Olhos Felinos escrita por Jodivise


Capítulo 46
Capítulo 45 O destino se aproxima


Notas iniciais do capítulo

Jack Sparrow se aproxima do destino que tanto procurou nos tempos que passou no deserto. Lara chega finalmente à tão desejada Alexandria.



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Capítulo 45: O destino se aproxima

A taça em ouro fora despedaçada contra a parede antes de chegar aos lábios de Circe. Num acesso de raiva, esta urrou. Levando as mãos aos cabelos ruivos, a deusa voltou-se à jaula que decorava o centro daquela sala fria em pedra.

- Teu pai julga-se muito esperto. – Circe agachou-se até ficar ao nível da criança dentro da jaula. Mary jazia encolhida a um dos cantos, vendo-se cercada por grades douradas a toda à sua volta e por cima de si.

- Você quer o ovo. – a pequena lhe disse.

- É claro que quero o ovo! E aquilo não é um ovo. É o passaporte para a minha liberdade. – Circe falou alto, tomada pela loucura. – Vieram até ao meu covil, garantindo a fuga que desejava há milénios e agora, tudo se torna difícil. Mas eu irei dar a volta a Jack Sparrow.

- Vai matar meu pai? – Mary susteve um choro, atraindo a atenção dos olhos cor de mel da deusa.

- Se só assim ele me der o Olho-de-tigre… - a ruiva riu. – Mas seria uma pena. Tu irás morrer minha pequena. É parte do jogo e do equilíbrio. Mas teu pai era um desperdício. Que homem tão fascinante…

- Meu pai gosta da minha mãe. Não de você. – Mary gritou. - Você parece uma cenoura!

Circe olhou Mary Rose, o rosto se contorcendo de raiva. – Vou adorar calar um ser tão irritante como tu, sua peste! – levantando-se, esta andou até outro aposento, uma sala muito maior.

Nada ali prendia a atenção, mesmo sendo um aposento de paredes altas, sustentadas por colunas cravejadas de hieróglifos. Chegando ao topo das escadas, Circe olhou as duas piras colocadas em cada lado do começo das escadas. Como por magia, uma chama brutou do seu dedo indicador. Mergulhando esta no líquido contido em cada pira, dois corredores de fogo se fizeram, ladeando a escadaria e seguindo pelo centro do salão, abrindo caminho até ao outro lado.

Os olhos da deusa reflectiram as chamas e um sorriso brotou dos lábios desta ao ver as labaredas iluminarem e contornarem a base de uma estátua monumental, antes oculta pela escuridão. Uma figura humana com pelo menos sete metros de altura se erguia imponentemente. A cabeça de leoa olhava serenamente o ambiente vazio.

- A tua libertação está próxima, Sekhmet. – Circe sorriu, andando até à estátua. – E com ela, eu ficarei de vez livre da prisão a que me submeteram.

- Bem… - Barbossa suspirou fundo, agachado por entre umas pedras. – Chegamos.

- Sério, isto é deserto. – Jack torceu o nariz, estando na mesma posição do outro capitão. – Não há ninguém aqui. As ruínas do templo estão vazias. É preciso nos escondermos?

- Mênfis foi outrora a grande metrópole do Egipto. – Ranya explicou. – Foi há imenso tempo, mas nunca se sabe o que escondem as ruínas de uma grande cidade abandonada.

Os dois capitães olharam a egípcia se entreolhando confusos. Ao olhar as ruínas do templo em frente, ambos engoliram em seco. Algumas palmeiras altas camuflavam aquilo que restara do outrora grande templo do deus egípcio Ptah. À entrada, duas grandes esfinges, "repousavam" silenciosamente, guardando fielmente o edifício por toda a eternidade.

Empunhando as espadas, os dois piratas caminharam lentamente pelas ruínas espalhadas. Pedras da cor das areias, com suas formas anti-naturais que denunciavam serem pedaços de estátuas incompletas, de colunas há muito destruídas pelos ventos do deserto.

