Olhos Felinos escrita por Jodivise


Capítulo 42
Capítulo 41 Confusões em Sevilha


Notas iniciais do capítulo

O Black Pearl continua a sua viagem, aproximando-se cada vez mais da sua recta final. Mas durante uma simples escala em Sevilha, Lara nunca pensou que uma confusão envolvendo homens da sua tripulação, levasse a outro mistério da vida de Darius...



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Capítulo 41: Confusões em Sevilha

- O que será de nós daqui para a frente? – James Norrington mirou ao longe a silhueta que denunciava o começo do estreito de Gibraltar.

- Sinceramente? Acho que isto só vai complicar a partir de Alexandria. – Will aproximou-se, colocando as mãos na amurada do navio.

- Porquê?

- Quem nos garante que o Jack está no Egipto? Nós viajamos atrás de um palpite, não de um objectivo.

- Nunca o vi tão pessimista, Mr. Turner. – James mirou o outrora seu adversário.

- Não é uma questão de ser pessimista. – Will respirou fundo. – Sei que o Jack é o mestre da sobrevivência. E o próprio Barbossa sabe cair fora dos problemas. Mas eles não estão sozinhos.

- Quer saber a minha opinião sobre dois piratas com uma criança no meio? – James fez uma pausa. – Um desastre completo.

- Então concorda comigo?

- Sim. Mas também sei que Mr. Sparrow mudou muito. – James sorriu. – Sempre é verdade o que os ditados dizem. Um filho muda o Homem.

- Então pode compreender a minha preocupação. – Will baixou os olhos para as ondas que lambiam o casco do Pearl.

- A preocupação com a sua mulher? Sinceramente deveria se preocupar mais com mantê-la longe do perigo. Ela não mede bem as distâncias. – James fez uma pausa. – Mas não é preciso a vinda de um filho para nos preocuparmos com quem amamos.

James afastou-se, descendo as escadas até ao tombadilho. Will seguiu-lhe os passos.

- Depois de tudo, ainda a ama. – A voz de Will soou atrás de si e James parou.

- Sempre, Mr. Turner. E sabe bem disso.

- Então porque não vai atrás dela? – Will colocou-se na frente do ex-comodoro.

- Porque o que está perdido, perdido ficará. – James principiou um passo, mas Will travou-o.

- Confesso que amei bastante a Elizabeth. Sei que isso lhe causou uma ferida que não sarará. Mas o destino provou que não estávamos fadados a ficar juntos. – Will falou calmamente.

- O que quer dizer com isso? – James ergueu o sobrolho.

- Que aconteça o que acontecer, eu ficarei contente. Elizabeth não poderia estar em melhores mãos.

- Reconheço a sua humildade, William Turner. Mas o que conta aqui é o coração da Elizabeth. E esse parece que se fechou para sempre. – James, afastou-se, deixando Will no meio do convés.

- Essa… foi… a… coisa… mais… bonita… a que já assisti! – Alicia aproximou-se de si, falando pausadamente e com lágrimas nos olhos.

- Alicia, estavas aí. Eu nem vi… porque choras? – uma ruga de preocupação fez-se no rosto do capitão do Holandês.

- Ah, eu ando emotiva por tudo e por nada. – Alicia limpou as lágrimas com a mão. – Coisas de mulher grávida. Mas… aquilo que eu ouvi agora, sobre a Elizabeth.

- Alicia eu não sei se percebeste bem…

- Percebi muito bem. – Alicia sorriu e abraçou Will. – E concordo plenamente contigo. O James é ideal para ela.

- Mas ninguém manda no seu coração.

- Mas ele não segue aquilo que queremos. – Alicia, distanciou-se e olhou Will. – Afinal, se ele sobreviveu, por algum motivo foi!

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- Iremos parar antes de atravessar o estreito. – Teague aproximou-se Lara. Esta mantinha-se imóvel, olhando todo o ambiente no tombadilho. – Não adianta ficar com essa cara emburrada. O que foi feito, feito está.

