No fim a oficina era um lugar bacana, não parecia uma oficina na verdade, era muito mais limpa do que qualquer outra que eu tenha visto, e ninguém se vestia de mecânico também, usavam roupas estilozas e caras. Era com certeza um lugar para pessoas que tinham dinheiro pra investir em carros estranhos. O tal Hans até que não é tão ruim afinal, um cara bonito e o melhor é que ele é hétero, não que eu me preocupe de qualquer jeito. Tom gostou do lugar e pegou o ritmo do trabalho bem rápido, me lembro que depois de duas semanas Hans disse que Tom foi a melhor coisa que já aconteceu a ele, meio exagerado mais eu não disse nada por que Tom pensaria que eu estou com ciúmes outra vez.

Agora já fazem dois meses que ele voltou mais parece muito mais do que isso, em dois meses toda a minha vida mudou completamente, eu estou limpo à dois meses e realmente não sinto falta da cocaína a varias semanas, não foi fácil mais valeu á pena, valeu muito a pena Tenho pensado em fazer mais do que ficar em casa e cozinhar agora, Tom disse que é uma boa ideia mais eu ainda não encontrei alguma coisa que eu saiba fazer, ou que eu goste de fazer.

É domingo, o único dia de folga do Tom e ele gastou as ultimas duas horas trancado no escritório falando no telefone, o almoço está gelado em cima da mesa mais eu realmente não quero ir até lá e gritar com ele. Ah, finalmente ele resolveu sair e voltar vida.

Bill: A comida esfriou mais podemos esquentar.

Tom: Nós temos que conversar antes.

Bill: Está bem.

Ele se sentou ao meu lado no sofá, parecia preocupado.

Bill: Aconteceu alguma coisa?

Tom: Era Gustav no telefone.

Bill: E quem é Gustav?

Tom: Nós estudávamos juntos no internato, ele e Georg me ajudaram a fugir.

Bill: E ele está bem?

Tom: Eu não tenho certeza. Gustav me disse que ele e Georg foram liberados do colégio por causa de um problema de saúde mais ele não explicou direito que problema é esse. Eles estão em Londres mais não têm dinheiro e nem onde ficar.

Bill: Então eles ligaram para pedir ajuda.

Tom: É, ele não parecia muito bem e disse que Georg estava dormindo ou alguma coisa assim.

Bill: E o que você vai fazer?

Ele inspirou longamente antes de responder.

Tom: Gustav me pediu pra ir até lá. Acho que esse problema de saúde pode ser alguma coisa realmente séria.

Provavelmente alguma coisa contagiosa pra que o internato simplesmente dispensasse os dois assim, eu não disse isso pra ele por que é exatamente isso que ele está pensando agora.

Tom: Então é isso, tenho certeza que o Hans pode te dar alguns dias de folga pra resolver um assunto importante assim, o que sobrou na nossa conta é mais do que suficiente pra ir até lá e traze-los pra cá. A casa é enorme, eles podem ficar aqui até encontrarem a família deles ou até encontrarem um lugar pra morar.

Ele me olhou espantado e feliz ao mesmo tempo.

Tom: Faria mesmo isso, deixaria eles ficaram aqui?

Bill: É claro Tom, são seus amigos não são?! Eles estão precisando de ajuda e você vai ajudar, afinal não foram eles que te ajudaram a fugir?

Tom: Eu sei, eu só fiquei um pouco tonto, ele realmente parecia doente e eu nem quero imaginar como o Georg está.

Bill: Então está resolvido, vou pedir pro Andreas comprar sua passagem pela internet.

Tom: Você vem comigo!

Bill: O quê?

Tom: Não tem possibilidade de eu viajar e deixar você aqui. Você vem comigo.

Bill: Eu não sei se posso viajar, eu não tenho passaporte nem nada disso.

Tom: Eu dou um jeito disso amanha, você liga pro médico amanhã e pergunte se você pode viajar sem maiores problemas.

Bill: Tom eu não estou gravido, eu não preciso de uma autorização médica pra sair da cidade!

Tom: Eu não disse pra pedir uma autorização só quero que pergunte se terá algum problema se você ficar fora e faltar à consulta dessa semana.

Bill: Outra coisa que eu quero falar com você, não tem a menor necessidade dessas consultas semanais, eu estou cansado de ouvir todas as semanas que minha recuperação é impressionante e que estou muito bem e que...

Tom: Bill nós já falamos sobre isso, o médico ainda não te deu alta então você continua indo, além do mais você ainda precisa ganhar peso.

Bill: Eu posso ganhar peso sem ter que ir ao médico, não é tão difícil.

Tom: Bill nós não vamos discutir sobre isso de novo, eu estou com dor de cabeça e com fome.

Sabe o que isso parece, um casal na crise da meia idade, eu é claro sou a esposa dona de casa e teimosa e Tom o esposo trabalhador e estressado. O interessante é que nós nem mesmo somos um casal ainda, apesar de ele agir assim em publico nós ainda não chegamos nesse ponto crucial, depois da discussão na cozinha eu não toquei mais no assunto, ainda estou esperando que ele ache que é a “hora certa” mais paciência não é bem o meu ponto forte.

Respirei fundo, ele está certo é claro, não é uma boa hora pra brigas, não quando ele está preocupado assim.

Bill: Está bem, nós resolvemos isso tudo amanhã pela manhã e podemos pegar o voo noturno ou o primeiro voo amanha pela manhã. Agora vamos comer por que eu estou morrendo de fome.

Tom: Eu também, o que você fez?

Bill: Uma coisa que eu vi na tv ontem, carne de soja no molho de alguma coisa.

Tom: Bom saber que o cozinheiro não sabe o que fez.

Bill: Muito engraçado, está gostoso pro seu governo, pelo menos estava quando estava quente.

Tom: Ah espera, eu quase me esqueço, comprei uma coisa pra você.

Ele saiu correndo pela escada a cima e voltou dois minutos depois com uma caixa na mão, eu ainda estava parado na porta da cozinha, exatamente como estava quando ele saiu.

Tom: Tome, você pode trocar se não gostar do modelo, eu comprei um pra mim também.

Ele me entregou o embrulho pequeno, dentro havia um celular preto, um dos últimos lançamentos que eu tinha visto na tv e comentado que gostava. No papel de parede uma das ultimas fotos que nós tiramos antes dele ir embora.

Tom: Você disse que tinha gostado dele há alguns dias e hoje faz dois meses que estamos juntos então achei que seria legal comprar alguma coisa.

A única coisa que pensei em fazer foi abraçar ele por que ele não parava de falar e isso quer dizer que ele está inseguro.

Bill: Eu adorei.

Eu adorei o celular mais adorei ainda mais o fato dele ter comprado pra comemorar nossa nova vida. Oh Deus estou parecendo uma garota idiota e apaixonada. Preciso parar com isso.

Bill: E como é o seu?

Tom: Diferente, menor e sem tantas coisas, você sabe que eu não gosto de celulares que mais parecem um robô multiuso.

Bill: É eu sei.

Ele está se aproximando de novo, ele parece bem sério.

Tom: Bill eu acho que agora é a hora certa.

De repente parece que a oxigenação do cérebro diminuiu drasticamente.

Bill: Você acha?

Tom: Se não for eu não posso mais esperar!

E então não havia mais nem um milímetro de distancia entre nós, e os lábios dele são muito melhores do que eu imaginei que seria, e tudo é muito melhor do que eu imaginei que seria.

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