Quando acordei, vi meu quarto inteiro decorado. Na porta, haviam enfeites vermelhos. Minha cortina estava completamente dourada. Não podia acreditar no que estava vendo.

Mas o que eu achei mais incrível foi o que vi na cabeceira da minha cama.

Era um vestido. Lindo. Era vermelho e tinha detalhes cor de ouro. Era a roupa mais linda que eu já havia visto. Nem parecia ser real.

Resolvi vesti-lo. Quando o tecido tocou em meu corpo, me senti estranha. Como se eu tivesse uma visão. Da caixa. Da criatura. Uma visão do medo.

Mas eu não liguei. Aquele vestido era perfeito demais para desperdiçar.  Eu não sabia que havia feito tudo aquilo. Mas estou muito agradecida.

Desci as escadas. Até elas estavam decoradas com enfeites vermelhos e amarelos.

Quando entrei na cozinha, meus pais arregalaram os olhos.

-- Que lindo vestido, filha! -- minha mãe dizia, impressionada. -- Onde conseguiu?

Não tinha sido ela. Olhei em volta. Tudo estava decorado. Como se a pessoa que tivesse feito aquilo dedicasse cada segundo que teve para decorar minha casa.

-- Mãe, quem decorou a casa toda?

-- Um garoto veio aqui enquanto você dormia. Ele disse que você não tinha tempo para fazer essa festa, então decorou a casa toda. Ele é muito gentil.

Alex. Ele tinha feito tudo aquilo. Inclusive deixado um vestido perfeito para mim.

Ouvi a campainha tocar. Quando abri a porta, Lucy e Jéssica me olharam, muito felizes.

-- Que vestido perfeito! Onde comprou? -- Lucy perguntou.

-- Na verdade, eu ganhei. Não sei bem de quem foi.

A campainha tocou novamente. Congelei. Era como ter um sonho e um pesadelo ao mesmo tempo.

Alex estava na porta. Lindo. Perfeito. O único problema era a pessoa que estava ao lado dele. Cléo.

-- O que achou? -- Alex olhava para mim.

-- Eu gostei muito.

Ele sorriu, satisfeito.

-- Que bom, porque eu trabalhei muito nele e...

-- Eu também gostei! Alex tem um dom incrível! -- interrompeu Cléo.

Lucy franziu o rosto. Sua expressão era de nojo e raiva.

-- Cléo! Que bom que veio! -- disse Jéssica, e a puxou pelo braço. Logo elas já estavam fora de vista.

-- O que você quer dizer com "trabalhei muito nele"? -- perguntei.

-- Fui eu que... fiz para você.

-- Não precisa me subornar. Eu já disse que não ligo para seu... namoro com Cléo.

Ele aproximou o rosto. Eu, por outro lado, me afastei.

Sua expressão mudou de satisfação para tristeza.

Ele ainda não havia entendido que eu não ligo para o que ele faz ou com quem ele fica.

-- Quantas vezes eu vou ter que te dizer que eu não ligo para o que você e Cléo fazem? -- eu disse.

Ele colocou as mãos em minha cintura. Imediatamente, dei um passo para trás. Eu não sou uma traidora. Ele está com Cléo, e eu entendo isso.

Ele aproximou o rosto novamente.

-- Mel, eu...

-- Mel! -- Cléo interrompeu. -- Preciso falar com você. Em particular.

Ela disse isso com uma voz de anjo. Mas eu sabia o quão falsa ela era.

Cléo segurou meu braço e me levou até meu quarto. E, obviamente, fechou a porta.

-- O que foi? -- perguntei, um pouco assustada.

Ela me encarou friamente. Seus olhos estavam cheios de fúria. De vingança. Quase dei um grito quando eles mudaram de azuis para vermelhos.

-- O que foi? Depois de tudo que fez você ainda tem coragem de perguntar o que foi? -- ela dizia, quase gritando. Em sua voz havia raiva e desejo de vingança. -- Você tem o que eu quero. E eu vou pegar de volta. E não adianta se esconder!

-- Do que você está falando? Eu não tenho nada que você quer. -- eu disse.

-- Não se faça de desentendida! Você sabe tudo muito bem. E, além disso, está tentando tirar Alex de mim!

Dei um passo para trás.

-- Alex? Eu não quero nada com Alex.

-- Você me irrita profundamente! Eu sabia que você seria um obstáculo desde o começo! Mas fique sabendo que não vai ficar assim. Você vai se arrepender de ter nascido, Melayne Summer! Vai se arrepender!

Ouvi passos vindo em direção ao quarto. Era Alex.

Quando ele abriu a porta, os olhos de Cléo ficaram azuis novamente.

-- O que aconteceu? -- ele perguntou.

Então. Cléo começou a chorar. Era um choro falso, mas só eu podia perceber isso.

-- A-alex! P-por que a Mel é tão má comigo? Eu só chamei ela para contar um segredo, m-mas ela não quis saber. e começou a gritar comigo! Primeiro ela disse que eu sou cruel. D-depois ela disse que eu não posso mais chegar perto de v-você! E disse que eu vou p-pagar por ter nascido!

-- Mel, você...

-- Eu não fiz nada!

Alex abraçou Cléo. Não acreditei no que vi.

-- E-ela não está dizendo a verdade. Eu juro! -- Cléo chorava e soluçava. Seus olhos estavam cheias de lágrimas. Os olhos da mentira. Mas Alex não percebeu.

-- Desculpe Melayne. -- ele disse. -- Mas eu tomei uma desisão. O que eu acabei de ouvir foi suficiente. Eu... não quero tornar a te ver nunca mais.

Eles sairam do quarto. Pude ver cléo sorrir maliciosamente para mim.

E eu fiquei ali. Parada e sozinha. Nada pior podia acontecer. Eu tinha certeza.