- Ramsés II. – Ranya apontou para uma estátua ainda de pé. – Um grande faraó do Antigo Egipto.

- Será que ele nos poderia dizer onde é a entrada disto? – Jack sorriu, mas os outros dois permaneceram calados. – Tudo bem. Não teve piada. Mas isto deve ter uma entrada que vá dar ao interior, certo?

- O templo está muito deteriorado. – Ranya caminhou lentamente, olhando o que restara. – Já nada resta da grande entrada guardada pelas estátuas. – a mulher suspirou. – Melhor continuarmos.

- Espere. – Jack pediu, agachando-se junto a uma poça de água. – Se ele abrir de novo… - mas ao aproximar o Olho da água este não abrira como anteriormente. Antes uma luz alaranjada se fez na parte superior. Como um laser, esta perfez um caminho indicando uma direcção. – Para sul.

- Não existe nada! Nem um buraco no chão. – Barbossa deu-se por vencido. Tinham ido na direcção para onde o Olho apontava mas nada descobriram.

Jack não ligou ao mais velho. A intensa luz laranja que brotava do objecto em suas mãos apontava para um amontoado de pedras. Guardando-o no bolso do casaco, o pirata começou a afastar as mais pequenas. – Uma ajuda aqui era bem-vinda! E para de resmungar zombie parasita. Meus ouvidos sãos sensíveis aos teus urros.

Sem tempo nem paciência para responder ao mais novo, Barbossa ajudou-o com as pedras. Quando a última e mais pesada fora removida, um buraco rectangular denunciava uma entrada.

- E se não for uma entrada para o templo? – Barbossa coçou a barba. – A própria senhorita nos disse que já nada resta deste.

- Aos nossos olhos nada existe… mas… debaixo de nós… - Ranya sorriu, tomando a iniciativa, aproximando-se do buraco escuro.

Usando tochas improvisadas com folhas secas das palmeiras, os piratas, acompanhados pela egípcia, aventuraram-se pela entrada. As escadas gastas levaram-nos a um corredor estreito a alguns metros da superfície. As paredes lisas se prolongavam num caminho sem fim.

- Como sabemos que isto vai dar ao antigo templo? – Jack arqueou o sobrolho.

- Tem de dar… foi aqui que esse objecto que traz consigo nos levou, certo? – Ranya explicou.

- Como sabemos que este é o templo certo? – foi a vez de Barbossa.

- Porque é o maior? – Ranya encolheu os ombros, andando no meio dos dois piratas. – Porque ele apontou para esta entrada…- Quando deu por si, os dois piratas a tinham encurralado, os seus rostos iluminados pelas tochas. – Algum… problema?

- Porque raio Circe tem medo de si? – Jack perguntou.

- Como?

- Não se faça de tonta! – Barbossa apontou a lâmina da espada ao pescoço da morena, fazendo-a engolir em seco. – Fala de um jeito peculiar. Conhece coisas que uma simples mulher do deserto não saberia. Quem é você…

- Senhorita Ranya? – Jack concluiu a frase de Barbossa. – Qual a sua verdadeira identidade?

A egípcia engoliu novamente em seco, alternando o olhar entre os dois piratas. – Eu sou apenas Ranya…

- Não minta! – Jack enfureceu-se. – A verdade é que agradeço sua ajuda, mas minha filha desapareceu. E cada vez mais tenho a certeza que sabe de algo. Aquela gata que andava com você. Que foi feito dela?

- Eu não sei de Ba… - Ranya tentou se libertar, mas os piratas rodearam-na ainda mais. – Eu sou apenas uma mulher comum! Se não querem minha ajuda, então me deixem ir embora. Mas duvido que saibam sobreviver sem mim…

- Porquê? Nunca precisei de uma mulher para sobreviver… - Jack encolheu os ombros mas a cara de Barbossa, fê-lo sorrir sem jeito.

