Noiva por Herança escrita por Juffss


Capítulo 9
Capítulo 9




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Lenox Hill Hospital

24 de dezembro de 2005

12h51min

Aquela espera era torturante para mim, cada minuto que se passava meu coração parecia que dava mais uma volta e se apertava em um nó sabendo que o arranha céu que finalmente havia voltado a construir armazenando meus sonhos havia se desmoronado. À medida que sentia minha respiração falhar e minha mão suar esperando a noticia que destruiria qualquer chance que desejasse remanescer, minha cabeça repetia os mementos no parque e todas as carícias que trocamos como amigos. Parecia que ela queria me mostrar tudo o que havia perdido.

O estranho de covinhas que havia se transformado no meu chefe e que ocupava meus pensamentos durante o dia – não somente por trabalhar para ele – e noite nunca pertenceria a mim. Não conseguia entender o sentimento que sentia em relação a aquela situação. Era algo como irracional com um toque de medo e raiva.

Eu girava um copo de plástico na mão, outrora preenchido com água na tentativa de me acalmar, eu arrebentava a borda e a desfiava em diversas mini partes com os sentimentos destruídos. Meu peito gritava e quando vi que não aguentaria ficar sentada mais um segundo se quer, forcei meu corpo a se movimentar. No início funcionou, mas com o passar dos passos e a aproximação do quarto onde Crystal estava, as minhas pernas pesaram. Os passos se tornavam um martilho que me levaria a ver a cena que mais temia. Emmett segurando o seu filho e sorrindo para a mulher que futuramente o desposaria. Meu coração havia subido para a boca e minha garganta havia dado um nó.

Nada no mundo poderia me preparar para ver o que estava por ver.

Ela continha uma arma na mão, sempre apontada para o pequeno embrulho no berço de plástico do hospital. O bebê dormia, um sono profundo e calmo, sem saber o que acontecia ao seu redor. Fiquei estática com a cena. Foi apavorante, sem duvidas nenhuma, ver aquela mulher de cabelos desbotados, metade pintados, metade não, com cara de psicopata com uma arma apontada para o filho de apenas horas. Meu corpo se mexeu involuntariamente em direção ao berço, meu coração disparou, mas não temia. Pelo menos por mim. O bebê pareceu se mover e em seguida escutei um choro fino e alto. Ela parecia não notar a minha presença. Seus olhos fixos no bebê me mostravam um ódio tão intenso que não poderia descrever nunca. Suas mãos não tremiam e isso mostrava uma segurança em sua decisão. Ela estava certa de que colocaria um fim no bebê.

Foi quando parei na frente do berço, ainda assustada e muda que ela pareceu me ver. Riu com desdém.

- Não poderá fazer nada. Vou matar essa peste, você e quem tentar me impedir!

- É seu filho – falei na tentativa de convencê-la do contrario. Ela riu novamente, aquela risada que imediatamente se confundiu com o som de uma risada da bruxa mais maléfica dos contos de fadas que já li ou ouvi.

- Até parece que o que você falar vai me fazer mudar de ideia.

A arma que estava na direção do meu peito subiu para minha cabeça. Dei um passo a frente. Ela me encarou com ódio mortal e no segundo seguinte eu me vi agarrar sua arma apontando para o lado tentando defender não somente a minha vida, mas como a do embrulho atrás de mim que não tinha culpa de nada. Meu coração antes quase morto batia aceleradamente enquanto nossos braços lutavam para saber qual era o mais forte e qual ficava atrás.

A voz de Emmett se fez do meu lado e por um segundo relaxei. Minha mão se soltou da arma e eu tentei alcança-la novamente. Crystal por sua vez a posicionou entre nós, não ligava para Emmett tentando segurá-la ou qualquer outro fator externo. Minha mão alcançou a arma e nesse exato instante o dedo dela puxou o gatilho. Foram dois estrondos gigantes. Meu coração parou. Ouvi Emmett chamar e pareceu que o mundo estava acabando. Olhei para o lado e vi varias pessoas de roupa branca invadir o quarto. Minha boca estava mais seca do que nunca e quando tentei recobrar o sentido minha cabeça girou me levando ao chão pela tontura.

Dei-me conta da mão de Emmett se fechar em meu braço e a tontura piorar no exato momento do contato entre nossas peles. Tossi uma vez e o barulho do choro se tornou o único barulho que poderia escutar. Levantei minha mão tentando alcançar o berço para acalmar o bebe e o plástico transparente se fez vermelho de sangue com meu toque. Eu não conseguia sentir dor em alguma parte do meu corpo que não fosse a cabeça, mas não parecia que havia sido baleada. Lembro-me de tentar murmurar “bebê” antes do escuro se fazer frente aos meus olhos.

Quando acordei eu não sabia mais onde estava. Tudo era de um branco intenso e não havia nada mais do que um barulho irritante ao meu lado. Puxei todos os fios que estavam em mim e o barulho que antes ia e voltava se fez constante. Minha cabeça latejou e quando tentei levantar minha barriga me parou. A dor que se fazia nela era tão imensa que gemi.

A primeira pessoa que vi, era um senhor de jaleco branco, loiro e uma feição doce. Ele tentou me deitar novamente na cama, mas a minha teimosia não permitiu. Ele me fez algumas perguntas tolas as quais respondi com facilidade, mas quando me perguntou qual era a ultima coisa que lembrava, eu não soube ao certo responder.

Como se fosse um flash back a imagem de Crystal com uma feição demoníaca estampada no rosto me fez lembrar a única coisa que me importava naquele momento. Pulei da cama e corri em direção à porta. Um armário me bloqueou e o cheiro era tão parecido com o do... Emmett.

