Depois da minha ida ao mercado, a casa estava muito mais habitável do que antes. Oliver não havia chegado até agora e eu não sabia o que fazer até lá, eu havia trago poucas coisas, mais as minhas roupas e meu notebook, que havia ganhado do meu pai quando vim para aqui.

     Decidi olhar a minha mala e arrumá-la, procurei pelo meu uniforme e não o encontrava, eu não o havia trago e assim teria que ir a casa do meu pai, para poder ir amanhã para a escola, não queria ficar faltando, e assim acabar brigando ainda mais com o meu pai, que já não nos dávamos muito bem nos últimos tempos.

        Peguei minha bolsa e fui para a porta com a chave reserva que Oliver tinha me dado logo na manhã seguinte a chegarmos. Fiz sinal para um taxi e tive que esperar uns segundos já que o transito já estava começado a aumentar, já que era quatro e pouco da tarde.

     Cheguei em casa, pouco tempo depois. Me senti um pouco estranha estando ali, como se lá não fosse mais minha casa. Caminhei sem pressa em direção a porta e toquei a campaninha, e fui atendida por uma Maria de expressão cansada.

     - Oi vó. Tudo bem?

     - Oh! Claire, minha criança. Que saudade de você, como está?

      - Eu estou bem e você? Será que eu poderia entrar? – perguntei já que ainda estava do lado de fora.

     - Oh, sim. Desculpe. – disse me dando passagem e depois fechando a porta atrás de mim. A sala permanecia da mesma forma como estava quando eu havia saído de casa no dia anterior.

     - Como estão as coisas por aqui?

     - Estão bem, graças a Deus. Mas o seu pai ficou muito triste por você ter ido embora, daqui de casa.

     - Não sei se consigo acreditar muito nisso Maria. Quando eu estava aqui, nos mal nos falávamos e foi só eu sair para ele começar a sentir falta. Tudo bem que ele nunca me foi ruim comigo nem quando eu tinha discutido com ele e tal. Mas sentir falta, eu não sei...

     Eu queria muito que isso fosse verdade, eu gostava muito do meu pai, e sempre tive vontade de morar com ele, já que pra mim as férias ocasionais, nunca eram suficientes para mim quando criança.

      - Não seja tão dura com seu pai minha criança, nem consigo mesma. Ele te ama, acredite nisso. Mas não vamos ficar falando disso, estou com tanta saudade de você, parece até que foi embora há muito tempo.

     - Também sinto isso vó. – disse lhe dando um sorriso. Fomos para a cozinha onde estava alguns empregados, os quais eu não falava a um tempo.

     - Gina! – gritei seu nome e quase corri em sua direção. Desde a primeira vez que a tinha conhecido, tinha gostado realmente dela que ela também tivesse gostado de mim né.

     - Claire! Que saudades suas. – ela falou me abraçando forte, o que respondeu a minha duvida. – Me disseram que você saiu daqui, por que você fez isso? Olha só onde você mora, desculpa se eu faltar com respeito, mas você é maluca? Deixar uma casa dessa onde tem tudo!

      Eu ri com essa afirmação dela, eu tinha tudo ali, e deveria estar até louca para sair...mas, eu não podia ficar longe do Oliver, me doía imaginar isso, e ver que até pouco tempo, eu não sabia que sentia isso, nem admitia sentir isso por ele. E agora estava morando com ele, sabia também que poderia estar fazendo a coisa errada, mas pra mim agora, era a melhor coisa que eu estava fazendo.

       - O... – estava respondendo para a Gina quando me interrompem e nem precisei me virar para saber quem era.

      - Qual é o problema da Claire sair dessa casa Gina? Só por que aqui tem todo o conforto e o dinheiro que ela pode querer, é isso? – ao ouvir ele falando aquilo, percebi uma pontada de magoa e raiva na sua voz, eu não queria que ele ficasse assim por minha causa, era muito triste, vê-lo dessa forma.