- Vai morrer. – Ranya lhe disse. – Se se mexer, morre dentro de minutos.

- Como? – os dois se entreolharam até ouvirem um silvo. Lentamente, olhando para trás, iluminaram algo que os olhava do chão.

- Oh bugger. – Jack empalideceu ao visualizar a cobra que silvava. Colocando-se erecta, com a parte do pescoço dilatada em abas, estava pronta a atacar ao primeiro movimento que fizessem.

- É uma naja. – Ranya disse. – Mortífera e rápida.

- Eu corto-lhe o pescoço e… - Barbossa avançou, mas a egípcia impediu-o.

- La! – o simples movimento fez a cobra tentar picar o velho capitão. – Não queira morrer agonizando dentro do próprio corpo. – agachando-se lentamente, Ranya fixou a cobra. Dizendo algo numa língua incompreensível, afastou-a movendo a tocha na sua frente.

- Está vendo? Você até domina cobras! – Jack arregalou os olhos, apontando para a mulher, que retomara a marcha.

- Nasci no deserto. Conheço todos os perigos, senhor Sparrow.

- Jack… - Barbossa puxou-o. – Melhor continuarmos por agora.

O restante do corredor foi percorrido no maior silêncio. Ao fim deste, uma sala vazia esperava os três. A única porta existente estava selada.

- Eu não acredito que chegamos a um beco sem saída… - Jack suspirou, levando as mãos à cara.

- Talvez possamos chegar ao outro lado por aqui. – Barbossa agachou-se, iluminando com a luz da tocha uma pequena entrava desobstruída.

- As senhoras primeiro. – Jack deu passagem a Ranya, sorrindo-lhe sarcasticamente. Quando a morena se agachou, percorrendo o caminho de cócoras, Jack seguiu-lhe. – Fica na retaguarda.

- Porque eu sempre fico no final? – Barbossa resmungou.

- Ora… porque a minha traseira é algo bonito de se ver! – Jack riu, fazendo o mais velho aproximar a tocha de si. – Ai!

- Acredita… mais uma gracinha e não te poderás sentar durante uma eternidade. – Barbossa ameaçou-o, quase queimando o tecido das calças do outro.

- Olhem… - Ranya falou quando chegaram ao fim do caminho. Uma outra sala se abria, mas esta ao ser iluminada, revelou as paredes recheadas de hieróglifos. Histórias contadas a partir das imagens tão simetricamente desenhadas.

- O que dizem? – Barbossa quis saber, olhando de perto as figuras.

- Retratam episódios da vida de Ramsés II. – Ranya explicou. – Vê estes? Dizem: "nascido de Rá, amado de Amon." Os faraós eram escolhidos pelos deuses.

- E quem são estes Rá e Amon?

- Está na cara, lorpa! – Jack exclamou. – O pai e a mãe do tal Ramo… qualquer coisa.

- Não. Rá é o deus do sol. Lendas apontam para que todos os seres tenham sido criados por ele, tendo o Homem sido criado a partir das suas lágrimas e suor. Por isso diz que Ramsés nasceu de Rá. – Ranya explicou de uma maneira tão maternal que parecia falar da própria família. – Já Amon era o rei dos deuses. A força criadora da vida…

- Família complicada, essa. – Jack fez uma careta.

- Tens uma estátua atrás de ti. – Barbossa apontou a tocha para uma estátua maior que Jack. A figura humana esculpida em pedra negra olhava-os majestosamente.

- Será o tal rei?

- Não. – Ranya arqueou o sobrolho. – É o deus Ptah. – a mulher passou a mão por um dos braços da estátua. – O ceptro dele… - esta indicou o objecto comprido na vertical que a figura mumificada de Ptah ostentava. – Tem o ankh, o was e o djed. Símbolos da vida, força e estabilidade. Estranho…

- O quê? – Jack engoliu em seco.

