Três dias se passaram desde minha aula de salsa.

Passei quase o fim de semana inteiro pensando na possibilidade de uma vingança, mas no fim da tarde de sábado preferi esquecer esse assunto antes que estragasse as poucas horas que tinha com meus pais.

De volta para Instituto começava novamente a correria das aulas, já chegava às provas do mês que fazendo estudar dobrado para tirar notas boas.

Simplesmente seria uma semana turbulenta com a festa na casa do Isaac.

Acordei mais cedo do que o previsto, Perséfone e Julietty ainda dormiam profundamente.

Bocejei enquanto me espreguiçava.

Não adianta tentar dormir novamente, pois seria perda de tempo.

Fui então tomar banho pensando sobre a festa de Isaac.

Não se falava em outra coisa em todo o Instituto. Parecia que era a mais badalada festa, além de que eram poucas as pessoas que iam. Era seletivo.

Em todo caso, precisava pensar nas coisas relacionadas às provas que já estavam bem aí, queria poder não ir à festa, mas seria uma desfeita na verdade uma crueldade com Nemesis que pulava de ansiedade para me vestir, maquiar.

Ela me faria de manequim.

Hoje seria as aulas extracurriculares. Assim sem nada de livros, para o alivio das minhas costas.

Passei um batom de cor clara nos lábios, depois para o resto da maquilagem que sempre usava. Em seguida testei alguns penteados, mas nenhum aprovável, acabei por ficar mesmo no rabo de cavalo básico.

Sai do banheiro encontrando Perséfone já acordada e irritada.

-Pensei que fosse morrer ai dentro – reclamou ela pegando sua toalha

-E deixar você? – provoquei – Acho que agora não.

-Sai do caminho, boneco de neve – disse ela me empurrando para o lado.

Revirei os olhos enquanto ia para meu armário atrás do meu uniforme.

-Vocês não conseguem ficar uma hora sem se atracarem? – indagou Julietty bocejando

-Acordada? – indaguei abotoando minha blusa

-Com essa discussão de vocês não tem como dormir né – replicou ela seca

-Desculpe – disse estreitando minhas sobrancelhas.

Ela revirou os olhos antes de se espreguiçar.

-Está animada para festa de sábado? – indagou ela com certa ansiedade na voz

-Tenho provas para me preocupar – resmunguei

-Vai se sair bem – ela me encorajou – Se quiser deveria pedir ajuda do Isaac ou do Al para te explicarem os assuntos.

Sorri sem humor.

-Al? Não quero passar metade do meu tempo fazendo-o perceber que você o quer – ela me mostrou a língua – Parece uma criança, segundo não vou pedir ao Isaac, pois não quero morrer agora.

-Ainda mais com tantas dificuldades nas matérias? – indagou ela retórica – Pensa direito, criatura, não quer se ferrar agora, quer?

Fiz uma careta para ela enquanto colocava minha saia. Calcei o tênis roxo cano longo.

-Vou indo na frente – avisei enquanto ia para porta – Encontro vocês no salão.

-Tá – concordou ela – Fica por lá mesmo.

Sorri enquanto saia do quarto.

Enquanto seguia para o salão cantarolava Karasu do One ok Rock ao segundo que me lembrava que tinha cantado 4 minutes da Madonna com Isaac.

Na real fui obrigada a cantar com ele pela Nemesis que não largava no meu pé até que eu aceitasse.

Dizia que era porque fazíamos uma dupla perfeita.

Encolhi meus ombros ao rememorar isso, não podia ficar perto demais dele se quisesse não ter problemas. Não que eu quisesse tê-lo perto de mim, pelo contrario, aquele jeito frio educado afugentava todas as minhas células sem fazer muito esforço.

Com minha mente imersa nisso e com a cabeça abaixada o resultado não foi outro além de me esbarrar em alguém. Desequilibrei-me e acabaria indo ao chão se mãos eficazes não me segurassem pela cintura.

Abri lentamente meus olhos me deparando com uma beldade, que termo mais tosco.

Enfim observei-o tão lentamente enquanto ele me endireitava.

O cabelo curto era liso e negro, os olhos eram da mesma tonalidade que os de Isaac, a pele era parcialmente, quer dizer, meramente bronzeada, o nariz proporcional ao seu rosto que não tinha imperfeições, tirando uma espinha aqui e ali que já estavam sumindo, os ombros eram largos, tórax avantajado, estatura media, braços musculosos.

De certa forma ele parecia um urso fisicamente.

-Está bem? – indagou ele numa voz rouca que me fez pensar na de Gregory.

Pisquei uma vez para voltar ao mundo. Ao agora.

-Vou sobreviver – satirizei enquanto ajeitava minha blusa

-Menos mal – disse ele

Ergui meu olhar para ele.

Não usava uniforme. Trajava uma camisa branca social, um colete preto aberto, a calça jeans de lavagem escura e sapato social.

-Terceiro ano. Cabelo branco – disse ele como se tentasse se lembrar – Scalat Radcliffy.

O olhei estupefata.

Como é que sabia meu nome?

Na verdade todos nesse colégio sabem, não deixando me apresentar.

-Prazer – disse – Mais como saber meu nome?

-É dever do diretor saber os nomes dos alunos, certo? – indagou ele me fitando

Senti algo ficar preso na minha garganta.

Ele era o diretor do Instituto?

