Brown Eyes escrita por Molko


Capítulo 2
Capítulo Adicional


Notas iniciais do capítulo

O meu anjo pediu, eu fiz.

Confesso: Eu também desejava escrever essa continuaçãozinha.

Sei que não está tão bom quanto o primeiro capítulo... Mas, reviews, por favor?



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Capítulo Adicional - Brown Eyes

 

Então, ficamos ali abraçadas por longos instantes, em silêncio. Com uma calma anormal, eu consegui fazer meu coração voltar a bater normalmente – E meus pensamentos começavam a se organizar de forma lógica; Ainda sim, eu sentia minhas bochechas arderem e as pontas de meus dedos suavemente geladas.

 

Nisso, ela afundava seu rosto entre meu ombro e pescoço – Numa forma única e sua de me abraçar; Um jeito que eu jamais vi, aliás, senti, parecido em ninguém, um jeito que assassinava toda saudade que havia em meu peito, que fazia minha alma esquentar, que era capaz de não me fazer sentir-me sozinha – Como eu me senti tantas vezes.

 

- Eu senti sua falta, Sarah. – Virei o rosto, mesmo que suavemente, encontrando seu ouvido com meus lábios. – Estava com saudades.

 

Eu pude perceber que o arrepio correu-lhe a espinha, mas, ainda sim, a pequena Sarinha permaneceu imóvel, apertando-se contra mim com firmeza.

 

- Eu também senti saudades, Léo. Onde você estava? – Ela comentou, não em tom de sussurro, mas num tom suficiente para me fazer estremecer de novo.

 

Puxei o ar. Pois é, não tinha como escapar daquela pergunta. – Eu acabei me mudando, Sarinha. Estou morando em outra cidade. – Lancei as palavras, pesada, temerosa.

 

Mais uma vez, eu senti uma espécie de burbúrio em meu estômago, e as pontas de meus dedos agarraram-se às réstias de minha Sarinha. Era um medo, ou era uma contentação? Acho que os dois.

 

Era o medo contentado.

 

O que é equivalente a Realidade.

 

Ela suspirou, agora, afastando seu rosto e seus braços de meus ombros – Fui capaz de sentir o calor se esvaindo, e a brisa gelada carregando consigo a essência de minha Sarah.

 

- Ah, entendi. – Seu sorriso perdeu um pouco do brilho, e eu pude notar uma faísca de tristeza afetar-lhe os olhos castanhos. O ar faltou. – É por isso que você sumiu, né?

 

- ... É.

 

E o silêncio se instalou mais uma vez, porém, agora, fora um silêncio constrangedor. Um silêncio dolorido, cruel. Não tive coragem de encarar aqueles olhinhos, logo então, permanecendo de cabeça tombada para um lado, procurando algum detalhe naquela estação de metrô em que eu pudesse me fixar.

 

- Você vai ficar aqui até quando? – Sua voz agora saiu tão baixa e suave quanto um rabisco, ao ponto de se dissipar no ar. Senti então algo parecido com um soco no estômago.

 

Nada além de dor.

 

- ... Até... Hoje. – Ri, meio irônica, meio nervosa, ainda sem encará-la. – Eu vim sem meus pais saberem, e preciso pegar o ônibus expresso até o amanhecer. – E mais uma vez eu proferi palavras pesadas como chumbo, e afiadas como navalhas.

 

E mais uma vez, eu pude ver uma faísca de tristeza atingindo-lhe as orbes castanhas.

 

E mais uma vez, eu me senti como a mais imbecil das criaturas.

 

Novamente, silêncio.

 

Silêncio.

 

Até que eu senti e ouvi o farfalhar de meu casaco – O farfalhar de meu casaco sendo pressionado contra meu próprio peito.

 

Ela me abraçou. Me abraçou tão forte como se eu fosse desaparecer naquele mesmo instante – Afundando seu rosto no tecido de uma forma que me deixou profundamente abalada.

 

Ela não queria que eu fosse embora.

 

Ela não acreditava que eu fosse embora tão cedo.

 

Nem eu.

 

- Hey, Sarinha, eu ainda tenho umas três horas até eu ir para a rodoviária pegar o ônibus. – Tentei animá-la, e, meio sem jeito, pousei minhas mãos sobre seus ombros rijos. – Eu posso ir com você até a sua casa. O que acha? – Sorri, segurando seu rosto com as mãos em concha, trazendo seus olhos de encontra aos meus.

 

Ela sorriu de volta, ainda sim, não era o mesmo sorriso de quando ela me viu. – Acho ótimo! – Saltou, afastando-se de mim para pegar seus livros no banco – Com uma leveza invejável, diga-se de passagem.

 

Ainda leve, ela se pôs ao meu lado, passando então um dos braços pela minha cintura – Como sempre fazia quando ainda nos víamos diariamente. – Vamos?

