O Menino que Sobreviveu escrita por gelmo


Capítulo 21
Longbottom




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– Crianças!!! – A vozinha esganiçada do prof. Flitwick finalmente os trouxe de volta a realidade – Vocês pretendem ter aulas ainda hoje, ou preferem ficar vigiando os corredores?
Hermione foi a primeira a reagir e entrou correndo para a sala. Rony, segurando com muito esforço o riso, entrou atrás dela, apenas Harry abobado demais, entrou lentamente atrás dos amigos. A boca ainda meio aberta, os olhos desfocados e o cérebro tentando entender aquela situação estranha e bizarra.
– Ahh, os amores da juventude são uma etapa muito boa da vida Sr. Potter, mas devemos nos manter focados no presente momento, ou seja: Aulas. O senhor terá todo o verão para suas aventuras amorosas. A classe explodiu em gargalhadas, pois os que não tinham visto a cena, já estavam sabendo pelo burburinho que corria por toda sala. Muito vermelho, Harry se escondeu atrás de seu livro padrão de feitiços, e mal ouviu o pequeno professor ensinar sobre como transferir a matéria de um lugar ao outro.
O restante das aulas até a hora do almoço passou como um borrão. Sempre que tentava falar com Hermione ou Rony sobre o que tinha acontecido, ambos mudavam de assunto e lembravam que estavam atrasados para a próxima aula. Acabou desistindo de abordar o assunto, mas ficou pensativo sobre o estranho acontecimento. Quando finalmente chegou a hora do almoço, o menino reparou que o numero de garotas esvoaçantes que passavam encarando-o tinha aumentado consideravelmente. Algumas com risadinhas maliciosas, outras com inveja e cobiça no olhar. Até que, Angelina Johnson, uma menina dois anos mais velha que ele, companheira do time de quadribol, sentou-se ao lado de Harry e lhe confidenciou baixinho:
– Se quer minha opinião Harry, você mandou muito bem, não existe uma única garota no mundo que resista a uma declaração tão direta e verdadeira. – disse isso e levantou-se, dando-lhe uma piscadela e indo se sentar perto de suas amigas do mesmo ano. Rony quase engasgou com uma fatia de carne ao ouvir isso. Descontrolou-se e acabou caindo na gargalhada.
Essa fora a gota d’água, o garoto praticamente esmurrou Rony para obter uma resposta.
– Muito bem Weasley, parece que todo mundo esta sabendo de algo que eu não estou, e posso apostar minha última cueca limpa que você esta metido nisso, pois fica com esse risinho afetado na cara. Desembucha, ou eu vou perder a esportiva.
Foi Hermione quem deu a Harry a primeira pista de que a encrenca era muito maior que ele imaginava:
– Se eu fosse você, conversaria com Fred e Jorge, acho que eles podem lhe explicar melhor.
Se aqueles dois estavam envolvidos, ele sabia que a coisa iria realmente feder. Procurou os gêmeos ao redor da mesa, mas quando os achou, seus olhos se recaíram sobre uma figura diferente entre os dois. Ali estava Gina, encolhida, mais vermelha que um tomate, mas com um sorriso de extrema felicidade no rosto. Olhava para alguma coisa em seu colo. A mente de Potter começava a formular uma teoria do que estava acontecendo. Seu estômago embrulhou concordando com a idéia. A menina, sem nenhum aviso, levantou-se bruscamente; jogou a mochila nas costas e saiu praticamente correndo do refeitório, carregando uma caixa preta debaixo do braço. Os irmãos Weasley, ao contrário, ao perceberem o olhar furioso que pairava sobre eles dirigiram-se até Harry com toda a calma, e sentaram-se um de cada lado do menino.
– E aí Harry velho de guerra?
– Tudo bem cara?
– O que vocês aprontaram? – o tom de voz era de fúria mal contida, suas mãos tateavam cegamente as vestes a procura da varinha.
– Quem? Nós?
– Hummmmm! Difícil lembrar assim...
– ...Tudo de uma vez.
– Você quer saber do que fizemos em casa também?
– Ou apenas na escola?
– O que vocês aprontaram comigo HOJE?
– Assim sim. Agora você...
