Olhos Felinos escrita por Jodivise


Capítulo 41
Capítulo 40 Tragédia Grega


Notas iniciais do capítulo

Jack e Companhia continuam a sua travessia pelo deserto, desta vez atravessando o Rio Nilo em direcção a Mênfis. Mas será qu uma viagem tranquila vai ser o que espera os nossos piratas?



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Capítulo 40: Tragédia Grega

- Então? – Jack Sparrow empoleirava-se no ombro do agachado Barbossa, enquanto o mais velho perscrutava algo à sua frente com o binóculo.

- Completamente… vazio. – Barbossa disse, encolhendo o instrumento náutico. – Vazio de navegadores… vazio de barcos.

- Isso é bom! – Jack exclamou.

- Se estiveres a pensar atravessá-lo a nado. – Barbossa rolou os olhos, colocando-se em pé.

- De certeza que haverá alguma barca por aí perdida. – Jack afastou os longos juncos que lhe faziam cócegas.

- O caminho é longo até Mênfis. – Ranya avisou. – Estamos perto de Edfu. Caminho muito longo nos espera. O rio é a melhor opção.

- Precisamos de um barco, senhorita. – Barbossa disse. Voltar a navegar era tudo o que queria.

- Eu tratarei disso. – Ranya embrenhou-se por um caminho. – Esperem aqui por mim.

- Isto nunca mais terá fim. – Jack lamentou-se. A busca pelo tesouro já não o cativava como antes. Tudo o que queria era chegar em casa. Ao Black Pearl. Para os braços de Lara.

- Pai, achas que a mamã anda atrás de nós? – Mary perguntou, fazendo carinhos em Ba.

- É claro que anda! – Jack exclamou. – A tua mãe, a doida da tua madrinha. O amor da vida do zombie… - Jack sorriu ao ver a cara brava de Barbossa. – O polvo Will e todos aqueles piratas sem eira nem beira.

- O Dai também?

- O quem? – Jack franziu o sobrolho.

- O Darius. Ele era meu amigo. – Mary disse no seu ar inocente, talvez não se apercebendo do porquê de Jack arregalar os olhos.

- Esse tubarão. Esse canalha! Ele não presta jovem Mary. – Jack disse. – Lembra da história que eu contei sobre o nanico da Companhia das Índias? Pois bem, Darius é bem pior que o Beckett. Mil vezes pior.

- Talvez porque o Beckett não tinha tanta artimanha para te roubar a mulher, Jack. – Barbossa gargalhou, irando Jack.

- O Dai não é mau. Ele defendeu-me quando aquela mulher de fogo me enganou. – Mary protestou.

- O que aquele imprestável tem que conquista todas as mulheres? Até as de palmo e meio? – Jack cerrou os punhos.

- Pronto! – Ranya apareceu sorrindo. – Consegui ajuda. – Esta indicou o caminho até à margem. Lá, descansando nas águas azuis do rio um pequeno barco em madeira ostentando um só mastro de vela triangular, esperava-os. – Este é Umar. Ele concordou em nos levar na sua feluca* até Abydos.

- Tcharráfna ktir.* – o homem de tez morena vestido com apenas uma túnica beje cumprimentou-os na língua estranha aos piratas.

- Esse barco é seguro? – Mary perguntou a medo. Estava habituada a andar num muito maior ou não tivesse sido o Black Pearl o seu berço.

- Love, já atravessei mares e tempestades em coisas mais pequenas. – Jack sorriu.

- Como é que ela conseguiu um barco num piscar de olhos? – Barbossa coçou a barba. – Eu vi. Não havia nenhum navio nem sequer pessoas por perto.

- Hector… até parece que não conheces as mulheres. Quando menos se espera elas têm sempre uma carta na manga. – Jack disse. – Nossa… estranhamente senti-me como… uma mulher. - O moreno ficou estático enquanto o mais velho abanava a cabeça.

- Umar diz que é melhor se camuflarem debaixo desses tecidos. Podemos encontrar outros pescadores. – Ranya pediu, sentando-se no chão da feluca.

A paisagem tricolor deixava Mary Rose completamente fascinada. Parecia um quadro. Um daqueles quadros que alguns homens vendiam nos portos que já visitara. O azul escuro do Nilo contrastava com o verde dos juncos de papiro que cresciam à beira rio. Acima destes, o amarelo dourado das areias do deserto mostravam um caminho sem fim.