Novo demais, não, nem tanto, deveria ter uns 30 anos no máximo. Vestia-se de maneira despojada quase desleixada para um DIRETOR.

-Er – disse o olhando – Diretor...

-Derick – se apresentou ele

-O irmão do Isaac? – indaguei enfática

-É isso também – zombou ele – Mais o que faz perambulando pelos corredores tão cedo?

-Estava indo tomar café – me expliquei – Cai da cama.

Ele cruzou os braços enquanto me olhava inquisitivo.

-Vou levar detenção? – indaguei sentindo o peso de cada palavra

-Não – ele riu brevemente – Apenas me surpreendi com o fato de que meu irmão ganhara um bom gosto para namoradas

-Não!- exclamei – Não sou namorada dele. Quem contou tal mentira?

Ele gargalhou antes de por suas mãos em meus ombros.

-Relaxa – disse ele me encarando – Cibelle deve ter ouvido e entendido errado. Então acabei escutando um mau entendido ao que vejo.

-Com certeza – reforcei – Isaac é apenas um amigo meu, nada mais.

Ele se afastou de mim balançando a cabeça afirmamente.

-Acho melhor ir para o salão – sugeriu ele – Nada de atrasos nas aulas.

-Sim – concordei me afastando

-Scalat – ele me chamou

Girei em meus calcanhares para olhá-lo.

-Espero vê-la no sábado ao lado de Isaac – confessou ele.

Fechei a cara.

-Eu estarei lá, mas não ao lado do seu irmão – disse seca.

-Então é premio de compensação – zombou ele enquanto uma mulher que se aproximou colocava sua mão no ombro dele e sussurrava ao em seu ouvido – Até mais, Scalat.

Acenei para ele e retornei ao meu percurso.

Derick era completamente diferente de Isaac.

Ele era tão espontâneo, belo da maneira assustadora e finalizava sendo um pouco pra frente.

Será que os dois eram mesmo irmãos?

Entrei no salão vendo os poucos alunos que já comiam, vislumbrei Nemesis sentada na mesa de sempre fui até ela dando sorrisos e acenos para os alunos com quem conversava rapidamente.

Deslizei para o assento ficando de frente para ela que levava um pedaço de torta á boca.

-Bom-dia – disse pegando uma xícara na estante – Parece acabada.

-Eu estou acabada – ela me corrigiu.

A olhei confusa.

-Estava falando da xícara – esclareci – Mais servi para você também.

-Que apoio moral você me deu agora – ironizou ela.

-Pare com isso – a repreendi – Ficou estudando até tarde?

-Estudara? Jamais – disse ela enfática – Estive dando ajustes em nossos vestidos, maquilagens.

-Nemy –a interrompi – Diminua o ritmo, é apenas uma festa.

-Sua primeira festa conosco – ela frisou colocando mais açúcar em seu café, fiz careta – Mal de Debby.

-Ouvi meu nome – disse ela deslizando para o lado de Nemesis pondo seu olhar em mim – Bem ou mal?

-Na media – disse fazendo cara de pensativa

-Uhum sei – disse ela desconfiada enquanto colocava numa “pequena” tigela chinesa alguns docinhos feitos do mais puro açúcar.

Tome a tigela de sua mão.

-Vai ficar doente se apenas comer doces – a reprovei pondo a tigela ao meu lado

-Não seja enfarenta – replicou ela – Vivi minha vida de 18 anos a base de açúcar, não vou mudar agora.

-Sabe que isso não é bom para sua saúde, não é? – indagou Nemesis a encarando.

-Não faz tanto mal quando vocês pensam – defendeu-se ela – Equilibro com sala e água.

-E acha que isso resolve? – indaguei critica cruzando os braços

-Colo tudo para fora depois mesmo – disse ela dando de ombros

-Você vomita? – indagou Nemesis quase gritando

-Bulimia? – indaguei ficando pálida ao pensar em Debby como alguém com distúrbio além de alguns neurônios pifados.

-Não! – exclamou ela – Ficaram loucas? Eu não faria algo tão patético como isso.

-Por um instante pensei que fosse isso – suspirou aliviada Nemesis – Quase chego a gelar aqui.

-Parem de viajar na maionese – disse ela estendendo sua mão para mim – Me devolvi agora.

Olhei para Nemesis que cortou um pedaço de bolo salgado que havia na mesa, coloquei algumas torradas amanteigadas no prato que Nemesis fez. Logo depois ela colocou na frente de Debby que fez uma careta.

-Eu...

-Nada de doces – dissemos eu e Nemesis.

Ela se afastou de nós com os olhos arregalados.

-Nada de açúcar – neguei quando a via colocar uma colher no açucareiro.

-Querem que eu tome café amargo? – perguntou ela abismada

-Seu café da manhã hoje não conterá nenhum açúcar – respondeu Nemesis pegando uma torrada.

-Eu vou morrer – choramingou ela pegando uma torrada

-Se acontecer eu as acuso de assassinato – disse Amanda se aproximando da gente.

-Bom-dia para você também – disse levando minha xícara á boca

Ela revirou os olhos enquanto se sentava ao meu lado.

-Animada para festa de sábado? – indagou ela pegando uma xícara

-Estou pulando de ansiedade – disse sem emoções

-Reparei – disse ela com um risinho

Trinquei os dentes enquanto terminava meu café.