POV Bella

Você deve estar pensando, mas quem é a pessoa idiota que pega um avião de Los Angeles para Phoenix sendo que até lá é apenas uma hora de carro?

E eu te respondo, Renée casou com Phil, que é um cara cheio da grana, ela provavelmente insistiu pra pegar um avião só pra esfregar na cara de todos que agora ela tinha dinheiro e podia pegar um avião.

Típico de Renée.

Ela provavelmente não imaginava que o avião iria cair em cima de uma favela em Denver.

Milhões de pessoas desabrigadas e uma favela inteira em chamas.

Todos dentro do avião morreram.

Você deve estar pensando que talvez eu não esteja tão abalada porque eu não gostava da minha mãe. Mas na verdade eu estou, porque apesar de tudo ela era minha mãe, me deu a vida.

Mesmo fazendo dela um inferno.

Eu não chorei em momento algum, o que poderia parecer para os outros que eu não ligava, mas na verdade eu estava muito abalada.

Eu nunca choro por essas coisas.

Não chorei quando meu avô morreu quando eu tinha seis anos, e nem quando a minha melhor amiga morreu um ano depois. E nem agora quando minha mãe morreu.

Eu reprimo a dor pra dentro de mim, os psicólogos costumam dizer que o certo é chorar, mas eu não consigo me mostrar fraca.

Porque nessas horas todos ao meu redor estão tristes também e eu me sinto no dever de consolá-los, ajudá-los a passar por isto.

Edward foi comigo e com Charlie até Denver. Acompanhamos todas as buscas pelos corpos.

Reconheceram o corpo de Renée pela arcada dentaria, porque o resto estava irreconhecível, todo carbonizado.

Estávamos no carro, indo para Phoenix, onde o enterro seria realizado, porque a família de Renée estava toda lá.

Eu estava deitada no colo de Edward no banco de trás, eu via as arvores passarem pela janela e sentia o carro balançar.

Mas minha mente não estava lá, estava vagando por ai.

Pude perceber que Charlie chorava, e Edward parecia estar esperando pelas minhas lagrimas, mas elas não chegaram.

Chegamos ao enterro, Renée e Phil seriam enterrados um ao lado do outro, percebi que Charlie não gostou.

Talvez ele ainda amasse minha mãe, mesmo ela o traindo.

Chegou a minha vez de falar.

“Mãe, eu sei que não nos dávamos muito bem.” Comecei, tive que parar para segurar as lagrimas, eu não iria chorar. Já tinham muitas pessoas chorando naquele cemitério, eu não iria chorar também. “Mas apesar de tudo isso, de todas as nossas brigas, você era minha mãe. E mesmo não demonstrando eu te amo, porque você me deu a vida. Eu não gostava de brigar com você mas  talvez fosse necessário para nós duas aprendermos alguma coisa. O valor das coisas.” Apertei o lírio que estava em minha mão, era a flor favorita de Renée. “Eu não sei como as coisas serão agora, mas eu te prometo mãe, que vou tentar seguir em frente e encarar tudo de cabeça erguida, porque eu sei que você iria querer assim, que seguíssemos em frente.” Tive que fazer mais uma pausa para segurar as malditas lagrimas. “Adeus mãe, vou sentir saudades de você, de seu cheiro, de seus pitis e até de nossas brigas.”

Por fim, joguei a flor em cima de seu tumulo e voltei para o canto onde estavam Edward e Charlie. Os dois me abraçaram tentando me confortar.

Os parentes de Renée foram falar, e eu fugi dali. Sai do abraço do meu namorado e do meu pai e sai. Sentei em baixo de uma arvore ainda no cemitério, e então chorei.

Eu realmente não queria chorar, mas poxa, eu perdi a minha mãe, me deixa em paz.

Eu fiquei ali, em posição fetal, segurando meus joelhos com as mãos, chorando todo o meu sofrimento reprimido por todos esses anos.

E então senti uma mão em meu ombro. Olhei pra trás e era exatamente quem eu imaginava. Edward.

“Eu estava esperando por isso” Ele disse e então se sentou ao meu lado, não consegui dizer nada, continuei chorando, ele me ajeitou em seu colo como um bebezinho. “Estava esperando você chorar. Eu sabia que aconteceria, em alguma hora. Charlie me disse que você não chora nessas situações.”

Eu suspirei e respirei um pouco.

“Eu nunca choro por causa disso. Em tudo o que eu já passei na vida, eu não chorei. Eu não gosto disso, me faz parecer uma fraca.” Eu disse com dificuldade entre soluços.

Ele afagou meus cabelos.

“Pode chorar Bells, você não vai ser uma fraca por causa disso. Ela era sua mãe e você tem todo o direito de chorar.” Ele falou com calma.

As vezes eu tinha inveja disso, Edward conseguia lidar com tudo na maior calma.

Não falamos mais nada, fiquei ali no colo de Edward e chorei mais.

Chorei por todas as situações em que eu havia guardado as lagrimas e escondido-as dentro de mim.