, a viagem que desencadeara todas as aventuras pelas quais passaram até o momento. Por incrível que parecesse, Voldemort e os Comensais da Morte não tinham se atido ao fato de que aquele era um ponto fraco de Hermione. Talvez, pelo fato deles serem trouxas, nem sequer deram atenção a eles, como guerreiros verdadeiramente atentos e inteligentes fariam.

Mione queria visitar seus pais, que já deviam estar nervosos com seu desaparecimento. Ela fora muito esperta: como não queria que eles imaginassem que ela estava desaparecida e fossem até à polícia trouxa armara um plano.  Rezava para que estivesse saindo bem. Como Vítor Krum ficaria em sua casa como uma espécie de intercâmbio cultural e linguístico, ela dissera aos pais que iria, em troca, passar uma temporada na Bulgária, fazendo o último ano da formação em magia numa escola de lá. Para que não desconfiassem e tivessem a sensação de que a filha estava bem, ela escrevera antecipadamente várias cartas como se estivesse vivenciando bons momentos no país de Vítor. Dera as cartas a ele com a promessa de colocá-las, uma por mês, na caixa-de-correio dos Granger. Agora, já que estava se aproximando da páscoa, podia ir visitá-los com a desculpa de que eram umas “férias de páscoa”. Não aguentava mais ficar longe sem pelo menos um contato em que pudesse aliviar as saudades e se certificar de que estavam bem.

No domingo da páscoa, tomando todas as precauções de sempre, como feitiços defensivos, ela e seus amigos foram à casa dos pais dela. Não queriam nunca estar sozinhos, para o caso de uma eventualidade negativa, como o encontro com algum Comensal da Morte. Mione levava para os pais dois pequenos ovos de chocolate feitos pela Sra. Weasley, pequenos porque eram dentistas e geralmente comiam poucos doces. Quando entraram na casa, Rose e Hugo Granger estavam sentados no sofá, calmamente envolvidos em uma conversa com Vítor Krum. Com um amplo sorriso, Mione falou:

— Ah, meus pais arranjaram um novo filho? Vou ficar com ciúmes...

Os pais dela viraram-se para a porta surpresos e muito contentes. Desde julho do ano passado que eles não viam mais sua filha, que só passara algumas semanas em casa entre o fim do ano letivo e as semanas na casa do amigo nas férias de verão. Levantaram-se e a cumprimentaram com muito entusiasmo, felizes por encontrá-la bem disposta e saudável. Eles cumprimentaram os amigos dela e então Mione se virou para seu amigo e disse:

— Olá, Vítor. Quanto tempo, heim?

Com um amplo sorriso que erguia suas grossas e arrepiadas sobrancelhas negras, Krum a abraçou, dizendo:

— Senti saudades, Hermi-ô-nine...

No seu ouvido, murmurou, para que os pais dela não ouvissem:

— E fiquei muito, muito prreucupado... As coisas por aqui non eston nada boas... E focês sendo perrseguidos...

Rony ficou muito enciumado com o abraço e a aparente intimidade entre eles e foi até os dois, com um pigarro, puxando o braço dela e a enlaçando fortemente, olhando para Krum com ar de arrogância e possessividade, deixando claro que aquele era seu território. Krum, que jamais deixara de manter uma tênue esperança, murchou a olhos vistos, desesperançado. O ato de Rony também deixou claro para os pais de Mione o que estava rolando entre ele e sua filha, e ela não teve remédio a não ser confessar o namoro, que os pais aceitaram sem (ou quase sem) relutância. Na verdade tinham se afeiçoado, durante aqueles meses, a Krum, e torciam secretamente que ele fosse o rapaz que se tornasse seu genro. Após uma manhã de conversas — quando muita coisa teve que ser inventada —  e um almoço de páscoa, Mione e seus amigos ficaram no jardim da casa, aproveitando a primavera e conversando. Queriam pôr os assuntos em dia. Em certo momento, conversaram sobre suas escolas. Ana tinha curiosidade sobre a escola que Krum frequentara. 

— Minha escola se chama Durmstrang. É imensa, difícil de serr encontrrada, não pode serr mapeada. E é infinitas fêzes menos conforrtáfel que Hogwarts. E lá as artes das trevas são aprrendidas pelos alunos, não apenas sua defesa, como em Hogwarts. Boa parrte dos piores bruxos das trrevas saíram de lá, entre os quais o famoso Grindelwald, bruxo que, em 1945, após afligir muito o mundo bruxo, foi derrotado por Dumbledore num grrande duelo. Lá em Durmstrang, Grindelwald é muito respeitado, no pátio há uma grande estátua dele. Mas para a maioria dos moradores do continente europeu, prrincipalmente os países do Leste, como meu país, a Bulgária, ele sempre foi fisto como um monstro, era o nosso Voldemort. Matou, torturou e acabou com a fida de muita gente.

— Mas, na verdade, onde é que fica Durmstrang? Pelo que ouvi numa conversa, deve ser muito ao norte, pois suas capas são de peles pesadas e quentes.

— Sim, lá é muito frrio, constantemente frrio. Quando, no ferão, a temperatura chega há uns 10 graus Celsius, ficamos contentes. Durmstrang fica na Noruega, perto do Lago Seljord, um dos mais famosos lagos do mundo, tão grande que parece um mar, quando fisto de suas margens.

— Sim, já estudei sobre ele!

— Então defe saberr que lá é onde está a maior concentração de sereianos do mundo! Fizeram um ferdadeiro reino, lá. Um reino que ficou, na ferdade, muito difícil de contrrolarr, faz uns dezoito anos, desde que alguma coisa, como um meteorito, desceu com impacto no lago, e eles pensaram ser aquilo uma profa de que os sereianos do Seljord eram os superiores da raça, a tribo-reino, como eles chamafam. Creio que usam a tal coisa que desceu, aparentemente do nada, ou do céu, como símbolo do seu reino.

