Me tranquei no quarto, me afogando nas minhas próprias lágrimas. Afundei a cabeça no travesseiro, minha vida girando aos meus pés, escolhas, decisões, pedidos. Nico me amava e daria a alma dele por mim, no entanto Percy era meu amor, a pessoa que me amaria independentemente das coisas erradas e estúpidas que eu fizesse. Parecia que eu tinha começado tudo de novo. Tudo tinha começado ali, naquele quarto, quando minha tia me ninava e me colocava para dormir, a vida simples como respirar. Tudo o que eu tinha agora era um coração apertado, uma família disposta a me imortalizar e um amigo revoltado que morreria no meu lugar. Três batidas na porta me tiraram dos pensamentos afoitos que eu tinha “Vai embora, para de encher o saco” sabia que era mal educado, mas foi a única coisa que me deu vontade de falar “Ei mocinha, não é assim que..” Atena começou a dizer mas a voz de Posseidon a cortou “Relaxa Atena. Podemos entrar?” ele falou e eu respondi que sim.

“Ellie, eu sei que tudo parece um caos para você, mas sabe que não precisa ser assim” Atena olhou para mim com os olhos cinzas. Ela pelo menos se preocupava comigo, diferentemente da minha mãe de verdade “Olha eu sou a deusa da Sabedoria e te darei um conselho...” ela ia falar algo mas eu cortei “Siga seu coração. Ah tá, como se eu nunca tivesse ouvido isso antes, toda essa coisa já está me enchendo o saco. Quer saber?” Eu sentei e limpei minhas lágrimas “Acho isso tudo uma coisa estúpida. Minha vida sempre foi feliz, eu sempre tive pessoas que me amassem independentemente do que eu fizesse. Minha escolha é deixar a vida seguir o curso que sempre teve: eu vou ser uma meio-sangue, vou ficar velha e vou morrer. Se isso não agrada nenhum de vocês, ótimo, podem me abandonar, eu não ligo.” Derramei a enxurrada de palavras neles que olharam com medo “Eu só ia te dizer para você largar de ser burra e continuar com sua vida” Atena me olhou impressionada com o sorriso de sempre.

Depois disse eu nem olhei duas vezes para eles, corri com tudo o que tinha até a sala, onde ninguém estava, corri pela rua trombando nos seres bobos e fantásticos de sempre, quase esmagando o pé de Héstia que andava lindamente pela calçada, fazendo ginástica e passando por Hermes, que estava correndo também. Parei. “Tio, perdeu, me empresta o tênis agora” olhei para ele e ele tirou aquilo com asas dos pés dele “Maia” corri e subi, depois desci subitamente, o vidro do Empire State passando na minha barriga, mergulhando de cabeça na selva de concreto. Parei a alguns centímetros da calçada e voltei para os céus rapidamente. Faltava pouco para chegar, uns 2 quilômetros quando algo inesperado aconteceu. Não sei como, mas eu comecei a cair, como se algo me empurrasse, tentei ir mais para frente, já conseguia ver o acampamento, já conseguia ver a lagoa, a casa grande, Percy correndo para me ver, mas o fato era que eu ia morrer com a queda. Suspirei e deixei a terra vir na minha direção.

“Ela está bem?” uma voz disse “Não, está com o braço e uma costela quebrada, o que é um milagre, porque ela deve ter caído de uns 100 metros ou mais” outra voz sussurrou respondendo “Já chamaram Percy? Ele vai gostar de saber que a namorada dele está caída aqui” um menino disse e riu. Que droga. Mais uma vez, as coisas dão errado. Parecia que eu sempre tivera um lado desastroso. Mas eu sei o que causou o meu acidente. “Nada bom. Ela está com uma hemorragia no lado direito e o braço está quebrado, o que é um milagre” uma voz adulta falava e uma voz diferente de todas as outras que se destacava por ser aveludada e de um timbre perfeito. QUE DROGA, eu estou filosofando sobre a voz do meu namorado, mas ok. “Ellie, você está bem, por favor, me diz que você tá viva, pelo amor dos deuses” Percy começou a falar, alguém explicou a situação a ele “Nem com a alma?” ele disse e parece que alguém negou, porque ele soluçava tanto que parecia que ia morrer. Uma lágrima caiu em meu ombro quando algo diferente aconteceu.

Mesmo com os olhos fechado havia alguém ali. “Ela vai morrer, não resta sombra de dúvida” alguém disse respeitosamente. “Não tem jeito algum de consertar sem transformá-la?” Percy perguntou e ninguém respondeu. Algo poderoso me pegou no colo, quente também, Apolo logo suspeitei. Só queria que ele me soltasse, mas a dor era insuportável. “Vou ter que levá-la. Chame seus amigos se quiser, mas ande logo, porque ela vai morrer nos meus braços.” Aposto que ele piscou e deixou todos sem graça. “Relaxa Ellie, vai ficar tudo bem” ele me endireitou, colocando o lado do braço quebrado para o outro lado, longe de seu corpo quente. Não conseguia me mover, nem falar, mas senti quando nós subimos pelos céus na Ferrari dele, minha cara roçando no banco da frente “Cuidado com ela” Percy disse e me puxou “Me devolve” Nico disse e me puxou de volta “Deixa ela quieta” Percy disse, mas Nico rebateu “COMO VOCÊ QUER QUE EU DEIXE A MENINA QUE EU AMO QUIETA?” Aquilo doeu. Percy respondeu “Mas sabe que vai machucá-la assim, você está ferindo ela. Se ela me escolheu...” Nico respondeu “Ela só te escolheu porque eu estava morto, seu peixe arrogante” Percy agora discutia com Nico “Sim, mas ela podia ter me dado um pé na bunda e ficado com você, no entanto ela continua sendo minha” Nico respondia cada vez mais irritado. “Calem a boca os dois, porque se não quem vai ficar com ela sou eu” Apolo bradou do banco da frente e não ouvi mais nenhum barulho.

“Está consumado então” Zeus disse e eu abri os olhos. Por um segundo eu me maravilhei com a cena ao meu redor: Todos os olimpianos me observando, com sorrisos impecáveis e roupas brancas. Meu namorado e meu amigo estavam ali, do lado deles, ambos com sorrisos no rosto. “Então agora eu sou oficialmente uma deusa?” sorri, mas não estava feliz. Queria quebrar aquela porcaria de chão e fugir, ir embora, viver isolada com Percy para sempre. O problema é que o para sempre meu envolvia um certo número de anos incontáveis e o para sempre dele ia ser até a morte. “Eu vou ter um atributo ou o que?” abri um sorriso e minha tia Atena sentou-se do meu lado “Você vai ser Ella, a deusa das segundas chances e da juventude. Seus símbolos serão a rosa vermelha e a borboleta” ela declarou e todos assentiram felizes.

Depois da cerimônia e do néctar e todos esses procedimentos idiotas, fui passear pelo jardim sozinha. “Ellie, espere” Percy pulou umas rosas e se arranhou, mas correu na minha direção mesmo assim. “Olha, eu te amo muito. Eu sou o namorado da deusa mais bonita do Olimpo todo.” Ele fez uma pausa “DESCULPA AFRODITEEEEE” e continuou “Eu sei que é meio desesperador e etc, mas eu te amo. Muito mesmo. Bem, vou aproveitar minha única chance de te fazer feliz. Aceita casar comigo?”