Olhos Felinos escrita por Jodivise


Capítulo 51
Capítulo 50: A evocação do mal


Notas iniciais do capítulo

Apenas Lara, Jack e Darius pareceram ter sobrevivido à jornada de chegar ao templo de Sekhmet. Agora que lá estão conseguirão encontrar Mary, e mais do que isso, parar os intentos de Circe?



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Capítulo 50: A evocação do mal

Jack piscara os olhos várias vezes até adaptar-se ao que se estendia na frente do seu nariz tão rectilíneo. Estavam numa sala, uma sala monstruosamente grande, não notando na verdade qual o seu comprimento verdadeiro face à pouca iluminação que lhe chegava aos recantos. Dos seus pés, partiam escadas em pedra, ladeadas por um rio de azeite em chamas a desembocar em duas grandes piras. Piras que apontavam diretamente à estátua gigantesca de uma mulher com cabeça de leoa. Eram tantos os degraus que só quando finalmente pisara o chão daquela câmara, percebera a sua imponência.

– Lembro-me desta sala. Dantes o que era apenas uma vaga névoa na minha mente… agora sei que foi tudo real. – engolindo em seco, Darius dera o primeiro passo em direcção à estátua mirando firmemente na direcção dos olhos felinos daquela divindade.

– Sejamos sinceros, pois? – torcendo o nariz, Jack coçara a nuca. – Gosta de tudo à grande e à francesa, não Darius? Olhe só o quarto para o qual Circe lhe arrastou…

– Jack… - censurando-o, Lara lhe enviesara os olhos escuros, notando os do pirata incrivelmente brilhantes, não pelo fogo presente, mas por qualquer água a mais que se fazia nestes. Então sempre havia sentimento. A morte de Teague não se havia dado nem há uma hora e agora ela descobria que no fundo da sua alma, Sparrow ainda amava aquele ser tão controverso. – Precisamos encontrar a Mary. Aquele grito veio daqui!

Afastando-se mais um pouco, Darius erguera o sobrolho. – Estas paredes ecoam, Lara. Pode ter vindo de qualquer canto. Ou não… - esticando a mão, o atlante pousara os dedos na reentrância que aos pés grandes da deusa repousava. – É aqui. Aqui que a aprisionaram.

– Por mais tempo que passe, sempre será inteligente. Sempre… será astuto, meu belo atlante. – atrás deles, uma voz ecoara, melodiosa, fina e cuja dona de bastos cabelos ruivos não fixava mais ninguém a não ser Darius. – Espero que ainda se lembre que nossa história começou aqui, Darius.

–Você quis dizer inferno, Circe. – cerrando os dentes, Darius sentira a mão comichar por altura do cós das calças, onde a faca que Calypso lhe dera jazia guardada.

– Depende do ponto de vista. – arregalando os olhos, Circe afastara-se rapidamente quando sentira Lara correr para si, rindo. – Ora, ora… princesa Mayara…

– Não sou princesa de coisa nenhuma! – sendo agarrada por Jack, Lara cuspira-lhe na cara. – ME DEVOLVE A MINHA FILHA!

– Eu devolverei. – abanando a cabeça, a ruiva levara um dedo aos lábios. – Só não sei se terá a mesma gracinha de antigamente.

– Olhe cá sua… - apontando um dedo esguio, Jack ferrara o lábio inferior, gesticulando como se arrancasse a própria cara. – Cabrita cor de laranja! Eu já estou pela testa consigo… por isso, pára de sorrir e me dá minha filha, savvy?

Circe fizera um esgar divertido, caminhando até à estátua, nunca perdendo de vista cada um deles. – Sua testa… escondida sob essa bandana vermelha. Já deve ter alguns estragos, pois? Não! – e evitara qualquer resposta alheia. – Não falo de qualquer P gravado nela… teve sorte de lhe escolherem o pulso. Falo de outros percalços pelo caminho… - e mirara Lara. – Quanto confia na sua mulher, Jack Sparrow?

– Jack, ela está fazendo manha para ganhar tempo. – olhando em volta, Lara tentara ver algum sinal de sua filha, tirando a pistola do cós das calças, apontando à deusa.

– Eu fui testemunha do amor que este belo homem manteve pela princesa Mayara. – num gesto rápido, Circe tocara o rosto de Darius, afastando-se logo em seguida antes que este lhe alcançasse. – Eles amavam-se e amores assim perduram por toda a eternidade… por todas as vidas.