Com o crepúsculo, o ambiente tornou-se mais fantástico, levando qualquer viajante a um mundo de beleza e mistério ao mesmo tempo. Enquanto Umar acendia as candeias, preparando a viagem nocturna, os piratas puderam descansar, saboreando uma ementa modesta mas reconfortante.

- Shuff.* – Ranya apontou para algo acima das dunas de areia. – O templo de Hórus.* A cidade está mais afastada por causa das inundações.

- Inundações? – Jack sorriu. – Mas este rio é um lago!

- Nem todos os perigos são visíveis, senhor Sparrow.

- Eu pressinto o perigo. – Jack desafiou debruçando-se e tocando nas águas escuras. Naquilo que lhe pareceu uma eternidade, viu uma boca enorme, recheada de dentes romper as águas do rio.

- Cuidado! – Ranya exclamou ao mesmo tempo que Mary gritava. Os reflexos do velho capitão Barbossa valeram em tão boa altura, impedindo que o imponente réptil arrancasse o braço a Jack.

- O que era aquilo? – Jack perguntou, mais branco que a neve.

- Fartaste de ver tantos no pântano da Tia Dalma. – Barbossa soprou o fumo que saíra do cano da pistola.

- Mas os crocodilos do pântano são anões em comparação com esse! Isso era um… um…

- Sobek. – Ranya suspirou.

- O quê? – Jack encarou-a, ainda estatelado no chão da feluca.

- Um deus que muitas vezes se transformava em crocodilo. – a egípcia explicou.

- Credo, vocês têm deuses para tudo. – Jack deitou a língua de fora. – Ai! Para quê esse beliscão no meu querido braço, Mary?

- A mamã diz que é perigoso debruçar na amurada. E quase ficaste sem cabeça. – a caçula Sparrow disse, em pose altiva.

- Aff, tal mãe, tal filha. – Jack suspirou.

- Mas você adora as duas. – Ranya disse e Jack não deixou de se sentir momentaneamente atraído pela beleza desta.

- É… mas a Mary é muito mais parecida comigo. Em termos psicológicos, claro. – Jack sorriu.

- Quando fala da sua mulher sempre vejo uma sombra de tristeza pousar em seus olhos. – Ranya constatou.

- Own. – Jack ficou sério. – Impressão sua. Talvez o facto de eu desconhecer o que neste momento ela anda a fazer. Aonde pára… - Jack calou-se ao mesmo tempo que via os últimos restos de luz solar desaparecer, mergulhando a pequena embarcação no breu.

- Quem ama confia, senhor Sparrow. – Ranya sorriu e recolheu-se a um canto, preparando-se para dormir.

Jack ficou pensando nas palavras de Ranya. Claro que confiava em Lara. Sabia que era Darius o culpado e não a mulher que o fez viajar até ao futuro. Mas depois do que acontecera nas catacumbas de Circe, Jack já não tinha certeza de nada. Queria tanto acreditar que Lara encarnara Mayara e fora esta a trocar tal gesto com Darius. Mas o corpo era de Lara e esta lembrava-se do que tinha acontecido.

Pensar em tal cenário só o fazia sentir náuseas e sobretudo uma vontade imensa em matar aquele desgraçado. E agora, navegando por aquele rio acima, Jack não fazia a mínima ideia do que acontecera com a sua mulher. Não sabia se esta era viva ou morta, se viajara atrás dele, ou se… Não. Lara nunca se entregaria a outro. Ela era-lhe fiel.

"Fiel a um pirata que nada tem de seu." Jack pensou na triste realidade. Nada era seu. Não tinha casa, não tinha riquezas. O seu navio já havia sido roubado, a sua tripulação já havia se amotinado. Nem a sua cabeça lhe pertencia com tanto reino a reclamá-la. Triste realidade a de Jack Sparrow. Nem mesmo Lara era sua. Ela tinha a sua vida. Noutro tempo, noutro mundo. E Jack tirara-lhe isso.