No mesmo instante que ouviu essas palavras de Krum, Ana paralisou. Sua mente inteligente e ágil começou a trabalhar, fazendo conexões, encaixando pedaços do quebra-cabeça que se formava em sua mente. Ao olhar para Hermione, notou que a amiga fazia a mesma coisa, pela concentração que via em seus olhos. As duas se olharam por um momento, fixamente, até que sorriram com ar superior, contente e cúmplice, acenando discretamente uma para a outra. Aparentemente, tinham chegado à mesma conclusão ao mesmo tempo. Como era bom ser inteligente!

***

Mais tarde, quando já estavam na casa do Largo Grimmauld, Hermione chamou os rapazes ao quarto que dividia com Ana. Ambas estavam loucas para contar para eles o que tinham descoberto (ou ao menos achavam que tinham). Quando eles se acomodaram (Rony deitado com a cabeça no colo de Mione, pois desde o encontro com Krum ele parecia estar mais possessivo e inseguro que de costume), Ana começou a falar:

— Rapazes, acho que descobri onde está a parte que falta do Amuleto de Merlin.

Na mesma hora eles, principalmente Harry, passaram a prestar ainda mais atenção na garota. Com o Amuleto de Merlin completo, teriam a arma que ajudaria Harry a vencer Voldemort de vez.

— Hoje, conversando com o Vítor Krum sobre Durmstrang, descobri que o lugar mais possível para a parte do Amuleto estar é lá por perto. No Lago Seljord.

— Por que você acha isso, Ana?

— Tanto eu como Mione percebemos de cara, como vocês são lentos! Ora, no Lago Seljord é onde está a maior concentração de sereianos do mundo! E a parte do Amuleto de Merlin que falta é a do sereiano, Harry. Além de ser um dos maiores reservatórios de água doce do mundo. É um dos maiores lagos do mundo, e sabemos que o elemento presente nessa parte do Amuleto é a água.

— Mas há muitos lugares onde há sereianos, Ana! Todos, é lógico, cheios de água — disse Rony. — Será que vocês não estão enganadas?

Hermione fez sua célebre cara de sabe-tudo.

— É claro que não, Ronald Weasley! A gente só ia falar isso para vocês se tivesse outras evidências, acha que a gente ia tentar uma viagem de graça à Noruega? Vocês não prestaram mesmo atenção às palavras do Vítor. Há uns dezoito anos, época exata em que os pais de Ana tiveram de mandá-la para longe, e ao Amuleto, e foram mortos, um objeto que parece ter descido do céu caiu no Lago Seljord, o que fez os sereianos de lá acreditarem-se superiores e criarem inclusive uma espécie de reino lá, no lago. Ora, seria muita coincidência se esse tal objeto não fosse a parte do Amuleto de Merlin do Sereiano. Entenderia muito bem se eles acreditassem que um quarto de esfera de metal mágico com o desenho de um sereiano, que aparece magicamente, era uma prova de sua superioridade.

Surpresa e euforia apareceram nos rostos de Harry e Rony, que se olharam com um ar de vitória. Hermione e Ana balançaram as cabeças de maneira desanimada uma para a outra. Era como se revelassem uma a outra o que achavam da lentidão dos rapazes.

E então, quando mal haviam chegado, tinham uma nova viagem para preparar.  Apesar de conhecer novos lugares ser algo muito bom, normalmente o que bruxos que terminavam a formação em magia faziam, saindo para uma “volta ao mundo”, eles já estavam cansados daquelas estafantes e perigosas viagens nas quais eram obrigados a ir. E perceberam que iam precisar da ajuda de alguém. Vítor Krum.

Rony ficou muito chateado com a sugestão de Ana, mas logo ele próprio percebeu o quanto a presença de Krum seria necessária nessa especifica viagem. Pelo visto, a colônia dos sereianos ficava na parte do Lago Seljord localizada na propriedade onde estava Durmstrang. Com certeza eles não seriam bem-vindos lá, dada a rivalidade natural que havia entres as escolas de magia da Europa, principalmente entre Durmstrang e Hogwarts. Mas o pior era o fato de a Noruega ser um país pró-Voldemort. Se eles fossem pegos no país ou nas imediações de Durmstrang, além de serem presos e deportados diretamente para Azkaban, Voldemort ficaria alerta para o fato de ao menos uma parte do Amuleto de Merlin estar ali.

Vítor, quando soube da missão em que sua ajuda era necessária, mesmo sem saber exatamente qual era a missão, aceitou na hora e com entusiasmo. Queria ajudar, participando de alguma forma da luta contra Voldemort e as forças das trevas. Além disso, veria novamente sua escola. Apesar de lá não ser muito confortável, além da ênfase que se dava às artes das trevas, ele apreciara muito os anos que passara lá.

A viagem de avião tinha que ser cercada por muitos cuidados, diferentes das anteriores, que não exigiram tantos, pois as nações visitadas — Romênia, Índia e Egito — eram contra-Voldemort. A sorte que tinham era o fato de não serem esperados, além de viajarem de uma maneira não-convencional — isto é, para os bruxos. Mesmo assim, tinham que se disfarçar muito bem. Os cinco viajaram com muito temor de serem descobertos, e foi uma viagem tensa. Na aterrissagem em Oslo, a capital da Noruega, os cuidados foram redobrados, e eles usaram, além do feitiço metamorfológico, o Feitiço da Desilusão.

A Noruega é um país europeu situado na Península Escandinava, limitado ao norte pelo Mar de Barents, ao leste pela Rússia, Finlândia e Suécia, ao sul por um estreito que a separa da Dinamarca, e a oeste pelo Mar do Norte e o Mar da Noruega. Possui uma área de 385 199 km², uma parte da qual se distribui por mais de 150 mil ilhas. Na área continental, predomina a paisagem de montanhas, platôs e fiordes. O terreno glacial é formado em maior parte por platôs altos e montanhas ásperas, através dos quais aparecem vales férteis; possui pequenas e irregulares planícies, a linha costeira bastante recortada por fiordes e tundra ao norte. Seu clima é composto por verões amenos e invernos longos e rigorosos, sendo um clima “melhor” que os países em volta por causa da quente Corrente do Golfo do México.