– Tem razão, Circe. – crispando os lábios a respirar pesadamente, o de olhos tão azuis lhe respondera. – Amava Mayara, mas Lara não é Mayara. Não tente inverter o jogo.

– Você a desejou… e ela o desejou. – rodopiando, Circe fizera um túnel de vento derrubar Lara e Darius, projectando-os contra as paredes e logo alcançando Sparrow, agarrando-lhe os ombros por trás, sibilando em seu ouvido. – Sabe disso mais do que ninguém, Jack.

– Sei… e sei tão bem que deusas são capaz de dar a volta no mais fraco dos homens. – Jack dissera, virando-se a esta, sorrindo a lhe mostrar os dentes de ouro, fazendo-a emoldurar o rosto com as mãos finas.

– Sim… é a nossa natureza. – tocando-lhe os lábios com os polegares, Circe mordera o próprio lábio. – Hum… vai dizer que nunca cedeu aos encantos de uma deusa?

– JACK! – Lara lhe berrara. No momento em que ensaiara erguer-se novamente, vira sua pistola voar longe num único gesto da deusa e suas mãos ficarem coladas ao chão, impossibilitando-a de erguer-se. – ME SOLTA! SUA…

– Ai que mulher chata. – fazendo o mesmo com Darius, Circe dera a volta no pirata, nunca lhe largando o ombro. – Pense bem, Jack… sabe o que se guarda aqui? – apontando ao chão, Circe fizera a pedra tornar-se transparente e os olhos de Jack brilharem ao ver o dourado que reluzia do que abaixo dos seus pés existia. Montes e montes de riquezas em ouro, alternando com pouco prateado mas misturando cores tão vivas que advinham de esmeraldas, safiras, rubis e diamantes em seu estado mais bruto. – Poderia ser o pirata mais rico, mais poderoso deste mundo… poderia dominar os sete mares, comprar reis e príncipes. Poderia ser temido… ah Jack Sparrow, não foi isto que seu pai procurou a vida toda? Que você procurou?... Laras… Mary Roses… são apenas acidentes de percurso…

– Ela está fazendo chantagem com ele, enfeitiçando-o. – Darius dissera, erguendo o rosto com dificuldade, sentindo o frio da pedra em sua barriga. – É assim que Circe consegue suas vítimas.

– Não o Jack… não o… - Lara se desesperara. – JACK! Você nunca foi assim. – e falara directamente para este. – Lembra… lembra do que sempre disse? Há tesouros mais importantes que ouro e prata.

– Essa frase não é minha… - agachando-se, Jack passara a mão pela pedra, notando seus dedos sumirem naquela superfície que se revelara gelatinosa. Na ponta destes, sentira o frio do ouro, agarrando a primeira coisa que lhe viera e emergindo com esta, mirando de perto com seus olhos tão chocolate, o colar de pérolas selvagens e rubis.

– Pois não. Mas sempre acabou seguindo as pisadas dele, não? – cara a cara consigo, Circe também se agachara. – Aqueles problemas dos quais sempre fugiu… agora os tem todos. O que tem para si, Sparrow? Uma mulher? Pode ter todas que quiser. Uma filha? Pode ter quantos quiser fazer…

– Pelo amor de Deus. É tua filha… É NOSSA FILHA, JACK! – Lara exasperara. – Nossa menina… e nada, nada neste mundo vale tanto quanto ela… por favor… VOCÊ NÃO É ESSE HOMEM!

Erguendo-se novamente, Circe achegara-se em Lara, caminhando lentamente enquanto Jack continuava absorto a retirar peças daquele tesouro infinito. – O que você achava? – segurando o rosto da morena com violência, Circe a deixara sentir suas unhas compridas a arranharem-lhe as faces. – Lhe roubei um homem completamente devoto no passado, porque acha que não conseguiria um pirata?

– Você não rouba homens, Circe. – cheia de ódio, a de cabelos ondulados e castanhos lhe dissera. – Só os consegue por seu encantamento mas no final, sempre fica sozinha. Não passa de uma idiota cujo objectivo de vida é esse. Talvez fosse por isso que a deixaram como guarda de tal praga. Não vale muito mais… - logo a seguir, Lara se calara abruptamente quando sentira a violência do estalo desferido pela outra.

– Você quer a sua menina? É…? – rindo, Circe suspirara depois. Um grito infantil fora ouvido ao acompanhar de uma roldana descendo violentamente e fora então que todos, menos Jack, viram a jaula que do tecto pendera. A caixa em forma quadrada, com grades a toda à volta deixara o coração de Lara em meio à garganta, principalmente quando vira as mãozinhas pequenas de Mary Rose agarrem os ferros, olhando para baixo.

