Alice
Os meses seguintes passaram a voar. O Will já estava com três meses. Estava grande e gordinho. Os cabelos loirinhos tinham crescido um pouco e encaracolaram, dando-lhe um ar muito fofo. Ele fazia lembrar um pouco a Amber quando ela era um bebé. Tinha a sensação que eles iriam ser muito parecidos. A Liv já não tinha tantos ciúmes do irmão, agora até começava a ajudar-me a tomar conta dele. Muitas vezes, ela queria dar-lhe biberão (às vezes dava-lhe biberão em vez de mama), e brincava muito com ele durante o dia. A Amber estava quase a acabar o primeiro ano, estava quase nas férias do Verão.
Já era de tarde e estava à espera que a minha mãe trouxesse a Amber da escola. Ela tinha pedido para a ir buscar, hoje. Ela mantinha-se presente na minha vida e na vida dos meus filhos. Eu estava a adorar. Foi tudo o que eu sempre quis, a minha mãe ao meu lado e a acompanhar a minha vida.
- Mãe, a avó e a mana demoram muito? – Perguntou a Liv sentada ao pé do Will, que se encontrava deitado numa mantinha que cobria um pouco do chão da sala. Ela estava a brincar com ele, enquanto eu estava a arrumar umas coisas. Eu ouvia-o a balbuciar sons, mas claro que ainda não se percebia nada do que ele dizia. Eu adorava quando ele sorria para nós. O sorriso dele era uma réplica do sorriso do Jasper.
- Não, devem estar a chegar, querida. – Disse-lhe acabando de dobrar a roupa lavada.
- O Will está com soninho mamã, ele está a fechar os olhinhos. – Disse ela com carinho. Ela amava o irmão, tal como amava a Amber, ao inicio tinha era um pouco de ciúmes da atenção que eu lhe dava.
- A mãe já vai aí para o meter no berço. – Disse-lhe enquanto punha a roupa dobrado dentro de um cesto para depois a levar para cima. Quando acabei, fui até aos meu dois filhos e reparei que o Will já tinha adormecido, de barriga para cima, deitado na mantinha. A Liv estava deitada ao lado dele mas de olhos abertos. Peguei no Will com cuidado e subi as escadas para o meter dentro do seu berço. Ele remexeu-se um pouco no meu colo mas continuou a dormir. Dei-lhe um beijinho na testa e meti-o no berço, tapando-o de seguida com um lençol fininho. Voltei para baixo, para o pé da minha princesinha e ficámos à espera da minha mãe e da Amber.
- Mamã, quando é que vamos a casa da vó Esme? Tenho saudades dela. – Perguntou a minha princesinha. A Esme e o Carlisle tinham viajado nas últimas duas semanas. Era uma espécie de lua-de-mel, e desde aí que não os víamos. As crianças estavam a enlouquecer por não verem a Esme e o Carlisle há duas semanas. A Amber já me tinha perguntado ontem o mesmo, antes de ir dormir e quando falei com a Rose ao telemóvel, ela disse-me que a Amy e o Ray perguntaram o mesmo. Todos nós sabíamos que a Esme e o Carlisle eram pessoas importantes na vida dos nossos filhos, eles passavam muito tempo com eles e para eles era estranho estarem imenso tempo sem os ver.
- Eles voltam, hoje, à noite de Veneza e amanhã, vamos todos jantar lá. – Informei a minha princesinha. Ela abriu um sorriso enorme.
- Sério? Que bom! – Disse ela mesmo muito feliz. Nesse momento, a minha mãe e a Amber chegaram a casa.
- Mamã! – Exclamou a Amber vindo a correr ter comigo. – Já estava com saudades!
- Vocês estão a ficar muito mal habituadas! – Disse rindo, abraçando-a. – Mas eu também já estava com saudades tuas. Como foi a escolinhas? – Perguntei.
- Foi boa! – Respondeu ela. – Olha o que é que o Brian me deu. – Disse ela mostrando-me um colar muito bonitos, com umas flores como pingentes. Ainda que custe acreditar, eles ainda namoravam. O Jasper ficava muito ciumento quando se falava do Brian. Era tão cómica a reacção dele, quando o assunto era o Brian. 
- É lindo, princesinha. Agradeceste-lhe? – Perguntei.
- Sim e dei-lhe um beijinho na bochecha. – Respondeu ela toda feliz. Eles os dois juntos eram tão fofinhos. Andavam sempre de mãos dadas e o Brian oferecia-lhe muitos presentes.