- Onde pensa que vai? O medico não te deu permissão para sair por ai correndo com uma camisola quase transparente de hospital. – ele esbravejou comigo e minha cabeça latejou a cada palavra. Coloquei a mão na mesma e fechei os olhos tentando fazer a dor cessar.

- Querida, sente alguma coisa? – ouvi uma voz baixa atrás de mim, julguei ser a do medico.

- Minha cabeça dói, minha barriga dói... - falei em um tom mínimo.

- Vou providenciar um remédio.

- Por favor, pai... – Emmett falou dando passagem ao medico. Era claro que me lembrava dele do porta-retratos da mesa de Emmett, mas não havia associado as figuras ainda.

- Emmett... Ela... Ela... Ela queria matar o bebê... O seu filho – minha voz saiu mais desesperada do nunca. Emmett colocou o indicado na minha boca e roçou ele pela extensão dos meus lábios. Calei-me.

- Ela não conseguiu, havia um anjo lá... E agora esse Anjo tem que descansar – seus braços me ergueram do chão levando para a maca daquele quarto e ele me reencontrou delicadamente sobre ela. Consertou uma mexa de cabelo meu e sorriu. – O bebê esta bem... E eu fico feliz por você também. Crystal foi presa e se matou na cadeia. Ela não vai nos perturbar!

Olhei para ele atômica. Como ele falava aquilo com tamanha naturalidade como se soou da boca dele? Um calafrio percorreu meu corpo.

- Obrigado – a boca dele pronunciou.

Permaneci parada sem conseguir ao menos mexer a boca para falar algo. Olhei para a porta como se fosse uma saída. Emmett puxou meu rosto delicadamente para olhar para ele. Meu pensamento viajava. Com o seu dedão acariciou meu rosto. Fechei os olhos involuntariamente e entreabri a boca com o toque. Ele já havia sentado numa poltrona do lado da maca, que poderia chamar de cama, já que pelo o que sabia de filmes e seriados, ficaria ali por algum tempo.

- Você foi corajosa! – ele falou baixo, o olhei com os olhos bem abertos, não porque eu me assustei ou algo assim, mas porque aquela era a realidade e estar relembrando aos poucos as coisas que aconteceram naquele dia me deixavam em alerta.

- Que dia é hoje?

- 29 de dezembro, você ficou desacordada cinco dias. – ele completou

Puxei o ar com força e de alguma maneira minha cabeça parou de doer um pouco. Meus olhos voltaram a se fechar e recostei a cabeça no travesseiro. Senti algo nos meus cabelos e levei a mão para trás com um pouco de dor procurando o que era. Meus dedos encontraram os de Emmett e se entrelaçaram. Ele estava fazendo carinho em mim?

Minha cabeça dava voltas e voltas tentando entender o que havia acontecido naqueles seis dias que o fizeram mudar de ideia quanto a mim. Seus olhos o denunciavam, não era o mesmo olhar que antes, tinha algo diferente, mas não sabia ainda o que era. Talvez o fato de ter salvado o seu filho, mas só fiz o que meu instinto pediu e ele não deveria se sentir assim quanto a isso. Eu não esperava que ele se sentisse assim.

Uma mulher de cabelos marrom caramelado, um rosto arredondado, em forma de coração com covinhas, contudo delicada e maternal entrou com um embrulho nos braços. Seus lábios se converteram em um sorriso ao olhar Emmett e ele também abriu um sorriso não pensando duas vezes antes de levantar de onde estava e caminhar até ela.

- Mãe – ele murmurou perto dela a beijando delicadamente na bochecha. Ela sorriu mais.

- Acabou de dormir, querido – ela avisou colocando o embrulho pros braços dele.

Estiquei-me querendo ver o bebê. Meu coração disparou causando uma sensação nova. Eu queria, eu precisava ver o rostinho daquele pequeno. Emmett olhou de canto para mim e eu me recompus. Olhando pra baixo pude o sentir se aproximar. Ouvi seus passos se aproximarem e senti sua mão tocar meu ombro. Olhei em sua direção. O sorriso permanecia em seu rosto e as covinhas a mostra ainda surtiam efeito sobre todo o meu corpo. Ele se sentou ao meu lado e meus olhos logo procuraram o bebê.

Era um menino de cabelos loiros e finos. Dormia tranquilo, com a cara de um anjinho. Sua boca estava ligeiramente aberta e tinha uma cor rosada, suas mãos eram pequenas e estavam cerradas escondendo as unhas infantis do recém-nascido, apesar de ser pequeno, não era pequeno como deveria ser, já era um bebê grandinho. Era um bebê perfeito. Sorri e toda a dor que sentia pareceu sumir só de poder vê-lo perto de mim.

Olhei para o Emmett assim que vi que ele o estendeu para que eu o pegasse. Neguei, não conseguiria o pegar sem que o acordasse. Porém aquele homem de convinhas a minha frente insistiu o colocando sobre meus braços. Sem poder recusar o segurei. E com aquele toque pareceu que todo o meu mundo havia ganhado cor novamente. Que todos os sentidos haviam voltado. Só existia eu e o bebê naquele momento, e era tudo o que eu precisava para sorrir imensamente por dias a fio. Meus dedos se mexeram e sem segurar o impulso eu deixei que eles vagassem e acariciassem o narizinho do bebê, dedilhando o caminho até o queixinho. Ele mexeu a boquinha e só naquele ato pude perceber que continha covinhas, assim como o pai. Era um príncipe, um verdadeiro príncipe. E naquele momento eu percebi que só aquela pequena criatura me faria fazer qualquer coisa. Era completamente uma sensação nova para mim. Meu dedo indicador se infiltrou entre a mãozinha miúda dele e eu sorri aproximando para dar um beijo na testa dele. 


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