Acordei com alguém me sacolejando e chamando meu nome com insistência.

Se alguém pensou na duende ruiva, acertou na mosca.

Abri meus olhos que assimilavam o ambiente onde eu estava. Meu quarto. Bocejei ouvindo Nemesis falar uma serie de coisas que reviravam meu cérebro. Até ela pronunciar o nome daquele que esquentou meu sangue ontem.

-Zero? – sibilei me voltando para ela – O que tem ele?

-Quero saber quem ele é! – respondeu ela dando um pulinho de irritação fazendo seu cabelo balançar levemente.

Revirei meus olhos enquanto me sentava na cama.

Normalmente eu não me importava com a curiosidade aguçada dela que era um ponto forte no seu papel como membro do jornal do Instituto, mas agora nessas horas o seu interesse por Zero era algo que compartilhava.

Queria saber pelo menos o básico dele. Onde estudava, o que fazia, namorada... Balancei a cabeça espantando aquele pensamento, mesmo que estivesse interessada, sentia irritação por ele. Claro, poderia ser lindo mais era muito irritante e ousado.

Tirar-me para dançar. Quanta prepotência.

-Scalat – disse Nemesis estalando os dedos na minha frente – No que está perdida?

-Disse que Derick poderia muito bem contar mais sobre Zero – respondeu ela se sentando na poltrona – Ele é um deus do ébano que quero pra mim.

-Ontem você não achava isso – observei me sentindo desconfortável com aquela afirmação.

-Foi porque não havia esse mistério todo ao redor dele – disse ela com um olhar cintilante – Derick contou que ele não gosta muito de falar sobre si.

-Ele estuda no Instituto também? – supus sentindo a ansiedade correr por minhas veias.

-Não sei – respondeu ela desapontada – Pedi para Amanda dar uma olhada na lista de alunos, saberei amanhã.

Mordi meu lábio inferior enquanto balançava a cabeça afirmamente.

-O que veio fazer aqui tão cedo? – perguntei querendo mudar de assunto

-Te puxar para uma corrida na praia, apreciar alguns corpos... – respondeu ela toda empolgada

Deixei um sorriso escapar enquanto me levantava.

-Você é única – disse antes de me trancar no banheiro ouvindo um xingamento dela.

Tirei minha camisola bege, examinando a brancura da minha pele novamente.

Seria bom pegar sol para variar.

Coloquei-me debaixo do chuveiro, relembrando aqueles olhos castanhos acobreados e o sorriso sarcástico nos lábios delineados.

Estremeci com o pensamento lembrando também do seu perfume afrodisíaco. Arfei enquanto encostava minha testa na parede deixando meu cabelo deslizar e escorrer.

Fechei meus olhos enquanto eliminava todas as sensações que tinha quando me lembrava dele. Não podia me dar ao prazer de continuar assim. Nemesis o queria ainda por cima.

Apesar de que a loira de antes também estava no palio.

Ele parecia uma segunda versão de Isaac.

Um sorriso transpareceu em meu rosto ao pensar nisso.

-Rápido Scalat – me apressou Nemesis impaciente.

Abri novamente meus olhos e terminei meu banho. Quando retornei ao quarto ela mexia em algumas blusas atrás de alguma que combinasse com a legging preta com listras cinzas nas laterais que estava sob minha cama.

-Aqui – disse ela tirando uma túnica verde entre minhas roupas.

Peguei as duas peças e uma calcinha com sutiã nas minhas coisas, depois rumei para o banheiro para me trocar. Enquanto fazia isso conversava besteira com Nemesis que uma hora ou outra fazia um comentário sobre Zero.

Ela realmente se interessou por ele.

Arrumei meu cabelo num alto rabo de cavalo, em seguida peguei meu celular, fones de ouvido. Coloquei-o numa espécie de apoio em forma de bracelete roxo enquanto Nemesis trocava sua blusa curta por uma regata azul.

Quando aparecemos na cozinha, encontrei meus pais tomando café á vontade.

Mamãe em seu robe azul claro e papai com um calção de seda deixando o peitoral graças depilado e meio definido.

Papai ainda mantinha a velha forma de quando conheceu mamãe. Ele era um coroa enxuto para seus 47 anos.

Dei-lhes beijos em suas faces enquanto papai brincava com Nemesis de que não deveria perturbar os outros tão cedo com seu tamanho.

Ela fez uma careta que gerou risos nos dois.

-Não querem tomar café? – indagou mamãe antes de levar sua xícara á boca

-Vamos correr – disse Nemesis – Melhor não.

Mamãe assentiu enquanto nos despedíamos dos dois. Logo em seguida saímos de casa, nos encaminhando para um Fiat 4x4 prata estacionado em frente de casa.

-Nada de limusines? – indaguei sarcástica.

-Minha irmã Jennifer chegou bêbada hoje – explicou ela abrindo a porta do motorista – Tive como arrancar dela seu amado carro.

-Que amável – disse com ironia entrando também

-Chata – resmungou ela dando a partida.

Limitei-me a rir enquanto colocava um CD do Linkin Park.

