Nunca havia viajado de Helicóptero – Eu acho que esse nome já está ficando repetitivo (ah... Você acha?) - é uma coisa nova para mim... – Percebe-se - Junto com as outras coisas que vinham acontecendo. A visão que eu estava tendo parecia irreal, a paisagem lá do alto era magnífica. As pessoas pareciam apenas pequenos pontinhos pretos naquela imensidão. Á medida que o Helicóptero prosseguia em seu trajeto por entre as nuvens, as imagens que eu acabava de ver, iam ficando cada vez menores até que sumiam de vez da minha vista se perdendo por entre as paisagens que vinham e assim tomavam seus lugares. Mitchell me observava cauteloso, eu acho que ele queria que eu não percebesse, mas foi em vão, me virei para ele e disse um "obrigado", que se tornou inaudível devido ao alto som que o helicóptero propagava. Mas eu tenho certeza que ele ouviu, porque o mesmo sorriu, mostrando-me mais uma vez aquele sorriso perfeito e fazendo-me sentir a calmaria que esse sorriso me transmitia. Devolvi o sorriso e voltei a olhar a paisagem que se tornara, agora, apenas um grande tapete verde, pois a paisagem anterior foi substituída por uma bela cadeia de montanhas. Algumas vezes eu avistava, por entre as montanhas, pequenos vales e neles, alguns rios que esbaldavam beleza em suas cristalinas águas.

       Percebi que o tempo havia mudado, havia ficado mais frio. Logo soube que devíamos estar perto do nosso destino, já que era uma estação de esqui e deve se localizar em uma região fria. Vi o piloto falando alguma coisa para Mitchell. Ele era um homem já com certa idade, seus cabelos eram grisalhos e seus olhos verdes, como duas esmeraldas, era um belo homem. Mitchell me olhou como se avisasse a proximidade da estação, ele confirmou minha certeza. Não demorou muito e já estávamos pousando no telhado da estação de esqui. Um homem nos esperava no local, ele tinha curtos cabelos pretos e seus olhos tinham a mesma coloração do cabelo. Ele usava uma calça branca e uma blusa azul clara e na mesma havia escrito: Estação de esqui polar do sul.

        -Sejam bem-vindos. Meu nome é Cedric. - O Homem falou, o mesmo cumprimentou Mitchell com um aperto de mãos e depois me cumprimentou com uma reverência. Admito... Senti-me em outra realidade. - Vou mostrar-lhes seus aposentos.

        Cedric nos guiava e ao mesmo tempo nos mostrava e explicava as coisas da estação de Esqui. Eu fiquei impressionada, havia muita coisa. Não demorou muito até chegarmos à porta que tinha o número 202 gravado na mesma. Cedric a abriu, colocou as malas e nos entregou os cartões que abriam a porta. Fiquei estática com o quarto, ele era perfeito. Eu acho que ficar impressionada, está virando uma coisa normal pra mim. Apenas uma coisa me incomodou desde o momento que coloquei os olhos naquele quarto.

         -Uma cama de casal? - Perguntei olhando para Mitchell e sentando na mesma. Não, eu não tenho nada contra camas de casal, mas vocês me entenderam. Por um momento pensei se Mitchell havia feito aquilo de propósito, mas foi um pensamento rápido... Ou não.

         -Só havia um quarto sobrando quando fiz a reserva. - Ele deu uma olhada no quarto - Algum problema? - Completou. Não vou mentir... Fiquei decepcionada. Não... Eu não estou tendo esses pensamentos. Só que... Ah sei lá.

          -N... Não - Eu não sabia o que dizer. Tenho um leve pressentimento que eu estava ficando vermelha. E eu acho que meu pressentimento era verdadeiro, porque ao mesmo tempo eu vi um quase imperceptível sorriso de Mitchell, mas não durou muito tempo.

         -Eu quero que você sinta-se á vontade. Ok? - Ele perguntou se aproximando de mim e sentando ao meu lado. Eu sinto que ele fez isso de propósito, eu havia ficado vermelha há segundos atrás, agora ele vem e senta do meu lado na cama, ah fala sério.