Não soube dizer quando adormecera e sentira alguém lhe acariciar a face. O sussurro no seu ouvido fazia-lhe lembrar tanto a sua Lara. Logo deixou-se levar pelas mãos que lhe percorriam o corpo, não oferecendo resistência a quem lhe tomava os lábios. O perfume feminino que lhe invadira não era de todo seu conhecido, mas por alguma razão, Jack não conseguia se libertar de quem estava por cima de si.

Quando por fim abriu os olhos, outro par de olhos amendoados lhe sorriam maliciosamente. Mesmo no escuro, pode ver perfeitamente que a bela mulher por cima de si estava longe de ser Lara. Ao levantar-se num ápice, encarou a ruiva que o olhava.

- Você. – Jack disse, procurando alguma arma que lhe fizesse frente.

- Não vai querer matar-me, Jack Sparrow. – Circe sorriu-lhe, rastejando até si e tomando-lhe o rosto em mãos.

- Você é pior que o diabo. E olhe que eu já o vi pessoalmente. – Jack arregalou os olhos, tentando-se afastar.

- Não vamos falar do passado, querido. O que passou não merece ser revivido. – Circe disse, beijando-o mais uma vez. Jack bem tentou lutar, mas sentia-se tonto. Como envolvido numa teia que lhe atava os braços. – Imagina as riquezas que ao meu lado irás ter.

- Riquezas? – Jack quebrou o contacto físico e encarou a deusa. – E que riquezas seriam essas?

- Todas as que quisesses. Ouro, diamantes, banquetes infinitos. Belas virgens sempre que as pedisses. E claro, eu. Não sou suficiente tentadora para um reles pirata?

- Tentadora? Nem imagina o quanto. – Jack sorriu. – Só que há um problema. Eu não sou um reles pirata!

Num movimento rápido, Jack disparou a pistola na direcção da deusa, mas esta num grito, desvaneceu-se no ar, transformando-se num gato laranja.

- ATRÁS DELE! – Jack colocou-se de pé, disparando sobre o gato que corria às cegas.

- BÊBADOS E INSOLENTES, SOLTEM A… - Barbossa acordou berrando também, mas calou-se quando viu Jack aos tiros. – O que é que tu estás a fazer? É UM GATO!

- Gato nada. É aquela asquerosa da Circe! – Jack exclamou, mas Barbossa segurou-lhe o braço. O gato saltara para uma das amarras e olhava-os num misto de medo e irritação.

- Mas esse não era o gato da Mary?

- O tanas. Aquela cobra anda a seguir-nos desde que aqui fomos parar. – Jack apontou a pistola ao felino. Este bufou mas não pelo gesto de Jack. Embaixo, Ba caminhava na sua direcção, o pelo eriçado mostrando que também ela não gostava da presença de outro gato. Antes que o felino negro salta-se para o outro, o gato que outrora era Circe saltou para a água, desaparecendo na escuridão.

- Gato estúpido. – Jack disse enquanto observava qualquer sinal deste nas águas.

- O que se passou? – Mary estava encolhida num canto e Ranya abraçou-a.

- Não foi nada, habib.* – Ranya disse, não tirando os olhos de Jack.

- Fizeste um furo no casco, seu emplastro. – Barbossa apontou.

- Os gatos são escorregadios. – Jack queixou-se.

O barqueiro queixou-se e levou as mãos à cabeça. – Ele diz que assim não chegaremos a Abydos.

- Tudo se resolve. – Jack sorriu e tratou de arranjar maneira de emendar o estrago.

- Aquele era o Bolina. – Mary choramingou. – Porque o papá atirou nele?

- Ele não é um bom gato. – Ranya disse, sorrindo. – Os gatos não fogem de quem gostam e ele fugiu de ti, lembras-te?

- Sim. – Mary estacou uma lágrima com as costas da mão. – Ele morreu afogado?

- Não.

- Mas os gatos têm medo de água.

- Mas têm instinto de sobrevivência, habib. – Ranya abraçou-a mais. Quando os homens terminaram de emendar o casco, Ranya aproximou-se de Jack.

- O que era aquilo?

- Aquilo o quê?

- Eu vi quando uma mulher se transformou naquele gato.

- Circe. A pilantra que nos colocou nesta situação. – Jack explicou. – Espero que tenha sido devorada por um crocodilo.

- Não. Ela vai voltar. E está furiosa. – Ranya pareceu distante.

- Como sabe?

