Olhos Felinos escrita por Jodivise


Capítulo 44
Capítulo 43 As dívidas que sempre se pagam


Notas iniciais do capítulo

Mary foi raptada. Tudo aponta para que Circe esteja por detrás do desaparecimento da pequena Sparrow. Prosseguindo a derradeira viagem até Mênfis, Jack, Barbossa e Ranya, vão se ver em situações embaraçosas.



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Capítulo 43 – As dívidas que sempre se pagam

Um dia e meio depois…

Jack Sparrow nunca ficara tão aliviado quando os seus pés pisaram a terra da margem esquerda do Rio Nilo. Finalmente tinham chegado a Abydos.

- Agora estamos no caminho certo. Seguiremos pelas margens até Mênfis. – Ranya disse, depositando na mão do barqueiro um saco com moedas.

- Gastou todas as suas economias. – Jack observou.

- La. Melhor assim. Dará para alimentar a família dele. – Ranya sorriu. No entanto o seu olhar tornara-se pesaroso. Não tinha filhos, mas custava-lhe olhar para aquele homem que não queria saber de mais nada a não ser recuperar a sua cria.

Mary estava desaparecida há quase dois dias. Jack não dormira de noite, passara-a antes numa vigília cerrada sobre o parapeito da pequena feluca. Como se a caçula dos Sparrow pudesse aparecer numa das margens, sorrindo e acenando entre os juncos.

Na pequena povoação, os dois piratas e a mulher que os acompanhava trataram de encher os cantis de água e negociar alguns pertences por transporte. Dois dromedários valeram a Barbossa um anel em ouro, roubado uma vez em França, e a Ranya, o colar de família. Dissera esta que foi por uma boa causa.

- Ouça! – Jack apertou os punhos, tentando se manter calmo. – Eu vendo-lhe todos os anéis que tenho em troca dele. Arranco até os meus próprios dentes! – Jack tentava dar a volta ao egípcio. Um cavalo de um castanho cacau era o objecto do pirata. Estava farto de camelos e queria algo que andasse mais depressa.

- La. – o comerciante negou com a cabeça e apontou para algo.

- Ele quer a cabeça. – Ranya explicou.

- Isto? – Jack desprendeu a cabeça encolhida que trazia à cintura. – Mas, não vale sequer uma pata do cavalo!

- Nem todas as pessoas se interessam por ouro. Ele quer a cabeça. – Ranya viu o comerciante sorrir. – Diz que dá boa sorte.

- Desculpa, mãe. – Jack olhou desgostoso o objecto. – Mas é pela tua neta.

Hesitante, Jack passou a cabeça encolhida ao egípcio, tendo acesso ao cavalo. O animal era meigo e permitiu que o pirata lhe afagasse o focinho.

- Norte. – Jack sussurrou olhando a bússola. Mas quando a voltou a colocar pendurada no cinto, sentiu um volume extra no bolso das calças. – Mas que…

- Como o conseguiste? – Barbossa olhava atónito para o que Jack tinha em mãos.

- Ele estava com a Mary. – Jack balbuciou, olhando o Olho-de-tigre.

- Talvez ela o tenha colocado aí. – Barbossa coçou a barba.

- O que interessa? – a expressão de Jack endureceu. – Aquela vaca acabou por levar a Mary e não o Olho.

- Então temos de nos despachar. – Ranya subiu para cima do dromedário. – Algo me diz que a Mary colocou esse Olho aí de propósito.

- É… interessante. – Barbossa mirou o horizonte. – Ela disse que tinha um pressentimento, antes de ser raptada.

- O que estás a dizer? – Jack empalideceu, vendo o mais velho subir no dromedário ajoelhado.

- E se ela sair à mãe? Lara também teve pressentimentos antes de ser raptada pela Éris, lembras-te?

Jack não ouviu mais nada. Era impossível. Lara tinha esses poderes derivados da sua antiga vida. Os atlantes eram seres humanos, a única diferença era a sua vida anormalmente longa de centenas de anos e alguns poderes que pudessem ter. Lara herdara de Mayara apenas as visões e premonições, mas Mary… A pequena era apenas uma Sparrow. Filha de um pirata e de uma mulher comum. Era impossível ter os mesmos poderes que Lara.

