Olhos de Sangue escrita por valeriac


Capítulo 11
A noite dos sonhos ou dos... Pesadelos?




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           No caminho para o restaurante, Mitchell me esclareceu algumas coisas que eu ainda não entendia sobre aquilo tudo que aconteceu... Como o fato do casaco dele ter impedido que eu morresse.

           -Então... Deixe-me ver se entendi. - Dei uma pequena pausa- Quando eu usava seu casaco, os vampiros e outros "seres" não me atacavam, pois achavam que eu era uma vampira devido ao seu cheiro no casaco. - Perguntei

           -É... Mais ou menos isso. - Ele respondeu.

           -Isso explica muitas coisas, mas... O que necessariamente eram aqueles seres?

           -Alguns eram vampiros mesmos, mas uma raça diferente... Digamos “modificada”, vampiros inferiores.

           -Entendo... Quero dizer, não entendo, mas eu não entenderia nem que você explicasse – Falei

           -Está passando tempo demais comigo. – Mitchell falou, ironizando.

           -Eu que o diga. – Dei uma pausa e continuei – E os outros? Aquele do bosque, ele tinha asas.

           Mitchell olhou fixamente para a estrada e soltou um longo suspiro.

           -Eram demônios. – Ele finalizou fechando rapidamente os olhos, mas logo os abriu, olhando novamente para a estrada.

            Percebi que ele não ia querer continuar a falar desse assunto, devido a expressão que o mesmo havia feito; pensei em perguntar, mas resolvi deixar quieto, pelo menos por enquanto. Chegamos ao tal restaurante. Ele era elegante, muito pra ser sincera. Foi quando eu lembrei que Mitchell não comia.

           -Ei espera. Eu vou comer sozinha? - Perguntei olhando para ele.

           -Não se preocupe com isso.

           -Como assim?

           -As pessoas que estarão aqui também não são "fãs" de comida. - Ele respondeu olhando fixamente para o restaurante.

           -Você está dizendo que todos daqui são vampiros? – Perguntei apreensiva. Alguma coisa em mim me dizia para não ter perguntado aquilo.

           -Isso. – Ele respondeu, olhando para mim.

           -Mitchell? – Murmurei, eu tinha levado uma baita surpresa.

           - O quê? – Ele perguntou como se estivesse pensando em outra coisa.

          -Você bebeu, fumou ou injetou alguma coisa? Eu sou humana se você ainda não percebeu. – Eu falei observando-o.

          -Eles não vão saber que você é. - Ele respondeu, retribuindo meu olhar.

          -Como assim? - Eu estava começando a ficar com medo. Será que ele me transformaria em vampira? Não... Claro que não. Ele não faria isso... Pelo menos é o que eu acho.

          -Você vai usar essa pulseira. - Ele falou pegando algo em seu bolso. - É um objeto mágico, ele vai disfarçar seu cheiro. Tecnicamente, vão pensar que é uma vampira.

          -Eu não sei... Mas isso não melhorou a situação. – Eu voltei meu olhar para o restaurante.

          Tudo bem que eu fiquei mais aliviada ao saber que não viraria vampira – o que não seria má ideia pensando agora – mas o fato de que eu entraria em um lugar repleto de seres que com certeza adorariam provar meu sangue, não fez com que o alivio durasse muito tempo.

         -Eu também não queria isso. - Ele falou estendendo-me a pulseira. Mas então o que diabos eu estava fazendo aqui?

         -Como assim? Mitchell... Por favor, seja mais claro nesse momento. - Eu perguntei estendo meu braço para que o mesmo a colocasse em mim.

         -Quando você estava se arrumando, recebi uma mensagem de que teria uma reunião aqui. De vampiros. – Ele falou, colocando a pulseira em mim.

         -Porque não me disse isso antes? Eu poderia ter ficado em casa sem problemas. – Eu perguntei ainda não me conformava com a situação. Tipo assim... Agora que eu pensei que eu poderia ficar cinco minutos sem correr perigo de vida.

         -Mas seria perigoso ficar sozinha, agora que você descobriu, as ameaças aumentaram. - Ele falou voltando os olhos para o restaurante.

         Ok. As ameaças aumentaram, eu entendi essa parte. Mas, nada que um pedaço de ferro bem avantajado sob minha posse não resolveria. Era só me dá algumas coisas, de preferência pontiagudas e mortais – para o inimigo, claro – que eu ficava em casa na boa.

        - Ontem você me deixou sozinha e disse que "nada" poderia entrar... – Eu procurei lembrá-lo dessa parte.