- Não sei. Apenas pressinto. – Ranya sorriu fracamente. – Senhor Sparrow?

- Chame-me Jack, darling.

- Você tem algo seu. – a egípcia disse, deixando o pirata confuso. – Ela é o seu maior tesouro.

Jack viu o dedo de Ranya apontar para Mary. E a ficha caiu. Mary era a única coisa que Jack tinha como certa na sua vida. Ela fora a única coisa boa que ele realmente fizera e mais do que isso, ele teria de protegê-la a todo o custo.

Um dia depois...

O calor tórrido do meio dia, deixara os piratas completamente moles no chão do barco. Nem mesmo a presença de água à sua volta parecia aliviar a dor de ver a pele esturricar ao sol.

- Pronto. Assim estarás melhor. – Ranya sorriu abertamente quando acabara de fazer uma espécie de abrigo para Mary.

- Eu gostava de me esconder nos cantos do porão do navio do pai. – Mary disse, quando se enfiou no abrigo. Um tecto feito de papiro seco não permitia que os raios solares penetrassem. – Eu tenho saudades do Pin e do Rag. – choramingou.

- Dos quem? – Ranya abanou a cabeça confusa.

- Dois piratas da minha tripulação. – Jack explicou. – Não sei o que podem ter de engraçados um zarolho e um careca.

- Eles são engraçados. – Mary resmungou deitando a língua de fora.

Jack fez o mesmo e olhou Barbossa que permanecia imóvel a um canto, o chapéu enorme lhe cobrindo a cara. – Bem que o sol podia acabar com aquele desgraçado. Assim eu seria o único dono do Black Pearl.

- Ele salvou-lhe a vida. – Ranya chegara-se para si lentamente e Jack supreendeu-se quando encarou a bela morena ao seu lado.

- Salvou? Ele só atirou naquele crocodilo porque sabia que se ele me comesse, o mais certo era ele ser o próximo. – Jack resmungou.

- Ora. Vocês odeiam-se. – Ranya sorriu.

- Nem imaginas o quanto, love.

- Mas no fundo respeitam-se.

- Não. Ele sabe que eu sou melhor pirata que ele. É inevitável! – Jack abriu os braços. – Barbossa nunca passará de um imediato, por muito que queira ser capitão.

- Nunca se questionou do porquê de sempre lutarem pelo mesmo? – Ranya perguntou, alternando o olhar entre Jack e Barbossa.

- Inveja. – Jack falou. – Pura e simplesmente inveja. Como aquele diabo magrinho aguenta este calor? – questionou-se, olhando o barqueiro que seguia atarefado compondo a vela.

- Ele está habituado. Nós, povo do deserto já não nos incomodamos com o sol.

- Pois nem em dias de acalmia absoluta em alto mar eu passei por semelhante. – Jack pegou num cantil, abrindo-o e despejando o conteúdo cara abaixo. Quando abriu os olhos, tinha Ranya olhando fixamente para si. – Algum problema?

- Nenhum. – a egípcia levantou-se num ápice. Ranya era uma mulher simples. Nunca na vida se havia visto apaixonada e muito menos sonhava com esse cenário. Mas sentia-se tão diferente ao lado de Jack. Não. Não podia. Ele era um homem de família. E por sinal, muito apaixonado pela mãe da sua filha.

Mais horas se passaram. O dia deu lugar à noite e de manhã cedo, os piratas puderam vislumbrar um novo cenário junto ao rio.

- O templo de Karnak. – Ranya disse, enquanto os piratas olhavam os edifícios majestosos ao longe. – Dedicado a Amon-Rá. – Ranya fez uma ligeira vénia enquanto passavam pelo complexo de edifícios que constituíam o templo que pela cor se confundia com as dunas.

- Será que o tesouro estará num templo assim? – Jack coçou a barba.

- Todo o Egipto é rico em templos. E sabe-se lá o que contém o seu interior. Mas não tão ricos como aqui em Tebas. Além do mais, nestes montes descansam os grandes faraós do Egipto.

- Jack... – Barbossa puxou Jack. – Eu começo a desconfiar da maneira como ela fala.

- Como assim? – o mais novo ergueu o sobrolho.

- Uma mulher simples, enfiada numa aldeia perdida de Deus e no entanto, parece que sabe mais de tudo o que nos rodeia.

