Resiliência escrita por Kamime


Capítulo 4
[Final Alternativo]




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Final Alternativo

 

Após perceber que eu caíra de cara no chão do porão e que não tinha escada nenhuma, me levantei. Dave voou para dentro com dificuldade.

- Onde está a luz? – Perguntei mesmo vendo que pelo teto havia uma lâmpada muito fraca. Mas me referia à outra que Dave carregava.

- Me desculpe – Ele começou -, mas eu a deixei lá fora. Não achei que precisaríamos dela na sua casa.

- Tudo bem – Me sentei no chão percebendo que mexi em algo. – O que é isso? – Vi que sentei em um botão e do lado havia outro. Sem pensar duas vezes o apertei também pensando que faria alguma diferença.

- Pete! Você não sabe o que pode acontecer!

- Não temos mais nada para fazer, certo? Nem sabemos também quando sairemos daqui. E aliás, não aconteceu nada quando apertei o segundo, então podemos ficar tranquilos.

Dave concordou. Admito que fiquei um pouco na dúvida também, afinal, eu não sabia o que poderia acontecer ali... Talvez algo iria cair sobre a gente ou as paredes se fechariam nos esmagando.

- Ei – Reparei em um botão na parede, mas onde eu não podia alcançar. – Dave, aperte aquele ali!

- N-Não!

- Vamos! Agora que já chegamos no porão você vai amarelar?

Ele voou e me encarou nos olhos.

- Não se trata de amarelar ou não! Você não pensou na possibilidade de que o porão seja apenas uma armadilha? E que sua irmã não esteja aqui? Ou veio para cá e caiu na armadilha também? Hein? – Ele ficou em uma cadeira que havia ali. – Você devia pensar mais nessas coisas, não pode sair confiando em todos.

Eu engoli em seco e me apoiei na parede. Não mudei de ideia, eu queria mesmo apertar aquele botão. Ah, por favor! Iríamos ficar fazendo o que? Não havia mais nada.

- Então vá.

- O quê?

- E se for mesmo uma armadilha? Aproveite que a porta do porão ainda está aberta. Anda, voe! – Abaixei a cabeça.

- Pete! Você acha mesmo que vou embora? – O pássaro riu. – Eu esse tempo todo o ajudei a obter informações, o ajudei a chegar onde sua irmã está... Me desculpe por ser tão rígido antes, mas apenas pense na possibilidade do que pode acontecer.

- Pense na possibilidade do que não pode.

Dave suspirou. Deu-se por vencido e com o bico apertou o botão. O engraçado era que ele ficou mesmo perto da porta do porão quando fez a ação. Tsc.

Ouvimos um barulho e dei um pulo de susto. Algo ali atrás de nós estava se mexendo sozinho e por baixo dele uma luz iluminou todo o porão.

- Outra passagem. – Sorri e andei até ela avaliando de tinha algo ou não para se pisar. Felizmente o outro lugar para irmos tinha apenas um degrau de madeira. Pulei nele e Dave voou para baixo para certificar se estava tudo seguro.

- Há outros degraus de madeira. Tome cuidado.

Desci cuidadosamente até chegar ao chão. Limpei minha calça na parte do joelho e olhei para frente avistando uma coisa muito estranha. Em um corredor iluminado, vimos o que parecia ser algum órgão humano, só que gigante. É... De uns cinco metros. O cheiro era nojento, mas tínhamos que passar ou voltar...

- Olhe, ali tem outro botão.

- Nossa, você tem o olho bom. – Dave o apertou com o bico, mas nada aconteceu. Na verdade, aqueles botões eram grandes e podiam ser vistos mesmo com pouca iluminação. O que eu não quis comentar com Dave era que havia uma bolinha iluminada nos botões, coisa que ele não pareceu ver. Coisa de pássaro, talvez.

Passamos por aquele órgão tentando no máximo não encostar. Então chegamos a uma pontezinha de madeira. Passamos por ela onde eu vi mais um botão. Dave o apertou, que fez a ponte se abrir.

- Vamos? – Ele perguntou. Uma pena ele ser tão inseguro.

- Se já chegamos até aqui. – Tentei ver algum degrau, mas nada. Eu tinha sim, um pouco de medo de descer, mas não me restava outra escolha.

Eu pulei, caindo em uma superfície muito macia e... gosmenta! Era outro órgão, mas muito maior. Eu sai de cima dele imediatamente e tentei me livrar daquela meleca do meu corpo inteiro. Aquilo estava fresco ainda... E pulsava como um coração. Parecia ser viva... Ou ter algo vivo dentro.

- Da próxima vez você voará para certificar que não tenha nada perigoso ou... nojento em baixo, ok? – Resmunguei e seguimos o caminho que parecia descer sempre mais e mais.

O ar estava frio. Um pouco difícil para respirar também. Imaginei a possibilidade de ficarmos só descendo e descendo até chegar a um lugar onde não teria mais nada, nem botões, nem pianos nem coisas estranhas. Essa hipótese me fez estremecer.

