Memórias de Verão escrita por akaisora


Capítulo 3
Capítulo 3 - E passam-se os anos.




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Haviam se passado um bom tempo sem notícias nem de Kakeru e de Tora, eu já tinha 17 anos e já tentava esquecer tudo que meu pai havia dito ou feito para o nosso próprio bem, afinal, agora estávamos fora de perigo. Mesmo assim eu sabia que tanto os bons e maus momentos eram parte de mim, parte de minha história. Havia noites em que eu perdia o sono apenas fitando a janela como se esperasse que Kakeru batesse na janela e voltasse, mas eu sabia que era apenas uma utopia.
- Kawari, o que houve? – Shinsei chegava à cozinha, via-me já vestida e com uma cara de sono.
- Outro sonho. – falei.

Ela sentou-se ficando de frente para mim.

- Sonhou com Kakeru?
- Você me conhece, sempre que tenho esses sonhos logo fico um bom tempo sem sonhar o mesmo.
- Não fique com essa cara, ele não se sacrificou para que você ficasse assim.

Eu sorri para ela.

- Tem razão, não posso me esquecer que ele e o Hiroyama fizeram isso para o nosso próprio bem.
- Sim, agora vá pro colégio antes que fique atrasada.
- Tchau, mãe. – me despedi e saí de casa ainda arrumando meu cabelo, correndo para chegar ao colégio observei todas as pessoas á minha volta e senti alguém me abraçar por trás. Olhei e vi que era Hitsuka Mawori, uma das primeiras amigas que fiz no colégio.
- Hitsuka, bom dia... – falei, sorrindo enquanto andava junto a ela.
- Que cara de sono é essa? Está doente?
- Você que sempre é animada demais. – ri.
- Fala a verdade, você é uma péssima mentirosa.

Eu a olhei.

-Eu já te contei, não é? Eu tinha um amigo de infância que, digamos, que “desapareceu” no mesmo dia que meu pai.
- Sim, você me contou... Ele desapareceu para que Tora deixasse você e sua mãe em paz, não é?
Fiz que sim com a cabeça.
- sonhei com Kakeru essa noite, sempre perco o sono depois disso.
- Sei que ele fez isso para o próprio bem de você e da Shinsei, mas ainda não acho certo.
- Não acha?
- Claro que não, ele te salvou de Tora, mas te cativou!
- Mas, não foi bem a culpa de Kakeru. Eu já estava bem machucada até psicologicamente, eu achava que ele era a força que me sustentava, vai ver eu esteja sendo só egoísta.
Hitsuka parou me encarando.
- “Tu és eternamente responsável por tudo que cativas”, frase do livro “O pequeno príncipe”. Acho que ela devia ser cravada na testa de Kakeru para que ele nunca se esqueça.
- Tenho medo se em algum dia você encontrá-lo...
- Ele merece uns bons socos.

Eu sempre ria do que Hitsuka falava, ela era a minha melhor amiga. Dizia que quando encontrasse Kakeru iria batê-lo até que ele desmaiasse e é claro que falava brincando. Tinha os cabelos medianos, castanhos e sempre vivia com algum motivo para ver o lado positivo, por esse motivo que alguns colegas nossos falavam que o livro ideal para ela era “Pollyana”. Com uma personalidade extremamente forte, mostrava ser o tipo de pessoa que eu queria ter me tornado.
Chegando ao colégio fomos para a sala, ainda estava cedo e fomos para a sala, ao entrarmos vimos apenas alguns colegas no fundo e o representante de classe – Akio Manori – sentado na carteira do professor folheando alguns papéis. Olhou para nós com um leve sorriso, foi até nós duas ainda mexendo em seus cabelos pretos, algumas alunas que chegavam já ficavam fitando-o desejando que os olhos verde-claro dele as fitasse. Ele também era conhecido por seu sobrenome, Manori, pois sua família era dona de uma grande empresa e assim como eu, era visto como uma pessoa famosa.