         -Tudo bem. - Respondi rápido - E... Eu preciso ir ao banheiro. - Falei indo para o mesmo. Eu não estava fugindo daquela situação, tá? Só me deu uma vontade repentina de ir ao banheiro nesse momento, isso acontece nas melhores famílias.

       Normalmente não teria nenhum problema eu dividir o quarto com alguém, ou mais especificamente, com um garoto. Até porque eu já dividi um quarto com um amigo meu... Um dos únicos. Mas o problema é que com Mitchell é diferente, quer dizer... Tudo com Mitchell ou em relação a ele, é diferente. Pus-me a não demorar no banheiro. Aproveitei e tomei logo um banho. Foi quando percebi que minhas coisas estavam no quarto. Ótimo! Não me restam escolhas. Enrolei-me na toalha e abri a porta do banheiro vagarosamente. Avistei Mitchell lendo uma revista, ainda sentado na cama.

        -Mai... Pode arrumar-se relaxada. Eu preciso sair para ver a reserva do jantar hoje à noite. - Ele falou fechando a revista e indo em direção a porta do quarto. Até parece que ele leu a minha mente – O que eu não duvido - Antes que eu pudesse dizer algo, ele sai do quarto. Logo comecei a me arrumar, para não ter mais "acasos" como esse. Espera... Ele disse reserva do jantar? Não sei o que eu penso em relação a isso, dá última vez que jantamos juntos... Quero dizer... Que eu fui com ele á um restaurante a fim de comer, o resultado não foi muito bom. Mas alguma coisa me diz que não vai ser igual ao outro dia – Contanto que não seja pior, eu fico feliz - Assim que terminei de me arrumar, ouvi uma batida na porta. Era Mitchell.

       -Pode entrar. - Avisei. Ele entrou e ficou por um tempo olhando para mim. Ele só pode gostar de me fazer com que eu fique desconfortável, porque desde que eu o conheci, é sempre assim. - Poderia ser mais discreto. – Acrescentei.

       -Desculpe... Eu me desconcentrei e nem prestei atenção no que eu estava fazendo. - Ele falou desviando o olhar de mim e pondo a mão atrás da cabeça. Eu ri com aquela cena.

       -Tudo bem... – Falei. Eu não queria que ele ficasse assim a noite toda.

       -Podemos ir? - Ele perguntou já voltando ao normal. Ele muda muito rapidamente, eu tenho que perguntar isso para ele também.

       -Aonde vamos? – Perguntei, torcendo para que ele não dissesse que era para uma reunião de vampiros. Não tava a fim de passar por aquilo de novo. Talvez pela primeira vez na minha vida, eu saia com Mitchell com o objetivo de jantar e eu consiga.

       -Ao restaurante da Estação. – Ele respondeu e abriu a porta do quarto para mim. A palavra restaurante é tão nostálgica para mim. Será por quê?

       Em todo trajeto ao tal restaurante, eu observava os mínimos detalhes daquele lugar. Era muito movimentado, por todo lado eu via pessoas conversando ou fazendo diferentes atividades. As cores que mais predominavam eram: branco e azul, as mesmas cores do uniforme que Cedric estava usando quando foi nos receber. Havia bonitas plantas enfeitando os salões e os corredores, o clima desses lugares era ambiente, apesar do forte frio fora do hotel. Percebi que uma forte nevasca atingia a estação. Não fiquei com medo ou assustada. Meus olhos estavam fixados nas imensas janelas de vidro da estação, pela qual podíamos ver a paisagem do lado de fora. A nevasca ganhava cada vez mais força.

       -O clima hoje está mais forte. - Mitchell falou tirando-me de meus devaneios, me dando um pequeno susto. Olhei para ele e seus olhos estavam fixados na nevasca.

       -Não costuma ser assim? - Perguntei. Será que eu sou tão importante, que até o clima chega a mudar? Alguma coisa me diz que não.

       -Nas vezes que eu vim, não havia esse clima. - Ele dizia muito pensativo, como se estivesse tentando organizar algo em sua mente. - Bem... Sempre há uma primeira vez.

       Não demorou muito á chegarmos ao restaurante, logo um homem de terno e com aparência jovem nos atendeu, ele devia ser o Metri. Agora que passou pela minha cabeça o fato de Mitchell não comer.