- Não estava aqui quando eles desapareceram. – Lara respondeu secamente. – Não é você que ficou sem uma filha.

- Eu confesso que não fui o melhor pai do mundo. É lógico que nenhum pirata é o melhor pai ou mãe do mundo. – Teague começou, atraindo a atenção da nora. – A eles falta tudo. Um lar equilibrado, brincadeiras inofensivas, sonhos tranquilos.

- Eu e o Jack sempre tentamos dar o melhor para a Mary. – Lara ripostou. – É claro que ela não é como as outras crianças. Ela… nunca terá aquilo que eu tive. – subitamente sentiu um aperto no coração.

- Ela é uma criança diferente das outras. Mesmo não a conhecendo, sei disso. – Teague sorriu. – Afinal, ela é uma Sparrow!

Lara viu Teague se afastar. Notava que algo naquele homem transmitia tristeza, sempre que falava de Jack. E sabia perfeitamente que Jack evitava ao máximo falar naquele homem. Nunca o questionara a sério. Sabia que Jack sofria. Mas cada vez mais, a sua curiosidade se aguçava.

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Horas depois…

- O Will vai experimentar ir a terra hoje! – Alicia exclamou quando entrou dentro do quarto de Lara.

- Tenham cuidado. Apenas vamos reabastecer e principalmente comprar armas novas. – Lara colocou uma pistola mais pequena, presa no cós das calças castanhas. – Sevilha é uma cidade complicada.

- Sevilha é linda. – Alicia fez um ar sonhador.

- Alicia Grant Turner… - Lara caminhou até esta. – Esquece os pavilhões da exposição universal de 1992 que tanto querias ver. Estamos no século XVIII e em terras de sua majestade Filipe V. E a nossa cabeça está a prémio.

- Nossa não. Sei que o Teague não vai sair do navio. E que o Barbossa e o Jack são personas non gratas aqui. Mas nós ainda estamos a salvo.

- Vocês. Eles sabem que eu sou mulher de Jack Sparrow. – Lara disse. – O Pearl vai aportar como navio mercante neutro. E reza para que ninguém repare em nós.

- Será que dá para comprar roupas novas? – Alicia sorriu. – Estou gorda.

- Estás grávida, por Calypso! – Lara exclamou.

- Mas estou gorda. – Alicia respondeu secamente. – Eu não quero que o Will deixe de gostar de mim!

- Tens quantos anos? Quinze? – Lara rolou os olhos, para ficar pensativa depois.

- Porquê esse ar tão distante? – Alicia deixou-se cair na cama.

- É o meu ar, não tenho outro. – Lara respondeu, examinando o gume da sua espada. Depois, como tomada por uma dúvida gigantesca, olhou Alicia. – Achas que ele teve outra?

- Ele? O Jack? – Alicia arregalou os olhos. – Acho que teve várias. Antes de ti, claro!

- Não. O Darius.

- O quê… SAI DESSE CORPO QUE NÃO TE PERTENCE, MAYARA! – Alicia exclamou.

- Não é nada disso. Eu apenas perguntei a tua opinião.

- Sobre a tal ruiva misteriosa? Definitivamente a Mayara vive dentro de ti. Quem me dera que fosse o mesmo com a Serena. Ter aqueles poderes todos. – Alicia olhou o tecto. – Mas eles só aparecem quando lhe dá na telha.

- Eu acho que ele esconde algo. – Lara disse, andando de um lado para o outro.

- Ele esconde mil e uma coisas. Mas eu sei quem é a ruiva. – Alicia disse, fazendo Lara estancar. – A Circe, claro!

- O quê? Que disparate, Alicia.

- Porque não? Ele amava a Mayara. Ele ainda a ama. Sei que custa acreditar que ele a traísse, mas…

- Não digo o contrário. Mas o amor é diferente de atracção. Eu nunca o recriminaria por isso, mas… a Circe?

