Paraíso escrita por natthy


Capítulo 2
Minha nova cidade




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CAPÍTULO 02. Minha nova cidade

 


Bella POV

13 de Maio, 7:00.

 


Parei à frente do grande prédio desbotado da minha nova escola e fiquei ali, o olhando, enquanto lágrimas escorriam pelas minhas bochechas. Não sei quanto tempo se passou, só sei que quando dei por mim, vários alunos estavam correndo pra dentro para fugir da chuva fininha que começava a ficar cada vez mais forte.

Estava completamente sozinha, em uma cidade que não conhecia e, ainda por cima, tinha acabado de receber uma notícia, digamos, não muito agradável.

Meu pai, um ator super reservado como é, me criou ensinando-me que, acontecesse o que tivesse de acontecer, nós deveríamos manter sempre o rosto composto e nunca, NUNCA deixar transparecer nossas emoções. Afinal de contas, a cada passo que dávamos tinha um paparazzi atrás, fotografando tudo. Tínhamos que fazer o menos possível para que a próxima capa de revista não fosse a nossa.

E apesar de eu não ser nada – ser somente a filha do ator – vira e mexe também saiam umas fofocas relacionadas a mim.

E mesmo sabendo que meu comportamento neste momento não agradaria em nada ao meu pai, desta vez eu não conseguia evitar.

Comecei a caminhar lentamente na chuva, em direção a entrada do prédio, agradecendo mentalmente por estar chovendo. Ao menos assim, tirando pelos olhos vermelhos, minhas lágrimas não ficariam em tanta evidencia.

Tentei me distrair, pensando sobre as possíveis repreensões que ouviria de meu pai por estar chorando em publico, quando ele me visse em alguma capa de jornal. Até que, quando finalmente cheguei a uma parte coberta, olhei para trás e pela primeira vez na vida não vi nenhum engraçadinho com um celular ou câmera apontados para mim.

Suspirei aliviada e me deixei sorrir pela primeira vez nas últimas 12 horas.

Abaixei o meu capuz e tirei a capa de chuva, feliz por estar com o cabelo seco. Fui direto a uma salinha, cumprimentei educadamente uma senhora rechonchuda, que disse ser a secretária e pedi meus horários.

Fiquei contente por saber que só teria o terceiro tempo de aula. Segui pelo corredor por onde a senhora disse que daria no refeitório, sentei-me na mesa mais distante das pessoas e tirei meu celular do bolso.

Após discar o número para o qual eu telefonava tantas vezes que já havia decorado há anos, esperei que me atendessem.

Alô? — A voz do outro lado falou meio rouca e mau-humorada.

— Oi Rose, é a Bella — falei baixinho. — Desculpe te acordar. Eu te ligo depois...

Ela me interrompeu.

Depois de me acordar você vem me dizer que vai desligar e telefonar depois? Você bem que poderia ter tido a brilhante idéia de me telefonar mais tarde um pouquinho antes, né.

Revirei os olhos, sabendo que ela estava blefando. Conhecendo Rosalie como eu conhecia, só pelo seu tom de voz – mesmo que estivesse disfarçado em puro mau-humor matinal – eu sabia que ela estava borbulhando por dentro em curiosidade.

— Rose... — comecei, sem saber muito bem como contar tudo.

Sem saber o que dizer, fiquei calada.

Chegou bem, aí? — ela perguntou, depois de um tempo de silencio.

— Cheguei. Cheguei há mais ou menos umas onze ou doze horas.

E você só me liga agora, sua cachorra? Grande consideração que tem por mim! — ela bufou. — E ainda me liga bem na hora que estou dormindo! Humpf.

Ri baixinho de seu ataque histérico.

E então, alguma coisa estalou na minha cabeça e eu soube que, de alguma forma, ela só estava fazendo isso para me distrair. Ela já sabia.

— Rose... — tentei de novo.

Meus olhos se encheram de lágrimas novamente. Abri minha boca para falar, mas só o que saiu foi um soluço abafado. Só de pensar já doía.

Eu sinto muito... Eu disse que você não deveria ir! — ela ralhou. — Me dá o telefone dele, Bella. — ela falou séria. — Eu sei que você tem. Me dá o telefone dele agora!

— Não, Rosalie. Está tudo bem! É só que... eu não esperava, sabe? Ele disse que me amava, poxa! Ele disse que estava aqui, esperando por mim. E eu acreditei! — chorei mais alto, sacudindo todo o meu corpo com os soluços. — Ele sabia que eu viria... Só não sabia qua-quando. Eu quis fazer uma sur-presa pra ele. E quando eu cheguei... e-e-ele... e-ele estava...

Não consegui terminar minha frase.

E por mais que eu não tivesse pronunciado as palavras "na cama com outra", Rosalie já havia entendido o que eu queria dizer.