        -Caso não tenha sido convidado. - Ele completou- Mas... É diferente. Alguns "amigos" meus não aceitariam o fato deu estar abrigando você em minha casa... – Ele falou deixando bem claro que esses “amigos”, não eram realmente o tipo de pessoa – ou vampiro – que todo mundo sempre quis ter.

        -E tentariam fazer algo para impedir... - Completei e ele assentiu.

      Eu estava começando a entender as coisas. Finalmente. Se fosse pra morrer, eu queria morrer sabendo o porquê e quem foi o desgraçado que me matou.

        -E como são vampiros, digamos, "aliados", eles poderiam entrar em minha casa. –Mitchell respondeu.

        Essa história de vampiro é muito complicada, parece até que eles ainda estão vivendo no século XIII ou XIX. Se bem que não seria muito difícil, já que alguns deles devem estar mortos há algum tempo.

        -Entendo. - Falei olhando para a pulseira.

        -Não se preocupe. - Ele falou colocando sua mão encima da pulseira, fazendo com que eu voltasse meu olhar para ele.

        Entramos no restaurante. Eu não sei se estou doida, ou é a proximidade com a morte, mas quando eu entrei tive uma leve impressão – grande impressão, pra ser sincera. – de que todos estavam olhando para mim. O lugar era pouco iluminado, as "pessoas" usavam na maioria roupas pretas e um líquido vermelho era servido para os convidados. Tá... Eu sei que era sangue, mas eu ainda não me acostumei com isso, ou seja, com o fato de que a coisa que circula em minhas veias e em meus vasos sanguíneos, serve para saciar a sede de pessoas, digo... Vampiros.

       Eu observava todos cautelosamente, eu não queria ter meu sangue servido ali. Segurei mais forte o braço de Mitchell ao pensar tal coisa. Ele apenas olhou-me e sussurrou em meu ouvido:

         -Acalme-se. Eu estou aqui. - Eu já mencionei antes que ele me deixava calma?

         Eu vi um homem de certa idade aproximar-se de nós, ele vestia um terno preto e seu cabelo era loiro com alguns fios brancos na parte superior.

         -Acho que não conheço essa bela dama. Qual o seu nome? - O homem perguntou olhando para Mitchell e logo em seguida para mim.

         -O nome dela é Mai. - Mitchell respondeu, ele pareceu não gostar da situação.

         Se ele não gostou, não era eu que gostaria... Certo?

         -Belo nome, mas prefiro que ela mesma responda as minhas perguntas. -Ele falou nos olhando. - Bem... Mitchell. Receio que deva estar na hora da reunião, você não deve ir?

         -Eu sei muito bem o momento que eu devo ir. - Mitchell respondeu. Eu começava a perceber que ele estava ficando irritado.

         -Eu acho que você não vai querer se atrasar. - O homem falou olhando agora somente para Mitchell, ele pareceu ter ficado meio preocupado. As únicas vezes que eu vi Mitchell preocupado foi quando eu estava prestes a morrer... Ou no caso, quase morrer. O que pensando bem, não era muito raro de acontecer.

          -Pode ir. - Eu murmurei, para que só Mitchell ouvisse.

          Eu sabia que ele não havia ficado preocupado a toa, então para não correr o risco de que ele seja morto - Morto ele tecnicamente já estava... Mas vocês entenderam o que eu quis dizer. – Era melhor fazer o que o aquele homem estava falando.

          -Mas... - ele tentou contradizer.

           -Eu vou ficar bem. - Falei apesar de não ter muita certeza disso. Ele ia responder, mas o homem o interrompeu.

           -Você deveria se apressar. – Eu não sou uma pessoa violenta, mas aquele cara estava me dando nos nervos.

           Mitchell me olhou como se dissesse que voltava logo e saiu em direção a parte inferior do restaurante. Agora estava eu, sozinha naquele lugar cheio de vampiros. Admito que não era assim que queria passar a noite, mas não pode se ter tudo, não é?

           -Meu nome é Vicenzo. Prazer. - O homem disse tirando-me de meus pensamentos.

           -Prazer. - Pensei em estender minha mão para cumprimentá-lo, mas acho que não seria boa ideia, ainda não confio nessa pulseira. - Eu tenho que ir ao banheiro. - Inventei uma desculpa para sair dali.

           -Sinta-se á vontade. Vá direto e entre a segunda porta á direita. -Ele respondeu apontando para o corredor ao seu lado.

           -Obrigada. -Agradeci e pus-me a ir em direção ao local que Vicenzo explicou.

          Antes de entrar no banheiro me virei e o vi falando com mais dois homens que eu acho que deveriam ter chegado depois que eu saí. Não dei muita importância. Passei um bom tempo ali, mas eu resolvi sair para ver se Mitchell já havia voltado. Péssima ideia. Logo que eu saí, eu vi três homens na porta do banheiro. Alguma coisa me dizia que estavam me esperando. Eles começaram a tentar me segurar, e eu me debatia nos seus braços a fim de me soltar.