– ...simplificou a questão. Aqui, tome. Aperte o cupido. – Jorge lhe atirou uma moeda prateada de mais ou menos uns cinco centímetros de diâmetro. De um lado tinha um coração emoldurando a face de um cupido, no verso os dizeres: Vale um amor verdadeiro.
Ao apertar o cupido, a moeda tornou-se dourada, e os dizeres no verso sumiram, tornando a face da moeda uma pequenina tela, onde mostrava um Harry de cabeça baixa que dizia:
–... Estou apaixonado, está bem? Sonho com ela a noite toda, Só estou realmente feliz quando a tenho por perto. Sua voz é música pra mim, E sua ausência é dor e sofrimento. Eu a amo. – Nesse momento, uma musiquinha romanticamente brega começava a tocar, e a frase “Eu a amo” ia se repetindo cada vez mais baixo até a música acabar.
– Como vocês...? Quem...? Por que...?
– O “como” é fácil explicar: Grampeamos seu quarto com um curiosivim. Lembra o aparelhinho que usamos para espionar aquela reunião lá em casa? Depois foi só esperar alguém dizer algo comprometedor.
– A pergunta correta Harry, é: Quanto?
– Por apenas dois galeões, qualquer menina da escola pode ter uma declaração de amor. – disse Fred rindo, e abraçando Harry.
– Você já nos rendeu mais de setenta galeões, seu Romeuzinho sem-vergonha. – tornou Jorge, mas logo emendou com preocupação – Infelizmente houve algo em que não pensamos.
– Como, por exemplo, pedir minha opinião antes de me fazer pagar esse mico?
– Claro que não, se disséssemos qualquer coisa...
–... havia a pequena possibilidade de você ser contra.
– Estamos falando de algo mais sério
– Como? – Harry quase babava de tanta raiva.
– Gina. – respondeu Jorge com simplicidade, o que desarmou Harry momentaneamente - Para a coisa se tornar rentável, tivemos de suprimir o nome dela. Caso contrário, não ia ter graça para as outras meninas. Mas ouvir você falando aquelas coisas para toda e qualquer uma que pudesse pagar dois galeões... Bem, parece que magoou nossa irmãzinha.
– Então não tivemos alternativa, a não ser lhe mostrar a gravação. Mas se ela mostrar a mais alguém... Acabou-se o negócio, e é nessa hora que você entra Harry.
– Será que não consegue convencê-la a guardar esse segredinho?
A indignação e perplexidade do garoto o deixou mudo por alguns instantes, mas quando ia finalmente explodir, percebeu que os gêmeos seguravam o riso.
– Vocês estão tirando onda com minha cara né?
– Um pouco. – e caíram na gargalhada.
– Mas espera aí. – as últimas frases voltaram à cabeça do garoto. – Vocês disseram que deram uma cópia da gravação original para Gina?
– Sim, ainda a pouco, uma hora dessas...
–...deve estar ouvindo mais uma vez você dizer que a ama...
–...deitadinha na sua cama. – uma nova onda de gargalhadas os atingiu.
– Palhaços. – Harry levantou-se e saiu da mesa. Passaria o resto da semana trancado em seu quarto. Como ela iria encarar Gina agora? – E vocês sabiam de tudo, né? – atacou Rony e Hermione.
– Não, eu não sabia que eles iam vender para as garotas – tentou defender-se Rony – Eles só falaram que iam gravar para podermos tirar um sarro de você mais tarde.
Deixando o almoço pela metade, Harry saiu pisando duro, em direção a torre da Grifinória, mas antes que alcançasse a porta do salão principal, Hermione o alcançou e o segurou pelas vestes:
– Eu sabia o que os gêmeos estavam aprontando e não disse nada.
– Obrigado por nada então. – tornou o menino ainda surpreso pela honestidade da amiga.
– Eu só achei que foi uma coisa linda de se dizer, e Gina merecia ouvir. Fui eu quem os convenceu a mostrar toda a verdade pra ela. Depois da quantidade de lágrimas que já derramou por sua causa, aquelas palavras vão lhe trazer um pouco de felicidade. Desculpe-me se agi mal.
O garoto ficou sem saber o que dizer. Depois de vários minutos encarando a amiga, disse:
– Deixa pra lá. Agora tenho de arranjar um jeito de falar com ela.