- Deste lado. – a egípcia apontou para a parede à sua esquerda. – Relata episódiso da vida de Ramsés II. Deste… - apontou para o lado direito. – Fala de Ptah, mas… há algo que não bate certo. Aqui… - Ranya esticou o dedo percorrendo uma linha de hieróglifos.

- O que diz? – Jack perguntou, aproximando-se da morena. – Ranya…?

"Três grandes, eles são. Dominam a terra e o céu." – Ranya fez uma pausa, passando para a linha de baixo. – "O que os dois construíram, ela destruirá. Mas só quando à visão esta retornar…"... Falta uma parte.

- Isso é grego… - Jack apontou para a parede. – E eu odeio gregos.

- É lógico que fala de dois homens e uma mulher. – Barbossa coçou a barba. – Mas quem eles são? Porque a mulher destruirá o que eles construíram?

- Só pode se referir a deuses… - Ranya disse.

- E só quando a mulher recuperar a visão é que ela destruirá o que quer que seja. – Barbossa voltou às hipóteses. – Porque raio é que isso me soa estranho?

- Ora… porque você tem um cérebro demasiado toldado para pensar que…

- Ou talvez… visão esteja relacionado com… o Olho… - Barbossa ignorou Jack.

- Leste-me o pensamento! Isso é batota. – Jack tentou resmungar. Dando um passo para trás, o pirata falhou um pé, desequilibrando-se. No mesmo instante, um barulho pode ser ouvido e a estátua de Ptah moveu-se girando sobre si própria. Ao mesmo tempo que ficava oculta pela parede, uma outra estátua se mostrava aos visitantes.

- Por Alá! – Ranya exclamou, olhando as três figuras imponentes.

Talhado em ouro, três figuras humanas jaziam erectas, numa serenidade misteriosa. No meio, a figura masculina envergava apenas um saio curto, possuindo um ceptro na mão direita encostado ao peito. No chapéu faraónico ostentava uma serpente. À esquerda da figura do provável faraó, repetia-se a estátua de Ptah. Mas o curioso era da direita. A quem o do meio dava a mão como se dois amantes se tratassem.

- Quem é? – Jack sentiu-se estranho ao olhar a terceira figura. O corpo simétrico de uma mulher cujo grande detalhe era a cabeça em forma de leão.

- Sekhmet. – Ranya pareceu incomodada. – A deusa leoa. Mulher de Ptah.

- Ela está traindo ele. – Jack riu de modo bobo, indicando que esta dava a mão a Ramsés.

- Esse nicho… - Barbossa chegou perto, colocando a mão numa reentrância por baixo das mãos unidas da deusa e do faraó.

- Talvez… - Jack ficou pensativo, retirando o Olho do bolso do casaco. Imediatamente este abriu, emitindo uma luz alaranjada forte, vendo-se no núcleo, um mini globo de lava. A força de atracção que se apoderava do objecto perto da estátua, fazia o pirata segurar firmemente nele. Porém, antes que o colocasse no sítio óbvio, Jack sentiu algo o atingir, como um raio, fazendo seu estômago se encolher e as costelas doerem quando bateu contra a parede.

O impacto fez o pirata largar o Olho, acabando atordoado. Quando finalmente tentou perceber o que se passara, vira Barbossa desembainhar a espada na direcção de Ranya.

- Eu não posso permitir. – com apenas um gesto rápido, a espada de Barbossa voou, deixando-o desarmado. – Gostei de vocês. A sério. Mas não posso permitir que a libertem novamente.

- O que está falando, mulher? – Barbossa brandou.

- Lamento. – Ranya olhou do capitão mais velho para Jack ainda ao chão. – Sekhmet não se pode voltar a erguer.

- Como… - Jack viu a mulher fugir pela abertura na parede que anteriormente tinham percorrido. Ao mesmo tempo, um tremor parecia tomar conta da galeria, fazendo o pirata se levantar desajeitadamente.

- Atrás dela, seu lesma! – Barbossa agarrou no braço de Jack, forçando-o a entrar novamente na entrada pequena. – Isto vai desmoronar.