– MARY!

– MAMÃE! – a pequena Sparrow gritara para esta, lavada em lágrimas, para logo perceber o progenitor. – PAI!

Fora só ali, quando a voz infantil de Mary Rose ecoara que uma espécie de estalo ecoara na cabeça de Jack e o pirata de rastas deixara aquelas peças de ouro caírem, erguendo-se subitamente. – Por Calypso… - num acesso de raiva, Sparrow buscara a espada à bainha das calças, mas tal como os outros dois, vira aquela arma voar longe e o semblante de Circe aproximar-se.

– Tenha atenção no que vai fazer, Sparrow.

– Olha aqui… você quer libertar essa chita… tigresa… gata… o que quer que seja… - e apontara com os dedos à estátua da deusa egípcia. – Muito bem. Mas você só precisa de sangue de uma criança, certo? Do coração…? O que quiser, love. Apanhe outra qualquer, MENOS A MINHA! – e apontara a Darius. – Sabia que ele andou fazendo fogo com uma escocesa? Ruivinha como a senhorita.

– VAI-TE FO… SPARROW! – rouco, Darius berrara, tentando se libertar.

Circe rolara os olhos, olhando as próprias unhas. – Se fosse tão simples assim, já há muito que o teria feito, pirata idiota. É do coração de uma menina que se precisa… o coração de uma criança cujo progenitor já tivesse estado no outro lado da morte. – Circe dissera. – E você já o esteve, Jack. Lembra-se? Aquele cofre sombrio e vazio… passou os piores momentos da sua vida ali.

– Sim… só havia um amendoim para muita gente. – Jack arregalara-lhe os olhos.

– Chega. Dê-me o Olho de Tigre. – Circe ordenara.

– Olho?.. – Jack levara um dedo ao queixo, pondo-se pensativo. – Não me lembro de ter olho algum. A não ser que fale do terceiro olho… estava a brincar, oh deusa dos infernos. Mas não lembro mesmo de ter algum olho comigo. Pessoalmente não são minha parte humana preferida. São viscosos…. Blergh. – e fizera uma careta.

– É brincadeira que quer? – Circe perguntara-lhe, não esperando uma resposta. Perto da jaula de Mary, abaixo de si, um alçapão abrira-se e logo o rugido de possantes animais felinos ecoara. A menina encolhera-se de medo ao ver os dois leões e dois tigres que debaixo a miravam, esfomeados a abrir a boca e mostrar as presas, encolhendo o focinho nos rugidos que emitiam. – Há uma hipótese de resolver isso à sua maneira, Sparrow. Se não me der o Olho-de-Tigre, Mary Rose sempre sofrerá.

– E se ele lhe der, ela sofrerá na mesma. – Lara atirara. – Não lhe dês, Jack!

– É o preço da evocação deste mal tão gostoso que aqui existe, princesa. – Circe sorrira. – ME DÊ O OLHO!

Jack engolira em seco, alternando o olhar entre a filha presa, Lara e Darius ao chão e a deusa que olhava para si enlouquecida. Sua mão tirara do bolso do casaco aquele objecto dourado e em forma ovular, fechado em sua totalidade. – É a solução…?

– É a única. – e dizendo-o, Circe fizera a jaula de Mary descer ainda mais, deixando a menina gritar em desespero. – A morte que eu lhe darei será muito mais digna e sem dor do que aquela que ela terá se aos felinos for atirada, Sparrow. A escolha está nas suas mãos…

– Não… JACK! – Lara esbugalhara os olhos quando seu marido ensaiara dar aquele artefacto a Circe.

– ESTÁ LOUCO, SPARROW! – Darius berrara. – Ela nunca nos irá deixar sair daqui, se lhe der o Olho-de-Tigre, tudo estará perdido!

– Tudo… nesta vida se perde, pois? – vago, Jack esticara os braços, vendo os olhos de Circe brilharem quando tocara no Olho-de-Tigre que outrora protegia. – Finalmente… juntos. – tirando-o do pirata, Circe mirara a estátua solene de Sekhmet. – E logo, logo livre de seu cativeiro, minha deusa suprema.