Oslo era uma cidade linda, aos olhos de todos eles, tinha ainda um quê de velho mundo ainda mais intenso que as demais capitais européias. Relativamente pequena, tendo em torno apenas colinas cobertas de vegetação, casinhas coloridas subindo e descendo e pinheiros. Não tinha fábricas, avenidas congestionadas, barulho e ar poluído. Enquanto o táxi rodava pelas belas ruas e praças de Oslo, principalmente a Karl Johans, a principal rua da cidade, cheias de lojas, bares, prédios públicos importantes, eles mal conversavam, a tensão forte demais, e após a primeira vista que tiveram da cidade, mal percebiam suas belezas, agora mais prementes pois estavam em plena primavera.  

Foram deixados numa região mais vazia, de periferia, quando, naquela hora, a maioria dos moradores devia estar trabalhando. Krum se virou para todos e disse:

— Peguem no meu brraço e, na hora da Aparatação, mentalicem os trrês Ds, Destinação, Determinação e Deliberação. Eu guiarei focês até os limites de Durmstrang. Como em Ogwarts, non se pode aparatar lá dentrro. Ah, Durmstrang fica muito ao Norte, e o clima lá é quase constantemente glacial, não se animem muito com a suavidade do clima daqui.

Ana mordeu o lábio inferior.

— Desculpe, Vítor, mas não sei aparatar, infelizmente. E eles ainda não aparatam a tempo suficiente para fazer aparatação acompanhada

Ele a olhou de forma estranha, como qualquer bruxo olharia para uma bruxa adulta que não sabe aparatar.

— E como focês têm se locomovido porr aí?

— A Mione aprendeu a fazer Chaves de Portal. Quando não precisamos nos locomover entre países, usamos Chave de Portal.

Ele olhou para Hermione com ar de admiração. O feitiço para Chave de Portal, o Portus, era muito difícil, não estava nem na grade curricular das escolas de magia.

— A Hermi-ô-nine sempre intelichente como sempre, não?

Ela ficou corada com o elogio, e Rony, vermelho de ciúme.

— Bem, mas eu sou capaz de facerr uma aparatação acompanhada — disse Krum. — Como destinação, pense fortemente em Durmstrang, e segurem em meu braço. Aparatação também non é fácil em Durmstrang, pela impossibilidade de serr mapeado. Como sei onde fica, segurando em mim fica mais fácil. Ana, segure em mim forrte, e non largue.

Ele deu todas as coordenadas do lugar em que tinham de ir e todos seguraram em Krum, Ana com muita força. Estava nervosa, sentindo um frio na barriga, pois seria a primeira vez que aparataria. Não durava nem mesmo quatro segundos, mas era horrível. Apareceram num lugar muito, muito frio. Muita neve estava sobre o chão e as árvores coníferas, principalmente pinheiros, deixavam a paisagem muito alpina. Uma muralha de dezenas de metros de altura circundava algo que, Harry, Hermione, Rony e Ana suspeitavam — e Krum tinha certeza — era a escola de Durmstrang. Dali, era possível ver o início do lago de água doce que era um dos mais belos do mundo — principalmente quando visto durante o curto verão que acontecia naquelas paragens nórdicas.

Todos estavam cobertos pelo Feitiço da Desilusão, o que era providencial, pois naquela alvura toda, que refletia de maneira cortante a luz do sol, seriam alvos perfeitos. Como tinham quase sido pegos na aventura da Índia por causa de suas sombras, Hermione tinha aprendido um feitiço que fazia as sombras sumirem, e o utilizaram, junto ao Feitiço da Obliteração, que apagava pegadas, o que foi providencial.Um bruxo vestido com pesadas capas de pele caminhava por ali, e era um vigia. Tinha uma verdadeira “cara de mau”, e Harry tinha certeza que, em algum momento da vida — talvez inclusive ainda — ele fora um bruxo das trevas. Harry sentia que estava desenvolvendo uma espécie de “faro” para os contempladores das artes das trevas.

Agora que estavam ali, empacaram. Nas aventuras anteriores, tinham feito planos mais elaborados, e quando não tinham podido, investigaram um pouco antes de se arriscar no escuro. Ali, entretanto, tinham apenas a cara e a coragem. Não tinham ideia alguma do que fazer. O lago, imenso, estendia-se à frente deles, e em algum lugar de sua imensidão devia estar a última parte do Amuleto de Merlin. Krum sussurrou:

— Será melhorr que a xente prrocure um lugar mais longe dos muros da escola. Para podermos falar melhor e discutir algum plano.

Harry maneou a cabeça afirmativamente e, procurando fazer o mínimo barulho possível, caminharam pelas margens do lago congelado. Lançavam atrás de si dois feitiços, o do silêncio e um para ir apagando os rastros que deixavam na neve macia. O Lago Seljord era um lago de um azul escuro, com treze quilômetros de comprimento, um quilômetro de largura e até umas centenas de metros de profundidade, não sendo muito profundo em relação a outros lagos grandes do mundo.

Finalmente, chegaram a ponto do lago que era mais longe da muralha da escola e mais escondido por uma formação de pinheiros cobertos de neve. Fazia frio, e o vento gelado era cortante, deixando seus rostos gelados e vermelhos. O lago se estendia imenso e congelado à frente deles.

— Agora não tenho a mínima ideia do que fazer... — disse Harry. — Além dessa camada de gelo na superfície, que ouvi falar ser uma das mais grossas do mundo, permitindo até caminhões passarem por cima, a água deve ser congelante, e não temos a mínima ideia de onde fica o “reino” dos sereianos, que pode estar em qualquer lugar do lago, inclusive no centro.