- É. – Jack ficou pensativo. – É bom ver que as pessoas gostam do lugar onde vivem. - Jack sorriu abertamente. – Não seria melhor fazermos uma paragem?

- Talvez. Seria bom ir ao mercado, buscar mantimentos. – Ranya constatou que as reservas estavam no fim.

Umar direccionou a feluca até à margem do rio. Em árabe, Ranya ordenou a este que os esperasse, enquanto iriam à cidade de Luxor.

- Coloquem estas túnicas por cima da roupa. E nada de chapéus. As pessoas são desconfiadas nas cidades grandes. – Ranya aconselhou.

- Por onde eu vou, sempre sou motivo de admiração. – Jack sorriu dengoso.

- O vosso ar exótico não engana. Tentem ficar quietos, seguindo aquilo que eu faço. – Ranya virou-se subitamente, assustando Jack e Barbossa. – E por Alá, não saiam da minha beira.

Enquanto caminhavam, a preocupação fora substituída pela admiração com o que os seus olhos viam. Os quatro pararam, erguendo as cabeças até ao majestoso templo que se erguia.

- Outrora a aldeia de Karnak era conhecida como Ipet-sut. – Ranya explicou, enquanto seguia pelo corredor que dava acesso ao templo. De ambos os lados, várias esfinges, algumas sem cabeça, pareciam guardar a morada dos deuses. – Quer dizer " o melhor de todos os lugares."

- Isso soa tão estranho. – Jack teve um arrepio.

- Talvez porque a margem onde nos encontramos é consagrada aos vivos e a margem contrária aos mortos. – Ranya sorriu, deixando os dois capitães engolirem em seco.

Ao fim do templo, um amontoado de casas transmitia-lhes o primeiro sinal de civilização. Ranya conduziu-os por ruas estreitas, onde o céu era apenas uma nesga, por vezes coberto com os lençóis que pendiam das pequenas janelas. As pessoas que encontravam, não ligavam para a mulher, mas os olhos não deixavam de se pregar nos restantes. Muitos se perguntavam sobre quem seriam aqueles homens excêntricos. O mais velho, com a pele tostada pelo sol e uma barba selvagem que dava medo até ao mais corajoso dos homens. O mais novo, moreno, com os olhos delineados e uma barba engraçada, ainda para mais com uma criança ao colo.

- Pronto. – Ranya sorriu quando por fim, saía do mercado local. – Podemos voltar para a feluca.

- Ainda bem. – Mary falou.

- Algum problema, darling? – Jack estranhou a filha.

- Não. É que... eu senti dor... no peito. – Mary queixou-se e Jack arregalou os olhos.

- Por Zeus, um médico! – Jack olhou para os cantos. – Comeste alguma coisa que não devias? Um bicho mordeu-te? Foi aquele gato preto? Eu bem disse que não gostava de gatos!

- Sparrow... – Barbossa chamou. – Acalma-te. Provavelmente ela não se sente bem com o calor...

Hector não mais acabou a frase. Sentiu algo atingir a sua nuca quando atravessavam uma das muitas vielas da cidade. Tudo ficou preto e a última coisa que fixou foi o grito de Ranya.

Horas depois...

- O que é... – o velho capitão do Black Pearl balbuciou algo, enquanto abria os olhos.

- Não se levante. – Ranya falou. – Ficou ferido na cabeça. Descanse.

- Como assim, ferido? – Barbossa arregalou os olhos e depressa percebeu que se encontravam novamente a bordo da feluca.

- Montaram-nos uma armadilha. – Ranya confessou, baixando os olhos. – Barbossa e Jack ficaram inconscientes. Depois lançaram uma rede para mim e para a pequena. Eu tentei lutar mas uns homens agarraram-me.

- Como viemos parar aqui? – Barbossa ignorou os conselhos da egípcia e colocou-se em pé, sentindo uma valente dor de cabeça.

- Já se passaram horas. Quando me libertei, chamei por socorro. Aí alguns habitantes nos ajudaram a voltar para aqui depois de percebermos que a busca não iria dar em nada.

- Busca? Que busca?