Como tudo daquele lugar, o túnel era escuro. Eu ouvia apenas meus passos e as asas do Dave batendo lentamente enquanto ia para frente. Estava observando-o e tentando me lembrar qual foi a primeira vez que nos vimos. Mas sinceramente, eu não fazia ideia.

De repente ele pareceu ficar mais vivo. Mais verde. Então percebi que estávamos chegando em um lugar iluminado. Foi um alívio para mim... Pelo menos estávamos chegando a algum lugar.

O túnel estava cheio de pontinhos brilhantes espalhados. Eles não nos tocavam, sempre que chegavam perto demais se afastavam. Não sabia se eram bichos ou outra coisa estranha daquele lugar. Mas fiquei muito contente ao vê-los.

Na medida em que andávamos, esses pontinhos nos seguiam. Estavam ali especialmente para nos guiar a certo lugar.

- Cof Cof... – Minha respiração estava ficando mais pesada.

- Pete, aguente firme! – Dave me encorajou. Mas ele não parecia estar com dificuldade alguma ali. O ar estava frio demais. Minhas mão estavam tão geladas que começaram a ficar dormentes. E tudo que me encostava um pouco mais forte, doía.

Quando chegamos à um lugar aberto, os pontos pareceram se espalhar. Mas aquilo não nos prejudicou nem nada, apenas nos deixava ter uma visão melhor de onde estávamos. Havia um barco abandonado ali, muito velho. Pelo reflexo da água (havia água ali!), parecia ter uma vela balançando com o vento, mas quando se olhava para o barco, não se via nada. Nesse navio, tinha uma árvore, com um morango bem na ponta. No lugar onde parecia ser o teto, um outro botão, mas esse era diferente, era dourado.

- Pete, o sino! – Dave falou um pouco mais alto do que meus ouvidos eram acostumados.

Então aquele era o tal sino? Estava mais para uma campainha... E agora? Eu sei que Dave me acompanhou esse caminho todo até aqui, me ajudou e saber sobre minha irmã, mas cara, eu não o conheço. Até tentei lembrar-me de onde eu o vi pela primeira vez e porque sabe meu nome. Então, ainda é um estranho. Um estranho que me ajudou muito, eu sei. Mas... E se foi para conseguir chegar até aqui? E se eu tocar a campainha e algo de mal acontecer comigo? Suspirei pesadamente lembrando-me da Gomgossa dizendo exatamente que tocar o sino dava azar.

- Estou ansioso para vê-lo.

Isso me deixou mais intrigado. Eu não entendi nada. Ansioso para me ver? Ver minha expressão? Ver o que eu vou fazer caso eu descubra o que acontecerá? Isso me incomodou bastante, ainda mais por Dave ter falado aquilo tão baixo, como se fosse só para ele...

- Se eu já cheguei até aqui... – Cochichei.

Eu subi na árvore com muita dificuldade. Eu realmente fazia aquilo sem problemas, mas com tantos machucados, sentindo muito frio e estar muito cansado me atrapalhou bastante na escalada.

Avistei o morango na ponta do galho que me levaria direto à campainha. Agarrado no galho, me arrastei até ele. Lentamente fui ficando de pé, com muito cuidado para não cair lá embaixo, onde estava coisas velhas do navio. Eu já caíra tantas vezes, mas dessa vez eu não sabia o que poderia me machucar de verdade lá embaixo.

Assim que fiquei de pé, dobrei os joelhos e saltei em cima do morango, que me dava impulso. Eu flutuei para cima e quando a campainha dourada estava próxima o bastante para iluminar meu corpo inteiro, eu a pressionei com meu dedo, caindo de volta ao chão, me arrancado um grito de susto.

Estava esperando bater com tudo as costas no chão, mas pareci não chegar a ele. Meus olhos estavam fechados, mas eu sentia que estava... voando. Eu não senti medo, estava sentindo uma sensação muito boa... Além do barulho da campainha que era exatamente como de um sino. Só que ficava cada vez mais alta.

- Pete... Seus olhos estão abrindo...

Ahn...? De repente tudo pareceu ficar pesado. Eu ouvia aquela voz, só não tinha certeza se era Dave. Estava muito diferente... Parecia mais humana, mais alta. Mais real.

Receoso, abri meus olhos com certa dificuldade. Estava tudo tão claro que era difícil para alguém já acostumado com a escuridão... Vi que eu estava realmente voando. Com tantos aqueles pontinhos brilhantes me acompanhando para cima. Olhei em volta... Tudo estava tão confuso, eu não sabia o que estava acontecendo. Misturado com o barulho do sino, ao fundo, ouvi a nota musical da minha irmã.

Fechei os olhos novamente, deixando aquela corrente me levar.

- Você me verá em breve.

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Fim

 

 


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Notas finais do capítulo

O antigo final teve um significado, óbvio, que Pete nunca irá acordar de seu coma.
Esse final do capítulo 4 é o verdadeiro final do jogo. Então o pássaro não é um traidor, como eu achei que fosse no jogo inteiro. Ele ajudou Pete a acordar.
Mais uma vez, Dave realmente falou "você me verá em breve". Então tirem suas próprias conclusões sobre esse pássaro.

Obrigada por lerem!