— Quanto a isso, Harry, o fato de a gente não saber onde os sereianos devem estar, acho que sei o que você pode fazer. Lembre-se, as partes do Amuleto atraem umas as outras, foi assim que pude perceber o disfarce de Aberforth. Agora que já temos três das partes, esse poder de atração deve estar ainda maior. Aposto que vai servir como uma bússola, vai orientar muito bem a gente até a parte do Amuleto do sereiano.

— Sim, Ana, isso é muito bom, mas ainda fica o problema do gelo da água, e de como poderemos respirar. Não houve tempo de providenciar o guelricho, nem podemos nos arriscar a usar roupa de mergulho e tanques de oxigênio trouxas. A não ser...

Ele se lembrou, então, do feitiço que Cedrico Diggory usou no Torneio Tribruxo para poder mergulhar nas profundas águas do lago de Hogwarts. Era o Feitiço Cabeça-de-bolha, se ele não se enganava. Não sabia usar aquele feitiço, mas era capaz que Hermione soubesse.

— Mione, você sabe lançar o Feitiço Cabeça-de-bolha, aquele que o Cedrico usou no Torneio Tribruxo?

Ela sorriu, imaginando o que ele queria.

— Sim, Harry, eu o aprendi pensando que algum dia seria útil. Bom, não é? Parece que eu estava adivinhando! E ainda aprendi um feitiço ótimo para ser usado com ele, um que permite que os que estiverem usando ao mesmo um Cabeça-de-Bolha lançado por uma mesma varinha, possam se intercomunicar.

— Você pode me enfeitiçar? Quero ir na frente, por segurança. Pode ser muito perigoso, quero testar antes, a temperatura da água e tudo.

— Nada disso! Se você vai, eu também vou, cara. Não vou deixar você entrar nesse gelo sozinho, nem pense nisso.

— E nem nós, Harry. Como diziam os três mosqueteiros e Dartagnan, é “um por todos e todos por um”, como sempre foi entre a gente — completou Mione.

Harry bufou, irritado, mas sabia que não tinha jeito a não ser concordar. Seus amigos eram muito teimosos. Rony, de repente, ficou com uma cara que normalmente não aparecia muito nele. Uma cara “de ideia”.

— Acho que tenho uma ideia que pode tornar o mergulho mais fácil. Menos gelado. Há um feitiço simples, que meus pais usavam quando a gente tinha que nos livrar da neve na frente de casa ou quando a gente precisava mergulhar em água gelada à procura de coisas jogadas pelos trouxas no lago de Ottery St. Catchpole, ou então botes, lanchas, coisas do tipo que afundaram no lago. Vocês conhecem o fanatismo de meu pai pelas coisas dos trouxas... Esse feitiço mantém a temperatura em torno do corpo agradável, não importa o nível de frio da neve ou da água. Só não dá certo com o ar, ele precisa ter o toque da água em estado sólido ou líquido para funcionar, uma espécie de reação. Ah, e também ajuda muito em relação à pressão, que é algo muito perigoso, em lugares profundos. Nunca pratiquei o feitiço, mas eu me lembro como meu pai fazia e acho que é fácil.

Hermione, como toda vez que Rony tinha uma ideia brilhante (ou quando ele sabia de alguma coisa que ela não, mesmo um feitiço tão trivial...), olhou-o com uma admiração que deixou o garoto corado e muito satisfeito. Uma das coisas que ele mais queria na vida era ser um motivo de orgulho e admiração para Hermione, a mulher que, sabia, era a única da sua vida. Amava-a muito.

— Grande, Rony! — falou Harry, com um amplo sorriso. — Confesso que não tenho a mínima vontade de entrar nessa água gelada!

Krum também decidiu entrar, mas Harry foi contra:

— A gente precisa ter um vigia aqui, Krum. E se for você, um ex-aluno da escola, que for encontrado, não vai ser estranho, pois pode dizer que decidiu vir apenas para visitar a escola na qual estudou por tanto tempo. Imagine a confusão se um de nós quatro formos encontrados, nem mesmo o idioma oficial que se fala aqui a gente sabe.

A contragosto, o rapaz concordou. Arrumou um lugar para se sentar, preparando-se para suportar a baixa-temperatura do ar, e ficou vendo os quatro amigos se prepararem para uma aventura que poderia ser fatal.

Antes do Feitiço Cabeça-de-bolha, cada um dos quatro, usando a Capa de Invisibilidade de Harry, despiu-se, permanecendo apenas com roupas simples: as garotas com camisetas e chortinhos, e os rapazes com bermudas curtas. O ar gelado contra suas peles nuas tinha um efeito impressionante, horrível. Longos arrepios percorriam seus corpos, que ficavam cada vez mais pálidos, com manchas levemente arroxeadas, seus dentes tiritavam, e eles tremiam muito. Com voz gaguejante de frio, Hermione lançou o feitiço cabeça-de-bolha em todos eles. Imediatamente bolhas transparentes que mais pareciam pequenos aquários invertidos cobriram as suas cabeças. Com elas, poderiam respirar indefinidamente dentro d’água. Rony, então, os enfeitiçou com o feitiço que os permitiria não sentir o gelo da água. Como o feitiço só funcionava em contato com água sólida ou líquida, não adiantou para aquecê-los enquanto ainda estavam fora d’água. Eles se voltaram para Krum. O rapaz olhava com ar angustiado para Hermione, com medo do que pudesse acontecer com ela. Mas se conteve e acenou brevemente para todos. Eles acenaram de volta. Cada um segurou firme sua varinha.

Do lugar onde estava sentado, Krum falou, apontando sua varinha para o lago congelado:

Bombarda!

E um pedaço da espessa camada de gelo do lago se rompeu com um alto estalo, deixando um espaço para que entrassem. Como o lugar estava protegido pelo Abaffiato, nada foi ouvido por ninguém, fora eles próprios.