           -O que está acontecendo? – Perguntei. Alguma coisa me dizia que eu havia sido descoberta.

           -Fique quieta menina. Sabemos que é humana. – Um dos homens falou.

           Não sei o que é... Mas seja lá o que for essa coisa que fica me dizendo coisas, eu a odeio.

           Agora eu estou muito ferrada. Como eles descobriram? Usei toda a minha força para tentar me soltar deles, mas não tinha nenhum resultado. Foi quando olhei para baixo e vi minha pulseira. Sim... A pulseira que me escondia, ela estava no chão. Ela deve ter caído no momento em que eu entrei no banheiro. Olhei para frente e vi todos olhando para mim.

          -Sangue fresco. - Uma mulher que estava no meio dos convidados falou lambendo os lábios, e os outros repetiram seu movimento. Eu não gostava desse movimento, não mesmo e o fato de que eles o faziam olhando para mim, piorava umas cem vezes a situação.

          Eles estavam se aproximando cada vez mais, eu dava passos para trás, à medida que se aproximavam, até que a parede impediu que eu continuasse. Encostei-me na mesma e me agachei, eu sabia que seria difícil eu conseguir sair dali. Encolhi-me e esperei. Foi aí que escutei uma série de reclamações e levantei minha cabeça para ver o que era.

          -O que é isso? - Um homem de cabelos grisalhos que estava no meio das pessoas perguntou

          -O que está acontecendo? - Dessa vez uma mulher de longos cabelos pretos perguntou.

         Foi quando percebi que alguma coisa me separava deles. Não. Não era Mitchell. Era algo invisível, pelo menos aos meus olhos era. Toda vez que algum deles tentava se aproximar, ele era impedido e parecia que levavam um forte choque. Parecia um tipo de escudo. Eu não sabia. Enquanto tentava entender aquilo, vi Mitchell vindo ao longe. Ele não entendeu muito o quê viu e tentou se aproximar de mim.

        -Não! - Eu falei quase gritando para o mesmo.

      Ele logo pareceu ter entendido o que estava acontecendo. Com certeza ele deve ter lido minha mente. Depois eu tenho que conversar com ele direito sobre essa história de ler mentes, porque eu preciso de privacidade. Tá... Isso não é hora desse assunto. Várias pessoas – vampiros - saíam do lugar onde Mitchell tinha saído. Ele então olhou para mim e falou:

        -Temos que sair daqui. -Ele deu uma olhada rápida para trás e começou a se aproximar de mim. Não sei se ele é louco ou algo derivado, mas eu acho que deu pra perceber que esse “escudo” machuca e não é pouco.

       -Mitchell, espera! Você vai se machucar. - Tentei avisá-lo, mas ele não me deu ouvidos. Fechei meus olhos a fim de não vê-lo se machucar. Foi quando senti algo me levantando nos braços. Abri meus olhos e vi Mitchell me carregando. Não deu tempo de falar nada, num piscar de olhos já estávamos dentro do carro.

       -Mas como...? - Perguntei. Eu estava surpresa com tudo. Como foi que ele conseguiu não se machucar ali? Putz... Quando eu penso que já estou confusa o suficiente, aparece outra coisa para fazer-me parecer mais retardada.

       -Segure-se. - Ele falou e pisou fundo no acelerador. Saímos dali bem rápido. Em todo caminho de volta, ninguém se pronunciou. Eu acho que tanto eu quanto ele estávamos surpresos. Não demorou muito e já nos encontrávamos em casa.

        -Preciso perguntar? - Eu falei quebrando o silêncio. Por que pela cara de Mitchell ele não seria o primeiro a falar.

        -Dessa vez é diferente. Eu também não sei o que aconteceu. - Mitchell respondeu enquanto andava de um lado para o outro da sala. Eu fiquei nervosa, pois nem ele sabia o que havia acontecido. Comecei a ficar desesperada. Eu acho que ele percebeu, porque veio até mim.

        -Eu acho melhor você ir dormir... Deve estar cansada. Não se preocupe com isso. -Ele falou. Eu assenti e subi para meu quarto depois de ter dado boa noite.

       Quando eu penso que nada mais pode me surpreender, acontece a coisa mais inesperada e inexplicável possível. Eu não sei se aquele "escudo", digamos assim, foi eu que fiz, ou se foi algum ser ou algo derivado que fez. Mas não vejo motivos para outro ser ter feito isso. Ou seja, sobra pra mim. Argh! Eu não aguento mais, parece que isso nunca acaba. Demorei a dormir. Muitas coisas rondavam a minha mente, tanto boas quanto ruins. Acordei com os raios de sol que adentravam o quarto. "Tenho que começar a usar a cortina" Foi a primeira coisa que pensei. Resolvi levantar logo, me arrumei e desci. Encontrei Mitchell na sala.