Durante horas, embalado pelo passo lento do cavalo, Jack pensava no assunto. Pensava também se alguma vez iria tornar a ver Lara. E se porventura isso acontecesse, como explicaria que perdera a filha de ambos. Mãe leoa como esta era, não duvidava que nunca lhe perdoasse.

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A monotonia da viagem fazia uma onda de sono apoderar-se dos piratas. Não que a beleza natural do que lhes rodeava fosse enfadonha. Pelo contrário, as margens alaranjadas, misturavam-se com o dourado do deserto de um lado e com o azul e verde do rio do outro. Mas o sol tórrido, não permitia sequer apreciar o azul do céu.

Ranya já conhecia o deserto e seguia atenta, no meio da caravana, o pano azul-escuro lhe cobrindo a face contra as areias do deserto, deixando apenas os olhos escuros a descoberto. Barbossa seguia atrás. Com o rosto igualmente coberto, o velho capitão continuava sem perceber como aquela aventura dera para o torto. Não que todas corressem bem, mas… detestava a evidência de que também ele era um ser humano.

Tantas vezes pensara em adquirir um novo navio, só para si. Livrar-se de Jack era o que mais queria. Mas sempre haveria algo que o prendia. Fosse porque o Black Pearl era o navio que amava, fosse porque sabia que Grace nunca deixaria as suas duas "meninas" sozinhas. E Grace era a única pessoa no mundo com quem gostava de estar. E depois havia um outro senão. Barbossa ainda tinha algo a pagar. E sabia que só quando pagasse essa dívida, estaria livre para fazer o que quisesse da vida.

Jack ia na frente. Sua vontade era galopar a direito. Seguir desembestado até Mênfis. Mas não podia. Nunca conseguiria sozinho. Não sabia o que lhe esperava. Circe poderia estar rodeada de capangas. Se ao menos a sua tripulação aparecesse no horizonte… A vista começou a pesar-lhe. Os seus olhos ameaçavam se fechar quando algo apareceu na sua frente.

"Lara", a palavra formara-se na sua mente. Sua mulher lhe aparecia ali, diante dos seus olhos. Um longo vestido branco evidenciando a pele morena, os cabelos castanhos caindo pelas costas e os olhos hazel lhe sorrindo. Esta o chama, esticando a mão na sua direcção. Sem pensar, Jack desce do cavalo, caminhando devagar, como se não acreditasse no que via. Mas com o aproximar, a figura de Lara tornou-se mais evidente e Jack correu até si.

Depois, como se uma areia a envolvesse, Lara começou a desvanecer-se, não passando de uma imagem tremida.

- Não… espera! – Jack exclamou, mas a figura continuou a desvanecer-se. Sentiu algo a puxá-lo, queria que o largassem antes que Lara desaparecesse de vez. – Larguem-me!

- Não se mexa! – a voz de Ranya soou-lhe aos ouvidos. Jack olhou incrédulo a figura da morena que o mirava em pânico.

- Eu vi… vi a… - Jack não terminou a frase. Parecia que Ranya ficava mais alta que ele. Quando olhou para o chão, as suas pernas tinham desaparecido. Estava enterrado até aos joelhos.

- Areias movediças. – Ranya disse. – Você saiu do cavalo e correu como um louco. Pensávamos que estava tendo uma miragem e acabou caindo na armadilha do deserto.

- Oh bugger… - Jack engoliu em seco, enquanto um vácuo o sugava para a morte.

- Se lutar, será pior. Barbossa amarrou uma corda aos dromedários. – Ranya explicou.

- Segura nessa ponta. – Barbossa apareceu, passando a Jack a ponta da corda.

- Espero bem que isto dê certo. – Jack cerrou os dentes e agarrou a corda com as duas mãos. – Senão…

- Senão o quê?

- Mato-te!