 Então eles pisaram na margem do lago, que começava raso e ia aprofundando-se aos poucos. Foi um choque a sensação da água nos seus pés e pernas. Era como sentir um choque térmico, pois, devido ao feitiço, a região tocada pela água se aquecia instantaneamente, o que ressaltava o contraste com o frio que as áreas do corpo expostas ao ar congelante sentiam. Olharam uma última vez para Krum antes de submergirem, e ele lhes respondeu com um movimento da cabeça.

A sensação debaixo d’água era muito gostosa, quase morna, embora isso fosse apenas uma ilusão causada pelo feitiço. As águas, entretanto, eram muito escuras, pois, além da grossa camada de gelo que impedia que os raios de sol entrassem na água, o próprio sol era muito fraco naquela região. Todos tiveram que acender suas varinhas e nadar com elas a frente dos corpos. A luz reunida por quatro varinhas iluminava bastante e bem a frente deles. Não podiam imaginar que espécie de animais, mágicos ou não, havia naquelas águas geladas e profundas, e tinham que ter o maior cuidado possível. Nadaram cada vez mais para longe da margem e cada vez mais fundo. O bom foi que, ao sentir o toque da água, as partes do Amuleto de Merlin de Ana reagiram, deixando-os com total certeza de que realmente a última parte do Amuleto estava naquele lago.

Tinham pensado já ter submergido umas centenas de metros quando finalmente chegaram ao fundo irregular do lago. Em volta deles, plantas imensas, coloridas e diferentes balançavam suavemente sob as fracas correntes de água, e cardumes de pequenos — e nem tão pequenos — peixes passavam rentes aos seus corpos, fugindo da luz estranha àquele lugar. Pelo menos uma coisa os deixava aliviados, o fato de, naquelas águas doces e geladas, não haver predadores tão grandes e perigosos como tubarões — típicos de água salgada — e piranhas — peixes de clima quente. Entretanto, não tinham feito uma devida pesquisa sobre as diferentes espécies de animais ou seres mágicos aquáticos daquela região.

Era ótimo que pudessem usar o feitiço de Mione para poderem se comunicar como se as bolhas em torno de suas cabeças tivessem sistema de intercomunicação trouxa, o que era bastante bem-vindo.

— Harry, esse lago é imenso, tem muitos quilômetros! Como vamos aguentar nadar por tanto tempo?

— Não sei, Mione, só sei que a gente tem de tentar.

— E de qualquer forma, o ruim, no nosso caso, seria se a gente não pudesse respirar — Rony falou. — Quando a gente se cansar de nadar, nada nos impede de parar um pouco e descansar.

Continuaram nadando.

Enquanto nadavam, nada de mal acontecia, e já estavam achando estranho que em um lago tão grande e profundo não se deparassem com nada perigoso. Isso, entretanto, durou pouco, muito pouco. De repente, sentiram uma corrente mais forte no lago que não parecia ser formada de maneira natural. Era como se a água fosse movimentada por algo muito grande que se deslocassem em meio a ela. Assustados, pararam de nadar, as varinhas em punho, os olhos alertas em todas as direções. De repente, vindo em sua direção, perceberam uma imensa forma, que só aos poucos ficou visível em meio à luz das varinhas. Era um monstro de uns cinco metros e meio de comprimento, corpo de serpente, grosso, marrom acinzentado, com barriga amarela e pescoço imenso, com crina de cavalo, chifres e pequenas patas com imensas e afiadas garras, muito parecido com uma serpente marinha das lendas nórdicas. Muito assustados, mantendo apenas uma varinha acesa, para não ficarem em escuridão total, esconderam-se atrás de umas rochas que havia no chão arenoso. Hermione arregalou os olhos e sussurrou:

— Como pude ter esquecido? É que sempre pensei que fosse uma lenda...

— O que é isso, Mione? — perguntou Harry assustado.

— Um Lindorm... li que é um ser mítico, descrito como uma serpente ou dragão em mitos nórdicos e germânicos e na heráldica anglo-saxã, alemã e escandinava. Há várias lendas sobre os Lindorms, uma delas é um mito nórdico sobre um rei chamado Herraud ou Herrauðr, que dá à filha Thora Borgarhjort, de presente, um filhote de Lindorm, que cabe dentro de uma caixinha de jóias. Entretanto, a criatura cresce tanto que acaba aprisionando a princesa dentro de seu salão, que a serpente circunda mordendo a própria cauda. Tomando a princesa como refém, o Lindorm exige um boi por dia. O rei prometeu a mão da princesa àquele que a libertar e o prêmio veio a ser conquistado por um herói chamado Ragnar Lodbrok (Ragnar das calças peludas, pois eram feitas de pele), que depois veio a ser marido de Thora e tornou-se rei da Dinamarca. Claro que isso são lendas trouxas, deve haver lindorms, animais mágicos, na verdade, em vários dos lagos europeus, como o Monstro de Loch Ness...

— É mesmo, Mione, li algo certa vez sobre um monstro norueguês aquático chamado Selma, ou Seljordsorm... — disse Ana. — Mas é claro! Seljordsorm... Serpente do Seljord! O lago em que estamos! Como isso sequer me veio à cabeça?!

— Mas... essa criatura... — murmurou Rony. — Ela é perigosa?

— Rony, olha para o tamanho das garras e das presas dela... A gente deve ser o almoço dela!

Como que pressentindo a presença deles, talvez devido aos sussurros ou à fraca luz da varinha, o imenso monstro, que tinha passado por eles, voltou, sondando a água ao seu redor. Tinha uma aparência cruel, com olhos grande, oblíquos e muito brilhantes, como se fossem fosforescentes. Suas narinas imensas fremiam, como se farejando na água o cheiro de alguma presa. A fera abriu a bocarra e dela saiu um som horrível que reverberou pela água e os fez se encolherem, assustados. Seus dentes eram imensos e cortantes, com muita semelhança aos dentes de tubarões brancos.

