Sexta á noite e as garotas estavam uma pilha de nervos para amanhã. Tudo bem eu também estava nervosa e por essa razão resolvi caminhar ao redor do Instituto.

Coloquei meu moletom cinza e peguei meu celular com os fones de ouvido.

-Não se perca – advertiu Julietty enquanto já saia do quarto

-Não irei muito longe – a confortei antes de fechar a porta.

Enquanto caminhava para fora do Instituto coloquei minha playlist da vez e depois os fones em meus ouvidos. Russian Roulette do 10 years povoou minha mente ao segundo que colocava meu corpo para fora da casa.

O vento frio característico da noite fez meu cabelo esvoaçar e meus pelo eriçarem.

Coloquei o capuz tentando cobrir meu cabelo branco que há essa hora deveria causar espanto em quem me visse. Comecei a correr em direção ao leste rumo ao balanço que ia uma vez ou outra.

Quando cheguei numa encruzilhada deparei com a ultima pessoa que esperava ver perambulando as nove da noite.

-Deveria estar dormindo – disse o olhando de soslaio

-Hoje é sexta Scalat – disse ele num tom oco.

-Sei disso – repliquei – Não vai convidar Perséfone para sair, Isaac?

-O que te faz pensar que eu faria uma coisa dessas? – perguntou ele diminuindo seu ritmo.

Dei de ombros enquanto passava da corrida para uma caminhada.

-Você também deveria sair hoje – disse ele

-Tenho que estudar, as provas já são na próxima semana – esclareci tirando os fones dos meus ouvidos.

-Você se sairá bem – me incentivou ele enquanto dobramos a direita – Está indo para o balanço?

-Quero descansar um pouco – expliquei – Você esta correndo apenas para manter o físico?

-Talvez – disse ele vago – Vou te fazer companhia então.

-O que? – perguntei o olhando surpresa

-Não quer? – indagou ele tornando-se frio

-Apenas fui pega de surpresa – me expliquei – Além do que é raro te ver com esse humor.

-Que humor? – perguntou ele curioso

-Assim – respondi gesticulando para ele – Não é de você ser assim.

Uma dupla de garotas passaram por nós correndo e cochichando.

-Estarão pensando que estamos tendo um encontro – brinquei deixando um sorriso escapar de meus lábios.

-Não estariam tão erradas assim – disse ele serio – Entre dois amigos é comum não?

Assenti com a cabeça.

-O que pensa de ter sido mandada para cá, Scalat? – perguntou ele depois de um segundo de silencio.

-Confusa – respondi sincera – Quando cheguei aqui sem saber porque tinham me dado uma bolsa integral, sem saber como me portar diante dos alunos.

Ele deixou um sorriso escapar dos lábios perfeitos enquanto ajeitava as mangas de seu moletom.

-Nunca passou por sua mente que tenha sido obra da Nemesis? – indagou ele retórico – Quando fomos naquele dia ao seu colégio pensávamos que seria apenas entregar uns documentos urgentes para o diretor e voltar. Só que Nemesis quis comer algo daí fomos rumo a cantina aonde vimos às pessoas gargalhando, o vídeo, aquele garoto, agi num acesso de indignação.

-Nunca tive a oportunidade de te agradecer por ter feito aquilo – comentei enquanto chegávamos ao balanço.

Não era igual aqueles em parque de criança, ficava dentro duma armação de madeira orvalhada com entalhes feitos a mão. A estrutura estava pintada de branco enquanto que o balanço mantinha a cor da madeira e as correntes estavam cobertas pelas plantas trepadeiras que se enroscavam também pela estrutura.

-Garotas primeiro – disse ele dando passagem para mim

Dei-lhe um meio sorriso enquanto entrava na armação.

-Posso fazer uma pergunta? – perguntou ele enquanto nos sentávamos no balanço

-Nem precisava pedir – respondi brincalhona

-Por que defendi tanto Martin? – perguntou ele me encarando – Por que não o culpa pelo que aconteceu?

-Porque estaria sendo uma idiota se fizesse isso – respondi oca abaixando meu olhar para meu colo onde minhas mãos repousavam – E não o defendo como você encheu a boca para dizer, apenas não quero que mexam com alguém com quem já resolvi o assunto.