O menino percorreu os corredores quase desertos do castelo, em direção ao dormitório. Mesmo em seu estado de confusão sentimental, ficou surpreso ao ver Pirraça passar ao seu lado flutuando quase rente ao chão, com os olhos para baixo, o poltergeister resmungava baixinho:
– ...não devia fazer essas coisas com o velho Pirraça... eu sei, mas não deviam me obrigar... isso sempre dói...
Harry ficou de queixo caído, nunca vira Pirraça triste ou amedrontado com nada, e era exatamente assim que ele se comportava agora, o que poderia ter acontecido para deixá-lo nesse estado? Com esses pensamentos, o menino chegou até o retrato da mulher gorda, deu-lhe a senha e entrou. Já no meio da sala comunal, seu cérebro registrou algo de diferente no retrato, deu meia volta e voltou para ver se tinha visto direito. Sim, a velha senhora estava chorando:
– O que houve?
– NADA. NÃO HOUVE NADA. EU LHE DEIXEI ENTRAR NÃO DEIXEI? DEIXE-ME EM PAZ. - depois dessa explosão ela saiu correndo para fora da moldura, e o menino agora, só podia ouvir seus soluços.
Sem saber como agir, subiu para seu quarto, não sem antes encarar demoradamente a porta do quarto das meninas. Se não fosse pela encrenca que Fred e Jorge o haviam colocado, Harry provavelmente teria ligado os pequenos incidentes entre si. Teria ficado alarmado o suficiente para chamar um professor. Mas seus pensamentos estavam totalmente voltados para Gina, e só foi perceber o que realmente acontecia quando era tarde demais.
Ao abrir a porta do quarto, dois de seus cinco sentidos reclamaram de imediato; a escuridão não lhe deixava ver nada. As cortinas haviam sido cerradas, até tanger o aposento no breu total. E havia o cheiro... O cheiro inconfundível de podridão, que impregnava suas narinas. Ao primeiro passo que deu dentro do aposento, pisou em algo que estourou com um ruído úmido, deixando seu pé pegajoso e escorregadio. Dirigiu-se imediatamente à janela, e segundos antes de abri-la, uma voz ecoou às suas costas...:
– Ajude-me, por favor.
Harry estacou, as palavras eram inesperadas, mas não menos que a voz que as haviam dito. Com um movimento brusco, abriu as duas cortinas, inundando o aposento na luz do sol. A figura que se encontrava sentada no chão, ao lado da porta, não pareceu se importar, apenas levou uma das mãos até a porta e a fechou, enquanto com a outra, parecia brincar com uma bolinha colorida por entre os dedos, dispensando o mínimo de atenção ao gesto. Com nojo, Harry percebeu se tratar de um globo ocular. Com receio de já saber o que iria ver; o garoto levantou o pé, para verificar em que pisara. Sua duvida foi confirmada, acabara de estourar o outro olho de Neville Longbottom. Sua maior preocupação no entanto, era como chegar à porta, sem ser agarrado pela coisa ali sentada:
– O que você quer Longbottom? – Harry procurava ganhar tempo enquanto escorregava lentamente em direção a porta, o coração martelando as costelas com tanta violência que parecia querer denunciá-lo.
– Quero ajuda.
O tom de dor e desespero na voz, fez com que o garoto titubeasse, e pela primeira vez, percebeu que não era um monstro insensível sentado ali, mas uma alma atormentada. Sem saber por quê, escorregou para o chão e sentou-se também.

– Quem fez isso com você?

– Voldemort. Ele quer você morto.
– Por quê?
– A profecia... A profecia podia se referir a qualquer um de nós dois.
– Que profecia?
– Um de nós dois vai causar sua ruína. – um esgar que tentava imitar um sorriso cruzou seu rosto antes dele continuar – E não sei se você percebeu, mas em meu estado não ofereço muito perigo ao lorde negro.
– E quem fez isso aos seus olhos?
– Eu. A dor de ser um morto que caminha, é constante. Retirar meus olhos foi apenas um incômodo se comparado a todo o resto.
– Mas por que você fez isso?
– Eu tenho alguma coisa aqui Potter – com o dedo sujo de sangue e pus, bateu levemente na própria têmpora – Alguma coisa que quer matar e mutilar, mas desde que acordei da morte, meu raciocínio tem se tornado cada dia mais claro. E finalmente percebi que só perco o controle, quando vejo alguém que essa coisa precisa matar. Então tomei providencias para nunca mais ver ninguém.