Após o intimidante som, o lindorm soltou pela boca uma espécie de esfera de incandescente luz azul. Essa esfera começou como que a se dissolver, embora fosse perfeitamente notável o avançar dela, como se fosse uma substância heterogênea em relação à água. Os quatro se encolheram mais, tentando se afastar, querendo evitar que ela os tocasse, uma vez que não sabiam o que ela era capaz de fazer, e imaginavam ser algo bastante ruim e perigoso. Ana, entretanto, não conseguiu se afastar o suficiente; a substância tocou em seu braço e na mesma hora ela ficou parada. Era como se ela entrasse em sua corrente sanguínea e tirasse toda a sua vontade. Toda não; algo parecia clamar na mente dela, pedindo, rogando, implorando que ela se aproximasse do lindorm, pois se isso não acontecesse, morreria...

Foi quase tarde demais. Quando Harry, Rony e Hermione viram o que estava acontecendo, Ana já ia lenta e docilmente pela água, como se estivesse hipnotizada ou sob a ação de uma Maldição Imperius. Era como se estivesse atraída pelo lindorm. Os três a agarraram pelos braços, se mantendo por trás das rochas, a muito custo a mantendo com eles e tentando fazer com que ela não se movesse muito no intuito de ir até o lindorm. A fera, entretanto, vinha inexoravelmente na direção deles, e não sabiam o que fazer. Seu couro parecia muito grosso e tinha certeza que um feitiço estuporante simples ou mesmo três deles não surtiriam efeito na fera. Hermione gritou um feitiço, usando ele tanto em si quanto nos outros:

Agilimus!

Percebendo o que aconteceria, Harry segurou Ana com muita força pelo pescoço, pois ela não tinha condições de ter nenhuma iniciativa no momento a não ser ir de vento e popa em direção a sua morte — o lindorm. Na hora em que o feitiço de Hermione os atingiu, a velocidade com que nadavam mais do que triplicou. O ruim era porque não dava para eles verem direito para onde estavam indo e seguirem um rumo, o máximo que podiam fazer era desviar-se de plantas e rochas no caminho. A fera também aumentou sua velocidade, e ela era tão rápida que quase conseguia alcançá-los, eles sentiam a água em torno de suas pernas ainda mais quente do que estavam sentindo com o feitiço do Rony, por causa da bocarra aberta da fera, tão perto deles.

— O que a gente vai fazer? — Rony gritou. — A gente não pode ficar o tempo todo nadando!

— Eu estou pensando, estou pensando! — respondeu Hermione, mas era muito difícil pensar naquela velocidade.

Harry estava bastante nervoso, para ele era pior, pois segurava Ana com um braço e a varinha iluminando o caminho à frente. De repente, pensou em algo que talvez desse certo.

— Pessoal, esse bicho lembra um dragão, seu couro é muito espesso e forte! Como animais aquáticos tem olfato e audição muito apurados, não estaremos seguros enquanto ele não morrer, o Conjuntivctus só vai cegá-lo.Vamos atingi-lo nos olhos com o feitiço mais poderoso que a gente conhece, a Maldição da Morte! Esse é um dos momentos que precisaremos de qualquer maneira usar.

Eles se sentiam mal com isso. O único ser em quem tinha usado aquele maléfico feitiço fora numa libélula. Agora seria o verdadeiro teste, a primeira vez em que saberiam se teriam coragem para matar outro ser usando a Maldição da Morte. Tinham que defender suas vidas, não apenas por si mesmos, mas pelo resto do mundo bruxo e talvez até pelo mundo trouxa também, pois apenas eles tinham as condições necessárias para derrotar Voldemort. Aceleraram mais ainda sob o Feitiço de Velocidade de Hermione para deixar um espaço entre o monstro e eles que lhes permitisse se virar de frente e lançar o feitiço.

Alguns metros os separavam do lindorm quando se viraram de frente para ele. Apontaram as varinhas na direção de seus olhos e então gritaram os três ao mesmo tempo:

Adava Kedavra!

Na mesma hora a luz das varinhas, que vinham sendo usadas com o feitiço Lumus se apagou. Tudo ficou na maior escuridão, nada era entrevisto, nem mesmo um único movimento, mas isso durou menos de um segundo: uma forte claridade verde e fantasmagórica iluminou tudo de repente, enquanto os raios verdes da Maldição da Morte saiam das três varinhas de Harry, Rony e Hermione e atingiam o lindorm bem nos cruéis olhos. A fera paralisou por um momento antes de cair no solo do lago. E tudo voltou a ficar escuro. Paralisados também, os amigos sequer acenderam as varinhas. Deixaram-se cair até o fundo também e ficaram juntos, apenas respirando ofegantes. Tinha sido muito estranho ver a morte de perto causada por eles próprios, mesmo sendo de um simples animal mágico. Tinha sido pior que presenciar a morte do lobisomem.

Com a morte do lindorm, seu poder mágico perdeu o efeito sobre Ana. Ela despertou e se assustou ao não ver nada a não ser o mais profundo breu.

— Ai, onde estou?! Harry, Rony, Mione?!

— Calma, Ana, calma... — disse Harry que estava perto dela, pondo a mão em seu braço para acalmá-la. — Não se preocupe, tudo deu certo, nós matamos o lindorm.

— Mas... mas... O que houve comigo?

— Acho que a substância que o lindorm solta atua como uma Maldição Imperius, Ana — disse Hermione.

— Ora, porque vocês estão nesse breu? — procurou sua varinha e não a achou. — Ai, que droga! Por Merlin, onde está a minha varinha?!

— Não se preocupe, Ana, quando a gente teve que te segurar para evitar que fosse de livre e espontânea vontade direto para a boca do bicho — gracejou Rony — eu peguei a sua varinha e a guardei. Já fiquei com uma varinha defeituosa, que é a mesma coisa, praticamente, que ficar sem varinha, e sei o quanto é ruim.

Harry, Rony e Hermione acenderam suas varinhas. A luz foi aliviante, pois aquela escuridão dava muito medo. Ela também iluminou a imensa silhueta do lindorm morto no solo do lago.

— Como é grande... — murmurou Ana assombrada. — Como o mataram?

