Memórias de Verão escrita por akaisora


Capítulo 1
Capítulo 1 - O começo de tudo.




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Eu já tinha nove anos quando tudo havia acontecido, lembro-me como se fosse á alguns minutos atrás. Eu era a filha única de Shinsei Hinori, minha mãe, e Tora Shinsei. Lembro-me que era sempre lembrada como a filha do advogado correto e de boa índole, eu apenas sorria para o que diziam. Eu não me importava com tais coisas naquela idade, a maior lembrança que eu tinha era a imagem de que éramos a família em que todos queriam fazer parte, pais unidos e bem sucedidos e uma filha com saúde e obediente. Foi quando pensei no por que daquilo tudo, ao andar em uma festa em nossa própria casa apenas vi meu pai conversando de negócios com um velho amigo de nossa família, procurei novamente minha mãe olhando á minha volta.
- Kawari Shinsei! Como está crescendo! – falava Hiroyama Yasetsu, outro grande amigo de meu pai naquela época, passava a mão em minha cabeça.
- Hiroyama!
- E então, quem está procurando? – falava abaixando-se para ficar na minha altura.
- A minha mãe... Você a viu, tio Hiro?
Senti a mão de meu pai encostar-se a minha cabeça.
- Kawari, não está correndo, está? Pode sujar seu vestido.
- Deixe-a se divertir, Tora. Cuido do meu sobrinho e ele vive correndo...
- Você tem um sobrinho da minha idade, tio Hiro? – perguntei encarando Hiroyama.
Ele riu levemente.
- Sim, o nome dele é Kakeru Yasetsu. Um dia, trago ele para vir brincar com você.
- Faz tempo que não nos víamos. – Tora o encarava seriamente.
- Eu sei, entrei para a faculdade de Medicina. Desisti de ser advogado. – ria.
- Kawari querida, por que não vai procurar sua mãe enquanto converso com o tio Hiroyama?
- Tá... – eu saí dali andando calmamente, eu percebia só de olhar a diferença espantosa entre os dois, enquanto Hiro era alegre e divertido, Tora era preso ás leis.
Andei olhando á minha volta, ás vezes a atmosfera que rodeava meu pai me assustava. Olhei e vi minha mãe sentada em uma cadeira, observando as pessoas irem e virem. Aquela imagem sempre foi a que eu presenciei em todos os grandes momentos de meu pai, ele brilhando igual á um deus e ela ali, sentada e quieta. Não sei se na época eu tinha tal sentimento, mas eu sentia algo que parecia sentir pena. Andei até ela dando o meu mais sincero sorriso, ela retribuiu dando seu mais belo sorriso.
- O que faz andando pra lá e pra cá, mocinha? – ela brincava, rindo.
- Eu estava procurando você... Não gosto de ficar ouvindo a conversa do papai, não consigo entender nada.
Ela ria.
- Bem, também não entendo querida. – sorria passando a mão sobre minha cabeça.
- Mamãe, por que você sempre fica sozinha quando há essas festas?
Ela olhou-me espantada com a pergunta, forçou um sorriso dando uma risada baixa. Ela nunca sequer ousou responder a minha pergunta, mas eu nem sequer percebi o quão complexa eram as minhas dúvidas, apesar de bem no fundo de meu coração eu sentisse um medo de saber a resposta. Olhei em volta novamente, vi meu pai nos encarar de forma séria, desviei o olhar fingindo um sorriso para os outros.
Desde que me lembro o meu lar era sempre cheio de pessoas em que só Tora conhecia, poucos eram os amigos de minha mãe, era estranho vê-la tão sozinha no meio de uma multidão. De certa forma tinham inveja de meu pai, Shinsei era bela até para os olhos de uma criança e até seu toque era macio, assim como sua voz também era. Não me lembro de fotos do casamento e nem nada do tipo, eu recusava-me a perguntar assuntos de família para Tora.
Ele era um advogado famoso e admirado, como eu já havia dito. Sua vida e família eram impecáveis e não possuía nenhum escândalo na mídia, todos viam a família Hinori como a mais plena perfeição. Mas nada disso era, de fato, uma verdade. Quem vivia e o conhecia saberia que ele tinha segredos, que nunca haveria tido uma conversa franca comigo e que Shinsei vivia calada, andando pelos corredores e escrevendo seus livros, que era seu trabalho e sua válvula de escape. No entanto, ela sempre tratava de ser meu escudo, tinha medo de que Tora se irritasse comigo por qualquer motivo.
- Mãe, cadê o papai? – perguntei entrando na sala, já estava tarde e comecei a me preocupar com a demora de Tora.
- Deveria estar dormindo, outro pesadelo?
Sentei-me no sofá ao lado dela.
- Por que o papai some todas as noites?
- Acho que ele saiu com o Senhor Hiroyama, faz tempo que eles não se falavam.