- Fizeste bem, amor. E agora, tens de ir fazer os trabalhos de casa. – Disse.
- Não tenho, mamã! – Exclamou ela. – Posso ir já brincar. – Disse ela sorrindo. Ela correu para a sala e comecei a ouvir ela a falar com a irmã, sobre o que haviam de brincar. De seguida fui até à minha mãe para a cumprimentar.
- Olá, mãe. Como estás? – Perguntei abraçando-a e dando-lhe um beijo na bochecha.
- Estou bem. – Respondeu ela evasivamente. Eu sabia que algo a perturbava, mas ela não me queria dizer.
- O que se passou? – Perguntei preocupada.
- Não se passou nada. – Disse ela rápido demais, fazendo com que eu ficasse ainda mais desconfiada. Olhei para ela interrogativamente, tentando persuadi-la a falar. – Está bem. Sim, passou-se alguma coisa. A tua irmã apareceu, hoje, no cabeleireiro. – A minha mãe trabalhava no cabeleireiro como esteticista. – Eu acho que ela não sabia que eu trabalhava lá e quando me viu fez um escândalo. Começou a gritar comigo e a discutir comigo, a dizer que a culpa era minha, ou qualquer coisa desse género. Não percebia muito bem o que ela dizia. A minha chefe acabou por chamar os seguranças – o cabeleireiro ficava num centro comercial. – e puseram-na fora da loja.
- Quem ela pensa que é para fazer isso contigo? – Perguntei com uma raiva que cresceu dentro de mim. – Ela é que não te quis mais na vida dela, agora, não tem o direito de fazer escândalos, principalmente no teu local de trabalho.
- Deixa, Alice.
- Não deixa nada, mãe. Se acontecer algo parecido, quero que me contes que eu mesma vou falar com ela. – A minha mãe suspirou e apenas acenou com a cabeça. – Queres comer alguma coisa? – Perguntei. Não sabia se ela já tinha almoçado.
- Não, já almocei. Quero ver os meus netos lindos que já não os vejo há uns dias. – Disse ela sorrindo verdadeiramente. Sorri também.
- A Liv está na sala e o Will está a dormir no quarto. – Informei-lhe. A minha mãe foi em direcção à sala e eu fui atrás dela. Assim que a Liv viu a avó, largou os brinquedos e veio a correr para o colo dela.
- Como está a minha netinha linda? – Perguntou a minha mãe à Liv.
- Bem! – Respondeu a Liv sorrindo abertamente para a avó. A minha mãe meteu-a de volta ao chão e ela voltou a correr para o pé da irmã para brincar. Fiquei a falar com a minha mãe grande parte do resto da tarde, mas ela acabou por ir embora, por volta das cinco e meia. Depois de ela se ir embora, fui ver do Will. Ele já estava acordado no berço. Amamentei-o e troquei-lhe a fralda. De seguida, fui para baixo com ele ao colo.
- Princesinhas, olha quem acordou! – Disse para elas. Elas olharam para mim e sorriram ao ver o Will.
-Mamã, mamã! Senta-o aqui para brincarmos com ele. - Pediu a Liv começando a arrumar os brinquedos pequenos. O Will estava na fase de pegar em tudo o que via e muitas vezes levava à boca. Já as tinha avisado disso, por isso, sempre que o Will estava com elas, elas arrumavam todos os brinquedos pequenos. Depois disso, elas estenderam a mantinha perto do sofá e eu fui para lá com o Will. Sentei-o, entre duas almofadas e perto do sofá, para se ela se desequilibrasse para trás, batesse contra as almofadas deste e não se magoasse. Ele já se conseguia aguentar alguns minutos assim. Ela observava tudo à volta dele e sorria constantemente. Depois ele acabava por se cansar e eu deitava-o de barriga para cima, ou encostava-o a mim para ele continuar sentado, mas não fazendo muito esforço. Desta vez encostei-o a mim e a Amber e a Liv começaram a brincar com ele, fazendo-o sorrir. Ele fazia sons com a boca como se estivesse a falar connosco, era muito fofo vê-lo a tentar falar.
- Família, cheguei! – Gritou o Jasper do hall. O Will já reconhecia a voz do pai e mal ouviu a voz dele, virou a cabeça para a porta. A Amber e a Liv saíram a correr para cumprimentar o pai. Eu peguei no Will e fui ao encontro deles.