— Um triplo Avada Kedavra. Não foi fácil... Não só pela dificuldade, mas pelo questionamento moral que sempre nos atinge quando lançamos um feitiço cruel como esse...

— Nossa, Harry! Ah, mesmo que eu estivesse bem, não seria de muita ajuda, ainda não estou apta a lançar as Maldições Imperdoáveis. Deve ter sido difícil para vocês matarem.

Harry maneou lentamente a cabeça, num gesto afirmativo.

— Bem, vamos embora... A gente ainda tem que encontrar o reino dos sereianos, e sabe-se lá que perigos ainda nos esperam.

Os outros concordaram e puseram-se em “marcha”, nadando. Quanto mais se dirigiam ao centro do lago, mais as partes do Amuleto que Ana levava consigo a faziam sentir a magia que as unia à última parte que faltava. Em certo momento ela quase que estava sendo arrastada.

— Bom! — ela disse. — Parece agora que essa união entre as partes do Amuleto está servindo de um ótimo guia. Vou deixar elas nos guiarem. Será mais fácil assim.

Logo a paisagem começou a mudar. No centro do lago, onde devia ser mais fundo, o solo se erguia formando um planalto submerso. Eles se esconderam por trás de umas rochas e espiaram o que tinha no platô imenso do planalto. Lá, por ser bem mais alto, uma luz fraca e refratada clareava o lugar, porque era a luz do sol passando através da camada de gelo que cobria o lago. Ficaram impressionados. Os sereianos tinham construído um verdadeiro reino ali em baixo. Havia uma grande “praça” central cheia de belas algas e outras plantas aquáticas. Em torno dessa praça era que estavam estabelecidas as cabanas de turfa, onde se viam alguns sereianos agindo como deveriam agir os sereianos no seu dia-a-dia normal. Alguns conversavam em sua linguagem ininteligível para Harry e os outros. Com suas longas e finas caudas de peixe, eles nadavam, crianças sereianas brincavam, outros passavam rápidos como se estivessem muito atarefados. Excitada, Hermione segurou com força o braço de Harry. Apontou para o centro da praça. Lá, no alto de um pedestal, estava uma estátua de uma deusa sereiana que levava pendurado no pescoço um medalhão com o formato de um quarto de esfera dourada. Dali não dava para ver os detalhes, mas com certeza era a parte do Amuleto de Merlin do sereiano. E dava para ver, aos lados do pedestal, dois imensos e musculosos sereianos com longas, pontiagudas e mortais lanças. Deviam ser os guardas que protegiam o “símbolo” da superioridade dos sereianos noruegueses do lago Seljord.

— Não dá para a gente entrar agora... — sussurrou Rony. — Aposto que esses não são os únicos protetores, e além disso acredito que os sereianos do povo ajudariam a nos matar, caso a gente tentasse tirar a única coisa que eles acham que os diferenciam dos demais de sua espécie.

— Sim, Rony, eu sei... — sussurrou Harry em resposta. — Eu não queria, mas parece que vai ser o único jeito. A gente vai ter de esperar pela noite.

— Meu Deus, Harry! O pobre do Vítor... Vai congelar lá fora...

— Que é isso, Mione! — disse Ana. — Ele é um bruxo, sabe se cuidar...

— Isso, Mione, não precisa se preocupar com o “Vitinho”...

— Não começa, Rony, não começa... Seus ciúmes bobos já passaram dos limites!

Harry, então, fez um som de pedido de silêncio.

— Pessoal, acho que esse não é o melhor momento para uma discussão...

— É mesmo, Harry, quando estudei com os trouxas, aprendi que o som anda mais rápido dentro da água. Será que aquele feitiço funciona dentro da água? Aquele que abafa nossos ruídos?

— Sim, Ana, devíamos ter lançado ele logo!

Lançaram, então o Abaffiato, o que os deixou mais tranquilos quanto à sua segurança. Sentaram-se atrás de umas rochas, protegidas por elas e por algumas plantas. Tinham sorte por, naquela região gelada, não haver grindylows. E esperaram. Esperaram. E esperaram. As horas foram se passando, e eles nada podiam fazer, a não ser esperar que o tempo passasse e a noite chegasse. Quando estudaram sereianos em Hogwarts, tinham aprendido sob seus hábitos, e sabiam que, como os animais e seres diurnos, costumavam dormir com o cair da noite.

Quando foi ficando escuro, o que acontecia muito cedo ali, naquelas ermas regiões geladas, a praça e as “ruas” começaram a se esvaziar. Os sereianos se despediam um dos outros e entravam em suas cabanas de turfa. A única luz agora provinha de uma “pedra da luz”, pedra de origem lunar bastante rara que emitia uma clara luz branca. Ela ficava num diadema no alto da cabeça da estátua da deusa sereiana. Dois guardas substituíram os guardas que estiveram durante o dia e enfim apenas eles estavam ao relento no imenso platô.

Cobertos, agora, pelo Feitiço da Desilusão, que os faziam parecidos à água, plantas e rochas, os quatro subiram pelas elevações do planalto até atingirem o platô, escondendo-se por trás de umas das imensas algas que eram como as plantas da praça. Tinham que desacordar os sereianos antes que eles dessem alguma espécie de alarme. Harry e Rony avisaram por meio de mímica que iriam cuidar dos dois soldados, enquanto elas davam um jeito de pegar o Amuleto.

Andando por trás das algas, que funcionavam como se fossem verdadeiras árvores, Harry e Rony foram contornando a praça para pegar os sereianos de surpresa por trás. Quando estavam exatamente por trás dois soldados sereianos, ao mesmo tempo eles lançaram feitiços estuporantes. Sem fazer nenhum ruído, os dois sereianos caíram ao mesmo tempo no solo lacustre, desmaiados.