Caminhando lentamente mas tão convicta, Circe aproximara-se do nicho que entre os pés e tornozelos da estátua existia, deixando o resto em expectativa. Lara e Darius nada podiam fazer, presos ao chão por uma força maior que ambos. Jack via-se livre de qualquer arma e ainda que qualquer loucura lhe viesse à mente, fora um olhar, um mínimo olhar que trocara com Lara que lhe dera a entender tudo. Não. Não podia tomar nenhuma atitude sem que a altura certa se fizesse. E ainda que próxima, esta ainda não estava ao seu alcance. Vira Circe prostrar-se de frente para aquele altar, encaixando o Olho-de-Tigre naquele nicho.

Só ali reparara que por cima, o alto relevo de uma cabeça de leão jazia. Quando enfim aquele ovo dourado fora pousado na pedra lisa, de imediato, a boca daquele felino talhado se abrira num mecanismo qualquer e dali jorrara água. Água cristalina jogada para cima do artefacto. Um zunido intenso calara o rosnar dos leões e qualquer choro de Mary Rose, levando-os a tapar os ouvidos à excessão de Circe que olhava maravilhada o que se fazia.

Num clique, o Olho abrira-se como tantas vezes o fizeram quando havia água próxima, fazendo aquele líquido cair em cheio no olho flamejante que no seu interior jazia depositado. Ao contrário do que pensariam, aquela pequena bola de fogo, não se extinguira, tornando-se cada vez mais brilhante e quando não mais daquela energia acumulada podera ser contida, um pequeno jato de fogo incendiara o semblante de pedra daquele felino. Jack abrira a boca quando percebera os olhos deste se tornarem vivos, vermelhos como se ao demónio pertencessem. Logo depois aquela estátua parecera ganhar vida e como se se tentasse libertar da pedra que lhe aprisionava, aquele leão se mexera, rosnando ferozmente, fazendo as paredes estremecerem.

Circe rira, gargalhara na verdade, extasiada com tal, murmurando palavras em grego e outras em egípcio, que só dali Darius parecia entender. – O que ela está dizendo? – Lara lhe inquirira.

– Libertando Sekhmet, tirando-a da sua sepultura eterna… - erguendo o sobrolho, Darius explicara. – Ela quer a Mary…

– Não… - num gemido, Lara mirara a jaula que começara a descer. – Meu anjo, não…

– Chegou a hora de voltar a ver a luz do dia, minha rainha. – Circe dissera e para horror dos presentes, da boca daquele leão flamejante, uma mão também incandescente saíra, com os dedos a reclamar algo que lhe faltava. – Lhe darei tudo o que precisa e… - mas naquele mesmo instante, tão rápido que Circe congelara por segundos, um tiro seco fora ouvido. A bala disparada passara-lhe muito rente ao ouvido, sentindo ainda a brisa deixada, mas o pior de tudo aos olhos da deusa grega fora o alvo em que acertara. O Olho explodira em mil pedaços quando trespassado, acabando de pronto com aquele feixe de fogo.

Um grito ecoara das profundezas daquele templo, acompanhado do rugido daquele leão, ou leoa, quando o braço esticado se esticara e novamente de pedra aquele alto relevo se tornara. – NÃO… NÃO! – apanhando os cacos do chão, gritara, antes de tal como os outros, perceber de onde aquele tiro viera.

– Eu… - Jack arregalara os olhos para aquele que ainda jazia com a pistola apontada a fumegar, coberto de pó e teias de aranha ao último degrau da escadaria. – Você não há maneira de morrer, pois?

– Jack… Jack… eu poderia dizer o quão ingrato és ao desdenhar do único que te livrou o couro… mas apenas digo algo… - e pronunciando os olhos tão azuis, Barbossa falara. – Me devolve o chapéu, meu grande estupor!

Continua…


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Notas finais do capítulo

Olá Leitores e Leitoras!

É com imensa vergonha que venho agora... meses e meses depois do último capítulo postado, com um novo capítulo desta história. Sim, tive culpa de mesmo com pedidos não conseguir continuá-la. Mas tive muito pouco tempo para escrever e sobretudo para pensar num final digno para a Olhos Felinos. No entanto, mesmo depois de muito tempo, ele saiu e sim... este é o ANTEPENÚLTIMO capítulo da Olhos Felinos. É triste falar que agora que retornaram, só faltarão mais dois capítulos, mas a verdade é que ela já estava na sua recta final.

Espero que me perdoem este atraso ridículo e que gostem deste capítulo. Agradeço a todos que comentaram no último capítulo e às mensagens de apoio que recebi!

Espero que gostem! Saudações Piratas! :D

JODIVISE