- Por que sempre todos olham para vocês dois desse jeito? Dá nervoso. – Hitsuka comentava.
- Se esqueceu? Eu sou filha de uma escritora reconhecida e de um advogado bem sucedido e sumido e o Akio é filho dos donos da Empresa Manori. – expliquei.
- Acredite Hitsuka. Não queira ser de uma família reconhecida, todos acham que é você que é rico.
- No seu caso, você é famoso por que todas as garotas gostam de você e você não pega ninguém. – Hitsuka falava rindo.
- A vida é minha, sabia? – olhava irritado para Hitsuka.
- Não vão brigar, vão?

Hitsuka colocava a mão em minha cabeça.

- Não mudamos nada desde a oitava série... Akio sempre descontando em mim.
- Pra começar, na oitava série eu cheguei nesse colégio e foi você que me chamou de garota.
- Mas parecia. – ela falava, olhando pro teto.
- Parem, por favor... – pedi.

Quando estávamos na oitava série, Akio Manori entrou em nosso colégio sofrendo com as brincadeiras de mal gosto de outros garotos, dizendo que ele parecia uma garota mais nova por causa de sua beleza. Foi nessa época em que ele foi atacado e cortaram-lhe os cabelos. Ele ainda estava sentando esperando que todos fossem embora quando eu e Hitsuka fomos até ele, eu sabia que até a menor das palavras poderia ser um fio de esperança para ele, eu o entendia. Desde então era apenas eu, Hitsuka e Akio. Protegemos uns aos outros, os outros grupos não entendiam a nossa amizade. Pensavam que nós éramos diferentes demais para andarmos juntos. O representando de classe que poderia ser o garoto mais popular, uma garota quieta e uma que ficava feliz por tudo que poderia acontecer. Mesmo assim, mostramos que por sermos diferentes aceitamos uns aos outros e não importava quem era ou qual era o problema, sempre estávamos um do lado do outro, ajudando a qualquer hora, em qualquer momento.
Ao vermos que o professor chegava sentamos em nossos lugares. Hitsuka ficava longe de mim e Akio por falar muito durante a aula e ele se sentava ao meu lado, era assim desde que nos conhecemos. Sentei-me tirando meu caderno e abri o deixando sobre a carteira, Akio ficara pensativo e permaneceu olhando o quadro negro. Estranhei o fato de ele ficar quieto, era da natureza dele falar e apenas ficar quieto quando via que era a hora. Olhei meu caderno, suspirei profundamente tentando esquecer que eu havia sonhado com Kakeru, comecei a bater na carteira com a ponta de meus dedos, o professor começava a escrever a matéria no quadro, por um instante fiquei parada sem dar um só pio. Akio cutucou minha cabeça.

- Oi? – virei, olhando para Akio.
- Você estava igual á uma estátua, pensei que ia desmaiar...
- Não, não... Só estava distraída. E o que houve? Você está bastante quieto hoje.
- Ah... Nada de mais, não quero preocupar você e Hitsuka.
- Do que está falando? Sabe que estamos aqui para todos os tipos de situações.

Ele sorriu timidamente.

- Meu pai quer que eu assuma as atividades que ele tem nas empresas da família...
- E não é isso que você queria? Sempre falava como gostaria de trabalhar nas empresas de sua família...
- É diferente, ele nunca se importou comigo e agora vem dizendo “você vai fazer isso”.

Apenas permaneci quieta, eu sabia como era o sentimento de ser mandado. Sempre que pessoas de maior idade falavam de crianças, era a mesma imagem de coisas pequenas e adoráveis que deveriam ser cuidadas. Mas o que poderíamos fazer quando crianças quando nossos pais, aqueles que vimos como deuses supremos, vinham até nós e com só uma palavra nos fazia abaixar a cabeça de tristeza? Não importava o dinheiro que o pai de Akio tanto gostava isso não fazia seu filho feliz, no fundo ele só queria o olhar do pai sobre ele. A relação só poderia piorar na adolescência, não é mesmo? Realmente eu o entendia, apesar dele nunca ter sido preso em um quarto e maltratado pelo pai. A maior violência pode ser a física, mas logo as marcas somem... A pior era o silêncio, o afastamento. Lembro-me que desde que fiquei amiga de Akio, ele sempre ligava para mim quando se via sem saber que caminho seguir. Eu me vi no lugar de Kakeru pela primeira vez, o que senti não foi piedade e nem nada parecido, mas sim uma leve alegria que crescia dentro de mim ao saber que confiava em mim para que eu lhe ajudasse. Senti que era o certo a se fazer, foi quando fiz a promessa de ajudá-los até que não precisassem mais. Não importava o quanto tempo levaria, se eu estava ali foi graças á ajuda de pessoas como Kakeru. Eu queria poder fazer o mesmo, só assim eu poderia ser cada vez mais forte.
Acabando a aula, Hitsuka havia ido embora mais cedo para ir trabalhar. Eu estava saindo do colégio com Akio, que sempre me acompanhava até em casa.

