Paraíso escrita por natthy


Capítulo 1
O que é o paraíso?




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CAPÍTULO 01. O que é o paraíso?

 

 

Edward POV

13 de Maio, 08:50. Sala de aula.

 

 

Tic, tac. Tic, tac. Tic, tac.

Acompanhei o "tic tac" da minha caneta com o ritmo do relógio. Tudo o que eu queria agora era poder sair desse inferno de sala de aula! Parecia que quanto mais eu desejava que o tempo passasse, mais lentamente ele passava. E, apesar do barulho, os ponteiros não saiam do lugar.

Meu único problema era que, embora soubesse que minha jovem professora seria capaz de fazer absolutamente tudo por mim, me deixar sair era a única coisa que ela não parecia estar muito disposta a fazer.

Gemi irritado e comecei a sacudir o pé também.

— Vinte minutos para a aula terminar. — A senhorita (como deixava bem mais do que claro que deveria de ser chamada) Cameron avisou, soando como se sentisse muito. — Já que falta tão pouco tempo, faremos então um pequeno debate. Dividam-se em grupos de quatro ou cinco e discutam o seguinte tema: "Para vocês, o que é o paraíso?" Cheguem a um acordo e depois me contem a que conclusão chegaram.

ARG!

Bati com a testa sobre a mesa e continuei com ela deitada ali. Fiquei imaginando quanto tempo levaria até alguma garota me convidar para fazer parte de seu grupo, ou se a própria professora não me encaixaria em algum, chamando a atenção para mim antes, perguntando-me o porque de estar sem fazer nada. E, claro, com uma leve sugestão de que eu não precisaria continuar sem fazer nada depois da aula, se é que me entendem.

Continuei divagando até que comecei a sentir minhas pálpebras mais pesadas, e quando já estava quase, quaaase senti alguém me cutucar.

— Senhor Edward Cullen? — ela chamou baixinho. Senti suas unhas enormes e vermelhas alisando meu braço.

— E-eu, er, eu... — Despertei rápido, no susto. Pela primeira vez na vida, a encarei envergonhado esem saber o que dizer.

Olhei ao redor procurando por algo que pudesse me socorrer, e vi Jacob me encarando com uma expressão cômica no rosto. Senti a vergonha idiota ir embora e minha raiva anterior reaparecer.

— Ele está no meu grupo. — Jacob disse vindo na minha direção e me dando uns tapinhas no ombro. Quando a professora saiu, visivelmente insatisfeita, ele riu alto. — Meu deus, que inveja! Até de cara feia a Cameron dá mole pra você. Bom, pensando bem, vai ver é esse o seu charme – você está sempre de cara amarrada.

— Vai a merda, Jacob! — Gemi. — Pelo amor de Deus, hoje não.

— O dia que você aparecer por aqui bem, minha mãe acerta os números da loteria.

— Sua mãe morreu, Jake. — Revirei os olhos.

— Por isso mesmo.

Ignorei a piadinha sem graça e resolvi me concentrar no trabalho.

— E então, qual é o seu grupo? — perguntei.

Jacob lançou-me um sorriso malicioso e me encaminhou em direção à mesa.

— Vem comigo!

Continuei seguindo atrás dele até que ele parou perto de...

Não, não e NÃO! Definitivamente o Jacob tinha perdido o juízo.

Enlouqueceu? — sussurrei entre os dentes trincados. Não iria ser nada legal ouvir o que poderia sair da minha boca, caso eu destrancasse-os.

— Foi o único que consegui. — Ele deu de ombros. — Eu não estava muito diferente de você... Também dormi a aula inteira. Sabe como é, a noite foi boa — falou e me lançou um sorrisinho. — Ah, e falando nisso, a Carol perguntou por você.

Foco, Jacob. — Pedi, e depois suspirei. — Tudo bem, você dormiu. Mas, pelo amor de deus, onde é que eles entram nessa história? E eu não vou ligar pra ela, se é isso que você está pensando.

Jacob ignorou minha última frase.

