- Tah cala boca seu chato, vem Blazi – eu disse a puxando em direção contraria.

Andamos por um tempo até que paramos em uma ponte de madeira, me sentei e ela se sentou ao meu lado e ficamos quietas por um tempo, ouvia o som das ondas batendo na areia e das pessoas conversando.

- Então de onde você veio?

- Vim de Nova York

- Então você mora em Nova York?

-É eu to morando, eu sou de Atlanta mais me mudei para lá quando tinha onze anos, depois de alguns anos o meu pai voltou para cá

- Venho sem vocês?

- Diferenças irreconciliáveis, esse é o termo oficial, ele se mandou.

- É família é uma droga mesmo, por isso que eu não vivo com a minha, moro na casa do Lucas, você tem que conhecer o Lucas, vem vamos.

Me levantei e a segui, andamos ate onde parecia estar acontecendo algo, quando nos aproximamos pude ver três meninos fazendo malabarismo com bolas de fogo.

- É ele – Blazi disse apontando para um que estava com chapéu

Eles terminaram de fazer a brincadeira com o fogo e Lucas entregou o chapéu para a platéia, no mínimo para conseguir alguns trocados ou doações.

- Lucas – Blazi chamou ele acenando, ele deu um sorriso e venho em nossa direção

- Oi gata – ele disse a beijando

- Ah Lucas essa é a Alice uma novata aqui da área

- E ae? – ele disse me encarando

- Ah oi

- Vem vamos dar uma volta – ela disse puxando ele e eu os segui

Eles andaram até uma barraca de um costumeiro tiro ao alvo pelo que me parecia, sentaram e eu fiquei em pé olhando para os dois.

- Perai já volto vou dar uma chegadinha ali

- Aonde Lucas?

- Vou falar com uns velhos colegas

Ele andou na direção de dois meninos parados conversando, reconheci um deles Jasper, ele chegou e agarrou o menino que estava de costas.

- Onde é que você tava meu irmão? – ele disse enquanto o menino tentava se soltar- Vocês dois não saem mais com a gente que foi? Esqueceram?

- Solta ele – Jasper tentava soltar o menino de Lucas

- Me amarro em você Jasper – Lucas falou como se fosse agarrá-lo – você fica tão macho defendendo seu amiguinho

Blazi apenas ria ao meu lado, Lucas saiu andando e ela foi atrás dele, passei ao lado de Jasper e não pude deixar de olhar para seu rosto, ele ficou olhando para mim e logo me apressei em segui-los.

Andamos por um tempo até chegar em um lugar onde parecia ser embaixo da ponte , ele acendeu uma fogueira e fiquei sentada olhando para o lado enquanto ele e Blazi se agarravam em um canto.

- Alice – Lucas me chamou e eu olhei – trás uma cerveja?

- Você é alejado por um acaso?

Ele apenas deu um sorriso.

- Eu pego – Blazi disse dando um beijo nele e logo se levantando.

Ela andou ate um canto um pouco afastado onde conclui que estava a pequena caixa de isopor com gelo.

- Ta achando a gente chato?- Lucas me perguntou e virei para olhá-lo

- É que eu não bebo

Ele se levantou e andou em minha direção sentando ao meu lado, assim que sentou colocou a mão em minha perna.

- Então o negocio é só dizer não? – ele perguntou para mim, eu puxei minha perna, fazendo ele tirar a mão

- Você bem que podia dizer sim – ele disse passando o braço por volta do meu ombro e trazendo sua cabeça para perto, ele segurou em minha coxa me arrastando para mais perto dele.

- Para – eu disse tirando meu corpo de suas mãos.

- Nunca mais encosta em mim na sua vida – eu disse me levantando e saindo daquele lugar.

Estava escuro seria um pouco longo o caminho de volta mais o barulho do mar me deixava tranqüila, as ondas batendo na areia, depois de um tempo cheguei em casa, vi as luzes acesas e subi as escadas, podia ouvir o som de piano , olhei pela janela e meu pai estava sentado tocando , era uma musica linda, aquilo me lembrava das vezes que tocava quando pequena, sempre ao seu lado. A musica continuou por um tempo e logo ele parou , decidi entrar em casa nesse momento.

Assim que entrei ele ficou olhando para mim, e eu para ele ,não sabíamos o que dizer, pelo menos não ele.

- Eu vou dormir – disse indo em direção a primeira porta que vi , assim que a abri percebi que ali não era meu quarto e sim o banheiro.

Pude ouvir uma baixa risadinha sua e o olhei, ele apontou para outra porta e eu me dirigi sem dizer uma só palavra.

Entrei no quarto e ele estava escuro , acendi o pequeno abajur que estava sobre a mesa e joguei a bolsa, iria começar a trocar de roupa para ir dormir.

- Alice, só to te avisando não vai tirar a roupa porque eu to aqui entendeu?

Assim que ouvi isso parei de começar a tirar a roupa para me virar e ver meu irmão deitado na outra cama

- Então sai do meu quarto

- Esse quarto também é meu tá legal? Se você tiver afim de dormir no quarto do papai ou em outro lugar tudo bem.

