Capítulo 2: Sonhos e planos

O perfume das flores era delicioso. Sentada num banco no meio do jardim, uma bela jovem tomava uma rosa do canteiro e olhava o mar ao longe. Os seus olhos, esverdeados ao sol, transmitiam paz e serenidade. Mas um raio de desilusão atravessou-os quando uma mão pousou no seu ombro.

- O almoço está na mesa. – O jovem bonito mas rude, agachou-se para olhar a jovem nos olhos. – Hoje é um dia importante para nós, Mayara.

Mayara olhou o jovem e sorriu timidamente. Ainda não se sentia preparada.

De repente, como levada para outro plano, Mayara surgia correndo pelos corredores de um grande palácio. Ao chegar à porta, olhou para um dos soldados que conversava baixo com o rei. Mayara não conseguiu falar. O olhar que o soldado lhe lançou deixou-a sem acção. Ao princípio não queria acreditar, mas depois o peso da verdade abateu-se e um grito saiu da sua garganta, sendo amparada por sua mãe e sua irmã.

A cena mudou e agora um fogo consumia-a. Mayara gritava com todas as suas forças mas ninguém a ouvia. Havia fogo por todo o lado e uns olhos em cima de si. Olhos de fogo…

- Ahhh! – Lara saltou da cama. As suas mãos tremiam e suava como se estivesse numa sauna.

- Que foi? Navio inimigo à vista? – Jack acordou estremunhado com o berro de Lara. Ao olhar para o estado ofegante desta, alarmou-se. – Que se passa, love? – Perguntou abraçando a esposa.

- Eu… estava… - Lara queria falar mas não conseguia devido às lágrimas que rolavam pela sua face. Não se lembrava do sonho por inteiro, mas a última imagem, uns olhos diabólicos e uma risada estridente, faziam o seu coração acelerar. - … uns olhos, Jack. Eles queriam fazer mal…

- Foi só um sonho, darling. – Jack aconchegou Lara no seu peito.

- Não foi um sonho… - Lara tentou limpar as lágrimas, mas continuava soluçando. - … foi um pesadelo.

Jack acalmou-a acariciando os cabelos desta, como sempre fazia desde a primeira vez que dormiram juntos. A porta rangeu entreabrindo-se e ambos olharam. Mary entrava agarrada a uma boneca de pano e esfregando os olhos, com a maior cara de sono.

- Minha boneca, o que é que se passou? – Lara disfarçou o nervosismo e saiu da cama, para pegar na filha.

- Tia Licia não voltou. – Mary resmungou abraçando-se à mãe.

Lara notou que já era dia. Alicia passava quase todas as noites com Will, salvo se este estivesse ausente, mas voltava sempre que os raios de sol apareciam. O Holandês Voador não podia arriscar-se a ser visto de dia.

- Talvez tenha naufragado, ou se transformado de vez na senhora viscosi… - Jack sorriu gozando, mas Lara enfureceu-se.

- Jack, já disse para não falares assim deles. – Lara colocou Mary em cima da cama e esta voou para o colo do pai. – Eles amam-se e Alicia anda desgostosa. Ao menos respeita isso!

- Posso dormir aqui hoje? – Mary perguntou com olhos pedintes. Jack olhou para Lara e entendeu o que este insinuou.

- Claro que podes, querida! – Exclamou, botando a língua de fora para um chocho Jack Sparrow. No fundo, tinha medo de os sonhos voltarem e talvez com a filha e o marido ao lado, dormisse mais tranquila.

No Holandês…

- O teu sorriso voltou de novo! – Will observou Alicia enquanto esta se vestia.

- Mas não penses que durará para sempre. – Alicia abraçou o pescoço deste e beijou-o. – Lara fez-me ver que quanto mais penso no assunto, mais nervosa fico. Resolvi dar uma trégua.

- A tua melancolia faz-me sofrer. – Will disse.

- Oh, até parece que tu és muito animado! – Alicia exclamou. – Ainda me lembro que quando te conheci pessoalmente, tu eras um poço de infelicidade, senhor Will Turner.

- Mas isso melhorou bastante depois do nosso casamento e como me casei com a pessoa mais alegre do mundo, o teu humor recente causava estranheza, senhora Alicia Turner! – Will exclamou sorrindo.

- Há uma coisa que me deixou sempre intrigada. – Alicia semicerrou o olhar. Will percebeu que vinha aí, pergunta das grandes.

- Pergunta, amor.

- O teu coração está num baú, certo?

- Verdade. – Will franziu o sobrolho.

- E esse baú estava com a Elizabeth, certo? – Alicia perguntou e Will acenou afirmativamente. – Ora eu lembro-me de ela ter dito que o tinha bem guardado, mas… - Alicia ferrou o lábio. - … uma vez que vocês já não são casados, não tinha mais lógica, esse baú não estar mais com ela?