Ranya suspirou e os seus olhos escuros encheram-se de lágrimas. – Eles levaram a…

A egípcia não precisou de falar para Barbossa perceber. Jack encontrava-se apoiado na amurada do pequeno barco. A cabeça baixa, as mãos sobre esta. Jack Sparrow não precisava de se virar para Barbossa perceber o quanto este estava destruído.

- Durante horas percorremos as ruas. Os homens levaram-na sem deixar rasto. – Ranya lamentou-se.

Barbossa olhou novamente para Jack. E pela primeira vez na vida, sentiu pena do eterno rival. Hector Barbossa não gostava de Jack Sparrow. Desde a primeira vez que o vira. Jack era irritante, demasiado vaidoso, demasiado misericordioso e para piorar, era um líder fraco na sua opinião.

E por tudo isso, Barbossa odiava-o. E como o odiou quando este o matou. Quando o mandou para o deserto gelado da morte. Mas com o tempo, Barbossa habituou-se a ter Jack do lado. E quer quisesse ou não, a presença de Grace atenuara ainda mais o seu feitio rezingão. Porque afinal, ele tinha de cumprir a dívida que tinha.

- Jack… - Barbossa principiou a falar.

- Eu perdi-a. Tanto cuidado, tanta aflição e eu perdi a minha filha. – Jack bateu com os punhos na testa. – Lara vai-me matar.

- Não duvides. É capaz de ela te estripar. – Barbossa falou, levando com o olhar horrorizado de Jack. – Por isso, o melhor é ires atrás dessa miúda antes que te metas em sarilhos sérios.

- E COMO QUERES QUE FAÇA ISSO? – Jack berrou, gesticulando furiosamente. – ELES LEVARAM-NA! ELA EVAPOROU-SE NO AR.

- Podem ter sido saqueadores. – Ranya acrescentou, vendo o desespero de Jack ficar maior.

- Oh bugger, a minha pequena está perdida por esse deserto sombrio. – Jack lamentou-se.

- Ou, pode ter sido outra coisa. – Barbossa coçou a barba. – Eu lembro-me de ter visto um gato laranja algures numa das ruas. Antes de nos atacarem. Um gato… que nos mirava atentamente.

- EU VOU MATAR ESSA DEUSA ESQUIZOFRÉNICA. – Jack pegou na arma disparando um tiro para o ar.

- Ok, vamos lá acabar com essa tragédia grega de uma vez por todas! – Barbossa falou alto. – Para onde aponta essa maldita bússola?

- Noroeste. – Jack coçou a cabeça.

- Então….pode ser que a pequena Sparrow tenha ido pró mesmo sítio que nós. – Barbossa rui alto. – Nunca vi família mais complicada que a tua.

- Que eu saibas... tu vives connosco. - Jack botou a língua de fora com ar desconsolado.

- Não tenho outro remédio. - Barbossa queixou-se. - Por mim, eu nunca teria partilhado o meu navio contigo!

- Oh, que novidade! Podia ter-te colocado numa ilha deserta como fizeste comigo!

- Querem parar? - Ranya levantou os braços. - Sua filha foi raptada. Devemos ir atrás dela. E se confia tanto nesse objecto... - Ranya apontou para a bússola. - ... será melhor seguirmos para onde ele aponta.

- Onde está o seu monte de pelo? - Jack ergueu o sobrolho quando reparou que Ba não se encontrava a bordo.

- Ela... partiu. - Ranya engoliu em seco. - Os gatos são independentes, senhor Sparrow. E Ba apenas cumpriu o seu destino.

Jack levou as mãos à cara. Quando aquela aventura que já se tornara um pesadelo iria ter fim? Porquê Mary fora raptada?

- Porque a Circe levaria a Mary? - Jack perguntou. - Se ela quisesse já nos teria matado a todos.

- Talvez a tua filha... valha mais do que pensamos. - Barbossa respondeu, deixando Jack pensativo, enquanto a pequena barca subia rio acima.

Continua…



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Notas finais do capítulo

Glossário:
Feluca - barco típico do Rio Nilo
Tcharráfna ktir - Muito prazer em árabe
Shuff - Veja em árabe
Templo de Hórus - Situado em Edfu
Habib - Querido/a

Oi leitores! Aqui vai mais um capítulo da Olhos Felinos. Espero que gostem!!! Obrigada de coração a todos que mandaram reviews!*-*

Saudações Piratas!!! :D
JODIVISE