— Ah, cara, eu dormi a aula inteira. Dá um desconto, eu não sabia o que fazer... Então resolvi apelar. — Deu de ombros. De novo.

A essa altura eu já estava tão irritado, que até uma simples mania – a qual eu já estava acostumado há anos – estava me irritando.

Suspirei, contei até 30 e suspirei de novo.

Esse era o Jacob. Não dava mais para mudar.

Jacob era, desde que me entendo por gente, meu único e melhor amigo. Quero dizer, além da minha irmã. Eles dois são as únicas pessoas que eu realmente daria a minha vida, se fosse preciso.

Por ser mais velho que Alice, Jacob foi o que sempre me dava mais conselhos, apoio e me trazia para Terra, em meus momentos lunáticos. Já Alice, bem, Alice sempre foi a mais "cabeça". Não se abalava com nada e sempre assumia o controle, quando era preciso. Bem, essa era a Alice que todos viam – a Alice fria, concentrada e responsável.

Mas, a verdadeira Alice, muito pouca gente conhecia.

Só eu sei o quão especial minha irmã é. Ela não lembra disso porque ainda era muito pequena, mas, assim que nossa mãe, Elizabeth, morreu, todas as noites ela vinha me dar um beijo antes de dormir, como mamãe fazia; sempre me dizendo que me amava e que tudo daria certo. Algum tempo depois, quando eu finalmente rebati e disse que nada daria certo porque nossa mãe não estava mais lá, ao invés de se abalar com meu tom de voz grosseiro, ela me abraçou e disse que eu não precisava chorar mais e nem me preocupar com isso porque, se eu quisesse, ela seria minha mãe.

Aquilo acabou comigo.

Eu estava sendo um estúpido com ela enquanto ela só queria me ajudar.

Foi aí que eu percebi que tinham muitas pessoas querendo o meu bem, mas que, por eu estar ocupado demais sentindo pena de mim mesmo, eu não vi isso.

E foi então que eu resolvi mudar.

Comecei a sair mais com Jacob e passei a dar mais atenção as mulheres. Mas meus relacionamentos sempre começavam e terminavam em uma noite só. Quando eu estava feliz, eu me sentia como se estivesse, sei lá, desrespeitando a minha mãe, e isso não é legal. Então optei por continuar sozinho.

O que não quer dizer que eu não tenha diversão, de vez em quando. É só que um relacionamento SÉRIO, com aniversário de namoro e tudo o mais não fazia muito a minha cabeça. Eu tinha quem eu quisesse e na hora que quisesse – o que, pra dizer a verdade, chegava a ser um pouco entediante – então por que eu iria querer ter mais? Minha vida já estava muito boa assim.

Eu não queria passar por nada que chegasse nem perto de tudo o que vi meu pai sofrer – e até eu mesmo, para dizer a verdade.

Então ficar sozinho era o que me parecia ser o mais certo, em minhas condições. Afinal, em um relacionamento sério você está sujeito a sofrer traições e coisas do tipo, e eu não sei se estaria preparado para isso.

Jacob vivia dizendo que isso é viagem da minha cabeça; que nem toda mulher é infiel e que, sei lá, eu poderia morrer primeiro.

Levei anos para conseguir convencê-lo de que minha opinião era minha opinião e ponto final. Ele teria de respeitar.

E acabou que ele passou a respeitar mesmo. Desde que eu continuasse o acompanhando em suas saídas à noite, estava tudo certo.

Afugentei as lembranças antes que qualquer emoção começasse a transparecer em meu rosto e me virei, com um forçado sorriso simpático, para o grupo de dois meninos e uma menina, que estava esperando por nós.

— Só 15 minutos para a aula terminar. — Jacob sussurrou como se isso fosse uma boa notícia. — Vai passar rápido... — E então, em um tom de voz mais alto: — Pessoal, Edward. Edward, pessoal.

Revirei os olhos ante a apresentação e tentei dar alguma atenção ao trabalho, tentando ignorar o fato de que os dois gays mais atirados e que a minha fã número um (segundo ela mesma) estavam me comendo com os olhos, maravilhados.