- Jack, já me tentaste matar uma vez e não fostes bem sucedido. – Barbossa riu dando um tapa nos quadris dos animais. Estes moveram-se, puxando Jack lentamente.

Quando este se viu livre, sacudiu a areia do corpo. – Obrigado senhorita Ranya. Não sei o que seria de mim, se não estivesse tão atenta.

- Mas, se não fosse o senhor Barbo…

- Deixe, eu já estou habituado. – Barbossa falou alto. – Filho de mal agradecido, mal agradecido é.

- Como é que é? – Jack caminhou até este. – Eu não sou mal agradecido nem sequer…

- Não venhas defender o teu pai, Jack. – Barbossa interrompeu-o. – Nunca gostaste dele. Não te faças agora de filho pródigo defendendo-o.

- Eu não o defendi! Mas defendo o meu nome. – Jack deu a volta ao assunto. – Detesto que me colem… a tão vil criatura.

- Sendo assim, tal pai tal filho. – Barbossa riu de novo.

- Ainda bem que não tiveste filhos. Seriam além de aberrações, uns autênticos falhados.

- Repete isso! – Barbossa desembainhou a espada, apontando-a à garganta de Jack, mas este desceu-a com um dedo.

- Calma zombie, essa inveja por mim é perigosa. – Jack sorriu.

- Inveja? Inveja de quê? – Barbossa continuava apontando a espada. – De um garoto que sempre fugiu das consequências dos seus actos? Que pensava que o mundo girava apenas e só à sua volta?

- E não gira?

- Cala a boca, Sparrow. Nem um navio soubeste comandar!

- Que eu saiba foste tu que mo tiraste e me abandonaste naquela ilha! – Jack parara de sorrir.

- Ora Jack… se fosses amado pela tua tripulação, ela não teria desertado tão depressa. – Barbossa soltou uma gargalhada. – Que pena não ter mandado você juntamente com o Bill para o fundo do mar.

- Senhores, vamos continuar… - Ranya tentou falar, mas os piratas simplesmente a ignoraram.

- Então porque não o fizeste?

- Ora porque… - Barbossa não soube responder.

- Confessa, sem mim não és nada! – Jack exclamou, fazendo Barbossa investir. O mais novo desembainhou a espada e o choque do ferro ecoou no deserto.

- Se não fosse essa tua ambição… a tua filha não se teria perdido. - Foi a gota de água para Jack se enfurecer de vez.

- Se te dizes capitão do Pearl… devias ter-me impedido.

A cena era no mínimo ridícula. Dois homens que se odiavam, lutando na espada ao mesmo tempo que se insultavam. No meio do deserto. Ranya abanava os braços, tentando chamá-los à razão, mas de nada adiantaria.

- Parem com isso! Vão perder forças. Vamos acabar por ter de parar mais vezes e a pequena corre perigo. – a egípcia bem tentava, mas Jack acabara de cortar uma das penas do chapéu de Barbossa.

- Oops. – o mais novo sorriu.

- Segunda vez que me estragas o chapéu! – Barbossa exclamou, brandindo a espada e correndo atrás de Jack.

- PAREM! – Ranya colocou-se de súbito entre os dois, fazendo-os estancar. – Não vêm que parecem duas crianças? Enquanto brigam, a sua filha corre perigo! – a morena apontou o dedo a Jack, fazendo-o engolir em seco. – Por cada segundo que perdem, é mais um ganho na batalha dessa tal de Circe.

- A senhorita Ranya tem razão. – Barbossa recolheu a espada. – Está na hora de prosseguirmos.

- Odeio-te! – Jack deitou a língua de fora ao passar pelo mais velho.

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Prosseguiram pelo caminho até o sol se pôr, pintando o céu de um laranja vivo. Descansaram num sítio próximo ao rio. Enquanto os animais se fartavam da água límpida, Ranya cozinhava algo na fogueira improvisada.

- Devia deixar-nos. – Jack mirou as labaredas.

- Porquê? – Ranya ergueu o sobrolho. Os cabelos desta caíam soltos pela túnica meia desbotada.