- Akio, tente descansar... Para pensar sobre o que quer seguir. – falei.
- Quero trabalhar na empresa, mas ao mesmo tempo não sei se é certo.
- Mas, não é o que quer?
- Acho que eu seria capaz de desistir só para confrontar meu pai.

Encarei-o séria.

- Não desista de seus sonhos por causa de seu pai. Sei que ele quer que você trabalhe nas empresas dele, mas não estará fazendo isso por ele. E sim, por você.

Ele permaneceu quieto por alguns minutos.

- Não sei o que acontece, ele nunca gostou de mim.
-Não mude para que ele goste de você, agora tem que pensar o que é bom para você e para sua vida.
-Será que um dia ele vai parar de ter um olhar arrogante?
- As estrelas.

Ele olhou-me sem entender.

- Do que está falando?
- Seu pai pode ser igual ás estrelas, você pode olhar o céu e pode não vê-las á toda hora, pode querer alcançá-las. Mas elas estão ali, sobre você. Podem aparecer timidamente com passar do tempo, mostrando seu brilho e sua beleza. Mas, lembre-se que nada adianta ser a maior estrela se não há ninguém para admirá-la.

Naquele momento, senti como se Akio estivesse prestes a chorar igual á uma criança. Só o que eu podia dizer que em algum momento tudo iria melhorar e que nada estava perdido. Chegando em casa, ele forçou um sorriso e seguiu seu caminho, senti que ainda havia algo que ele não tinha me contado mas deixei pra lá, talvez fosse algo mais pessoal e que eu não deveria me meter.
Akio andava até a esquina, olhava para trás como se sentisse estar sendo observado. Arrumou os cabelos, suspirando profundamente. Deu um passo para trás, calmamente. Olhava para o chão fixamente, colocava a mão no peito dando um leve gemido, uma pontada de dor iniciava-se em seu peito. Viu um barulho como o de um carro correndo em grande velocidade, um carro preto parava em sua frente, as portas se abriram saindo um homem de terno. Akio virou-se para tentar correr, mas era puxado para dentro do carro.

- Senhor Manori, você está bem?

Akio ainda tinha a mão no peito sentindo a dor aumentar.

- Não podem ficar me vigiando pra sempre.
- Você tem problemas cardíacos, seria melhor estudar em casa em vez de ficar andando por aí...
- Como se meu pai se preocupasse, Matt.

Matt entregava dois comprimidos e um copo de água.

- Sou seu segurança desde que me lembro e nunca vi tanta rebeldia de sua parte, Akio.
- Você é mais meu pai do que ele.
- Tenha paciência. Está melhor?
- Sim, a dor parou...

Matt bagunçava os cabelos de Akio.

- Estava indo para o cemitério ver o túmulo de sua mãe?
- Já faz dez anos desde que ela se foi, eu queria ir lá.
- Não é bom você ir, fortes emoções podem gerar em você uma crise.

Akio olhava para baixo.

- Nunca posso fazer nada que eu quero.
O carro parava em frente de uma mansão, Matt fazia sinal para o motorista. Ele e Akio desciam, andavam pelos corredores e viam um grupo de homens bem distintos andarem e um homem alto, muito parecido com Akio andava até Matt.
- Outra crise?
- Não, mas o seu filho quis dar uma fugida. – Matt falava olhando para Akio que permanecia olhando para o lado.
- Deve cuidar mais da saúde, Akio.
- Por que não vai cuidar da empresa? – falava, o encarando. Matt segurava seu braço.
- Senhor Yetsu, vai ter reunião até a tarde?