- É…. Não lhe gabo o gosto. – Alicia fez um ar enojado.

- Ele resistiu àquela cabra. Tenho a certeza. – Lara perguntava a si própria se Jack conseguiria também. – O que quer que o Darius esconda, teve lugar nos dez anos que ele passou longe de Circe.

- Desculpem interromper… - Elizabeth bateu na porta, mas entrou antes que as duas mulheres falassem. – Estamos a entrar no porto.

- Também vens connosco? – Alicia perguntou.

- Não. Sou perseguida pelas autoridades. Ficarei ao largo no navio. – Elizabeth explicou.

- Então não te importas que levemos o James. – Alicia sorriu.

- Porque me importaria? – a loira franziu uma sobrancelha.

- Não lhe ligues. – Lara censurou a amiga e saiu para o exterior. Subiu as escadas até ao timão e convocou toda a tripulação. Ao longe, podia-se ver a cidade que se erguia, com a sua catedral imponente, sobre as margens do rio Guadalquivir.

- Vamos seus cães sarnentos, a capitã tem algo a dizer! – Gibbs gritou, fazendo a tripulação encolher-se no tombadilho.

- Como sabem, eu e o Capitão Teague, juntamente com o mestre Gibbs e o imediato Norrington, decidimos fazer uma curta escala em Sevilha. – Lara começou. – A razão? Além de mantimentos que precisaremos para atravessar o Mar Mediterrâneo, na fase final da nossa viagem, serão sempre bem-vindas novas armas. - Um urro de satisfação percorreu a tripulação.

- E rum? Não aguentaremos uma viagem inteira com as reservas mínimas! – Marti exclamou, empoleirado na amurada.

- Rum irão ter, Marti. – Lara sorriu com os sorrisos gigantescos que se formaram. – Este é tão importante como a água. Mesmo que vos suguem toda a energia.

- Seja mais branda. – Teague aconselhou.

- Só falei a verdade. – Lara ripostou. – Como sabem, quase todos nós temos a cabeça a prémio. E mesmo os que não são procurados por pirataria, serão enforcados juntamente se apanhados forem.

- Por isso mesmo, metade da tripulação ficará no navio. – Gibbs falou. – Manteremos a distância de Sevilha, até que estejam prontos a embarcar.

- Quem ficar, obedecerá ao Capitão Teague. Gibbs e Norrington virão comigo. – Lara explicou. – E por Calypso, vejam se não me arranjam mais confusões!

- AYE CAPITÃ! – a tripulação berrou em uníssono. Lara estava a gostar de ser capitã. Dava um gozo tremendo comandar os destinos daquele navio. Nunca tivera tempo para pensar nisso, já que Jack e Barbossa sempre controlaram essas tarefas. Mas sabia que nunca teria conseguido sem a ajuda do fiel escudeiro Gibbs e do ex-oficial Norrington.

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- Muito bem. – James tomou a palavra quando desembarcaram. O ambiente confuso de uma cidade tão movimentada, não lhes permitia serem reconhecidos. Gibbs entretinha-se a corromper um dos funcionários da alfândega, enquanto os restantes miravam a cidade. – Melhor nos separar-mos em grupos.

- Exacto. – Lara respirou fundo. – Pintel, Raguetti, vocês irão com o Gibbs buscar reservas de água e rum.

- Aye capitã. – Pintel levou a mão à testa em sinal de contingência.

- James, tu irás com a Alicia e o Will buscar novas espadas. Não há melhor pessoa para esse serviço do que tu. – Lara sorriu para Will.

- Não duvides. – Alicia riu enfiando o braço no marido.

- Grace, tu irás com o Cotton, o John e o Black Eye, buscar mantimentos. – Lara referiu-se a dois piratas que os acompanhavam.

- Mexam essas pernas. – Grace ordenou. – Não tenho o dia todo para vos aturar.

- Aye Mrs. Barbossa. – o papagaio fiel de Cotton respondeu, embaraçando o dono.

