Capítulo 21: A Fé e o Recomeço

“Se você não acredita em você mesmo, quem irá?”

 Ela apalpava as cobertas à procura de seu travesseiro, que havia caído no chão, logo após de ter dado um soco no despertador que a retirou de seus sonhos. Estava com tanto sono... Queria ter dormido mais.

— Espera aí... Onde estou?! –Se levantou rapidamente percebendo que algo estava fora do normal.

 Vamos recapitular algumas coisas: Tsuki e Umi, fugindo de todos, acabaram caindo (leia-se: o avião que eles estavam caiu) em uma ilha desconhecida, que tinha a base para a agência que defende a Umi. Os dois, querendo propor um acordo, entraram as escondidas dentro dele, mas logo acabaram sendo descobertos. Logo após uma série de acontecimentos, acabaram sendo separados e tudo terminou com Tsuki sendo salva por alguém.

— É mesmo... Eu fui salva... Mas onde estou? Quem me salvou? E a propósito... –Ela retirou as cobertas e viu que vestia uma blusa de manga longa, com um short xadrez e meia calça escura. – Por que raios eu estou com outra roupa?!

— Parece que belas damas já acordam com energia.

Essa voz... Uma voz tão suave, mas ao mesmo tempo madura. Ele apareceu em frente a porta do banheiro. Era ele. Alto, com rosto de príncipe, pele clara, olhos claros. E aquele cabelo, tão loiro como de um anjo, era o que mais o caracterizava.

— Ga... GABRIEL? Não pode ser! Eu fui seqüestrada! –Gritava enquanto tentava usar o travesseiro como escudo.

— Calma, calma. Que falta de educação, você devia me agradecer, afinal eu te salvei. Não sou do tipo que seqüestra alguém.

— Sei... *com olhar suspeito*

— ...

— Cadê... Cadê o Umi?

— Sabia que ia perguntar isso... Eu não sei. Quando fui te salvar, apenas queria sair o mais rápido o possível daquele lugar.

— ... E onde estamos?

— Na Inglaterra. Mais precisamente no meio da estrada, em um... Hã... Hotel.

— Sei... *Olhar desconfiado* E... Por que me salvou? (<-pergunta que deveria ter feito desde o começo)

— Bem... –Ele se aproximou. – Faz parte do plano.

— Que plano? – Tentava se afastar dele.

— É secreto.

— ...’

Por alguma razão, não sentia muito perigo. Mas de qualquer modo, não era bom ficar sozinha com um homem em um hotel no meio de uma estrada desconhecida.

— Escuta... Quem foi que trocou a minha roupa?

— ... –Ele virou a cabeça pra trás.

— ENTÃO FOI VOCÊ MESMO? PERVERTIDO! –Jogou o travesseiro nele.

— Mas você estava suja de sangue! Tudo bem que aqui eles me deixaram entrar mesmo vendo que você estava claramente desmaiada, mas não iam deixar com você naquela situação.

— ... – “Mas que pervertido! Não acredito... Não acredito que alguém me viu sem roupa! Que vergonha!” pensava. Ela vê alguns papéis em cima da escrivaninha. – Espera aí... ISTO AQUI É UM MOTEL?

— Queria o que? Não tinha outro lugar.

— Não acredito! Vou ao banheiro! –Estava super irritada.

Ela se trancou ali. O que deveria fazer? Estava sem nada. “Será que Umi está bem?” era a pergunta que mais ressoava em sua mente. Alguém bateu na porta, era Gabriel.

— Escuta... Não posso dizer muito, mas eu não estou no lado de ninguém.

— Então, por que estava protegendo Umi e agora me salva?

— Porque é divertido.

— Que?

— Nada não. O que eu queria dizer é que eu estou tentando te ajudar. Preciso que confie em mim.

— ... – “Como posso confiar em alguém que enganou minha melhor amiga? Que enganou a todos? Que... Que roubou meu primeiro beijo?”

 Tsuki, ao lembrar de tudo isso, trouxe juntamente suas memórias. Seus amigos, seu colégio, seus sonhos e tudo que tinha antigamente já não estavam mais lá, e sentia muita falta disso. Mas, como em toda a confusão ela esteve sempre ocupada, ou com alguém por perto, não parou pra pensar. Agora estava encostada em uma porta fria, praticamente sozinha. Dessa vez, seu choro não começou com as lágrimas, mas sim com soluços. Seus olhos começaram a arder, e aí sim, começou a chorar de verdade. Tampou a boca para ficar em silêncio.

— Tsuki... Eu sei do que você precisa. Eu sei do seu passado, eu sei das respostas que você quer. Eu sei que você não confia em mim, mas... Quem mais temos?

Ela não respondeu.

— Você já é forte e grande o bastante. E daí se eu te enganar? Não percebeu que todos que sabiam sobre a sua “verdadeira natureza” te enganaram também?

— Não... Eles não me enganaram.

— Sério? Eles não fizeram você pensar que levaria uma vida normal?

Ela permaneceu em silêncio. O que ele falava não era novidade, ela sempre pensou que teria uma vida normal, como a de todos os outros. Mas não tem.

— O que eu estou tentando dizer é que... Uma vez na sua vida, alguém está tentando ser sincero com você, mas você está com medo da verdade, com medo de se machucar, porque está sozinha...

— ...

— Você é idiota, por acaso?

Tsuki, extremamente nervosa, abriu bruscamente a porta.

— O QUE QUER DIZER COM ISSO? IDIOTA É VOCÊ QUE DE RE-

Ele segurou, com uma só mão, seus braços e a pôs contra a parede.

— Você não consegue compreender? Por que está com medo? VOCÊ É CEM VEZES MAIS FORTE QUE QUALQUER UM!

“Que?”

— Você tem poder suficiente pra fazer todos se ajoelharem aos seus pés, então por que precisa de alguém a protegendo toda hora?!

Nunca tinha pensado naquilo. Na verdade, nunca tinha tido esperança e fé em si mesma.

— Me responda agora: você quer saber as respostas para as suas dúvidas?

Ele soltou seus braços. Ela baixou-os levemente.

— Quero.

Ele se aproximou de seu rosto. Ela ficou corada.

— Ei, o que...?

— Então faremos um trato.

Ele deu novamente aquele sorriso calmo. Sim, aquele que apareceu desde o começo da trama. Um sorriso de anjo. Ou de demônio.

Fim do capítulo