– Não sei o que posso fazer por você Longbottom, mas prometo que vou tentar. Vou conversar com o Dumbledore. Se existe alguém que pode ajudá-lo, com certeza é ele.
– Me ajude Potter. Minha paz e sua vida dependem disso. Me ajude a acabar com a dor e eu conto tudo que sei.
Enquanto falava com a criatura, Harry via vermes gordos e luzidios saindo da orelha e abrindo caminho pela carne putrefata do rosto. Bílis verde escorria do canto da boca e começava a formar uma poça no chão. Apesar do medo e do nojo, o menino estava hipnotizado por aquele espetáculo macabro, e levou um susto quando a porta do quarto abriu-se violentamente; Fred e Jorge entraram com varinhas em punho:
– Estupefaça – dois raios vermelhos atingiram a cabeça de Neville ao mesmo tempo, a força do feitiço jogou o cadáver de encontro a parede, de onde não mais se mexeu. Atrás dos gêmeos vinham Rony, Hermione e Gina:
– Você está bem cara? – Jorge levantou Harry pelo braço e foi empurrando-o para fora do quarto, quando todos já haviam saído ele selou a porta com um feitiço.
– Estou. Como vocês sabiam?
– Gina viu tudo pelo curiosivim. – Fred apontou para a caixa, que ainda estava nas mãos da irmã. – foi ela que salvou sua pele:
– Vou chamar McGonagall – antes que alguém perguntasse o motivo dela estar espiando o quarto dos meninos, Gina saiu correndo procurar a diretora da Grifinória.


Harry, Rony e Hermione, foram mandados de volta ao salão principal, junto com todos os outros grifinórios. Aos poucos, alunos das outras casas juntaram-se a eles e ficaram esperando, sentados em suas mesas enquanto todo o castelo era revistado. Quando o sol começava a se por, receberam a notícia de que podiam retornar a rotina normal:
– Potter. – McGonagall o segurou pelos ombros – O diretor gostaria de falar com você.
Harry acompanhou a professora até a conhecida sala do diretor. Após bater educadamente na porta, a professora entrou:
– Espere aqui Potter. – alguns minutos se passaram, até que a ela retornou e franqueou-lhe passagem, fechando a porta atrás de si, pôde ouvir os passos da velha senhora se distanciando escada abaixo. A já familiar e incômoda sensação de que alguma coisa estava errada, tomou todo seu corpo assim que o menino passou pela soleira da porta. James Potter estava ao lado de Dumbledore.
– Conte-nos Sr. Potter, - pediu Dumbledore com gentileza - o que exatamente se passou naquele quarto essa tarde?
O garoto repetiu palavra por palavra toda a conversa surreal que tivera em seu dormitório, sempre dando detalhes quando lhe era solicitado. Por fim, Dumbledore pareceu satisfeito:
– Muito bem Harry, obrigado por sua ajuda. Pode voltar aos seus afazeres.
– Obrigado senhor. – Ao se dirigir a porta, o menino lembrou-se de que queria contar ao diretor sobre o acontecido na aula de DCAT, voltou-se então ao velho professor, mas ao encarar James Potter, algo em seu intimo lhe dizia para se calar:
– Sim Harry? Quer nos dizer mais alguma coisa? – o diretor o encarava por cima dos oclinhos de meia lua. O menino pensava numa maneira de falar-lhe a sós. Dumbledore, excepcional na arte da Legilimens, conseguiu ver toda a cena na mente do garoto. Seus olhos se estreitaram ligeiramente, e desviaram-se rapidamente até James, mas logo voltaram a encarar Harry:
– Não senhor, é só que eu...
– Estamos um pouquinho ocupados agora, no entanto lhe ficaria muito agradecido, se o senhor pudesse voltar amanhã de manhã, talvez então eu pudesse registrar suas memórias, para estudá-las posteriormente. Isto é, se você não se importar. – Sem saber que seus pensamentos já eram de conhecimento do diretor, mas vendo a oportunidade perfeita para uma conversa particular no dia seguinte, o menino concordou na mesma hora:
– Sem problemas professor. Posso ir?
– Pode.



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