     - Eu posso até estar maluca Gina, mas tenha certeza que eu estou muito feliz, onde estou. – falei isso com calma e verdadeiramente feliz, queria que todos acreditassem não ficassem tristes ou pensassem que eu era uma adolescente perturbada, que tinha se revoltado contra o seu pai sem motivo. E com isso senti duas mãos sendo colocadas sobre os meus ombros, olhei para trás pára ver o seu rosto, e vi que ele tinha ficado feliz com o eu havia dito.

     - Ah! Gente cadê o Robson? – perguntei sentindo a falta dele no lugar

     - Ele está de férias, quer dizer ele saiu hoje de manhã. Foi ver a família que mora no interior.

     - Nem sabia que ele tinha família.

    - Ele é muito reservado. Mas me conte minha criança, está com fome?

     - Um pouquinho...sabe onde eu estou não tem comida nenhuma, eu tive que ir hoje mais cedo comprar comida... – falei com um sorriso no rosto, sabendo muito bem que o Ollie ouvia o que eu falava.

     - Que horror. Então vou te dar algo para se alimentar direito, não quero que você passe mal. – falou pegando um prato e o enchendo de comida, eu tinha certeza que não comeria tudo aquilo.

     - Vó, eu não aquento comer tudo isso...

     - Claro que consegue. Você está muito magrinha.

     - Maria eu sempre fui magra, e por mais que eu coma não consigo engordar, então...   

      - Você está maravilhosa... – Senti Oliver sussurrando no meu ouvido, me fazendo sentir um calafrio no corpo. Queria poder beijá-lo mas não acho que seria o melhor lugar para fazer isso.

    Procurei não pensar nisso, não queria chamar a atenção para nos dois. Olhei para a Maria pedindo para não ter que comer, não estava com fome, apesar de não ter comido nada a tarde, somente uma barra de cereal, porem ela fez sinal para que eu comece tudo, parecia que eu era uma criançinha, mas fiz um esforço e comecei a comer.

     A comida estava muito gostosa, como sempre, acabei comendo mais do que eu imaginava. Quando terminei, todos ainda estavam ali, sentados me olhando, só agora tinha percebido isso.

     - O que foi?

     - Como você não engorda? Isso não é justo!

     - Não me pergunte, por que também não sei...

      - Droga! – Comecei a rir da Gina, ela as vezes era tão infantil, eu gostava de conversar com ela, apesar de não sermos muito próximas.

       Olhei para a janela e vi que o sol já estava se pondo, e só ai vi que já estava ficando tarde e ainda não tinha feito o que queria.

      - Gente vou no meu quarto, pegar algumas coisas que eu esqueci ontem.

     - Então você não vai voltar mesmo Claire?

     - Não vó, eu quero ficar lá onde estou, e me sinto muito feliz lá.

    - Sua mãe sabe disso?

     - Ainda não. Mas pretendo contar para ela ainda hoje.

     - Não gosto dessa idéia. E onde e com quem você está morando?

     Com essa pergunta fiquei sem resposta, não que eu não soubesse como respondê-la mas sim, se eu deveria contar.

     - Tia, a Claire está morando comigo. – Oliver falou tomando a minha frente, em responder, fiquei nervosa no mesmo instante com a reação deles ali, mas definitivamente não esperava a reação que tiveram.

     - Eu sabia que vocês tinham alguma coisa! Ai que legal, vocês dois. – Gina falou batendo palminhas.

     - Vocês estão certos disso? Vocês são muito novos para tarem assumindo um compromisso desses. Principalmente você Claire.

     - Vó, eu fico feliz que se preocupe comigo de verdade, mas tenha certeza que eu estou certa do que estou fazendo. E você conhece o seu sobrinho e sabe que ele não me fará nada de mal. – disse essa ultima frase e olhei para o Ollie que estava sentado do meu lado. – Então não se preocupe. Estamos bem.

     - Então tudo bem. Conheço meu sobrinho muito bem , e se ele esta morando com você então as coisas entre vocês é seria, mas só peço que tenham calma, e desejo toda sorte para vocês dois minhas crianças.

     Eu estava emocionada, não imaginava que a Maria gostasse tanto assim de mim. Me levantei da cadeira e lhe dei um abraço, ela se parecia muito com uma vó.

     - Olha, só. A filha pródiga retorna a casa.

