Era dia de arrumação. 

Aqueles dias, que minha mãe decide arrumar toda a casa. E eu aproveito pra encontrar coisas antigas e perdidas. Já encontrei uma pesquisa que eu esqueci de entregar, e graças a ela fiquei de recuperação em ciências ano passado.

Acordei cansada por ter passado o dia anterior arrumando meu quarto. Meus pais estavam de bom humor, e logo descobri porque; meu pai achou uma carta de amor que escreveu pra minha mãe quando adolescente, e estão nessa melação toda.

- Olha filha, uma carta do seu pai pra mim. - ela oferecia a carta pra mim.

- Não quero ler... - disse.

- Tudo bem. - ela guardou a carta em uma caixinha. - Ah, Alice, encontrei uma gaveta cheia de coisas suas de quando era menor. Se quiser ver, é lá no meu quarto.

Achei que talvez pudesse encontrar algo de bom lá. Subi para o quarto.

Encontrei um móvel com seis gavetas, e como eu não sabia nada do quarto de meus pais, tive que olhar em todas. 

Primeira gaveta; calcinhas e cuecas ( eca ). Na segunda encontrei um monte de blusas da minha mãe e na terceira vários papéis. Quarta gaveta; maquiagem e perfume. Na quinta não tinha nada a não ser uma almofada. 

Que perda de tempo. Abri a sexta gaveta já sem esperanças. Mas logicamente tudo estava ali. Fotos de quando eu era bebê, desenhos horríveis, mais o que mais me chamou a atenção foi um caderno, tinha desenhos vermelhos, pretos e brancos.

Não era um caderno apropriado para uma criança escrever, provavelmente não era meu. Só que a curiosidade falou mais alto, peguei o caderno e comecei a lê-lo.

"Ontem me αconteceu umα coisα terrivelmente estrαnhα. Fui pαrα o Pαís dαs Mαrαvilhαs. Eu estαvα lendo um livro quαndo de repente vejo um coelho brαnco, de longe, correndo pαrα umα florestα. Eu sou muito curiosα, então fui seguir o coelho. Quαndo ele me viu, pαreceu fugir de mim. Eu não pαrei de segui-lo, αté que entrei num burαco, bem fundo. Depois disso, vi o coelho outrα vez. Visitei umα lαgαrtα αzul, e um Chαpeleiro Mαluco. Hαviα rαinhαs, α brαncα e α vermelhα. Lά αs flores fαlαvαm com você. Erα tudo muito mαluco. Tαmbém conheci o gαto de Cheshire, ele αpαreciα e reαpαreciα em outro lugαr em um piscαr de olhos. Agorα tenho que ir αlmoçαr, mαs se der tempo eu escrevo mαis sobre o Pαís dαs Mαrαvilhαs

Alice"

Fiquei em estado de choque por um tempo. País das maravilhas. Não sei por que, mas tive a leve impressão de já ter ouvido esse nome em algum lugar... Devo estar ficando louca! Isso é apenas uma redação que eu fiz quando menor.

Mas desde quando uma garotinha escreve sobre um lugar imaginário? Eu devia ser uma doida quando pequena...

Virei as páginas do caderno. Cinco páginas depois do primeiro registro havia um outro.

"Incrível! Fui pra Casa dos Espelhos! Estαvα com α minhα gαtinhα Kitty desenrolαndo um novelo de lã, contαvα prα elα sobre α Cαsα do espelho, lά tudo é αo contrάrio. Então me vi entrαndo no espelho, e αpαrecendo nα cornijα de umα lαreirα. Tentei chαmαr α αtenção de Lily, α filhα dα rαinhα brαncα, mαs percebi que não erα visível. Comecei α explorαr α cαsα, jά que ninguém me viα. Fui pαrα um lindo jαrdim, mαs por mαis que eu tente voltαr prα cαsα depois, não sαíα do lugαr... Enfim, encontrei Humpty Dumpty, α rαinhα vermelhα de novo, e muitαs outrαs coisαs... Não posso contαr tudo αgorα porque α chαtα dα minhα primα quer que eu vά brincαr com elα...

Alice"

Então comecei a lembrar daquela casa, do encontro com Lily... E até de ter lido um poema muito estranho chamado ”Jabberwocky”. É isso! Essa foi a razão pra eu explorar a casa.

- Filha, e então acho achou alguma coisa? - perguntou minha mãe - Ah, vejo que achou esse caderno. Você escrevia nele sobre um lugar imaginário... Não lembro o nome. Bom, agora eu vou me trocar.

- Tudo bem. - eu disse me retirando do quarto. - Preciso dormir um pouco.

- Mas filha, daqui a pouco vamos almoçar!

- Você me acorda na hora. - já estava no meu quarto prestes a dormir.

Guardei o diário "de viagem" na segunda gaveta da escrivaninha. Eu não posso perdê-lo. Ainda não sei se tem mais alguma coisa escrita lá.

Deitei no meu quarto exausta, só pensando no País das Maravilhas, torcendo pra ter um sonho com o lugar.