Eu sinto muito — ela repetiu, fazendo depois uma longa pausa – o que era muito estranho pra ela, principalmente nesses momentos. E então voltou a falar: — Ain, amiga, eu sei que não deveria... mas eu vou ter que falar. Bella, eu te avisei! Cara, ele é um idiota! Pelo amor de Deus, logo em quem você foi acreditar? Matthew é o maior galinha do bairro, será que você não entende? Do bairro! Isso, se não for da cidade. Você sabe muito bem que todas as garotas por aqui o conhecem – e você também sabe que não é só de vista! Então, por que diabos aí, que é uma cidade menor, seria diferente? Eu sei que é difícil, amiga. Não estou aqui para dar lição de moral em ninguém. É só que... Bella, meu amor, estou falando sério, ele não te merece. Parte pra outra!

— É fácil falar, Rosalie. — Solucei.

Ficamos em silêncio por mais algum tempo, somente com o barulho de meus soluços e sua respiração do outro lado da linha. E então, um pouco mais composta, voltei a falar.

— Não que eu não entenda que você está certa... Porque eu sei que está. É só que é difícil... — suspirei. — Eu não esperava por isso.

Passei as costas da mão no rosto para secar as lágrimas.

Bella...

— Está tudo bem, Rose. — A interrompi. — Quero dizer, vai estar tudo bem. Só preciso de um pouco de tempo... Olhe, daqui a pouco começa a minha aula, preciso entrar. Amo você.

Tudo bem, te ligo mais tarde. Amo você também. Beijos.

Desliguei o celular, coloquei meus braços cruzados sobre a mesa, apoiei minha cabeça neles e fechei meus olhos.

Minha próxima aula não ia começar agora. Ainda tinha mais ou menos uma meia hora para o início dela; é só que eu não agüentava mais falar com ninguém.

Achei que, conversando com Rosalie, eu me sentiria melhor, mas não foi o que aconteceu.

Rosalie era minha melhor amiga desde o Jardim de Infância, e, uma das coisas que eu mais amava em sua personalidade, era a sua franqueza com tudo e todos – principalmente com os amigos.

Coisa com a qual pela primeira vez na vida eu estava me sentindo meio magoada.

Eu queria alguém para me consolar, um ombro para chorar (mesmo que este ombro estivesse muito longe, nesse momento) e alguém que eu pudesse desabafar e que, sei lá, essa pessoa me compreendesse. É claro que isso eu não poderia esperar dela.

Não estou reclamando. Adoro minha amiga do jeitinho como ela é. É só que... não sei. Estava sentindo falta de alguma coisa.

Uma outra amiga, talvez.

Rosalie é aquele tipo de amiga que só te diz as verdades da história, quer elas doam ou não. E isso é uma coisa boa, mas não em um momento como esse.

Me sentindo a pessoa mais infeliz do mundo, tive que admitir para mim mesma: Eu não tenho mais ninguém!

Eu NUNCA poderia contar o que aconteceu aqui para o meu pai, e como meus pais eram separados, há essa hora minha mãe provavelmente devia estar com algum namorado. E amigos, bem, como já disse, Rosalie é a única.

Continuei com a cabeça abaixada por mais algum tempo, pensando em tudo o que acontecera desde que eu chegara. Não pude evitar novas lágrimas quando, invariavelmente, os pensamentos foram em direção a Matthew.

Mas, diferente de antes, agora eu chorava por raiva. Se não fosse por aquele imbecil mentiroso, eu não teria saído da minha casa, feito transferência da minha escola, largado a minha família, para enfrentar sozinha algo completamente novo. E eu nem podia voltar atrás!

Não com a matrícula e tudo o mais já feitos aqui.

Meio que 'despertei' quando comecei a ouvir barulho de vozes próximas. Eu não estava dormindo, mas também não estava 100% acordada.

Levantei minha cabeça e olhei ao redor, levando um certo tempo para perceber que o segundo tempo de aula já deveria ter acabado, porque além da grande quantidade de pessoas que entravam agora no refeitório, pelas portas de vidro eu pude ver alguns alunos saindo de um prédio e entrando em outro.

Respirei fundo e comecei a me preparar psicologicamente para tudo o que ainda viria pela frente – e algo me dizia que não eram poucas coisas.

Levantei-me e, ainda pensando, comecei a segui pelo corredor, sem prestar muita atenção por onde andava.

E foi então que eu bati em um cara.

Como naqueles filmes clichês, todos os meus livros caíram no chão com o impacto e, pouquíssimo tempo depois, ele já estava lá, abaixado e me ajudando.

Assim que ele começou a catar junto comigo algumas folhas soltas que caíram de dentro de um de meus cadernos, um sentimento de déjà vu tomou conta de mim, e eu não demorei muito para perceber o porquê.

Matthew.

Foi assim que nós nos conhecemos.