-Tem certeza que resolveu? – indagou ele erguendo uma sobrancelha sugestivo

-Absoluta certeza – concordei seria não demovendo meus olhos dos seus – Seus olhos são parecidos com os dos seu irmão.

-Dizem isso às vezes – disse ele – O conheceu?

-Alguns dias atrás num esbarrão – contei – Ele não tem trejeito de ser um diretor.

Isaac gargalhou enquanto alguns de seus fios caiam sobre sua testa.

-Ele é apenas á dois anos – esclareceu ele – Dá um desconto.

-Estou dando... – repliquei – Apesar dele achar que somos namorados...

-Cibelle inventa demais – ele me cortou frio

-O que disse á ela? – perguntei curiosa – Sobre mim.

-Não fui eu que contei – respondeu ele duro – Nemesis tem a língua maior que se tem noticia.

Sorri sem humor.

-Entenda uma coisa, Scalat – disse ele me encarando – Dias atrás achava mesmo que estava apaixonado por você, pensava nisso terminantemente que irritei Al com isso.

Pisquei atordoada. Ele estava apaixonado por mim?

Ou seria ainda hoje ou amanhã que estarei morta.

-Só que com o decorrer dos dias cheguei a uma conclusão – continuou ele ainda me encarando – Que meu sentimento não passava de fogo de palha por estar me deparando com algo exótico.

Fiquei um minuto em silencio absorvendo aquela inusitada confissão, depois assobiei.

Acho que não poderia pedir para as coisas ficarem melhor.

-Aliviada? – indagou ele receoso

-Não – disse franzindo a testa – Porque não queria morrer tão cedo, Isaac. Me apaixonar por você seria tornar isso realidade.

Ele gargalhou novamente enquanto passava a mão no cabelo.

-Deve estar me achando um idiota agora – disse ele envergonhado

-Por qual razão? – perguntei ele o olhando – Isaac é bom saber que não está apaixonado por mim, serio. Se estivesse eu não iria corresponder como você merece, acabaria por magoá-lo.

-Conhecendo o fato de que você não se agarra rápido às coisas, acredito que as coisas caminhariam nesse rumo mesmo – disse ele com uma expressão pensativa.

-O que vocês não sabem sobre mim? – perguntei mais parecendo uma afirmação.

-Nemesis nos fez decorar uma folha sobre você inteira – contou ele fazendo uma careta – Assustador não é?

-Uma hora ela ainda me deixa louca – decretei fazendo um biquinho

-Debby não ficou – objetou ele fazendo o balanço ganhar movimento de vai-e-vem.

-Ela é alucinada por doces – o lembrei – Pra mim isso conta.

-Esse fato vem de tempos atrás – disse ele – Ou seja, esqueça.

-Fala serio – resmunguei tirando o capuz da minha cabeça – Isaac não tem vontade de namorar alguém do colégio?

-Anos atrás sim – disse ele serio – Só que agora isso está fora de cogitação.

-Sua namorada enlouqueceria com as garotas desse colégio no pé dela – refleti mordendo meu lábio inferior.

-Tem completa razão – disse ele se levantando – Pelo menos não sou eu quem fica atacando elas.

-Não fale mal do Gregory – o defendi junto á um sorriso

Isaac revirou os olhos antes de se espreguiçar.

-Preparada para amanhã? – indagou ele me encarando

-Tenho ainda alguns pontos para ver antes que a tortura comece – satirizei

-Se Nemesis ouvisse isso...

-Me estrangularia com certeza – o complementei

Ele balançou a cabeça afirmamente.

-Scalat – disse ele friamente – Amanda me contou algo que gostei de ouvir.

-Não faço idéia do que seja – disse me enrijecendo.

-Vingança – disse ele solene – Se não notou, seria uma boa devolver na mesma moeda.

-Não sou boa para vingança – disse seria – Não quero fazer mal á ele.

Isaac suspirou e colocou suas mãos no bolso de seu moletom.

-Tem gente que te ajudaria nisso se você quiser – ele saiu da estrutura – Pense nisso.

O encarei opaca enquanto ele se despediu de mim e se afastou.