- Porque somos dois bestas. Porque não nos conhece de lado nenhum. Porque isto é um suicídio.

- Eu vos acolhi em minha casa. E vocês me acolheram na vossa viagem. É o mínimo que posso fazer.

- Não me conhece Ranya. – Jack fixou a morena, mas esta desviou os olhos. – Nem ao Barbossa. Não nos deve nada.

- Eu quero ajudar. Ajudar a encontrar a pequena Mary. – Ranya sorriu. – Não me resta nada nesta terra.

- E o seu irmão?

- Nem sei se ele é vivo ou morto. Deixe-me ajudar a encontrar a sua filha. A fazê-la voltar para a mãe.

Jack apenas se deteve a mirar Ranya que agora lhe sorria. Subitamente sentiu-se estranho.

- Eu não sei se iremos encontrar a mãe dela.

- O que lhe diz o coração? – a egípcia chegou-se para Jack.

"Que tudo o que mais queria era que Lara aqui estivesse", Jack pensou. – Não interessa o que este me diz. Só sei que saberia o que fazer se a Lara estivesse aqui. Sem ela, eu sinto-me… perdido, vazio de ideias.

- Então como fazia antes de a conhecer?

Jack olhou Ranya nos olhos. – Acho que… apenas me limitava a sobreviver.

Antes de responder o que quer que fosse, Ranya viu a mão calejada do pirata se erguer ao seu rosto.

- Senhor Sparrow, eu acho que não…

- Como nunca casou? – Jack indagou-a. – A uma mulher tão bonita não devem faltar pretendentes.

- Nunca pensei nisso. A minha aldeia é muito pequena. Tem pouca gente.

- Mas passam lá viajantes…

- Nunca lhes prestei atenção.

- Mas prestou em nós. – Jack sorriu.

- Porque me fascinaram. – Ranya engoliu em seco, quando Jack se aventurou pelos cabelos desta. No momento seguinte, os lábios do capitão se uniram num beijo fogaz aos da egípcia. Mas antes que esta os partisse, ambos se atinaram para o que estava prestes a acontecer.

- Me desculpe. – Jack se afastou, levando uma mão à cara.

- Não. Eu devia ter impedido. – Ranya se recolheu para junto da fogueira.

Sem mais palavras, o pirata levantou-se, seguindo para longe dali. Quando se sentiu completamente só, Jack levou a mão ao bolso, retirando o globo dourado que tanta cobiça despertara, mas só trouxera desgraça e confusão.

- Onde estava com a cabeça quando decidi ir atrás de ti? – Jack perguntou, rodando o objecto.

- Love, pensa pelo lado positivo. – Jack disse aproximando-se. – Chegaste a dizer que os mistérios te fascinavam. Este é um dos grandes. – Jack sorriu. – E mesmo que não haja nada de especial, ao menos podes conhecer a tal ilha!

- Já paraste para pensar no facto de termos uma criança a bordo? – Lara perguntou e o sorriso de Jack desvaneceu-se.

Ah, como Jack queria ter dado ouvidos a Lara. Esta sempre se mostrara contra a empresa. E no final, acabara por ter razão. O Olho-de-tigre existia, mas… onde estavam os tesouros que prometia? Nada a não ser dor. Era tudo o que o Olho-de-tigre tinha proporcionado.

Se não tivesse olhado para aquele mapa de novo, não saberia da Ilha de Páscoa. Se não tivesse empreendido a viagem, não teriam aportado em Tortuga e levado Darius junto. Se não tivessem levado Darius, o seu casamento decorreria às mil maravilhas e nenhum dos dois sofreria. Se não tivesse pisado naquela maldita ilha, não teria achado o Olho, não teria dado de caras com Circe e muito menos se perderia no deserto. No final, Mary Rose estaria a salvo.

- Ela nunca esteve a salvo. – Jack suspirou, olhando o breu que começava a cobrir o céu. – Somos piratas. Mary nunca estará a salvo enquanto viver comigo.