Will pensou por um bocado e agarrou Alicia pela cintura.

- Esse baú não está mais com ela. – Will disse.

- Como não? – Alicia arregalou os olhos.

- Lembras-te quando eu estive ausente por uma semana? – Will perguntou e Alicia acenou com a cabeça. – Pois bem, eu fui buscar o "meu coração" a pedido da Elizabeth. Ela achava que já não era dever dela e entregou-mo. Digamos que ele se encontra num sítio seguro.

- Tu foste ter com ela e não me avisaste? – Alicia arqueou a sobrancelha.

- Alicia… - Will andou até ao órgão de Davy Jones. - … a Elizabeth só queria livrar-se daquele fardo. E eu estou aqui, não é? – Will sorriu, mas Alicia continuou a bater com o pé no chão.

- E foi preciso uma semana? – Alicia começou a sentir um calor na face.

- Ciumenta! – Will exclamou tocando-lhe na ponta do nariz. – Ela estava com o Thomas. Não tens com que te preocupar.

Alicia tentou fazer-se forte mas rendeu-se quando Will a beijou. A intensidade aumentou e Will tornou a deitar Alicia. A urgência desta foi maior e arrancou a camisa desta passando a mão na grande cicatriz.

- Will… - suspirou quando este começou a beijar o seu corpo todo.

- Desculpem interromper, mas o sol já vai alto, filho. – Bootstrap entrou mas olhou para o lado, tentando parecer invisível ao casal. Alicia mordeu o dedo com a quebra do clima e Will levantou-se rapidamente.

- Já? – Will perguntou vestindo a camisa. – Não dei por ela.

- Pois. Há muito tempo que não dás fé de muitas coisas! – Bootstrap saiu sorrindo.

- A Mary já deve ter acordado! – Alicia levou a mão à testa e saltou da cama.

- Até parece que ela é tua filha. – Will disse, com ar sério, enquanto abria a porta do quarto.

- Ela dorme no mesmo quarto que eu. – Alicia disse.

- Pois. E a Lara e o Jack no bem bom! – Will exclamou abanando a cabeça.

No Black Pearl…

- Sim senhora! – Lara exclamou enquanto Alicia subia a bordo, dizia adeus a Will e o Holandês submergia.

- Perdi as horas. – Alicia passou a correr, fazendo lembrar Jack quando foge de algo.

- Deixe a menina. – Grace disse enquanto descascava uma banana para Mary. – Ela é jovem, ele é jovem. É normal perderem as horas.

Lara caminhou até às escadas que davam acesso ao timão e estancou quando viu Cotton no leme.

- Onde está o Jack? – Perguntou ao simpático pirata que nunca largava o seu melhor amigo papagaio. Cotton apontou para a sala do convés. – E o Barbossa? – Perguntou e Cotton voltou a fazer o mesmo gesto.

"Raios, aqueles dois andam de novo em segredinhos", Lara pensou, agradecendo a Cotton e descendo as escadas em direcção à sala dos capitães. Rodou a maçaneta, mas esta estava trancada por dentro. "Desta não passa. Eu vou saber o que se passa e é agora!"

- O que vais fazer? – Alicia perguntou atónita ao ver Lara ganhar lanço.

- Sai da frente. Esses dois já metem nojo com os segredos e sinais estranhos. Eles andam a preparar alguma. – Lara saiu disparada, mas Grace travou-a. – Deixa-me Grace! – Exclamou, mas esqueceu-se que Grace era bastante forte.

- A menina não vai entrar aí. – Grace disse. – Eles são capitães e têm todo o direito de se reunirem quando quiserem.

- Pois, mas nunca se trancaram aí dentro, nunca se calaram quando eu passava por eles e sorriam como se escondessem algo. – Lara estava possessa. – PINTEL, RAGUETTI! – Gritou e os dois piratas aparecerem num piscar de olhos.

- Chamou, capitã? – Perguntaram em uníssono.

- Eu já disse para não me chamarem de capitã! – Lara exclamou. – Façam o favor de arrombar a porta!

Os dois piratas olharam um para o outro e encolheram os ombros.

- O Jack e o Barbossa não vão gostar… - Gibbs avisou.

Lara puxou os cabelos, tirou a pistola da bainha das calças e disparou em direcção à fechadura. Com um pontapé escancarou a porta ferida e entrou de rompante, seguida por Gibbs, Grace e Alicia que trazia Mary ao colo.

- O QUE É QUE VOCÊS ANDAM A TRAMAR? – Perguntou ao deparar-se com Jack e Barbossa debruçados sobre o mapa de Sao Feng.

- Love… é melhor acalmares-te. – Jack caminhou até esta de braços no ar.

