PDV – Kendra:

Eu rezava o tempo todo, não fazia outra coisa, só rezava, por mim e por Cris. Eu não aguentava mais ficar assim, era sofrimento demais para mim.

Natalia entrou no quarto e olhou para mim com aquela cara de manga azeda dela.

-Chegou a sua hora, queridinha. – Eu fiquei abismada com tamanha felicidade que ela demonstrava em matar as pessoas.

Eu olhei para Cris – que dormia serenamente em meu colo – e afaguei os cabelos dela.

-Adeus minha amiga. – Sussurrei em seu ouvido. – Natalia, mesmo que você não tenha coração, deixe-me fazer uma carta de despedia para as pessoas que eu amo? – Chorei tentando me controlar, mesmo que internamente eu gritasse com todas as minhas forças.

-Claro, por que não? – Ela se perguntou e tirou uma caneta e um caderno da mochila dela.

Arranquei duas folhas e comecei a escrever:

Cristina,

Sei que passamos pouco tempo juntas, mas sei que seriamos grandes amigas, pois nós ficamos amigas em um momento muito difícil, por isso sei que mesmo que você não me considere uma grande amiga, eu considero você.

Essas ultimas horas foram agonizantes, mas logo ira acabar para mim, e espero que também acabe para você, mas não desta maneira que parto.

Quando ler essa carta, não fique triste pela minha morte, mas alegre, pois posso estar num lugar melhor.

Te confidenciarei uma coisa, eu tenho uma pequena garotinha, uma filha, o nome dela, por incrível que pareça, é o seu nome, Cristina. Engraçado, não? Então peço que cuide dela quando entre os vivos eu não estiver mais. Ela esta com o meu namorado, então peço que fale com ele e cuidem da Cristina juntos.

Cris, te adoro amiga, e peço também que entregue uma carta para a minha filha.

Kendra.

Eu dobrei vagarosamente a carta e a coloquei embaixo da cabeça da Cris.

Cristina,

Você deve me conhecer, mas só pelo o que as pessoas falam, mas mesmo você não chegando a me conhecer, saiba que eu te amo.

Pude ver seus primeiros passos, suas primeiras palavras e o seu primeiro sorriso, só que não poderei te ajudar quando você menstruar pela primeira vez, não poderei te dar dicas de namoro, nem te ajudar a estudar para aquela prova de matemática. Mas eu sei que você terá ajuda de uma grande amiga minha, ela também é Cristina.

Seu pai vai te dar muito amor e carinho.

Sua tia vai ser a sua mãe.

E espero que um dia você leia essa carta e saiba que antes da minha morte, você foi o ultimo rosto refletido em minha mente, e que será a imagem que guardarei para a eternidade, eu te protegerei de lá em cima, com os anjinhos.

Te amo meu amor.

Kendra, sua mamãe.

Dobrei essa carta, a beijei e coloquei em baixo da cabeça da Cris, novamente.

-Acabou o drama? – Perguntou Natalia.

Eu fiquei calada e me preparando para morrer. Tirei a cabeça de Cris do meu colo e me levantei.

Natalia pegou um alicate e pegou a minha mão.

-Tente não gritar muito. – Ela falou com um sorriso cínico e começou a apertar o alicate contra o meu dedo mindinho.

A dor era insuportável, de repente senti o meu dedo cair e desmaie tamanha a dor.

...

Quando acordei não sentia mais os meus dedos e a dor era horrível.

-Que bom que acordou, agora posso terminar. – Falou Natalia mirando uma arma para o meu peito.

Como o prometido na carta, pensei no rosto da minha filhinha sorrindo para mim pela primeira vez.

Senti uma forte dor no meu peito e tudo ficou escuro.