- Um dia eu como essa ave. – Grace semicerrou os olhos.

- Darius tu vens comigo. Precisamos de novas pistolas também. – Lara disse.

- Como queira, capitã. – Darius sorriu.

- Baba-te. – Alicia sussurrou mal-humorada quando viu o grego seguir com Lara.

- Alicia… - Will avisou.

- Mas é verdade, Will. Só lhe falta saltarem os olhos quando vê a Lara. – Alicia cruzou os braços. – Só estou zelando pelo que pertence ao Jack. Ela faria o mesmo se a princesa Serena tivesse um pretendente.

- Oh sério? – Will fez-se de desentendido. – Como se isso me afectasse.

- Pois eu aposto que seria um príncipe todo lindo. Sabes… tipo Caspian! – Alicia provocou.

- Quem é esse? – Will franziu o sobrolho.

- Oh tu não conheces. Sabes no meu tempo, havia umas histórias, chamadas Crónicas de Nárnia. Eram lindíssimas. Meu pai lia quando eu era mais pequena. Nunca as esqueci. – Alicia sentiu-se subitamente triste. – Enfim, quando o nosso filho for mais crescido eu vou contá-las!

- Porque não as contas para mim?

- Curioso para saber quem é o Caspian, não é? – Alicia riu. – Pois bem… era uma vez um rapaz chamado Digory Kirke…

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- Hoje sonhei que algo de ruim acontecera com a Mary Rose. – Lara falou, enquanto analisava um mosquete.

- Foi só um sonho. – Darius falou distraidamente, perguntando em espanhol o preço de uma das armas.

- Vai ter de me ensinar a falar tão bem assim. – Lara arregalou os olhos. – Mas eu já não me supreendo com você.

- Lara… eu tenho 3259 anos. Falava atlante, grego e latim quando fui capturado pela Circe. Mas depois de sair deste mundo, tive de aprender as línguas modernas. – Darius sorriu.

- Pois, mas você já tem queda para isso. – Lara rolou os olhos. – Eu limito-me à minha língua materna, um pouco de francês e um arranhar de espanhol.

- Mas estava a falar do seu sonho…

- Não foi nada. Quer dizer. Eu quero acreditar que não foi nada. – Lara engoliu em seco. – Se alguma coisa acontece com a minha filha, eu…

- Será pior se pensar assim. Ele está bem, eu tenho a certeza. – Darius sorriu e Lara acalmou-se ao vislumbrar o olhar risonho deste.

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Raguetti olhava interessado os vários olhos de madeira que um vendedor de rua apresentava. A sua atenção prendeu-se num exemplar, branco com a íris vermelha.

- Fica bem? – este colocou-o na órbita vazia, apresentando-se a Pintel.

- Olho vermelho? Sério? – Pintel arrepiou-se.

- Eu gosto. – o mais alto murchou, antes do vendedor começar a reclamar num espanhol arrastado. – Não devíamos ter ido com o Gibbs à taberna?

- Ele que negoceie o contrabando. – Pintel reclamou. – Eu cá quero ir atrás de algo que ando atrás há muito tempo.

- Um leque? – Raguetti pegou num e fez "olhinhos" , levando um safanão do careca.

- Palerma. – Pintel chegou-se a este e sussurrou. – O mapa para o El Dorado!

- Sério? – Raguetti perguntou.

- Tenho um conhecido meu, que por algumas moedas de ouro prometeu dar-me o mapa. – Pintel sorriu, mostrando os dentes deveras mal tratados. – Imagina. Uma cidade feita de ouro. Tudo brilhando como mil sóis. Tanto que podemos tomar banho nele!

- Banho de ouro. – o alto sorriu. – Mas a Bíblia diz que não devemos nos vislumbrar com…

- Tu e a Bíblia! – Pintel acertou outra chapada na nuca do outro. – Ali, o tal "conhecido"!

Raguetti ficou vendo Pintel negociar com o homem. Pelo aspecto sujo e maltrapilha, só podia tratar-se de outro pirata.