Metade do caminho fomos cantando, fazendo algumas graças. Quando ela resolveu estacionar no meio-feio de frente para o mar senti seu cheiro invadir meus pulmões. Sai do carro procurando uma musica para ouvir enquanto Nemesis já colocava seus fones de ouvido.

Optei por Popular, The Verônicas. Enquanto me alongava conversava com Nemesis sobre a festa de ontem. Realmente fora bom, mas a melhor era um exagero.

-Não é toda festa que membros do Congresso, da moda e da musica se juntam para uma confraternização básica – explicou ela enquanto seu olhar voltou para esquerda – Vamos nessa, Scalat.

Assenti com passos lentos, até que aumentamos o ritmo falando um pouco da vida alheia e tudo que vinha á mente.

Após alguns minutos resolvemos que era hora de parar. Descemos para um quiosque onde pedi uma água de coco e ela um suco de abacaxi.

Fiz uma piada sobre seu cabelo enquanto esperávamos nossos pedidos quando seu olhar se voltou para alguém.

-É ele – disse ela meio enfática – Zero é maravilhoso.

-Zero? – sibilei me voltando para trás para vê-lo.

-Vou conversar com ele, você vem? – indagou ela ajeitando seu cabelo

-Não quero estragar sua cantada – disse com um sorriso – Vai lá.

Ela apertou minhas bochechas e foi ao encontro dele que me parecia estranho. A pele bronzeada estava ali, mas no resto o achava diferente.

O jovem trouxe nossos pedidos que agradeci. Levava o canudo à boca quando meu olhar recaiu sobre um casal que vinha na beira da praia caminhando. Se olhasse de relance não veria o certo, mas conheceria mesmo assim aquele garoto alto, alvo, atlético, o cabelo caindo pela testa.

Martin.

Mordi o canudo com força para não ter um ataque ali mesmo. Meu coração parecia querer sair pela boca de tamanho nervosismo ou outra coisa que sentia.

Olhei para a garota ao seu lado. Ele não seria capaz!

Ela era parda, o cabelo repicado negro dava ao seu rosto triangular um aspecto estranho ou exótico, não era feia, mas era esguia. Os olhos eram negros chamando atenção em seu rosto.

Ela sorriu mostrando o aparelho metálico que usava nos dentes.

Não conseguia desgrudar meus olhos dele, sabia muito bem como aquela historia iria acabar. Não imaginei que ele desceria tão baixo assim.

Na verdade esperava que fosse a única com quem ele fizera aquilo, passando assim a viver sua vida de popular. Só que me enganei redondamente vendo o sorriso falso aparecer em seus lábios enquanto a garota ficava corada.

Mordi mais ainda o canudo querendo evitar um ataque, querendo evitar que lagrimas escorressem de meus olhos.

-Scalat – disse Nemesis ficando ao meu lado

A olhei vendo sua preocupação e desapontamento.

-Cadê o Zero? – perguntei colocando o coco intocado no balcão.

-Não era ele – respondeu tristonha.

Assenti com a cabeça.

Seria coincidência demais vê-lo ali hoje.

Ela bebia seu suco quando meu olhar acabou por se encontrar com o de Martin que pelo visto não me reconheceu, me lançava um olhar de desejo que lhe era comum quando queria alguém.

Trinquei os dentes. Se ficasse ali, seria problema na certa.

-Vamos embora, Nemesis – disse me levantando.

-O que? – perguntou ela surpresa

-Vamos embora – repeti autoritária enquanto colocava 20 dólares debaixo de seu copo.

Ela se levantou e viraria para ver quem era que eu tinha olhado se eu não a tivesse puxado para longe do quiosque começando a correr.

Vingança, vingança, vingança, vingança, vingança.

Pelo visto era a única coisa que poderia fazer neste momento contra Martin. Apenas assim ele aprenderia a lição de não brincar com os outros. De fazer mal á eles.

-Hei – disse Nemesis me parando – Calma. O que houve?

Notei sua expressão preocupada enquanto ofegava um pouco.

Minha decisão não poderia ser outra.

-Já me decidi, Nemesis – disse solene – Sua opinião é igual á de Isaac e Amanda, certo?

Ela me olhou um segundo confusa, depois deu um longo suspiro antes de cruzar os braços.

-Não – discordou ela seria – Não gosto da idéia de vingar dele. Você saiu daquele inferno, concordei com eles nessa decisão, mas voltar para lá e se vingar, não me agrada.

-Não foi você quem indicou a bolsa? – indaguei estreitando as sobrancelhas.

-Não – negou ela – Apenas cuidei de alguns detalhes. Essa vingança, Scalat, transcende o que você sabe. Se quiser levá-la á cabo, tudo bem, não irei contra, mas saiba que existe mais do que esses dois falaram para você.

Engoli em seco ao segundo que a imagem da garota voltou a minha mente me dando incentivo de continuar com a idéia.

-Então terei que contar com seu apoio nisso – conclui seria

Ela deu um suspiro forte antes de dar de ombros.

-Então vamos nessa – decidiu ela começando a caminhar.