- Ela levou o Olho? – Jack acordava agora, percorrendo de gatas o túnel, enquanto o chão tremia e as fendas se abriam sobre a sua cabeça.

- Nunca confiei nela. – Barbossa falou atrás deste. – Sabichona de um raio.

- Hector… - Jack virou-se para o mais velho quando saíram do estreito túnel. – Ela disse… disse que o Olho libertaria algo.

- É… - Barbossa continuava empurrando o mais novo, saindo da última galeria e entrando no grande túnel até ao exterior.

Porém, ao mesmo tempo que Jack vislumbrava a figura de Ranya sumir-se ao fundo, de onde a luz do sol entrava, o edifício não aguentou mais, desabando atrás de si. As pedras que caíam do tecto fizeram o pirata atirar-se para a frente, protegendo a cabeça, sentindo alguns calhaus atingirem o seu corpo, enquanto o pó o intoxicava.

Quando por fim tudo parecera ter acabado, Jack ergueu a cabeça. Seus olhos ardiam e um ataque de tosse se fez. Quando a poeira assentou, Jack viu a luz ao fundo do túnel.

- Ei… cof… zombie… podemos sair e… - ao olhar para trás, Jack não viu mais que pedras se amontoando umas sobre as outras, fechando o caminho. – Barbossa?

Nem sinal do capitão mais velho. Jack começou a esgravatar, retirando as pedras mais pequenas, chamando por Barbossa. Enfim alcançara aquilo que lhe parecera uma pena. Ao puxá-la, apenas viera junto o grande chapéu de Barbossa.

- Oh bugger. – Jack ficou olhando o objecto. Barbossa teria possivelmente ficado esmagado com as rochas. Seu rival tinha sucumbido de vez. E estranhamente, Jack Sparrow sentira-se vazio…

Mais a Norte…

À entrada do porto calmo de Alexandria, uma sombra negra se fazia. Um navio de velas negras, com um dos mastros partidos parecia seguir um rumo certo, como puxado por cordas. Há quase dois dias que era assim. A tempestade quebrara o leme do Black Pearl, mas como por milagre de algo deus ou deusa, uma corrente se tibha feito no mar, levando o navio ao tão almejado porto.

- Daqui a algumas horas aportamos. – James comunicou para uma Lara absorta em pensamentos, olhando a vastidão que ficava para trás através da janela de popa. - O que faremos, quando lá chegarmos?

- Procuraremos essa dita cidade cujo dito templo se situa, cujo templo de outra deusa guarda, cujo maldito tesouro está lá. – Lara respondeu sarcasticamente. – Seja lá o que isso for…

- Mênfis fica perto do Cairo. – Darius explicou, sentado em cima de uma arca. – Proponho que se tome uma feluca pelo Nilo abaixo. Não podemos levar o Pearl.

- Ele ficará em reparação no porto. – Lara olhou os presentes. – Combinei com o Capitão Teague… - os seus olhos pousaram na figura lendária sentada à mesa redonda, analisando as cartas de navegação que tudo mostravam. – Gibbs ficará responsável. Não quero ir com poucos, mas também não serve de nada levar a tripulação inteira.

- Eu e Elizabeth iremos. – James falou. – Não quero deixá-la sozinha.

- Já vi melhores razões para disfarçar a ânsia por um tesouro. – Teague falou, sem olhar o ex-comodoro.

- Acontece que a mim só me interessa um tesouro, Capitão Teague… - James virou-se, não demonstrando medo ou respeito pelo pai de Jack. – Agora se me dão licença.

Lara viu Norrington sair porta fora, voltando-se à monotonia de sempre. Porém, o chamado do sogro despertou-a.

- Já pensou o que fazer se eles não se encontrarem lá?

- Como assim?

- Segundo o que me contou, aquele desmiolado e restantes foram parar sabe-se lá onde. – Teague começou, olhando a nora. – Ninguém nos garante que eles estejam em Mênfis. Ninguém nos garante até… que eles estejam vivos.