- Isto, meu amigo… é a entrada para o paraíso! – Pintel chegou-se à beira de Raguetti, mostrando o pergaminho enrolado.

- Trocaste todo o ouro que tinhas por isso?

- E depois? Somos piratas… sempre ganhamos mais com outros saques. – Pintel abriu o papel lentamente, para perceber que este continha apenas um X escrito a tinta negra.

- Isso é o mapa para o El Dorado? – Raguetti virou o papel ao contrário. – Deve ficar numa ilha em forma de X.

- Charlatão! – Pintel exclamou, sentindo-se tremendamente estúpido. – Atrás dele!

O homem que caminhava lentamente contando as moedas, percebeu que os dois piratas o perseguiam. Rapidamente começou a correr, indo de encontro às outras pessoas. Nas ruas estreitas de Sevilha, os três tropeçavam nos transeuntes e derrubavam as tendas de alguns comerciantes.

Virando à sua direita, o charlatão depressa percebeu que tinha dado um passo em falso. Num beco sem saída, viu os dois piratas sacarem das espadas, ameaçando-o.

- Com quem então o mapa do El Dorado? – Pintel perguntou com raiva.

- Eu… eu tenho outro se quiseres! É claro que vai custar mais caro, mas eu trago-o e…

- Não vais a lado nenhum. Primeiro o nosso dinheiro, seu banana! – Raguetti passou a espada rente à orelha deste, fazendo o homem se encolher.

- Raguetti, não eras tu que querias um olho? – Pintel riu. – Se quiseres até te dou dois… fresquinhos!

Os piratas riram, equacionando continuar com aquele jogo, mas uma voz mais esganiçada fez com que largassem o homem.

- Usted! Alto! – dois soldados espanhóis interromperam a cena, sacando das espadas.

Pintel e Raguetti ripostaram imediatamente, derrubando os dois soldados com golpes certeiros. Para trás ficava o charlatão que respirava de alívio. No entanto, a cena atraíra a atenção de mais pessoas e logo mais soldados vieram. Pintel e Raguetti desciam as ruas em direcção à taberna que Gibbs estaria, mas quando entraram não o viram.

- Ele já foi. – o taberneiro disse, limpando o balcão em madeira. – Teve de chamar outros dois homens porque segundo ele, o seu navio tinha "os dois contra-mestres mais imprestáveis de sempre."

- Filho da mãe do Gibbs! – Raguetti exclamou.

- Temos de sair daqui. – Pintel percebeu a gritaria do lado de fora.

Saindo pelas traseiras, correram em direcção ao porto, mas quando estavam quase lá, quatro soldados rodearam-nos. Ambos apontaram armas, procurando uma saída, até que Raguetti teve a ideia mais absurda que podia. Ao lado, encontrava-se um comerciante de fruta. Uma lady qualquer comprava algo e uma criança estava ao lado, sentada alegremente no balcão.

Num movimento rápido, Raguetti pegou na criança e ameaçou-a, para surpresa dos guardas que recuaram.

- MEU FILHO! – A mulher gritou, num inglês cerrado.

Com a distracção, os dois conseguiram fugir por entre a multidão. Pintel acertou num barril, libertando o seu conteúdo. Logo, um dos soldados escorregou, fazendo outro tropeçar ir contra a banca da fruta. Na confusão da autêntica salada de frutas que se fizera, os piratas ganharam vantagem, sempre com a mulher aflita correndo atrás.

- Mas tu és doido? – Pintel berrou a meio do caminho. – Trouxeste uma miniatura contigo!

- Era a nossa única hipótese! – Raguetti ripostou. – Além do mais eu não vou fazer mal ao miúdo.

- Então devolve-o!

- Mas se parar eles apanham-nos!

- Vocês os dois, por onde andavam que… - Gibbs apanhou-os no meio, mas estes não pararam.

- FOGE!