 

Meu sorriso se abriu ainda mais, orgulhosa com aquela capacidade que meu pequeno Paradoxo tinha para contornar as situações, temperando tudo com sua dose extra de animação e felicidade – Altamente notáveis em seus olhos que eu tanto amava. Contornei então os ombros dela com a mão, fechando o nosso tão conhecido jeito de andar por aí.

 

- Vamos. – Disse, agora, fazendo questão de fitá-la, desejando me perder de propósito naquele labirinto dourado-queimado que agora eram seus olhos.

 

Ah, se tudo

Fosse tudo.

 

-x-

 

Ah, como fui rude. Falei o tempo todo dela e sequer tive a oportunidade de me apresentar para vocês, leitores.

 

Mesmo que isso não seja tão importante, perto da minha Sarinha.

 

Enfim,

 

Alta, cabelos curtos e encaracolados, acho que poderia caracterizar meus olhos como um castanho profundo – meio acizentado, de vez em quando. Naquela madrugada, eu usava um casaco grosso e azul-marinho fechado, calça jeans, all star branco com desenhos escuros e o convencional lápis preto – Meu comum jeito sem graça de ser.

Bom, voltando a história...

 

Acabamos pegando outro metrô – Já que a casa dela era relativamente longe, e, pelo que eu me lembrava, precisava de dois metrôs para chegar até lá.

 

Essa foi a primeira vez na minha vida em que eu fiquei feliz por alguém morar longe.

 

Estávamos num dos últimos vagões, nos últimos acentos. Havia alguns bêbados adormecidos, duas mulheres com fardas daquelas de quem trabalha em fábrica e um mendigo – Mas todos estavam muito a nossa frente. Acho que a umas dez cadeiras de distância, cada um preocupado com a sua própria vida.

 

Sarah mantinha sua cabeça encostada no meu ombro, e o resto do corpo praticamente apoiado sobre o meu – Como se fosse derreter. Era um tanto cômico, mas eu sentia falta daquilo.

 

Muita falta.

 

Meu braço ficava enlaçado aos seus dois ombros, e, de vez em quando, dava-lhe alguns empurrõezinhos, na tentativa de mantê-la acordada. – Não durma, Sarinha, ou podemos perder a parada. – Repetia algumas vezes.

 

- Ah, Léo, a viagem ainda vai demoraaar... Me deixa dormir, vaaaai? – Arrastou, naquele tom derretido e suave que partia meu coração em dois. Senti minhas bochechas ferverem, mesmo sem ter motivo pra isso.

 

Só ela mesmo para me deixar imbecil daquele jeito.

 

- Humm... Quanto “Vai demorar” vale? – Comentei, com um sorriso divertido.

 

- Uma hora. – Ela lançou, com algo que parecia um mal humor, ou um tom mais baixo, arrastado; Típico daquelas pessoas que tem o sono interrompido várias vezes.

 

- Ah, então ótimo.

 

Assim seria bom. Ou não.

 

Pense comigo: Seria agradável você ficar perto da pessoa que você mais gosta, porém, seria perigoso ficar perto daquela mesma pessoa que também representa uma suave, mas doentia, tortura interna.

 

Não era imprevisível: Bastou poucos instantes para que eu pudesse sentir seu rosto pesando sobre meu ombro, e a parte alta de sua testa esquentando meu pescoço.

 

Ah, esqueci de comentar: suas baforadas quentes e uniformes também não me ajudavam muito.

 

Tudo poderia ser tudo.

Se apenas fôssemos mais velhos.

 

-x-

 

Os ponteiros do meu relógio pareciam dançar. Uma dança tosca, vertiginosa e irritante.

 

Eles ora avançavam, ora lerdavam – Tornando meu controle e ideia sobre o tempo algo completamente incerto, até mesmo desnecessário. Vou te explicar o porquê:

 

Havia momentos em que eu desejava que um segundo durasse horas e eu pudesse guardar em minha mente a face tão fofa de minha Sarinha dormindo. Assim como havia momentos em que eu me descuidava (acabava cochilando uns minutos) e me pegava com meu rosto próximo ao dela.

 

Próximo demais. Bochechas coladas, praticamente.

 

Bom, não que eu não gostasse disso. Eu gostava. Eu queria. Mas algo em mim, chamado insegurança incurável me travava – melhor! Me dava uma bela chave de braço invisível, me deixando então rígida, imóvel.

 

Esse meu medo de arriscar era lamentável.

 

No final das contas, eu desabava com a cabeça para trás, viajando e inventando ‘n’ motivos para encostar nela. Para beijá-la.

 

Mas nenhum dos motivos eram plausíveis.

 

- Léo? – Chamou a meia voz, ao mesmo tempo em que suspirava profundamente, esticando os braços.

 

- Hm? – Usei um tom profundo da garganta, ainda com a cabeça despencada no apoio do banco e com meus olhos a fitar o teto prata-encardido do metrô.