Só que, ao invés caírem os meus livros ao chão, foram os dele que caíram. Só alguns meses depois, quando já estávamos ficando, que ele foi me contar que aquilo foi proposital – ele queria me conhecer 'melhor', mas não sabia como, e fazer isso foi a única coisa que passou pela sua cabeça naquele momento.

No dia, achei aquilo lindo, mas, hoje, eu percebo que talvez não tenha sido a única.

Seu lindo sorriso branco, que fazia com que seus olhos azuis brilhassem ainda mais, preencheu minha mente.

E em contraste com essa imagem, me veio a sua voz na minha cabeça, quando entrei inesperadamente em seu apartamento na madrugada anterior, gemendo por "Julie".

— Me desculpe... — o garoto ao meu lado pediu, trazendo-me de volta ao presente. — Eu não estava prestando atenção no caminho... De verdade, foi mal.

Sem saber ao certo o que dizer, e ainda abalada com as lembranças, apenas levantei a cabeça e sorri. Peguei minhas folhas que ele me estendeu e segui pelo corredor, em direção a sala – que eu achava – que seria minha próxima aula.

Estava me sentindo meio zonza ainda com a forte lembrança. E quando, por pura mania, passei a mão no meu cabelo, encostei sem querer alguns dedos na minha bochecha, e percebi que tinham lágrimas escorrendo.

Amaldiçoando-me por ser tão sentimental, sequei as lágrimas, disposta a nunca mais chorar por nenhum homem!

Apressei meus passos e voltei a procurar pela sala.

Subi dois andares e voltei para o mesmo, ainda sem encontrá-la.

Eu não queria, mas já estava vendo que minha única solução seria pedir ajuda a alguém. Suspirei pesadamente e comecei a andar mais de vagar, procurando por alguém que tivesse uma aparência, hm, digamos, não muito mau-humorado.

Já estava decidida a perguntar a uma senhora que estava um pouco mais à frente, quando uma menina riu ao meu lado.

Puxando o papel com o numero da sala, da minha mão, ela falou:

— Você nunca vai chegar à sala se continuar neste prédio — ela soltou uma risadinha de novo. Mas não era como se ela estivesse tirando sarro da minha cara. Era mais como se ela realmente estivesse achando algo divertido.

Olhei para ela, sem entender.

Sem falar mais nada, ela cruzou seu braço no meu e me arrastou para a direção oposta que eu estava indo.

— Vem comigo, eu te levo! Também vou pra lá agora. Sabe, este é o prédio C, e a nossa próxima aula fica no D. Perguntar de vez em quando faz bem, sabe, ninguém iria te morder — ela provocou.

Olhei para o lado meio desconcertada, parando para prestar atenção pela primeira vez na garota que estava me arrastando escada a baixo.

Ela era realmente linda! Apesar de sua altura.

Quando finalmente vi que a morena que estava me rebocando, sem aqueles enormes saltos, provavelmente bateria ao meu ombro, soltei uma risadinha abafada.

— O que foi? — ela perguntou, meio confusa.

— Eu... Er... Não é nada. — Preferi não dizer nada, com medo de contar e deixá-la chateada.

Ela somente deu de ombros, sem se importar.

— Meu nome é Alice Cullen, e o seu?

— Isabella.

— Sabe, eu tenho uma prima que se chama Isabella. Bem ela deve ter a metade, ou menos, da sua altura, já que tem só 7 anos, mas, em certos aspectos, olhando bem, até que é meio parecida com você. Tirando os olhos azuis e o cabelo loiro dela, é claro — ela tagarelou. — Nós a chamamos de Isa... Posso te chamar de Isa também?

Hesitei um pouco, antes de responder.

— Hmm, er, não, eu prefiro só Isabella mesmo... Mas, sei lá, tenho uma amiga que me chama de Bella. — Dei de ombros.

Se eu estava mesmo disposta a largar tudo o que me lembrasse Matthew, acho que ser chamada pelo apelido que só ele me chamava não devia ser um bom começo.

— Ok... Bella então. — Ela sorriu.

Correspondi ao seu sorriso meio sem-graça. Alice me tratava como se nos conhecemos há muito tempo, o que, apesar de ser incrivelmente reconfortante, já que eu estava totalmente sozinha nesta cidade, ao mesmo tempo em que era bom, era uma coisa meio desconfortável.

Afinal de contas, de uma maneira meio estranha, isso me fazia querer confiar nela. Não sei se era minha "carência", minha necessidade de desabafar e receber um abraço amigo, ou sei lá o quê. Só sei que essa estranha confiança (em uma menina que eu havia conhecido não tinha nem 20 minutos) ia totalmente contra tudo o que meu pai já havia me ensinado.

E mesmo sabendo que poderia estar desobedecendo a ele, e mesmo sabendo que eu poderia me decepcionar depois, eu queria, de verdade, ter pelo menos uma garantia de que podia confiar nela.

E então eu confiaria.


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