- Acalmar? – Lara perguntou. – Uma das condições que impus quando voltei foi que esse mapa ficasse trancado a sete chaves!

- E a bem da verdade ele esteve trancado 5 anos. Mas o coitadinho já não aguentava o mofo do baú e… - Jack tentou arranjar uma desculpa.

- Está tirando com a minha cara, Jack? – Lara perguntou brava.

- Jack… o melhor é abrir o jogo! – Barbossa exclamou e todos os olhares se deslocaram para si.

Jack olhou para Barbossa indignado e voltou a olhar para Lara que piscava os olhos à espera da resposta.

- Está louco? – Jack sussurrou para Barbossa.

- Não. – Barbossa disse naturalmente. – Mas eles fazem parte da tripulação e têm o direito de saber o que procuramos.

Jack meteu as mãos na cabeça e Barbossa fez sinal para que se sentassem. Grace ofereceu-se para ficar com Mary, ficando apenas Lara, Alicia e Gibbs dentro da sala a par dos capitães.

- Nós estamos atrás de um tesouro inimaginável! – Barbossa exclamou.

- Inimaginável quer dizer que tem ouro, pedras preciosas, pérolas, moedas e tudo aquilo com que um pirata sonha. – Jack sorriu com ar sonhador.

- Inimaginável quer dizer que para o encontrarmos teremos de arriscar a vida e ir quase até ao fim do mundo para encontrá-lo! – Lara corrigiu Jack, deixando mal-humorado. – Isto se o encontrarmos.

- Em certa medida ambos estão certos. – Barbossa disse.

- Que tesouro é esse, Barbossa? – Alicia perguntou.

- Segundo a lenda, primeiro teremos de encontrar a chave que nos guiará até esse tesouro. – Barbossa explicou.

- Então onde está a chave? – Gibbs perguntou, fazendo Barbossa rolar os olhos.

- Bem, em primeiro, este tesouro apareceu por acidente. – Jack começou. – Eu andava a vasculhar umas coisas e dei com o mapa. Para matar as saudades dei uma olhadela e uma localização saltou à vista.

- Como este imprestável não estava a perceber o que o mapa continha eu decidi tentar decifrar, mas até agora nada. – Barbossa disse.

Lara puxou o mapa para si e Jack apontou para a localização. Lara olhou ao pormenor. Uma ilha aparecia adornada com uma frase e vários símbolos.

- "Oculu Tigris." – Lara exclamou.

- Isso já sabemos. Significa Olho-de-tigre. – Barbossa explicou.

- Existem vários símbolos à volta da ilha. – Alicia constatou. – Este parece um gigante. – Disse ao ver uma estátua gigante. – Isto é um…

-… tigre. – Jack acrescentou. – Também já tínhamos visto.

Lara susteve a respiração quando analisou o outro símbolo. Eram dois olhos. Iguais aos do seu sonho.

- Passa-se algo, Lara? – Jack perguntou, olhando a esposa atentamente.

- Não. - Lara mentiu. – Quer dizer que querem ir atrás de um tesouro e as únicas pistas que temos são que devemos procurar uma chave nesta ilha chamada Olho-de-tigre?

- Sinceramente, acho que esse não é nome da ilha mas sim o do objecto que procuramos. – Alicia disse.

- E os símbolos poderão ser perigos. – Barbossa acrescentou.

- Só há um problema. – Jack disse. – Essa ilha fica no Pacífico e eu já fui lá muitas vezes e nunca a vi.

- Não será como o Vértice Temporal? – Gibbs perguntou. – Talvez ande de um lado para o outro.

- Chegamos cá em 1727. – Lara disse. – Estamos em 1732.

- E depois? – Jack perguntou. – A única diferença em 5 anos é que a pirataria está pela hora da morte. Mas não entendo o que é que tem a ver a data em que estamos com o tesouro.

- Esta ilha já foi encontrada em 1722. – Lara disse sorrindo, vendo a cara de bobos dos presentes. – Sabes que vimos do futuro não é?

- Sim, mas… - Jack foi cortado por Alicia.

- Como é que sabes que ilha é? – Alicia perguntou a Lara.

- Esta ilha não deve ter nada de especial. No futuro, ela não passa de uma ilha com poucos habitantes, no entanto não deixa de ser misteriosa! – Lara disse. – E não tem tigres.

Ninguém entendia e Lara apontou para a estátua.

- Lembra-te alguma coisa, Alicia. – Lara perguntou e Alicia olhou melhor a figura abrindo a boca.

- Não pode ser! – Alicia exclamou.

- Senhores piratas, apresento-vos um Moai! – Lara exclamou. – Um dos gigantes de pedra da chamada Ilha de Páscoa!

Continua…