Resiliência escrita por Kamime


Capítulo 3
Gomgossa




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Capítulo 3

Gomgossa

 

- Claro que sim! – Afirmei com certeza.

- Ótimo! Mas infelizmente a partir daqui você irá sozinho. Eu não consigo voar tão alto e também não consigo pular. Continue pulando até encontrar uma fina nuvem marrom, pule nela e lá você encontrará Gomgossa – Explicou-me.

- A-Ainda nos veremos? – Perguntei curioso.

- Claro que sim, Pete! Tudo acabará bem, ok? – O pássaro sorriu. – Agora vá, não perca tempo! Gomgossa dirá o que você deve fazer!

- Certo... – Subi na cama elástica e comecei a pular. Era engraçado notar, que cada vez que meus pés tocavam na cama elástica e eu subia, era mais alto. Eu já estava acima das árvores, cada vez pulando mais alto. Eu sentia um frio na barriga ao voltar à cama elástica, e estava começando a ficar com medo por causa da altura.

Estava indo muito alto, muito mesmo, achei que iria morrer. Cadê a droga da nuvem marrom? Meus olhos se encheram de lágrimas e elas caíram desaparecendo por entre a floresta. Se eu apenas estivesse voando cada vez mais alto, seria melhor. Mas não, eu caía na cama elástica e subia, e era assim, até meus ouvidos doerem de tanta pressão que fazia.

Eu estava chorando aterrorizado, mas sabia que não devia sair de lá, ou morreria ao chegar no chão. Maldito pássaro! O que vai acontecer comigo agora? Vou ficar pulando até chegar ao espaço? Isso se é que ele existe, certo? Já que esse lugar é um pesadelo! Eu tenho é medo desse lugar, muito-

E então eu vi a nuvem marrom.

Pulei nela e temi em cair, mas nada aconteceu. Até nela havia flores. Mas agora, hum, eu odeio as flores e todos essas coisas desse lugar.

Andei pela nuvem até chegar a uma mulher gorda e gigante sentada de olhos fechados com um cigarro na boca. Não sabia se devia acordá-la ou não, mas nem precisei. Ela rapidamente abriu apenas um olho e um largo sorriso ao me ver.

- Você acordou meu coração! Me diga seu nome e iremos jogar um jogo! – Sua voz era muito alta mas muito feminina ao mesmo tempo. Ela era muito bonita, tinha muitas jóias e usava uma roupa preta.

- Pete...

- Pete...? Eu estava esperando por você!

- É mesmo? – Engoli em seco. Aquela então era Gomgossa.

- Sim, sim... Deixe-me dizer... Sua irmã me mandou dizer que ela está bem.

- V-Você falou com ela? – Meus olhos brilharam, então ela estava bem?

- Sim. – Ela continuou com seu sorriso agradável. – Hoje de manhã a vi brincando com meu filho Gomboysa. – Me lembrei do garotinho bipolar se balançando.

- Mas... Eu pensei que ela estava no porão do meu pai.

- Não! Ela está bem! – Sua voz pareceu ficar mais alta. – Então pare de fazer o que está fazendo e vá brincar Gomgossa Ball com meu filho! – A mulher apontou de eu tinha vindo.

- Ok... – Aquilo tudo estava muito estranho. Então eu cheguei aqui para nada? Mas afinal, onde está minha irmã? Não é possível que ela esteja mesmo no porão e essa mulher está me enganando ou ela está livre e Dave mentiu.

- Pete, querido? – Gomgossa retornou a falar. – O que quer que você faça, não toque o sino... Hm... Dá azar... Está bem? Agora vá, doçura.

Acenei para ela retornando para a ponta da nuvem pensando nesse sino. Eu nunca vira sino algum. Então por que os sinais para mim e agora Gomgossa me falando? Eu realmente não entendo.

Engoli em seco ao ver a floresta lá embaixo. Eu não queria passar por aquele pesadelo novamente.

- Vá sem preocupação. Quando menos esperar, estará em terra firme. – A mulher sorriu.

Retribui o sorriso e após suspirar e tomar coragem, pulei da nuvem. O trovão me assustou, estava mais alto, afinal, eu estava no céu. Caí na cama elástica mas foi como ter caído apenas de um metro. Eu não voltei para cima, como eu temia. Meu corpo pesou e vi Dave em uma árvore.

- Pete! Você demorou! – Saí da cama elástica sentindo dores nos pés. – Logo começará a chover e será impossível sair daqui. Vamos!

Saí correndo para fora da floresta com Dave atrás de mim. O vento estava a nosso favor então não demoramos para chegar onde passamos antes. Passamos pelo lugar onde a música da minha irmã tocava sem eu saber quem é.

- O que Gomgossa disse?

- Que minha irmã está bem. Ela me mandou ir brincar com o filho dela.

- Gomgossa sempre me diz coisas sem sentido, mas que no fundo tinham razão. Não imaginei que ela iria dizer que sua irmã está bem! Eu vi com meus próprios olhos seu pai a trancando!

Eu não falei nada. Minha cabeça estava muito confusa... Essas coisas realmente não faziam sentido algum... Continuei correndo para fora do Vale Profundo. Passamos pela gangorra humana e o poço dos vaga-lumes rosa. O esquerda e direita estavam normais. (Ou nós apenas sabíamos o que fazer?)

- Gomgossa está mentindo... – Dave sussurrou.

Saímos do Vale e me agarrei novamente àquela luz que se atraia com a nossa. Pulei dela para o cano e corri até sair dele, pela abertura de cima. Não demorou muito para chegarmos até o filho de Gomgossa, que ainda se balançava.