Num acesso de raiva, Jack atirou o Olho para longe. Estava pronto para virar costas, quando os seus olhos captaram algo laranja correr em direcção ao objecto. Sem pensar, Jack correu o mais que pode, antes que aquele gato enorme alcançasse o Olho. Atirando-se para o chão, as suas mãos tocaram o globo, ao mesmo tempo que sacava a pistola e a apontava ao focinho felino na sua frente. Em milésimos de segundos este transformou-se numa bela mulher de cabelos ruivos alaranjados.

- Jack Sparrow! – Circe falou num tom dengoso, não se mostrando minimamente preocupada com o cano da pistola apontado ao rosto.

- Onde está a minha filha? – Jack perguntou directo.

- Oh, perdeu a querida Mary? Nossa, que pai descuidado. O que pensará sua amada disso?

- Não é da sua conta. – Jack ameaçou carregar no gatilho. – Eu dou-lhe o Olho-de-tigre.

- Assim, sem mais nem menos? – os olhos da deusa brilhavam como labaredas.

- Em troca da Mary. – Jack sorriu. – Você só nos persegue por causa dele.

- Eu poderia fazer isso. Mas não ganhava nada em troca. – Circe colocou um dedo sobre a pistola, baixando-a lentamente e aproximando-se de Jack. – Mas eu até estou disposta a aceitar, se além do Olho… eu tiver você!

- Eu? – Jack ficou pensativo, permitindo que a ruiva se chegasse e lhe segurasse o rosto em mãos. – Eu alinho. Desde… que a Mary seja devolvida.

- Porque não selamos já esse acordo? – Circe riu, beijando Jack com luxúria.

Quando o moreno correspondeu, entreabrindo os lábios, girou o corpo, ficando por cima da deusa. Mas antes que ambas as línguas se tocassem, Jack levou uma mão ao pescoço delicado da mulher. Separando-se, apertou-o com força enquanto lhe apontava a arma.

- Love, já foi o tempo em que eu fazia acordos em troca de belas noites de amor! – Jack sorriu, enfurecendo Circe. Num único movimento, esta libertou-se, atirando com Jack.

- Entrega-me o Olho-de-tigre! – Circe exclamou em voz alta, um vento quente soprou, assanhando-lhe os cabelos cor de fogo e o vestido cor-de-laranja.

- Se o queres… vem buscá-lo! – Jack levantou-se, disparando contra a deusa e correndo o mais que pôde.

Ao chegar ao acampamento, Jack percebeu que estava encurralado. Virando-se, deu de trombas com Circe.

- Eu detesto ser usada. – esta falou.

- E eu detesto usar coisas como você. – Jack viu esta ser acometida por um ataque de raiva. – Quer dizer… não é de se deitar fora. Pelo contrário… mas eu aprendi a olhar também para o que está dentro da pessoa. E acredite… no seu caso… é algo péssimo de se ver.

Circe gritou alto, preparando-se para lançar algo contra Jack. Mas quando o seu braço se elevou no ar, um tiro trespassou-o. Circe não sentira dor, mas o facto surpreendera-a.

- Hector! Nunca fiquei tão feliz em te ver…

Mas antes que Jack terminasse a frase, a deusa fez com que uma corrente de ar atira-se o mais velho contra uma rocha.

- Piratas nojentos. – esta berrou.

O que se passou depois, fora demasiado rápido. Jack viu Ranya aparecer do nada. Pretendia berrar para esta se afastar de Circe, mas pelo contrário. Ranya voou no pescoço desta. Ao princípio, parecera-lhe que esta iria tentar esganar alguém que já era imortal. Mas depois, Ranya retirou-se de cima de Circe, dizendo algo numa língua desconhecida.

Quando a ruiva se levantou ainda cambaleante, o seu olhar horrorizou-se. Para terror de Jack, esta abriu a boca mas nenhum som saiu, antes dezenas de escaravelhos negros. A deusa se contorcia, parecendo estar a ser devorada por dentro. Quando finalmente se recompôs e o último escaravelho caíu por si abaixo, Circe eclipsou-se.