  Como iria dormir em outro lugar se aqui nem é minha casa? Andei até a cama e comecei a jogar a minha roupa dento da mala que estava sobre ela.

- Ei Alice

- Que é?

- Olha não fica brava não ta legal?Mais não dava para ser um pouquinho mais legal com o papai? É que eu não quero perder ele de novo – ver meu irmão falando isso com a maior cara de triste, bem era uma das piores coisas.

Andei até sua cama e sentei em sua frente.

- Você viu a cara dele quando você chegou Johnan?Ele estava tão feliz, olha você nunca perdeu o papai entendeu? Nunca perdeu e nunca vai perder eu garanto

Ele apenas se levantou e me abraçou.

- Obrigada Alice

- De nada agora vai dorme.

Peguei minha roupa e fui para o banheiro me trocar. Podia o ouvirele tocando a musica, lavei o rosto e fiquei me olhando no espelho, a música continuava tocando. Fechei os olhos e sai do banheiro.

- Alice posso falar um pouquinho com você? – meu pai me perguntou enquanto ia para o quarto, voltei e me sentei a sua frente

- Pode.

-Onde é que você estava?

- Eu sai

-É que bom já é quase uma da manha e...

- Não precisa ficar me esperando acordado eu não tenho doze anos

- Não me preocupava com você quando tinha doze anos

- Ah porque agora ta preocupado?

- Bom , se você quiser ficar aqui você vai ter que...

- Eu não quero ficar aqui pai – disse me levantando ficando em sua frente, me inclinei no piano e continuei falando- Eu não quero ficar aqui, isso não é obvio?Não entende isso?

- Entendo claro, mais será que não dá para a gente conviver em paz?- Ele disse mais logo se virou voltando a tocar?

- Você vai tocar?

Ele parou de tocar e olhou para mim.

- Você vai tocar? Por que se for eu vou dormir lá fora

Ele me olhou e abaixou a tampa do piano.

- Meus parabéns pela Juliort

- Por quê? Eu não vou

- Não faz essa besteira Alice

-Bom você e a mamãe são campeões em fazer besteiras né?Aprendi tudinho com vocês.

- Chega Alice – ele disse levantando o tom de voz comigo- Mais que droga agora chega

Ouvi uma porta sendo aberta atrás de mim e me virei Johnan estava parado na porta olhando para nós.

- Tá tudo bem Johnan

-Desculpa Johnan volta para cama – disse olhando para meu irmão.Ele apenas fez uma careta e fechou a porta.

Voltei a atenção para meu pai

- Olha se você ta com raiva de mim quer me atingir tudo bem sem problema, fica com raiva, tudo bem mais, por favor, Alice não pare de tocar, isso é burrice você tem muito talento.

- Acabou?

- Sim

Me virei e fui para meu quarto , detei na cama e fiquei pensando em suas palavras, até que adormeci.

Acordei olhei para o lado e meu irmão não estava mais lá, me levantei e fui me arrumar.

- Anda logo Alice – ouvia meu pai me chamar enquanto me arrumava.

Sai e fui até onde eles estavam, quando olhei para a mesa pude ver ovos e bacon , ele realmente não sabia nada sobre mim.

- Olha Alice hoje é um novo dia então, vem toma seu café da manha.

Não respondi apenas sai de casa. Mais ainda pude ouvir meu irmão dizendo para ele que era vegetariana.

Andei até a praia e fiquei sentada nas pedras olhando pro nada, fiquei lá por um bom tempo, até que resolvi voltar, no caminho de volta vi um guaxinim cavando um buraco na areia , fiquei parada olhando para ele.

- Foi ali que uma tartaruga enterrou os ovos – disse uma mulher chegando ao meu lado e vendo o guaxinim- eu que não vou tirar ele de lá , deve estar doente para sair de dia, esta comendo os ovos da tartaruga. – O que e eles iriam deixar?

- Não, não , não para – sai correndo em direção ao guaxinim que logo correu para o outro lado , quando cheguei perto me ajoelhei e pude ver os ovos de tartarugas desprotegidos.

Levantei-me e comecei a procurar coisas perdidas pela praia , coisas que dessem para fazer uma barreira protegendo aqueles ovos. Achei coisas de tamanhos e modos diferentes , consegui formar uma barreira em volta o ninho de tartaruga.

- Oi – ouvi uma voz atrás de mim e logo percebi que era meu pai.

- Uma tartaruga pôs ovos, os guaxinins vão comer se eu não fizer alguma coisa- disse continuando a tapar o ninho de tartaruga.

- É mesmo?

- Quando uma fêmea põe ovos, os guaxinins sentem o cheiro e eles comem tudo se poder, procurei um site na internet , mandaram eu procurar um aquário municipal para alguém vim recolher os ovos, mais eu to sem bateria

- Tem o telefone do aquário do lado do aparelho, mais não sei se eles fariam melhor do que isso – ele disse apontando para minha pequena construção.

Se ele estava tentando ser o bom pai não estava conseguindo, me levantei e andei em direção a casa o deixando sozinho.