        -Está melhor? - Ele perguntou, o mesmo estava sentado no sofá lendo o jornal.

        -Podemos dizer que sim... – Nem eu mesma sabia.

        -Eu tive uma ideia... Quero ver se você concorda. – Mas ideias para minha vida. Eu acho que a essa altura, tudo que não envolva morte ou morte, eu concordaria, contanto que eu não morresse.

        -Qual a ideia? - Perguntei curiosa.

        -Uma viagem. – Eu aceito... Contanto que não seja uma viagem pro inferno ou pro mundo dos mortos-vivos.

        -Uma viagem?

        -Sim... Hoje eu estava vendo as cartas do correio. - ele falou pegando um folheto em seu bolso - e achei um bem interessante... Eu acho que faria você relaxar um pouco.

        -Mas Mitchell... Estamos em época de aulas – Falei, pegando o folheto.

        Eu não acreditei. Não mesmo. Era o lugar que eu sempre quis ir. Um dos únicos sonhos que tive em toda a minha vida, mas meus pais não tinham dinheiro para as despesas dessa viagem. Eu não conseguia falar. Eu olhei para Mitchell, corri em sua direção e quase pulei encima dele dando-lhe um abraço. Ele iria cair... Se não fosse um vampiro e se não fosse sete vezes mais forte que eu. Ele abriu um sorriso e não foi um daqueles que ele sempre dava... Foi um diferente, não sei dizer ao certo.

       -C... Como foi que você soube? - Perguntei. Eu parecia uma criança que acabara de receber um presente. Soube na hora. - Ah ta... Já sei... Você leu a minha mente.

       -Foi um deslize... Tecnicamente não era para eu ler... Mas eu acabei lendo e aí vi isso. – Ele murmurou. Também foi um deslize eu nascer – quem sabe? Pode ser – Também foi um deslize eu passar de ano – Não... Isso foi sorte (to descontraindo) – É... Realmente meu estoque de exemplos não está legal.

       -Vou fingir que acredito. - Eu falei, olhando-o e botando minhas mãos em minha cintura.

       -Saímos hoje á tarde, tudo bem? – Ele deu uma bela fugida do assunto aí.

       -Ok. – concordei, não ia enrolá-lo mais, sabia que ia arranjar uma desculpa.

       Eu estava muito ansiosa. Mal podia esperar. Corri para meu quarto e comecei a arrumar a minha mala. As coisas vêm acontecendo meio que nos momentos mais estranhos da minha vida. Uma hora eu acabo de me salvar de morrer, em outro eu... Simplesmente vou para o lugar que eu sempre quis ir, é meio estranho e estranho e muito louco... Eu já disse que é estranho? Tá... Parei. Mas é uma coisa estranhamente boa... Pelo menos nesse caso. Já aconteceram duas coisas boas... Que legal... Isso é uma evolução. Terminei de arrumar minhas coisas e desci para encontrar Mitchell. Era engraçado como ele conseguia sempre se arrumar incrivelmente rápido e sempre estava... Digamos... Perfeito. Ele estava me esperando na porta.

        -Cadê suas malas? - Perguntei ao chegar perto dele. Eu sei que ele é um vampiro, mas eu acho que eles trocam de roupa (tomara)

        -Já estão no Helicóptero. - Ele respondeu calmamente.

        -Helicóptero?! - Eu estava realmente... Quer dizer... Muito surpresa. Não é todo dia que eu ando em um Helicóptero, quero dizer, eu nunca andei de helicóptero.

          -Sim. – Ele respondeu calmamente, como se não tivesse entendido minha surpresa toda. Senti-me uma retardada, mas cara... Era um helicóptero! Todos têm seu dia: “Oi! Eu sou uma idiota”.

          -Porque um Helicóptero? – Percebe-se que eu ainda estava me fazendo de idiota, mas realmente era difícil de acreditar.

          -Vamos chegar mais rápido assim. – Ele disse. Onde estava o helicóptero quando eu estava atrasada pra escola?

          -Mas Mitchell... Não sei se você percebeu... Mas é... Um helicóptero! – Não vou comentar mais nada, até que meu surto de idiotice acabe.

          -Mai... Acalma-se. Vamos... - Ele falou pegando minhas malas e levando para o helicóptero. Eu apenas o seguia.


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Notas finais do capítulo

Reviews?

Próximo capitulo: As coisas estão começando a melhorar?
Leiam...