- O que… JESUS, MARIA E JOSÉ! – Gibbs arregalou os olhos quando viu os soldados correndo na sua direcção. – PARA O PEARL!

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- Estava a ver que não vinham! – Lara exclamou, vendo Alicia, Will e James subirem a bordo. – Grace e os restantes já cá estão.

- Só falta o Gibbs e os contra-mestres. – Darius passou a mão pelo cabelo. – Ele não é de demorar.

- Ele foi atrás deles. Perdeu-os pelo caminho. – Lara bufou. Finalmente a sua impaciência com a demora acabou, ao ver Gibbs, Pintel e Raguetti correr em direcção ao navio. Mas havia algo errado. – O que se passa? – perguntou quando estes se aproximaram.

- A guarda vem aí! – Pintel gritou e Lara desviou os olhos para a criança nos braços de Raguetti.

- Mas o que é que… - a sua fala morreu quando uma mulher se atirou ao pirata.

- DEVOLVE O MEU FILHO, SEU PILANTRA! – a mulher histérica gritou. – SOCORRO!

Lara distinguiu a silhueta dos soldados ao longe. – RECOLHER ÂNCORA! SOLTAI AS VELAS. TEMOS DE SAIR DAQUI!

No meio da confusão que se instalou, a mulher subiu a bordo, tentando alcançar o filho. Quando finalmente o conseguiu, já a distância entre o cais e o navio era muita.

- LARGUE-ME! EU QUERO SAIR DESTE NAVIO! – a mulher berrou quando James a agarrou, impedindo que esta cometesse uma loucura.

- E vai saltar para a água com uma criança? – o ex-comodoro repreendeu-a.

Sob uma chuva de balas de mosquete, o Black Pearl afastou-se, não sem antes ripostar com um disparo de canhão. Quando estavam suficientemente longe da costa, Lara pode fazer a avaliação.

- Alguém ficou para trás? – um burburinho negativo foi a resposta. Depois dirigiu-se aos dois contramestres, dando um safanão em cada um. – Eu devia atirar-vos da prancha, seu bando de idiotas!

- Nós… - Pintel tentou responder, mas encolheu-se com o olhar mortífero de Lara.

- Por vossa causa temos as autoridades espanholas no nosso encalço!

- O vento está a nosso favor, e entre aparelhar navios e partir, já estaremos bem longe deles ao anoitecer. – Teague respondeu.

- Eu exijo que me levem a terra! – a voz feminina fez as cabeças se voltarem. No centro do tombadilho, Lara percebeu a figura feminina a mais no meio deles. Uma mulher que deveria ter a sua idade, de estatura média e cabelos ruivos encarnados num descalabro completo, olhava para si. Ao seu colo, um menino com pouco mais de ano e meio, mirava a tripulação assustado.

- Como entrou aqui? – foi a pergunta de Lara.

- Um destes bandalhos roubou o meu filho! – a ruiva acertou um safanão em Raguetti.

- Nós não fizemos nada! A criança foi só um meio de nos vermos livres dos guardas. Nunca lhe faríamos mal.

- Bando de doidos! – a mulher exclamou, quando o pequeno começou a chorar. – Exijo que me deixem desembarcar.

- Nós não podemos voltar para trás, senhora. – Teague falou.

- E porque não? – a mulher apercebeu-se lentamente do que a rodeava. – Sois piratas!

- Sim. Mas não se preocupe. Logo que seja seguro, deixámo-la em terra, senhora… – Teague falou.

- McLean. Lady McLean da Escócia. – a sua voz decaiu uma oitava.

- Ui! – Alicia, que assistira à cena completamente atónita, exclamou e virou costas. – Escocesa!

- Tem alguma coisa contra escoceses, senhorita? – Lady McLean perguntou.

- Primeiro… - Alicia voltou-se e caminhou até à desconhecida. – É senhora! Sou casada com o melhor capitão dos setes mares. – apontou para Will que levou a mão à cara. – Em segundo, eu não tenho nada contra escoceses, embora os ache convencidos e arrogantes!