      Me separei da Maria e dei de cara com a bruxa da...qual era o nome dela mesmo? Ah sim Hillary, a madrasta. Como eu odeio essa mulher.

      - Vou lá pegar as minhas coisas, daqui a pouco volto. – disse indo para a porta da cozinha, quando ouço a bruxa falando meu nome.

     - Então você não vai voltar para sua casa Claire. Eu e o seu pai sentimos muito a sua falta, nessa casa.

    Claro que você sente, pensei comigo mesma. Como eu queria poder responder ela, mas não eu tinha que manter respeito, alem do que não ia lhe dar o gostinho de ver que me atingia.

      - Eu só vim pegar mais algumas coisas, que tinha esquecido de pegar ontem. – falei e fui saindo da cozinha não queria mais ter que falar nem ficar no mesmo lugar que aquela mulher. Ainda me lembrava do modo como ela havia falado do Oliver e aquilo eu não ia perdoar.

     - Claire, precisa de ajuda com algo?

     - Não Oliver, pode deixar que eu me viro, obrigada. – finalmente sai daquela cozinha. Estava quase na escada, quando ouço novamente aquela voz irritante me chamando.

     O que foi dessa vez, meu Deus, pensei comigo mesma me virando para ela.

     - Sabe, eu já desconfiava de que tinha alguma coisa entre você e o motorista. Mas confesso que fiquei decepcionada em confirmar isso, pensei que você gostava de coisa melhor, mas vejo que não.

       Eu estava morrendo de raiva agora, queria poder bater nessa....mulher idiota e víbora que meu pai se casou. Mas ela ia me pagar, mas não agora, eu ia mostrar a ela quem era superior nessa história.

     - Se era isso que você tinha para me falar, então vou me retirar. – disse subindo as escadas.

       Abri a porta do meu quarto e depois a fechei devagar, estava com muita raiva dela, muita mesmo, e me sinto mal por isso, mas não ia deixar ela ficar tratando ao cara que amo assim, e me humilhando também.

***

     Meia hora depois, tinha juntado tudo que eu ia precisar em duas malas. Estava com um pouco de dificuldade em descer as escadas, mas no final consegui levá-las até a porta. Depois segui direto para a cozinha novamente, queria ir embora.

     - Oliver, podemos ir embora?

     - Acho que sim, só tenho que falar com o seu pai. Me espere aqui.

     - Ok.

     Estar sozinha naquela cozinha era estranho, já que eu sempre que vinha aqui, ela estava com pelo menos uma pessoa, a Maria é claro. E agora estar sozinha era diferente.

     Depois de esperar dez minutos comecei a ficar impaciente. Fui na geladeira e procurei por algo de chocolate e encontrei um potinho de mouse solitária, comecei a come-la quando o Ollie aparece de novo, e com o meu pai atrás. Respirei fundo.

     - Seu pai quer falar com você um instante. Te espero na sala.

     Concordei com a cabeça e observei ele sair novamente, e então me virei novamente para o meu pai.

     - Oi pai.

     - Claire...estou com tanta saudades, minha filha. – disse me abraçando com força

     - Eu estou bem pai. – falei pela décima vez hoje.

     - Não vai voltar para casa? – senti um certo nervosismo e tristeza na voz dele, o que me fez me sentir mal, por ser a causa disso.

      - Não pai. Mas podemos sair amanha a tarde se você quiser, talvez tomar um sorvete? O que acha?

      - Perfeito! A hora que você quiser, estarei livre.

       - Então estou indo agora pai, tenho que terminar de arrumar as coisas, e ainda tenho que me preparar para a escola amanhã. Não quero faltar de novo.

     - Tudo bem. Mas não suma, por favor.

     - Pode deixar. Beijo pai, até amanha. – disse lhe dando um beijo e saindo da cozinha, Oliver estava sentado no sofá me esperando.

     - Vamos? – disse com um sorriso, estava muito perturbada, mas não queria que ele percebesse.

     - Bora.

     Entramos no carro e nos dirigíamos para nossa casa. Era bom e novo dizer isso, minha vida familiar estava muito confusa, e só o que eu queria era chegar em casa, tomar um banho e dormir com o homem que eu amava.