Enquanto isso, Hermione e Ana foram pelo outro lado da praça, também por trás das algas. Enquanto os rapazes estuporavam os soldados, elas se aproximavam do pedestal, que era bastante alto. Ana sentia que seu corpo levitaria, se pudesse, tal era o poder da atração que havia entre as partes do Amuleto de Merlin. Mas mesmo assim o amuleto não vinha de maneira natural, como se fosse ferro atraído por ímã. Tinham que tirá-lo de lá.  

Tinham a sorte de estarem dentro d’água. Se fosse ao ar livre, teriam de escalar, o que poderia ser perigoso, mas no lago bastava nadar. O problema era apenas que isso parecia simples demais. Qualquer sereiano poderia retirar. Devia ter alguma coisa por trás daquela aparente facilidade. Ana nadou até a altura do pescoço da estátua e, com cautela, retirou o Amuleto de lá. Não teve tempo para mais nada antes que um alto e estridente som soasse, como se fosse um alarme. Rapidamente ela colocou o Amuleto em seu próprio pescoço e se juntou aos outros lá embaixo. Os sereianos começaram a sair agitados de suas casas, muitos deles portavam lanças e outros tipos de armas e começaram a cercá-los, suas caudas se agitavam muito, e suas expressões eram ferozes, inclusive as crianças. Um dos sereianos usava uma coroa de coral e pérolas, e devia ser o rei ou o sacerdote do culto à deusa sereiana.

Nervosos, Harry e os outros passaram a nadar para cima. Não podiam descer novamente ao fundo, pois os sereianos não deixariam que eles passassem, tinham que nadar por cima da estátua. Logo voltaram a nadar na horizontal, na direção em que tinham vindo, pois não podiam arriscar quebrar a camada de gelo e sair à superfície para ver onde estavam e a que distância estavam das margens e de Vítor Krum, pois no momento em que seus corpos sentissem o ar gelado, o feitiço não faria mais efeito nas partes em contato com o ar, e eles congelariam. Os sereianos, no entanto, gritando em suas vozes estridentes, continuavam a nadar atrás deles, centenas deles, e eram muito, muito mais velozes ao nadar. Em pouco tempo seriam alcançados, se não fosse o feitiço de aceleramento que Hermione novamente lançou sobre eles. Esperavam conseguir alcançar as margens, pois com aquela velocidade não tinham muito sentido de direção.

Após o que pareceu horas de nado e perseguição desenfreados eles conseguiram chegar às margens, e tiveram de quebrar o gelo com quatro Bombardas reunidos. O impacto que sentiram quando o ar frio tocou os corpos molhados foi terrível. Congelaram, e foi difícil sair de dentro da água, que parecia tão morna em seus corpos por causa do feitiço. Tremiam tanto que mal conseguiam manter suas varinhas nas mãos, e elas eram extremamente necessárias. Tinham que sair logo completamente de dentro da água, pois os sereianos seriam perigosos enquanto permanecessem com um só pé dentro d’água. Enfim conseguiram sair de dentro da água e caíram sentados sobre as margens. Os sereianos saíram à superfície, e eles gritavam, choravam e — aparentemente — xingavam bastante. Não podiam sair totalmente de dentro d’água, sob o risco de morrerem sufocados, fora que não poderiam se locomover, pois, diferente das lendas trouxas, sereianos não adquiriam pernas humanas quanto estavam fora d’água. Krum não estava à vista, eles deviam ter se afastado demais da margem original. Hermione secou-os da água congelada do lago com um feitiço maravilhoso que os aqueceu na mesma hora. Entretanto não duraria muito, e tinham que correr à procura de Krum e de suas roupas.

Correram pelas margens à procura de Vítor Krum, e logo o avistaram ao longe, mas ele não estava só. Lutava contra um homem imenso e muito forte que não usava apenas a varinha para se defender, mas também seus fortes punhos. Era um dos que cuidavam da defesa de Durmstrang. Logo mais dois apareceram, tornando o combate bastante desigual. Harry e os outros correram o mais rápido que puderam e logo viraram o jogo, pois eram agora cinco contra três. Mas mesmo assim, os combatentes rivais pareciam muito versados nas artes das trevas, e sabiam feitiços muito perigosos. O número não foi suficiente para evitar a morte. Vítor Krum, o grande jogador de futebol húngaro, pereceu no dia que deveria ser de vitória, por terem reunido as partes do Amuleto de Merlin, e não de tristeza e da mais horrível derrota, a derrota contra a morte.

Munidos de uma dor horrível, a dor da perda de um amigo, Harry, Rony, Hermione e Ana lutaram com cada vez mais afinco e com ganas de vencer. Ganas de fazer justiça pela morte do amigo que arriscara sua vida naquela perigosa jornada apenas para ajudá-los a derrotar o Lord das Trevas, a alma mais cruel do mundo bruxo.

Entretanto, como eram boas almas, não pensaram em matar os inimigos, pois ainda não era hora para aquilo. A hora das mortes necessárias, mas não desejadas, aconteceria no dia da batalha final, que não tardaria a chegar. Deixaram os três homens feridos e desmaiados e partiram via Chave de Portal para Oslo, levando consigo o corpo de Vítor. Ele deveria ser entregue em sua casa para ser enterrado com todas as honras de um herói que lutou contra Voldemort.

Em Oslo, transfiguraram o corpo de Krum para que não tivessem problemas e partiram não rumo à Inglaterra, mas rumo à Bulgária, terra natal de Krum, país notoriamente contra-Voldemort. Na casa dos pais de Krum, ele foi recebido com todas as honras, por sua valorosa morte em prol da luta pelo Bem e pela Verdade, e velado e enterrado com todas as pompas. Apesar da necessidade de partir para casa para procurarem as Horcruxes restantes e pesquisarem sobre o motivo de as partes do Amuleto de Merlin não se unirem, apesar da atração entre elas, eles ficaram no país até os funerais de Krum terminarem e só então voltaram para casa. No peito, uma sensação que era um  misto de vitória e fracasso.


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Notas finais do capítulo

Até o próximo, e, please, não esqueçam de comentar!

Beijos da Ana