- Eu já não tenho idade para voar. – Barbossa queixou-se quando voltou a si. – É a segunda vez que me quebram a cabeça.

- Descansa que ela é dura para quebrar. – Jack caminhou até Barbossa, lhe dando a mão e ajudando-o a levantar-se. – Porque me ajudaste?

- Ora… - o mais velho hesitou. – Ela queria o Olho. Se te conseguisse matar, ficaríamos sem ele.

- Não zombie. – Jack travou-o. – Vivemos à turra e à massa, mas já não é a primeira vez que me salvas, ou pelo menos que me deixas escapar. Porque o fazes? Eu sei que não gostas de mim e eu também não gosto de ti. Mas… porque nunca me matas-te? Mesmo tendo oportunidade?

- Apossei-me do teu navio, amotinei a tua tripulação, abandonei-te numa ilha deserta e quase te matei na Isla de Muerta. – Barbossa afastou-se. – Que mais queres?

- A verdade.

- Melhor conversarem. – Ranya disse, afastando-se.

- Não vá longe. – Jack olhou para a egípcia. – Também temos o que conversar.

- Noutra altura. – Ranya disse. – Agora é hora de pagar a dívida que outros têm.

- Ela é mais misteriosa do que se julga. – Jack sorriu quando Ranya desapareceu. – E tu também.

Hector Barbossa ficara de costas para Jack. Enfim, o momento que mais temia chegara. Mas ao menos, seria o fim de um suplício. Ou o início de outro.

- Quando eu era mais novo… antes de tu te tornares um pirata, antes mesmo de falares direito… - Barbossa hesitou. – Eu conheci uma mulher.

- Só isso? – Jack fez uma careta. – Eu conheci várias. Se bem que alguém com a tua cara é milagre que tenha conhecido uma mulher.

- Deixas-me continuar ou não? – Barbossa vociferou. – O nome dela… o nome dela era Kuanna.

O sorriso de Jack desapareceu aos poucos quando Barbossa falou aquele nome.

- Eu era jovem. Mais novo do que tu. Me apaixonei por ela da primeira vez que a vi na Enseada dos Náufragos. – Barbossa explicou, sentando-se numa pedra. – Ela foi o grande amor da minha vida. Mas o seu coração já tinha dono. Um dos melhores piratas daquela época. Nunca tive coragem de trocar mais do que duas ou três palavras com ela. Quando soube que o seu marido tinha um navio, engajei-me na sua tripulação.

- Tu… - Jack engoliu em seco. – Pertenceste à tripulação do meu… do Teague?

- Sim. Confesso que tal como contigo, eu nunca fui com a cara de Teague. Mas não tinha a ver só com a sua personalidade forte. Ele era apenas cinco anos mais velho do que eu, embora tivesse imensa experiência. – Barbossa explicou. – O que me deixava com raiva era vê-lo feliz, ao lado da mulher que amava em segredo e do filho de ambos. Tu.

Jack não acreditava no que ouvia. Barbossa fora apaixonado por sua mãe. Fora pirata do seu pai.

- Ainda não entendi o que isso tem a ver com…

- Lembras-te quando ela morreu?

Jack não respondeu. Esse era um assunto que lhe doía incrivelmente.

- Ela já estava doente quando partimos naquela viagem. Teague não queria que ela viesse, mas Kuanna era teimosa. – Barbossa continuava, enquanto relembrava o passado. – Quando aquela tempestade se abateu sobre o navio, o teu pai tentou salvá-la.

- Eu sei.

- Não, Jack. – Barbossa olhou o mais novo. – Ele não fez por mal.

- Ele largou-a. – Jack disse com desprezo na voz.

- Eras tu ou ela. – Barbossa explicou. – Nenhum homem devia passar por aquilo.

- Ele largou-me para a salvar. – Jack levou uma mão à cabeça. – E mesmo assim, deixou-a morrer. Eu só me lembro de alguém me agarrar antes de cair no abismo das ondas. Depois, quando eu pensei que ele a iria salvar… ele largou-a.

