Noiva por Herança escrita por Juffss
Lenox Hill Hospital
24 de dezembro de 2005
12h51min
Aquela espera era torturante para mim, cada minuto que se passava meu coração parecia que dava mais uma volta e se apertava em um nó sabendo que o arranha céu que finalmente havia voltado a construir armazenando meus sonhos havia se desmoronado. À medida que sentia minha respiração falhar e minha mão suar esperando a noticia que destruiria qualquer chance que desejasse remanescer, minha cabeça repetia os mementos no parque e todas as carícias que trocamos como amigos. Parecia que ela queria me mostrar tudo o que havia perdido.
O estranho de covinhas que havia se transformado no meu chefe e que ocupava meus pensamentos durante o dia – não somente por trabalhar para ele – e noite nunca pertenceria a mim. Não conseguia entender o sentimento que sentia em relação a aquela situação. Era algo como irracional com um toque de medo e raiva.
Eu girava um copo de plástico na mão, outrora preenchido com água na tentativa de me acalmar, eu arrebentava a borda e a desfiava em diversas mini partes com os sentimentos destruídos. Meu peito gritava e quando vi que não aguentaria ficar sentada mais um segundo se quer, forcei meu corpo a se movimentar. No início funcionou, mas com o passar dos passos e a aproximação do quarto onde Crystal estava, as minhas pernas pesaram. Os passos se tornavam um martilho que me levaria a ver a cena que mais temia. Emmett segurando o seu filho e sorrindo para a mulher que futuramente o desposaria. Meu coração havia subido para a boca e minha garganta havia dado um nó.
Nada no mundo poderia me preparar para ver o que estava por ver.
Ela continha uma arma na mão, sempre apontada para o pequeno embrulho no berço de plástico do hospital. O bebê dormia, um sono profundo e calmo, sem saber o que acontecia ao seu redor. Fiquei estática com a cena. Foi apavorante, sem duvidas nenhuma, ver aquela mulher de cabelos desbotados, metade pintados, metade não, com cara de psicopata com uma arma apontada para o filho de apenas horas. Meu corpo se mexeu involuntariamente em direção ao berço, meu coração disparou, mas não temia. Pelo menos por mim. O bebê pareceu se mover e em seguida escutei um choro fino e alto. Ela parecia não notar a minha presença. Seus olhos fixos no bebê me mostravam um ódio tão intenso que não poderia descrever nunca. Suas mãos não tremiam e isso mostrava uma segurança em sua decisão. Ela estava certa de que colocaria um fim no bebê.
Foi quando parei na frente do berço, ainda assustada e muda que ela pareceu me ver. Riu com desdém.
- Não poderá fazer nada. Vou matar essa peste, você e quem tentar me impedir!
- É seu filho – falei na tentativa de convencê-la do contrario. Ela riu novamente, aquela risada que imediatamente se confundiu com o som de uma risada da bruxa mais maléfica dos contos de fadas que já li ou ouvi.
- Até parece que o que você falar vai me fazer mudar de ideia.
A arma que estava na direção do meu peito subiu para minha cabeça. Dei um passo a frente. Ela me encarou com ódio mortal e no segundo seguinte eu me vi agarrar sua arma apontando para o lado tentando defender não somente a minha vida, mas como a do embrulho atrás de mim que não tinha culpa de nada. Meu coração antes quase morto batia aceleradamente enquanto nossos braços lutavam para saber qual era o mais forte e qual ficava atrás.
A voz de Emmett se fez do meu lado e por um segundo relaxei. Minha mão se soltou da arma e eu tentei alcança-la novamente. Crystal por sua vez a posicionou entre nós, não ligava para Emmett tentando segurá-la ou qualquer outro fator externo. Minha mão alcançou a arma e nesse exato instante o dedo dela puxou o gatilho. Foram dois estrondos gigantes. Meu coração parou. Ouvi Emmett chamar e pareceu que o mundo estava acabando. Olhei para o lado e vi varias pessoas de roupa branca invadir o quarto. Minha boca estava mais seca do que nunca e quando tentei recobrar o sentido minha cabeça girou me levando ao chão pela tontura.
Dei-me conta da mão de Emmett se fechar em meu braço e a tontura piorar no exato momento do contato entre nossas peles. Tossi uma vez e o barulho do choro se tornou o único barulho que poderia escutar. Levantei minha mão tentando alcançar o berço para acalmar o bebe e o plástico transparente se fez vermelho de sangue com meu toque. Eu não conseguia sentir dor em alguma parte do meu corpo que não fosse a cabeça, mas não parecia que havia sido baleada. Lembro-me de tentar murmurar “bebê” antes do escuro se fazer frente aos meus olhos.
Quando acordei eu não sabia mais onde estava. Tudo era de um branco intenso e não havia nada mais do que um barulho irritante ao meu lado. Puxei todos os fios que estavam em mim e o barulho que antes ia e voltava se fez constante. Minha cabeça latejou e quando tentei levantar minha barriga me parou. A dor que se fazia nela era tão imensa que gemi.
A primeira pessoa que vi, era um senhor de jaleco branco, loiro e uma feição doce. Ele tentou me deitar novamente na cama, mas a minha teimosia não permitiu. Ele me fez algumas perguntas tolas as quais respondi com facilidade, mas quando me perguntou qual era a ultima coisa que lembrava, eu não soube ao certo responder.
Como se fosse um flash back a imagem de Crystal com uma feição demoníaca estampada no rosto me fez lembrar a única coisa que me importava naquele momento. Pulei da cama e corri em direção à porta. Um armário me bloqueou e o cheiro era tão parecido com o do... Emmett.
