-- Quer ajuda pra quê?! -- disse Jéssica, espantada.

Não queria deixá-la tão assustada.

-- Eu achei uma ótima idéia. Sabe... eu sempre quis fazer um plano. -- Lucy sempre concordava em fazer coisas que possam parecer... perigosas.

-- Mas não quero fazer um plano contra Cléo. -- Jéssica podia ter razão, mas era o único jeito de deixar Alex fora de perigo.

-- Por favor Jess. Eu te imploro! -- Lucy sempre consegui o que queria se fazendo de vítima.

Nós olhamos para Jéssica.

-- Tudo bem. -- ela finalmente se deu por vencida.

Quando a aula finalmente acabou, vi Alex e Cléo no corredor. Lucy olhou feio para ela.

-- Oi meninas! -- disse Cléo, novamente com aquele sorriso falso no rosto.

Lucy olhou-a com malícia.

-- Oi Cléo! Sabe... a Mel vai dar uma festa na casa dela no sábado. E ela ia adorar que vocês fossem. -- ela disse.

Dei um pulo. Festa? Eu não tinha dito nada sobre festa.

-- Claro! Nós adoraríamos ir.

Quando eles se afastaram, olhei feio para Lucy. Ela viu que eu estava brava, no mesmo instante.

-- Quem disse que eu vou fazer uma festa? Eu nem pedi para os meus pais.

Lucy sorriu.

-- Mas é esse o plano. Eu e Jess vamos seguir Cléo a festa inteira. E você cuida de Alex.

Eu e Jéssica nos entreolhamos.

Ouvi uma buzina vindo de fora do portão. Minhas amigas foram correndo para lá.

-- Mas eu não tenho tempo para arrumar tudo! -- era tarde demais. Quando terminei de falar, elas já tinham sumido de vista.

O pior de tudo é que sábado era amanhã. Eu não ia conseguir arrumar tudo a tempo.

Cheguei em casa exausta.

-- Pai, eu posso fazer uma festa aqui amanhã? -- perguntei, torcendo para ele dizer não.

-- Claro! Aquele garoto já me contou tudo, e disse que ia te ajudar.

Garoto? Mas, que garoto?

Subi as escadas correndo. Quando abri a porta do meu quarto, quase dei um grito.

Sentado sobre a minha cama, estava ele. Alex. E estava sozinho. Não estava com Cléo.

-- Te assustei? -- ele perguntou, divertindo-se.

-- Não, imagina. -- eu respondi, totalmente irônica. -- O que você está fazendo aqui?

-- Vim te ajudar a organizar a festa.

Me ajudar? Eu não precisava da ajuda DELE. Podia simplesmente pedir para meus pais.

-- Sabia que você não tinha organizado nada. -- ele continuou. -- Percebi pelo seu rosto, quando Lucy falou da festa.

-- Por que se importa? -- perguntei. Desta vez, eu esperava uma resposta.

Ele não disse nada. Parecia estar congelado. Resolvi mudar de pergunta.

-- Por que Cléo não está aqui?

-- Ela não sabe de nada. Mas não conta. Ela não vai gostar.

Eu olhei em seus olhos. Ele estava dizendo a verdade. Queria me ajudar. Só não consegui descobrir o porquê.

Ele se levantou e me levou até a cozinha. Minha mãe estava lá, preparando tudo.

-- Contou para minha mãe? -- perguntei.

Subi as escadas e entrei no quarto. Mas ele foi mais rápido. Quando fechei a porta ele já estava lá dentro.

-- Mel, você sabe que não quis chatear você hoje na escola.  Cléo disse tudo muito rápido e não me deixou explicar.

Eu o encarei, friamente. Eu não queria mais tocar naquele assunto. E eu não ligava nem um pouco. O que ele fazia ou com quem ele ficava não dependia de mim. Ele não pode ter medo de me magoar, ou coisa parecida.

-- Eu já disse que não estou chateada. E, se você gosta tanto de Cléo, porque está aqui?

Ele ficou imóvel. Suas mãos, de repente, me envolveram completamente. Eu tentei me afastar, mas não consegui. Seus lábios se aproximaram dos meus. Fechei os olhos com força. E vi a imagem. Vi a imagem do sonho que tive. Em que eu estava junto de Alex.

E aconteceu. Pela primeira vez na minha vida eu estava beijando alguém. Não sabia se recuava ou se retribuia. Não tinha coragem de fazer nenhum dos dois.

Eu tinha dito á ele que não ligava para seu... namoro com Cléo. Não podia deixar claro que eu estava mentindo. Mas não consegui me afastar. Eu podia, mas não consegui. Meu corpo não saía do lugar.

Quando Alex finalmente se afastou, eu não fiz nada. Não conseguia falar nem me mexer. Eu só olhava fixamente para ele.

-- Por que fez isso? Você não podia ter feito isso. Cléo não vai gostar nem um pouco. -- foi tudo que consegui dizer.

-- E você? Não diga que não gostou.

Não disse nada. Não queria que ele soubesse de nada.

Ele sorriu. Pelo jeito ele sabia o que meu silêncio queria dizer.

-- Meu silêncio não quer dizer o que você está pensando. -- eu disse, depois que recuperei o fôlego.

Olhei pela janela. Já estava quase escurecendo.

-- Vai ficar aqui até quando?

-- Na verdade, eu já vou.

Quando ele saiu, fechei a porta.

Mesmo sabendo que aquele beijo tinha sido a coisa errada, fiquei feliz. Realizei o meu maior sonho. Um sonho que parecia ser impossível. Mas que não era.

Ele se realizou.