- Seja a última vez que diga semelhante, ou eu… - Lara tentou avançar para cima de Teague mas Darius impediu-a. – Eu sei. Sei e tenho a certeza que estão vivos. E vou encontra-los. Ao contrário do que julga Capitão Teague… existem mais tesouros que não de prata ou ouro.

A frase parecia ter acertado em cheio ao capitão mais velho. Sem deixar transparecer, este se levantou. – Levo as cartas de navegação comigo. Nunca se sabe se novos caminhos se abrem…

Quando por fim o pirata saiu, Lara enraiveceu-se, dando um murro na parede. – Porque raio eu estou passando isso? Que mal eu fiz a Deus ou a esses ditos seres que se dizem deuses? Eu não almejo prata ou ouro. Só quero meu marido de volta. Minha filha linda de volta...

- Eu sei… - Darius falou atrás de si.

- Você me compreende, não? – a morena voltou-se, mirando os olhos claros em frente. - Tudo o que queria era voltar para os braços de sua noiva. Para junto de Mayara.

- O tempo passou, Lara. Sei que nunca a terei. – Darius engoliu em seco antes de falar novamente. - Mesmo a tendo tão próximo.

- Esqueceu-a? À Mayara? – apoiando-se na janela, Lara fitou-o. – Vejo que teve uma história longa com Lady McLean. Como conseguiu ficar milénios resistindo a Circe, nessa maldição de ser imortal, e mal saiu de lá apaixonou-se por ela?

- Eu também não sei. Amei Mayara desde o dia em que a vi. Amei-a durante todo aquele cativeiro. Era a minha razão de continuar vivo. - Darius encolheu os ombros. - Se chamam a isto estar vivo... Olga foi um enigma na minha vida. Uma esperança renovada, um sonho que no fundo não passara disso.

- Mas não a esqueceu.

- Talvez a esquecesse quando a vi a si. A reencarnação de Mayara.

- Mas e agora? Depois de ver novamente Olga. Como anda o seu coração Darius? – Lara ousou pousar uma mão sobre o peito deste, não obtendo resposta. – Você ama as duas. Ama Mayara e ama Olga.

- De que adianta. São ambas impossíveis…

Antes que o atlante terminasse, Olga assomara à porta, vendo a intimidade que parecia rondar Lara e Darius. Engolindo em seco, esta saiu novamente.

- Vá atrás dela. – Lara afastou-se. – Não lhe minta.

- Ela nunca acreditará que…

- Ela o ama. Quem ama acredita até no impossível.

- Olga! – Darius chamou a ruiva que já se ia pelo tombadilho, parando junto à amurada e colocando os olhos no porto egípcio. – O que você viu…

- Não preciso de explicações. – esta disse, sem olhar na sua cara.

- Não é nada do que está pensando. – Darius colocou-se ao seu lado, numa tentativa frustrada de esta olhar para si.

- Como sabe o que eu penso ou deixo de pensar? Por acaso é adivinho?

- Olga… - Darius suspirou, olhando também ele a paisagem. - Você precisa de saber a verdade.

- Óptimo! – Lady McLean virou-se finalmente, cravando os negros olhos nos azuis de Darius. – Porque é só isso que eu quero, Darius. A verdade. Eu ouvi a última parte da conversa. Você ama duas mulheres? Por acaso se apaixonou pela Capitã Sparrow?

- Não. Lara é só uma vítima no meio da confusão que é a minha vida. – o atlante explicou.

- A sério? Então explique-se de uma vez por todas. Porque me abandonou? Porque sempre deixa um rasto de mistério por onde passa? Porque a todos encanta? – as perguntas não paravam. – Raios, quem és afinal, Darius?

- Lara é a reencarnação da minha noiva. Eu cheguei a falar nela, lembra? – Darius perguntou, não obtendo resposta. – Ela é exactamente igual à princesa Mayara. Que morreu… há muitos milhares de anos atrás.