- Onde pensa que vai? O medico não te deu permissão para sair por ai correndo com uma camisola quase transparente de hospital. – ele esbravejou comigo e minha cabeça latejou a cada palavra. Coloquei a mão na mesma e fechei os olhos tentando fazer a dor cessar.
- Querida, sente alguma coisa? – ouvi uma voz baixa atrás de mim, julguei ser a do medico.
- Minha cabeça dói, minha barriga dói... - falei em um tom mínimo.
- Vou providenciar um remédio.
- Por favor, pai... – Emmett falou dando passagem ao medico. Era claro que me lembrava dele do porta-retratos da mesa de Emmett, mas não havia associado as figuras ainda.
- Emmett... Ela... Ela... Ela queria matar o bebê... O seu filho – minha voz saiu mais desesperada do nunca. Emmett colocou o indicado na minha boca e roçou ele pela extensão dos meus lábios. Calei-me.
- Ela não conseguiu, havia um anjo lá... E agora esse Anjo tem que descansar – seus braços me ergueram do chão levando para a maca daquele quarto e ele me reencontrou delicadamente sobre ela. Consertou uma mexa de cabelo meu e sorriu. – O bebê esta bem... E eu fico feliz por você também. Crystal foi presa e se matou na cadeia. Ela não vai nos perturbar!
Olhei para ele atômica. Como ele falava aquilo com tamanha naturalidade como se soou da boca dele? Um calafrio percorreu meu corpo.
- Obrigado – a boca dele pronunciou.
Permaneci parada sem conseguir ao menos mexer a boca para falar algo. Olhei para a porta como se fosse uma saída. Emmett puxou meu rosto delicadamente para olhar para ele. Meu pensamento viajava. Com o seu dedão acariciou meu rosto. Fechei os olhos involuntariamente e entreabri a boca com o toque. Ele já havia sentado numa poltrona do lado da maca, que poderia chamar de cama, já que pelo o que sabia de filmes e seriados, ficaria ali por algum tempo.
- Você foi corajosa! – ele falou baixo, o olhei com os olhos bem abertos, não porque eu me assustei ou algo assim, mas porque aquela era a realidade e estar relembrando aos poucos as coisas que aconteceram naquele dia me deixavam em alerta.
- Que dia é hoje?
- 29 de dezembro, você ficou desacordada cinco dias. – ele completou
Puxei o ar com força e de alguma maneira minha cabeça parou de doer um pouco. Meus olhos voltaram a se fechar e recostei a cabeça no travesseiro. Senti algo nos meus cabelos e levei a mão para trás com um pouco de dor procurando o que era. Meus dedos encontraram os de Emmett e se entrelaçaram. Ele estava fazendo carinho em mim?
Minha cabeça dava voltas e voltas tentando entender o que havia acontecido naqueles seis dias que o fizeram mudar de ideia quanto a mim. Seus olhos o denunciavam, não era o mesmo olhar que antes, tinha algo diferente, mas não sabia ainda o que era. Talvez o fato de ter salvado o seu filho, mas só fiz o que meu instinto pediu e ele não deveria se sentir assim quanto a isso. Eu não esperava que ele se sentisse assim.
Uma mulher de cabelos marrom caramelado, um rosto arredondado, em forma de coração com covinhas, contudo delicada e maternal entrou com um embrulho nos braços. Seus lábios se converteram em um sorriso ao olhar Emmett e ele também abriu um sorriso não pensando duas vezes antes de levantar de onde estava e caminhar até ela.
- Mãe – ele murmurou perto dela a beijando delicadamente na bochecha. Ela sorriu mais.
- Acabou de dormir, querido – ela avisou colocando o embrulho pros braços dele.
Estiquei-me querendo ver o bebê. Meu coração disparou causando uma sensação nova. Eu queria, eu precisava ver o rostinho daquele pequeno. Emmett olhou de canto para mim e eu me recompus. Olhando pra baixo pude o sentir se aproximar. Ouvi seus passos se aproximarem e senti sua mão tocar meu ombro. Olhei em sua direção. O sorriso permanecia em seu rosto e as covinhas a mostra ainda surtiam efeito sobre todo o meu corpo. Ele se sentou ao meu lado e meus olhos logo procuraram o bebê.
Era um menino de cabelos loiros e finos. Dormia tranquilo, com a cara de um anjinho. Sua boca estava ligeiramente aberta e tinha uma cor rosada, suas mãos eram pequenas e estavam cerradas escondendo as unhas infantis do recém-nascido, apesar de ser pequeno, não era pequeno como deveria ser, já era um bebê grandinho. Era um bebê perfeito. Sorri e toda a dor que sentia pareceu sumir só de poder vê-lo perto de mim.
Olhei para o Emmett assim que vi que ele o estendeu para que eu o pegasse. Neguei, não conseguiria o pegar sem que o acordasse. Porém aquele homem de convinhas a minha frente insistiu o colocando sobre meus braços. Sem poder recusar o segurei. E com aquele toque pareceu que todo o meu mundo havia ganhado cor novamente. Que todos os sentidos haviam voltado. Só existia eu e o bebê naquele momento, e era tudo o que eu precisava para sorrir imensamente por dias a fio. Meus dedos se mexeram e sem segurar o impulso eu deixei que eles vagassem e acariciassem o narizinho do bebê, dedilhando o caminho até o queixinho. Ele mexeu a boquinha e só naquele ato pude perceber que continha covinhas, assim como o pai. Era um príncipe, um verdadeiro príncipe. E naquele momento eu percebi que só aquela pequena criatura me faria fazer qualquer coisa. Era completamente uma sensação nova para mim. Meu dedo indicador se infiltrou entre a mãozinha miúda dele e eu sorri aproximando para dar um beijo na testa dele.
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