 

- No que está pensando?

 

Silêncio.

 

- Em você. – Disse, fingindo um pouco caso, por mais que a minha consciência ralhasse esculhambações pela minha atitude. – Cê deixa?

 

Tentei pegar sua reação com um olhar de esguelha enquanto que movia a cabeça para frente sem encará-la, mas, tudo que consegui foi captar um brilho engasgado de seus olhos, e um meio rubor subindo o pescoço e alcançando as bochechas.

 

- Owwwnnn. – Ela tentou disfarçar com esse seu comum som, mas, era tarde demais, Sarinha, eu consegui pegar seus olhos castanhos ofuscarem com uma situação inovadora. – Pode.

 

Ficamos caladas um bom tempo. Ela, ainda encostada no meu ombro, e eu pensando, aliás, tentando entender o motivo para aquele meu surto sem sentido – Aquele diálogo sem propósito algum, ao ponto de ser extremamente ridículo.

 

Ah, quer saber?

 

Foda-se o mundo, foda-se o que as pessoas pensam, foda-se o que eu penso. Eu estava ali com ela e para ela – Não sabia bem ao certo se demoraríamos para nos ver de novo – Talvez meses, talvez anos!

 

Não era bom desperdiçar tempo.

 

- Sarinha? – Chamei, desencostando do banco, e sussurrava mais do que qualquer coisa. No final das contas, eu continuava insegura.

 

- Oi?

 

- Eu quero te falar uma coisa... – Minhas mãos, não mais que de repente, gelaram – Era um sinal da minha consciência para que eu não arriscasse      , mas, ainda sim, contrariei meu corpo e segui, encarando-a.

 

- ...Pode dizer. – Ela murmurou, seus olhos tremendo um pouco.

 

Acho que essa é só uma canção boba sobre você.

 

-x-

 

Eu queria fugir, queria morrer – Queria fazer tudo em um segundo, mas não pude. Eu definitivamente não podia voltar atrás. Ela estava esperando pela minha resposta, eu estava esperando pela minha própria resposta.

 

Tinha de ir.

 

Puxei o ar com força, e o meu braço que estava em seus ombros escorregou para a cintura, ainda sem trazê-la tão para perto. Sarah pareceu endurecer nos meus braços – O que, de fato, me deixou assustada. Mas, ainda sim, eu tinha de continuar.

 

Se não, eu ia morrer sem tentar. Sendo bem exagerada.

 

- Na verdade... – Minha voz sumiu. Forcei-a a aparecer, praticamente arrancando as palavras da minha garganta. – Não é bem falar...

 

- Não precisa. – Ela me cortou, de repente, seca. O que fez meu coração falhar de novo. – Acho que eu já entendi.

 

Silêncio.

 

Como se não bastasse, suas mãos, que antes estavam escondidas entre seus braços (por conta do frio), subiram até os meus ombros, envolvendo-os, ao passo que seus dedos se enroscavam em alguns cachos grossos de minha nuca – Tudo isso lento demais, tenso demais.

 

O ar faltou. Eu me virei um pouco apenas para poder encontrar minha testa com a dela.

 

Num segundo, num suspiro, eu pude sentir todo o seu amor – Ou todo o sentimento que estivesse ali, pude sentir as nossas almas praticamente pularem pra fora dos corpos, enquanto que, finalmente, eu a trazia para perto de mim – Apertando-a firmemente pela cintura.

 

Minha. Só minha.

 

Tudo se rastejou, e, por fim, ela encontrou seus lábios gelados com os meus.

 

Era o fim. Da insegurança, da agonia.

 

Do sonho.

 

-x-

 

Eu podia sentir tudo, eu podia até experimentar tudo. Seu cheiro, seu corpo, sua presença.

 

Ela estava ali comigo.

 

Até o momento em que o sonho se rompe. Em que tudo volta ao normal.

 

Abri os olhos com relutância – Aliás, com uma certa revolta, raiva. Eu desejava mais do que nunca poder voltar àquele sonho tão real, tão... Verdadeiro.

 

Mas sonhos são sonhos, não é mesmo?

 

Segurando as lágrimas, tirei meu celular de baixo do travesseiro (eu sempre deixo-o lá), e, com meus dedos trêmulos, apertei uma rápida sequência de botões.

 

Enquanto o fazia, me amaldiçoava. Malditos sonhos, maldito desejo, maldita imaginação!

 

Maldita distância.

 

Enviar mensagem.

 

Contatos.

 

Sarah.

 

Mensagem enviada.

 

"Eu. Te. Amo. Sinto sua falta."

 

Em seus olhos castanhos,

Você a verá partir.

Então ligue a música,

E se pergunte o que deu errado.

 

O que deu errado?

 

The End.

 

 


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Notas finais do capítulo

Amo você, meu anjinho. ♥



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