- Eu lembro que ele nos visitava mais vezes... Ele não gosta mais da gente?
Shinsei olhava-me preocupada.
- Não é nada disso, Kawari. O Hiroyama só anda ocupado. – falava fechando o livro que lia.
- Eu gosto quando ele ia mais vezes nas reuniões e festas do papai, pelo menos ele era seu amigo, não era? – a encarei com um leve sorriso.
- Sim. Hiroyama, eu e seu pai nos conhecemos no colegial. Mas, acabamos nos separando. – sorria de forma triste.
Eu dei uma leve risada, ouvi a porta se abrir. Tora olhava para nós duas seriamente, estava de terno e levantava uma das de suas mãos e apontava para o corredor, o olhei sem entender.
- não deveria estar acordada até essa hora, vamos. Vou levá-la para o seu quarto.
- Tora... – Shinsei o encarava hesitante.
- Pai, eu quero que a mamãe me leve. – falei sem encará-lo, ele respirou profundamente fechando a porta.
- tudo bem.
Ao ouvir a resposta suspirei aliviada, ele andou até mim passando a mão em minha cabeça, diferente do toque macio de Shinsei, ao sentir a mão de Tora consegui sentir como se fosse um choque, algo paralisante. Hora ele estava bem e conversava igual a uma pessoa realmente sociável, hora ele era agressivo por coisas tolas. Não dava para previr o que aconteceria, qual era o seu temperamento em uma situação.
Segurou os meus cabelos, puxava-me me fazendo levantar, Shinsei levantou-se assustada. Olhei-a como se eu pedisse para que ela não fizesse nada.
- Mas acho melhor eu colocar minha autoridade nesta casa, já que Shinsei é tão querida até pela própria filha.
- Pai, está doendo! – falei, sendo puxada pelos cabelos por Tora.
Ele havia me puxado até a porta de meu quarto, empurrou-me para dentro me fazendo cair e bater a cabeça no chão. Tentei levantar o mais rápido possível e pude ver Shinsei correr até Tora, que batia a porta de meu quarto, trancando a chave.
- Tire-a daí, Tora!
- Quem é você para falar isso, eu que tenho de ter a autoridade aqui, eu vou dormir. Boa noite! – gritava com Shinsei, pude a ouvirela sendo empurrada contra a parede. Ele saía da casa novamente.
Sentei no chão de meu quarto, a luz estava apagada, coloquei a mão em minha cabeça e vi que havia sangrado um pouco. Fiquei pálida a me ver sozinha naquele quarto escuro, fui até a porta querendo abri-la, mas era em vão.
- Mãe, mãe?! – comecei a bater na porta, pude ouvir os passos de alguém, rezei para que fossem os de Shinsei. Tora abrira a porta parecendo mais irritado, chutou-me com o pé esquerdo, caí para o lado. Sentei-me colocando a mão em minha cabeça, vendo que estava machucada.
- Pai... Eu estou machucada...! – o olhei sem entender, eu não havia dito nada de mais para que ele me agredisse. Esperei que ele visse que estava agredindo sua filha, mas ele apenas mostrou os punhos, como se pretendesse me bater novamente.
- É mesmo? Que isso sirva de lição para não me destratar, eu não sou uma pessoa inferior. – saía do meu quarto, trancando novamente.
Corri até a porta, hesitei ao querer bater na porta para pedir por socorro. Imaginei que ele poderia voltar e me bater. Andei rapidamente para dentro do quarto ainda escuro, sentei ainda sentindo o machucado de minha cabeça. Abracei meus joelhos apenas rezando para que nada de ruim tivesse acontecido com Shinsei.
- Kawari? Kawari?! – escutei uma voz macia me chamar e andei lentamente até a porta ainda pálida de medo.
- Mãe...? – perguntei em voz baixa.
- Sim... Desculpe não poder fazer nada, eu queria muito te tirar daí. – ela falou, por detrás da porta.
- O que eu fiz...?
- A bipolaridade de Tora é agressiva, me desculpe por não te proteger... Você está bem?
Eu segurei as lágrimas, encostei minha cabeça á porta.
- Não precisa pedir desculpas, só... Não desista, eu sei que um dia isso tudo vai acabar.
Naquela noite, Shinsei dormiu no corredor, ao lado da porta de meu quarto. Eu apenas respirei fundo para não chorar, deitei-me rezando com toda a minha fé não para que tudo acabasse, mas sim, que alguém nos levasse daquela casa. A pior coisa que eu poderia agüentar era ver a minha mãe sendo machucada e agredida, não importa o que eu tivesse de fazer para que ela voltasse a ser o que era, mesmo que eu apanhasse de Tora todos os dias. Eu não poderia seguir em frente se Shinsei desistisse de tudo, eu tinha de ter certeza que ela estaria ali. Só assim eu poderia agüentar e não me rebaixar ás tristezas que meu pai queria que eu sentisse.

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