- Eu sou escocês. – Will falou sarcasticamente, fazendo a mulher arregalar os olhos.

- Sério? – Alicia abriu a boca.

- Como ousa falar assim da minha terra? Do meu povo? – a dama engoliu em seco, como se tivesse defendendo uma mentira.

- Lamento. – Alicia virou costas, mas deteve-se na criança. – Ninguém lhe fará mal. Mas terá de ficar connosco até voltarmos a fundear.

- Sou vossa refém, então? – Lady McLean vacilou.

- Hóspede. – James Norrington disse. – Nós não fazemos mães de família reféns.

- Piratas bem intencionados? Não acredito.

- Acredite no que quiser. Eu é que tenho mais que fazer do que me preocupar consigo. – Lara disse. – Alicia, leva-a para um dos quartos do porão.

- Fique com o meu, Lady McLean. – Norrington disse, provocando certo desconforto em Elizabeth.

- Não há nada que não nos aconteça. – Lara puxou os cabelos. – E por anda o Darius?

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- Estou vendo que simpatizou bastante com aquela escocesa! – Elizabeth exclamou, chegando-se a James.

- Eu posso ter ingressado num navio pirata, mas continuo a pensar como um cavalheiro. – James respondeu. – E confesso que fiquei com pena da jovem. Sozinha, com um filho nos braços…

- E quem garante que ela não terá o marido em Sevilha? – Elizabeth arregalou os olhos. – Se não fosse pela criança, eu tinha-a mandado borda fora. A escolta espanhola que a recolhesse.

- Por acaso denoto algum incómodo, Elizabeth? – James encostou-se ao parapeito, cruzando os braços e olhando divertido para a loira.

- Incómodo? – Elizabeth fez-se de desentendida. – Apenas acho que há mulher a mais neste navio!

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- Tem aqui cobertores e uma jarra com água. Quer algo para comer? – Grace sorriu para Lady McLean. – Talvez alguma coisa para o menino. E por falar nisso eu nunca vi criança mais linda! Lembra-me tanto a minha Mary quando tinha a mesma idade.

- Mary? – Lady McLean questionou. – Você… é a mãe daquela que chamam capitã? – para a lady escocesa, fazia-lhe espécie tanta mulher num navio pirata. Sempre lhe contaram histórias daqueles assassinos de alto mar. E no entanto, algo naquele navio era diferente.

- Ah não. Eu não sou mãe da Lara. Criei ela sim, mas ela tem mãe. – Grace suspirou lembrando-se de Mrs. Stevens. – A Mary é filha da Lara. É como uma neta para mim. Ela ia gostar de ter a companhia de outra criança.

- E… onde está essa criança?

- Desapareceu. É atrás dela que vamos. – Grace susteve uma lágrima. – Mas é uma longa história e a senhora quer sair daqui o mais depressa possível.

- É. Eu… tenho uma viagem muito importante a fazer. – Lady McLean pousou o filho na cama, quando Grace saiu.

- Como ele se chama? – a mulher assustou-se com a presença de Alicia na porta.

- I… Ian.

- Muito bonito o seu filho. – Alicia sorriu. – Olhe, eu sei que não fomos com a cara uma da outra, mas não quero que pense que somos um bando de bandidos sanguinários e a vamos deixar numa ilha deserta. Logo que pudermos a deixaremos em terra.

- Poderia agradecer, mas vocês não fazem mais do que a vossa obrigação. Eu fui obrigada a embarcar neste pardieiro! – a lady exclamou.

- Bem… quanto ao comodismo… eu não posso fazer nada. Aguente. – Alicia respondeu sarcasticamente. – Já agora… o meu nome é Alicia. Alicia Turner.

A escocesa ficou olhando a outra mulher como se não soubesse o que haveria de responder. – Olga… McLean.

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Alicia fechou a porta atrás de si e mordeu a mão. – Irra, mas que mulher mais insolente!