- C-Como é que é? – Olga abriu a boca.

- Olga, essa é a verdade. A verdade é mais doida de todas. – Darius se desesperou. – Eu nunca te contei por isso mesmo. Porque nunca iria acreditar. Eu não sou grego. Sou atlante. Estava noivo da filha mais velha do rei de Atlântida. E por um infortúnio do destino... eu acabei cativo de uma deusa doida. Deusa essa que agora literalmente raptou a filha de Lara. Olga você tem de acreditar em mim. - Darius alcançou as mãos da dama, juntando-as às suas.

- Você tem… milhares de anos?

- Eu sou imortal. Foi um dos feitiços de Circe. O único jeito é... - Darius não acabou a frase quando sentiu a face arder devido ao estalo que levara de Olga. As vozes da tripulação se calaram, olhando a cena.

- Sabe porque eu estou aqui, Darius? – Olga lhe disse, tremendo de raiva, tentando não cair no choro. – Eu estou aqui por sua causa. EU ESTOU AQUI PORQUE VIM ATRÁS DE VOCÊ!

- Porque o fez?

- Porque fui deserdada. Posta na rua. – Olga não susteve mais as lágrimas que rolavam pela face alva. - Depois de você ir embora, eu não tive outra solução senão ficar noiva de Peter Collins. Mas tudo se acabou por descobrir. - Olga disse. - Meu pai nunca mais me dirigiu palavra. Minha mãe se descabelava tentando alcançar um equilíbrio em meio à desgraça. Eu fugi, Darius. Fugi porque o que me esperava era a morte. E se não fosse a ajuda de amigos, eu não sei o que teria sido de mim e no entanto... - um soluço travou a fala da escocesa. - Eu sempre o fiz na esperança de te encontrar.

- Você me encontrou.

- Pois. E neste momento acabo de perceber que você nunca foi mais além de um trapaceiro. - Olga abanou a cabeça. - Imortal? Deusas e reinos perdidos? Até uma criança tem mais imaginação.

- Porque tentou se casar com o Collins? – Darius agarrou Olga por um braço quando esta ensaiou fugir.

- Era o que queriam para mim. – esta lhe respondeu, mas não conseguiu se desenvencilhar dele.

- Você nunca o suportou. - Darius seguia insistente, ele próprio não contendo a dor que lhe atravessava o peito. - Porque se assujeitou a isso? Porquê fugir da sua terra e vir atrás de mim? – o silêncio da dama só confirmava o cenário que atravessava a sua mente. - Aquela criança... ele é... meu...

- Fique longe de mim e do meu filho. - Olga ameaçou.

- Largue ela, Darius. – a voz de Lara soou atrás dos dois. – Não é hora de termos uma briga caseira aqui dentro.

Darius não teve outro remédio que soltar Olga, vendo-a correr para o porão. Instintivamente levou as mãos aos cabelos. Agora tinha a certeza de várias coisas. Que Olga ainda o amava. Que nunca o perdoaria. Que lhe doía horrivelmente saber que a ferira. E mais do que tudo, que aquele menino, filho dela, era provavelmente…

- Seu filho. – Alicia se aproximou de Darius, sorrindo sem jeito. – Ela me contou toda a história.

Continua…



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Notas finais do capítulo

Oi leitoras e leitores! Depois de algum tempo de ausência em que não tive nem tempo nem imaginação para escrever, eis que sai mais um capítulo da Olhos Felinos! Atenção a alguns pormenores: as histórias dos deuses são verdadeiras, não as inventei. Só a frase que Ranya lê é invenção minha. Outra coisa, a estátua que contém Ptah, Ramsés e Sekhmet é verdadeira. Foi achada no templo de Ptah. No entanto eu me inspirei nela para fazer essa cena, com a diferença que na realidade ela não é de ouro.
Um muito obrigada a quem mandou review!!!
Espero que gostem!!! Saudações Piratas!!! :D



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