— Ok, vamos lá. Pra vocês, o que é o paraíso? — Tentei puxar assunto. Enquanto eles davam seus pontos de vista, puxei o caderno onde Jacob estava rabiscando, virei a última folha e escrevi.

"O QUE DEU EM VOCÊ?"

Passei o caderno pra ele e o vi revirar os olhos enquanto lia. Pouco depois ele me passou o caderno de volta.

"Já falei: Eu dormi! Acordei com a loirinha me cutucando e dizendo que eu era o único que estava sem grupo e que o deles precisava de mais uma pessoa para estar completo. Cara, eu não posso repetir DE NOVO. Se isso acontecer, aí sim você vai ter um sério motivo para se preocupar com o sofrimento de uma perda próxima. Sabe como é, meu pai quer que eu me forme no ano que vem. Ele sabe tão bem quanto eu que isso não vai acontecer, mas enfim..."

Agora foi a minha vez de revirar os olhos. Arranquei aquela folha, amassei uma bolinha de papel e convenci a mim mesmo a prestar atenção no que eles estavam dizendo, para o caso de alguém me fazer perguntas depois.

—... e eu também acredito em ruas de ouro e essas coisas. — O garoto que estava na minha frente terminou, olhando diretamente nos meus olhos.

Mordi o canto da bochecha para não começara a gritar.

— E você, gata, o que você acha? — ele perguntou, com sua voz extremamente afeminada, para o garoto ao seu lado.

Ele deu seu ponto de vista. Um que não era muito diferente do que o garoto da minha frente já tinha dado – sempre enfatizando nas tais ruas de ouro, anjos, etc. Quando ele mandou que Jacob começasse a falar, percebi que a loirinha já tinha dado o seu ponto de vista enquanto eu não estava prestando atenção. Mas, só pela forma como ela olhava e assentia quando seus amigos (ou amigas, vai saber) falavam, já dava para perceber que ela pensava a mesma coisa que eles.

— Posso ser sincero? Eu não acredito em paraíso — Jacob falou.

Os três arregalaram os olhos, chocados. Vendo que Jacob não prosseguiria, eles passaram a me encarar.

— Não vá me dizer que você tem a mesma opinião que ele... — a loirinha disse, parecendo meio assustada.

Não entendi o por que daquelas reações. Sinceramente, achei um exagero.

— Bem, eu não tenho a mesma opinião que o Jacob. Quero dizer, mais ou menos. — Me corrigi rápido, sem saber muito bem o que dizer. — Acredito sim em paraíso, mas não acredito em nada do que vocês disseram. Não acredito que no paraíso vá ter ouro. Aqui, nós temos, e há tanta guerra por causa dele! Não faço a menor idéia de como pode ser o paraíso, mas tenho que certeza que assim não é.

Sem mais comentários, a aula terminou. Parecia ter passado bem mais do que 15 minutos, mas mesmo assim, dei graças quando acabou.

Comecei a andar com Jacob em direção ao refeitório. Conversávamos e ríamos, até que, sem prestar muita atenção por onde eu andava, eu trombei com uma menina morena, jogando, sem querer, todos os seus livros no chão.

Olhei meio assustado pro Jacob e, sabendo só pela minha expressão que eu o estava perguntando "De onde ela surgiu?" ele só deu de ombros e apontou pra ela no chão, catando seus livros.

Abaixei-me também, para ajudá-la.

— Me desculpe... — pedi. — Eu não estava prestando atenção no caminho... De verdade, foi mal.

Ela levantou o rosto pra mim com um pequeno sorriso que me dizia que estava tudo bem. Seu rosto estava meio úmido e alguns fios de cabelo estavam pra frente.

Com todos os livros na mão, ela levantou-se e eu fiquei ali, encarando-a até que ela sumisse no corredor.

Olhei pro Jacob com uma interrogação na testa.

— Por que ela... ela estava chorando? — perguntei, meio preocupado, mas a pergunta era para mim mesmo.


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