- Algum problema? – Lara desceu as escadas até ao corredor onde Alicia se encontrava.

- Nada. Apenas não fui com a cara daquela mulher. Nariz empinado demais.

- Olha quem fala. – Lara riu, antes de descer até ao último patamar do navio. – Darius? – chamou, mas não obteve resposta. Andou mais uns passos até encontrar o atlante, sentado num caixote, com os cotovelos apoiados nos joelhos e ambas as mãos na testa, fixava o chão embalado pelas ondas. – Darius, eu procurei-te por todo o lado. O que aconteceu?

Este não respondeu, continuando na mesma posição. Lara agachou-se até ficar frente a frente e arriscou colocar uma mão no seu ombro. E Darius levantou o rosto. E mesmo na pouca luz do aposento abafado, Lara percebeu que este tinha os olhos vermelhos.

- Você… - Lara abriu a boca. – Darius, você está chorando?

Ele lhe parecia tão forte. Mesmo depois de tudo o que passara, Darius nunca quebrara. Nem quando contou sobre a sua vida passada. Nem quando percebeu que Mayara poderia ter sido morta por Circe…

- É… impressão sua, capitã. – Darius esfregou a cara.

- Pare de me chamar de capitã. – Lara resmungou. – E não é impressão minha. Você sumiu quando embarcamos. E depois, este lugar… isolado.

- Foi só uma bobagem. – Darius levantou-se e apoiou as mãos na parede.

- Não faz mal desabafar, Darius. – Lara aproximou-se, mas guardou a tentação momentânea de tocar neste para si. – Você passou por algo que poucos ou nenhum ser humano conseguiria. E você foi digno e forte em todos os momentos. Não há porque se envergonhar se…

- Você tem de tirá-la deste navio, Lara! – Darius se virou de repente, encarando a morena. – Por tudo o que é mais sagrado, tire aquela mulher deste navio.

- Qual… porquê? – Lara piscou os olhos sem perceber o ar desesperado de Darius. – Ora, aquela tal de Lady McLean foi um acidente de percurso. Já falei com o Teague. Mal se chegue à Sicília, ela desembarcará…

- É muito tempo. – Darius riu desesperado. – Ela não pode ficar aqui! – Deus, como aquele sobrenome doía em Darius. – Ela nunca deveria sequer entrar aqui, ou estar em Sevilha…

- Darius… - Lara caminhou lentamente até este. – Conheces aquela mulher? – não houve resposta. – Darius? Eu fiz uma pergunta.

Darius virou-se para Lara, os olhos claros completamente encharcados a fixando dolorosamente.

- Espera aí? – Lara lembrou-se de um único pormenor e a ficha caiu. Lady McLean era ruiva. O mesmo ruivo que vira em Fernando de Noronha… - Ela… Darius? Aquela mulher? Teve algo com aquela mulher? – Lara sentiu um fogo subir na sua garganta. Involutariamente, uma dor inexplicável assolou o seu ser. Sabia que não era ela. Não era a sua alma que tinha sido ferida, mas outra. Outra que vivia em si. – Quem é ela, Darius?

- Ela é a razão porque eu ainda continuo vivo. – Darius disse quase num sussurro.

Continua…


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Notas finais do capítulo

Oi meus leitores lindos! Aqui vai novo capítulo. Eu sei, fui rápida a escrever, mas é com a fic entrando na sua recta final, eu morro se guardar para mim as ideias.

Quanto ao conteúdo deste, pois bem... perceberam que uma nova OC entrou. OC essa inspirada na minha amiga e grande ficwriter Olga. Eu escrevi uma short fic, contando este episódio da vida do Darius. Ele tá disponível no Need for Fic e chama-se "A love never forgotten". Para quem depois quiser ler essa fic para compreender melhor é só me falar!=)

Obrigada a todos que me mandaram reviews! *.*

Espero que gostem!!!
Saudações Piratas!!! :D
JODIVISE



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