       -Não se preocupe. - Ele falou. Nós seguíamos o Metri que nos levava a nossa mesa.

       -Dá para parar de ler minha mente? - Perguntei olhando para ele.

       -Algumas vezes... Ocorre sem eu mesmo saber. - Mitchell respondeu retribuindo meu olhar. Antes que eu pudesse responder algo, o Metri fala:

       -Estão acomodados... Logo viram atendê-los. - Nós assentimos e ele saiu.

       -Eu vou comer sozinha? - Eu falei olhando para o Metri que ia ao longe.

       -Bem... Se quiser, eu posso acompanhá-la.

       -Não precisa. Isso não é bom para um vampiro. -Falei olhando para o mesmo. Ele sorriu e ficou brincando com meu cabelo. Ele era seriamente fofo. Às vezes ele ficava brincalhão, outras vezes, sério ou irritado. Era meio relativo, eu nunca entendia. Mas em nenhuma dessas vezes eu deixei de sentir a mesma coisa por ele.

      As luzes que iluminavam o restaurante apagaram-se, me assustei e percebi que Mitchell também havia sido pego de surpresa. O barulho das pessoas ecoava pelo restaurante. Não demorou muito para que a luz voltasse. Mitchell olhou para mim, ele parecia sério.

      -Fique aqui. Vou ver o que aconteceu. - Ele saiu em direção á recepção.

      Não sei o porquê da reação de Mitchell em relação a esse fato. Foi apenas uma queda de energia, nada que preocupasse, não é? Avistei Mitchell conversando com o Metri, e ao desviar o olhas dos dois eu olhei pelas janelas de vidro, uma criança. Sim. Ela estava lá fora na nevasca. Era uma menina, ela devia ter uns oito ou nove anos. Não sei ao certo. Ela parecia estar desesperada ou assustada, o que deve ser normal levando em conta que estava no meio de uma grande nevasca.

       Uma sensação começou a surgir dentro de mim, como seu eu devesse ir ajudar a tal menina. Sem que eu percebesse, eu já estava me dirigindo à porta que levava ao lado de fora, antes de sair dei uma última olhada para Mitchell. Pensei que teria alguém vigiando ou cuidando da porta que dava acesso ao lado de fora, mas nada. Acho que deve ter saído devido á falta de energia. Percebi que o número de pessoas andando pela estação havia diminuído, resolvi não dar importância e segui em busca da menina. Ao chegar ao lado de fora, pensei que sofreria um choque térmico, mas não foi o que aconteceu. Eu não senti absolutamente nada, só quando eu já estava há uns 3 minutos no lugar, comecei a sentir o forte frio. Minha visão estava sendo bloqueada pela forte nevasca, a neve batia em meu rosto com uma grande força. Eu me encolhi na roupa que vestia e pus-me a procurar a menina. Nada. Foi quando a vi de longe, eu então comecei a chamá-la ou, pelo menos tentar, já que o som de minha voz era abafado pelo forte barulho que o vento propagava. Ela pareceu ter me visto, mas ao invés de vir em minha direção começou a correr para o lado oposto, na direção da floresta, comecei a segui-la, mas era muito difícil, o vento não estava colaborando. Ele soprava na direção oposta, a que eu estava seguindo. Passei um tempo considerável procurando a menina, ela havia sumido de minha vista.

     Nessa altura eu já não estava mais na estação. Pensei que aquilo havia sido apenas uma miragem e resolvi voltar, mas eu não sabia por onde. As pegadas que eu havia deixado na neve, já haviam sido apagadas pela nevasca. Eu estava totalmente perdida. A temperatura começou a abaixar ainda mais. Eu não sei se é porque a nevasca deve ter aumentado, ou por que... Argh! Eu não consigo nem pensar nisso. Ouvi um grande barulho vindo da parte mais alta da montanha. Eu não enxergava nada, estava totalmente desnorteada. Foi quando percebi que, em minha direção vinha imensa quantidade de neve, estava tendo uma avalanche. Eu sabia que correr não resultaria em nada e se bobeasse iria era me matar mais rápido, então fiquei ali esperando minha... Morte. A neve se aproximava em uma velocidade magnífica, era incrivelmente mortal. Era um grande mar de gelo vindo em minha direção.