Yetsu fazia que sim com a cabeça, saía deixando Akio parado ao lado de Matt o encarando com desprezo.

- Dá pra parar de enfrentar seu pai desse jeito?!
- Você não entende Matt. Ninguém entende! – andava por um dos corredores.

Matt o seguia revirando os olhos.

- Seu pai não te dá atenção e blá, blá, blá... Eu sei Akio!
- E acha bom?!
- Não me assusta ser assim, por que não tenta reverter à situação?

Akio virava-se para ele.

- Prefiro não seguir seus conselhos.
- Então siga o exemplo de filha da Senhorita Shinsei.
- Como conhece a Kawari? – perguntava surpreso.
- Eu sempre te vejo andando com ela.
- A andou espionando?!

Matt fazia uma careta para Akio.

- Não, mas deveria ouvir sua amiga. Afinal, você é metido demais e sempre teve uma família completa.
- O que tem haver?
- O pai dela sumiu sem falar nada, depois do sumiço a própria Shinsei havia dito que chamaria a polícia se ele voltasse.
- O que pensa que ele teria feito?
- Não seja ingênuo, hoje em dia temos mais criminosos do que tudo. Pedófilos, Psicopatas, Políticos... Quer mais exemplos?

Akio havia pensado em como teria sido melhor se tivesse falado diretamente com seu pai, apesar de tanto trabalho Yetsu Manori havia contratado Matt para ser o segurança particular de Akio e também disfarçava sua preocupação paterna.
No dia seguinte, Akio já estava indo para o colégio pensando no que Matt havia dito. Olhava para os lados, pensou ter a mesma sensação, verificou nos bolsos se estava com seus remédios. Viu que sim. Andou um pouco mais rapidamente, olhou pra trás vendo um grupo de garotos do colégio andar e o encarar. Olhou para frente suspirando profundamente, andou mais rapidamente vendo que os garotos também estavam indo atrás dele. Começava a correr, um deles parava em sua frente enquanto os outros o cercavam, um deles o puxara pelo cabelo e o jogara contra a parede.

- Ora essa, é o riquinho...
-Me deixem em paz, o que eu fiz pra vocês? – levantava-se encarando os garotos.
- Não sei por que, mas sempre que olho para a sua cara de garota me dá raiva.

Um dos garotos o dava um soco, o fazendo cair no chão, eles juntava-se e começavam a chutar Akio que só podia proteger o peito, Akio fechou os olhos esperando que eles se cansassem quando percebeu outro garoto chegar, sentiu que os chutes tinham acabado. Olhou para cima e viu o garoto que tinha chegado empurrar os dois que o batiam e segurar o outro pelo pescoço. Olhou para Akio fazendo um sinal positivo.

- O deixem em paz e sumam. Agora.

Os garotos corriam para longe, Akio sentava-se ainda sentindo a dor dos chutes, o garoto estendeu a mão o ajudando a levantar.

- Você está bem? Nossa, que susto... Pensei que iam te chutar até que você apagasse. – o garoto coçava seus cabelos pretos, era um pouco mais alto que Akio.
- Obrigado... Pensei que você também ia me bater.

Ele riu.

- Odeio injustiça, eu vi pelo uniforme. São do mesmo colégio?
- Sim, eles me detestam por que... Bem, dizem que eu sou metido e tenho cara de garota.
- Ah isso você tem mesmo.
- Valeu... – falava em tom irônico.
- Tome mais cuidado, isso deve ser horrível.

Akio riu, ajeitou o uniforme, limpava a mão e a estendia para o garoto.

- Desculpe a falta de educação, meu nome é Akio Manori.

O garoto apertou sua mão, o cumprimentando.

- Manori? Das empresas Manori?
- Sim, infelizmente...
- Digamos que pode me chamar de Kai. – sorria gentilmente.


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