- Ei, ei! Vamos brincar! – Ele se ofereceu. Não parecia se lembrar de mim.

- Gomgossa Ball?

- Claro! Mas você precisa comer essas sementes antes. – Da flor que ele estava pendurada (haviam outras, como eu disse) havia uma semente muito pequena. – Coma e se sinta leve como uma pena!

Peguei três sementes da flor pendurada ao lado. Não tinha gosto de nada, realmente. Eu só temia que ela pudesse me fazer algum mal depois.

- O objetivo do jogo é simples; daqui pulará naquela fruta vermelha e assim irá voar! Há muitas outras frutas no Campo Vermelho, até no porão do seu pai. – Eu sabia do que ele estava falando, eu vira essas outras frutas, até entrei e saí de uma delas... Mas como ele sabia do porão do meu pai? Será que ele sabia algo sobre minha irmã?

Enquanto me pendurei e pulei no morango gigante eu lentamente voltava ao chão. Como se tivesse flutuando mesmo. Eu podia voar bem baixo, mas podia.

- Vamos voltar ao porão. – Dave falou.

- Nós vamos indo, tchau! – Me despedi pulando pelos morangos. Até que era divertido.

Dave foi voando e eu fui pulando até onde começamos nossa caminhada. Pude ver Gomboysa acenando para mim. Pelo menos ele não foi rude nem nada, apenas me explicou o que eu devia fazer.

- Vamos passar pelo seu pai, preparado?

- Sim... É só eu pular. Não estou com medo.

Quando chegamos ao cais, da grama mesmo eu pulei ao lado do meu pai, que nem se mexeu durante esse tempo todo. Ainda estava sem o anzol, mas nós o perdemos no cano, então não pude entregar. E nem queria avisá-lo sobre isso. Eu só queria chegar ao porão e ver minha irmã!

Por sorte, meu pai não disse nada.

Cheguei na frente da minha casa, exatamente onde libertei Dave. Desci as escadarias da casa, passei pela sala de jantar e pelo salão escorregadio das três janelas. Não dei atenção às frases escritas, mas sabia que ainda estavam ali.

Cheguei ao primeiro quarto, onde eu “acordei”.

- Onde é o porão, Dave?

- Não há mais cômodos, Pete. É aqui, eu sei que é aqui!

Procuramos pelos diversos lugares. Na cortina, nos quadros, alguma falha no chão que denunciasse o porão. Enquanto Dave procurava em outros cômodos com medo da sua teoria estar errada, derrubei a porta que estava trancada e depois procuramos por lá também.

Passamos uma hora procurando por tudo naquela casa. Exatamente tudo.

Mas nada.

Estávamos naquela sala onde tudo começou, sentei-me no parapeito da janela e suspirei. Dave ficou ali no chão com cara de quem não tem esperança. Eu estava angustiado. Não encontrei o porão, tudo o que passamos fora em vão e... Não pude salvar minha irmã.

O vento da janela quebrada entrou no aposento, deixando a cortina fazer cócegas em minha orelha. Para me livrar, virei o rosto para o lado. Vendo o piano velho.

É isso.

Me levantei bruscamente e me sentei no piano.

- Pete...!

- Shiu! – Silenciei David. Com barulho e conversa eu não seria capaz de me lembrar a música que eu ouvira antes aqui e no Vale Profundo. Era minha última opção, se não fosse, eu deveria voltar a Gomgossa.

Fá... Sol... Ré, Dó, Ré...

Quando o último “Ré” terminou de ecoar pela sala, ouvi um barulho de porta abrindo. Era o porão. Incrível como eu e Dave não tínhamos visto aquela porta ali no chão camuflada. Mas parecia estar tão bem escondida. Só com o piano era capaz de ser ver.

Abri um sorriso luminoso, me aproximei da porta e pisei no que achei que fosse um degrau que me levaria para baixo. Mas nada tinha. Caí no porão no meio de tanta coisa que meus machucados voltaram a arder, sem falar que eu havia feito outros. Tudo em meu corpo ardia e doía. Mas nada importava mais agora... Minha irmã estaria a salvo!

- Pete...

- Sim, Dave? – Olhei o pássaro voando sobre mim.

- Eu menti para você.

- ...

Meu coração se apertou, assim como minha garganta. Meu estômago pareceu rodar mil vezes até eu perceber no que eu acabara de ouvir. De tudo o que eu passei nesse lugar maluco, nada doeu mais do que ouvir essas quatro palavras.

Assim que eu abri minha boca de surpresa, apenas ouvi as asas voando para fora do porão. Antes que a porta se fechasse olhei seus olhos brilhando com aquela sensação horrível.

O pássaro verde me deixara no escuro.

 

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Fim

 

 


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Notas finais do capítulo

Depois de ler o segundo capítulo, você já pode ter percebido que Pete estava tendo um sonho. Na verdade, ele estava em coma. O jogo era, nada mais, nada menos, que passar por desafios e acordar.
Quando eu estava jogando, cheguei nessa parte do porão e o pássaro realmente falou que estava mentindo. Então eu achei que o final do jogo era ali. Eu tive que olhar no Youtube para ter certeza. Mas o final do jogo não é esse.
Quem gostou desse final, ótimo, eu queria escrever uma darkfic. Só precisei mudar o final do jogo.
Eu escrevi um final alternativo. Resiliência terá um quarto capítulo mostrando o verdadeiro final.
Quando mandarem reviews, seria muito bom escreverem como interpretaram cada coisa no jogo, inclusive o final, que foi minha parte preferida. XD
Bjbj!