- Jack… - Barbossa levantou-se. – Só o teu pai sabe porque fez isso. Confesso que fiquei com raiva dele também. Mas depois… quando eu te levei são e salvo para o convés…

- Foste tu? – Jack abriu a boca. – Tu é que me seguraste?

- Não sou tão desumano assim, Sparrow. – Barbossa disse. – Seja como for, o teu pai estava de rastos com o que acontecera. Durante dias ele não saiu da cabine. Até que um dia me chamou.

- O que ele queria?

- Ele contou-me a verdadeira razão porque largara Kuanna. – Barbossa viu uma onda de ansiedade passar pelos olhos de Jack. – Eu não te vou dizer. Será algo que só Teague poderá esclarecer. De pai para filho.

- Isso é injusto!

- Eu só sei que eu compreendi, por isso tu também compreenderás.

- Era minha mãe. – Jack disse, cerrando os dentes.

- Eu sei. E a dor foi tão grande que o teu pai quase se matou. Mas ele sabia que não te podia criar.

- E por isso me abandonou.

- Ele não te abandonou. – Barbossa disse. – Eu tinha uma dívida para com ele. Numa viagem que fizemos, ele me salvara da morte. Eu sempre honrei o código e por isso queria pagar aquela dívida. Ele então me pediu… pediu para que cuidasse do bem mais precioso dele. – o mais velho viu que Jack não percebeu. – Durante todos estes anos, Jack eu cuidei do bem mais precioso dele. Só não contei que fosse tão difícil e irritante.

- Quer dizer que… - Jack riu. – Tu prometeste tomar conta de mim?

- Sim. Mas tu sempre foste um deliquente, alguém a quem o perigo não metia medo. E conforme os anos foram passando, tornaste-te igual ao Teague. Ganhei uma raiva descomunal que só me apetecia matar-te e…

- E nunca o fizeste…

- Porque tu tens os olhos da tua mãe. – Barbossa disse. – E a teimosia dela também.

Um silêncio pesado tomara conta dos dois homens. Jack não sabia o que havia de dizer. Barbossa sentia que tudo já tinha sido dito. Finalmente percebia que a dívida que tinha para com Teague estava saldada.

A noite passou e o silêncio continuara. Jack precisava de processar toda a informação. Era demais para si. Por mais que quisesse, por mais que este tivesse um motivo, Jack nunca conseguiria perdoar ao seu pai. Aquela cabeça encolhida que vendera no mercado de Abydos e que dizia ser sua mãe… não era mais que um objecto que o seu pai guardava. Tratava-se da sua avó, mãe de Kuanna. Mas Jack habituara-se a chamá-la de mãe. Fora ela que o acabara de criar.

Por agora só queria adormecer. Vendo o céu estrelado, tudo o que mais desejava era mesmo voltar a casa. Mas só depois de recuperar Mary. Aquele confronto com Circe dera-lhe mais ânimo. Por algum motivo, Circe não devolvia Mary. Por algum motivo, esta não faria nada enquanto não tivesse o Olho. E olhando para o objecto, Jack percebeu que a vantagem estava do seu lado. Iria viajar até Mênfis e descobrir o mistério que rodeava todo aquele enigma. Mas não sem antes saber o que Ranya escondia…

Continua…


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Notas finais do capítulo

Oi leitores queridos! Aqui vai mais um capítulo! Eu aviso desde já, que embora a fic esteja na recta final, eu não sei quando irei publicar o próximo capítulo. Tudo porque eu entrei em Mestrado e não terei muito tempo para escrever. Mas vou tentar terminá-la antes do Natal!
Agradeço a todos que me enviaram reviews: Akne-Chan; Sarah_Volturi; RayanePotter; Halle_Keehl e Lucy_Vitoria!!! =D
Obrigada por acompanharem esta fic, por gostarem desta saga que começou com A Força dos Desejos e sobretudo por comentarem! Eu sei que ela tá chegando ao fim, mas como disse, ainda demorará porque tenho pouco tempo para me dedicar.
Espero que gostem!!!
Saudações Piratas!!! :D
JODIVISE