- Como foi o dia das minhas princesas? – Perguntou ele abraçando as duas ao mesmo tempo e dando um beijo na bochecha de cada uma.
- Bom! – Responderam as duas juntas.
- Ainda bem! – Disse ele sorrindo para elas. Elas acabaram por voltar para a sala e ele veio ter comigo.
- Olha o meu homenzinho! – Exclamou o Jasper pegando no Will ao colo. O Will sorriu para ele e o Jasper deu-lhe um beijo na sua bochecha rechonchuda. Depois veio cumprimentar-me. Puxou-me pela cintura e beijou-me apaixonadamente. Começamos a ouvir o Will a balbuciar algo incompreensível e a esticar os bracinhos para eu lhe pegar. – Ciumento, hein? – Comentou o Jasper rindo.
- Dás-lhe um banho rápido e ajudas a Liv enquanto eu faço o jantar? – Perguntei-lhe.
- Claro. – Disse ele, pegando o Will do meu colo. Fui até à cozinha e comecei a preparar o jantar. Quando ficou pronto, chamei todos para a mesa e eles vieram prontamente. Já tinha dado de mamar ao Will, por isso, ele ficou no berço. Comemos e durante o jantar a Amber esteve a contar ao Jasper que o Brian lhe tinha dado um colar. O Jasper ia-se engasgando e tentava disfarçar os ciúmes à frente da Amber. Eu só tinha vontade de rir. Depois do jantar, a Amber e a Liv foram ver um pouco de televisão e depois fui deitá-las. Amanhã, era Sábado mas eu queria que elas descansassem. Fui ver do Will, de seguida. Ele dormia profundamente no seu berço. Depois fui para o meu quarto. Tomei um duche rápido e vesti um pijama. Fiquei à espera do Jasper, que também foi tomar banho, na cama. Ele disse que queria falar comigo.
- Então Jasper, o que me querias dizer? – Perguntei curiosa assim que ele acabou de vestir o pijama.
- Alice, eu quero que tu fiques calma, está bem?
- Está bem. – Respondi não percebendo onde ele queria chegar.
- Foste convocada como testemunha para o julgamento da Maria. Tens de ir depor contra ela. – Explicou o Jasper. Julgamento da Maria? Não pensava na Maria desde o acidente, simplesmente não queria pensar nela, ela só trazia tristeza para a minha família. Eu não queria mais ouvir falar dela. Não queria ir depor, eu sabia que era necessário, sabia que com o meu depoimento, ela podia ir presa pelo resto da vida, mas eu acho que ainda tinha um certo medo de a enfrentar. Ela fez tanto mal às pessoas que eu amo, fez-me tanto mal a mim. E se mesmo com o meu depoimento, ela saísse em liberdade? O que aconteceria aí? Ela não iria desistir do Jasper, eu tinha plena consciência disso. Se ela voltasse a sair em liberdade, ela iria vingar-se e eu tinha medo disso. – Alice, eu pedi para ficares calma! – Disse o Jasper num tom de súplica. Só com esse comentário é que eu reparei que a minha respiração estava acelerada e encontrava-me a tremer. Tentei manter-me calma. – Alice, nada vai acontecer. É só dizeres tudo aquilo que ela nos fez, é impossível, um juiz metê-la em liberdade, há provas contra ela e também há testemunhas.
- Tens a certeza que não há possibilidade de ela sair em liberdade? – Perguntei com falhas na voz. Ainda tremia e a minha respiração ainda estava acelerada.
- Essa possibilidade é quase nula, Alice. Tudo vai correr bem. Ela vai presa e nunca mais nos vai chatear. – Disse o Jasper para me acalmar. – Tudo vai correr bem. – Disse ele outra vez puxando-me para um abraço. Aconcheguei-me no seu abraço. Era lá que eu me sentia segura, apenas nos braços dele.
- Promete. – Pedi numa voz abafada.
- Eu prometo que tudo irá correr bem, minha Alice. Eu prometo. – Disse. Ele fez com que eu me deitasse, ainda aconchegada nela e começou a acariciar-me a nuca numa maneira de eu acalmar para poder dormir. Ele sabia que quando o assunto Maria aparecia, eu praticamente não dormia. – Agora, promete-me que se acordares a meio da noite, e não conseguires dormir, acordas-me. Eu não quero que voltes a não dormir por ela. Precisas de descansar, Alice.
- Eu prometo, Jasper. – Disse sonolenta. Acabei por me deixar levar e adormeci com o sentimento de segurança que apenas o Jasper me dava.