Eu marchava em direção do dormitório feminino.

Eu mereço! Como pude deixar a minha bolsa com a maluca da Cris? Eu sou tão maluca quanto por deixar!

Enquanto eu me chutava internamente, não vi o Alexandre, o professor de artes do colégio Anjos Do Norte, e acabei caindo em cima dele.

-Se queria falar comigo, era só pedir. – Ele brincou.

Alexandre era muito bonito. Tinha olhos verdes, cabelos loiros, um corpo forte e era meio baixinho. Alem de ser bonito, era engraçado e me ajudava quando eu precisava.

-Desculpe Alexandre. – Grasni nervosamente.

Logo me recompus e fiquei de cabeça baixa, corando. Eu gostava muito dele e ele não sabia disso.

Ele também se levantou, pegou o meu rosto entre as mãos e beijou o topo da minha testa. O que praticamente me fez derreter em seus braços e ate mesmo me esquecer da minha bolsa.

-Mas o que você esta fazendo á essa hora aqui? – Putz! Esqueci-me que depois das cinco horas todos deveriam estar em seus dormitórios.

-Estava indo pegar a minha bolsa com a Cris. – Falei gesticulando muito.

-Teresa, Teresa, Teresa! Não se deve andar sozinha quando se tem alguém sequestrando meninas pelo campus. – Ele me repreendeu.

-É que meu cartão do quarto esta na bolsa e sem ele não posso entrar no quarto. – Eu falei colocando o meu cabelo castanho atrás da orelha.

-Então ta. – Ele colocou as mãos no bolso.

Ele já estava indo embora quando eu peguei seu braço e ele se virou. Notei que ele usava um casaco de capuz lindo.

-O que você esta fazendo aqui á essa hora? – Essa pergunta estava atrasada, mas não podemos confiar em ninguém. Mesmo que esse alguém seja a visão do paraíso... Concentre-se Teresa!

-Meu irmão pediu para eu levar uma coisa para ele. – Ele levantou uma sacola que aparentava estar cheia.

-Hum... Ta! – Eu me virei e continuei marchando ate o dormitório feminino

-A gente se vê amanhã, Terri. – Gritou Alexandre de longe.

Eu posso dizer que marchei ainda mais mecanicamente do que antes de encontrar o Alexandre.

Foto do Alexandre:

-Professora Teresa! – Gritou Natacha, a colega de quarto da Cristina – Que surpresa a senhora aqui! – Ela continuou gritando.

Isso esta muito estranho!

-Maninha! – Minha irmã gritou não sei de onde.

-Cristina Dos Santos! Apareça aqui já! – Gritei.

Natacha abaixou a cabeça e saiu da frente.

Natacha era morena e tinha olhos castanhos claros. Era do estilo rebelde sem causa, eu não gostava dela.

Foto da Natacha:

Cristina apareceu na porta usando um vestido preto bem decotado.

-Eu posso explicar. – Ela falou sabendo que já estava ferrada.

-Pode? – Falei irônica.

-Sim, sim! – Ela olhou assustada para Natacha – Nós duas estávamos... – Ela olhou o quarto todo e deu um salto – Vendo que roupa daríamos aos pobres.

-Isso! Íamos doar roupas, como a senhora pediu! – Natacha ressaltou.

-E você ia dar esse vestido? – Olhei novamente para o vestido preto, que tinha varias lantejoulas.

-Não! Só estava vendo se ainda dava. Não é que deu Nat?! – Cris correu para o banheiro e a Natacha tentou fechar a porta na minha cara.

-Mocinhas, vamos conversar depois. Agora eu quero a minha bolsa. – Falei entrando no quarto.

Podemos dizer que a minha irmã não é a pessoa mais organizada do mundo. O quarto estava uma bagunça. Tinha caixas de pizzas pelo chão, roupas espalhadas em cima das camas e muitos produtos de beleza espalhados pela mesa. Não parecia um quarto de meninas.

-Aqui esta. – Ela estava enrolada numa toalha segurando a minha bolsa.

-Você esta muito encrencada. – Peguei a minha bolsa e caminhei em direção a porta.

Cristina era muito diferente de mim. Era bagunceira, festeira e namoradeira. Não se preocupava com os estudos e sempre cabulava aulas importantes. Apesar da nossa diferença de comportamento nós éramos ate parecidas na aparência, mas só um pouco.

Foto da Cristina:

Foto da Teresa:

Eu estava perto do ginásio de esportes, quando ouvi um grito.

-Socorro! – Alguém gritou.

O desespero na voz era enorme.

Eu corri silenciosamente ate o ginásio e me escondi na arquibancada.

O homem de capuz – que eu não conseguia ver o rosto, mas o capuz era parecido com o de Alexandre – deitou a menina – que não era aluna minha – no chão e acariciou o seu rosto. Ele olhou ao redor e pegou ela no colo e a levou para fora do ginásio. Eu fiquei congelada, não consegui nem me mexer.

Devo ter ficado muito tempo parada, pois ele voltou com um corpo nos braços, essa menina eu reconheci, era a minha aluna, Katerine.

Foto da Katerine:

Meu coração disparou, minha respiração ficou acelerada e minha visão embaçou em ver o estado dela. Sem os dedos, com o rosto e o corpo todo machucado, mal parecia ser a Katerine, romântica e animada.

O homem encapuzado ouviu-me e começou a vir em minha direção. Eu não teria escapatória, morreria naquele momento. Ele parou de andar e olhou em minha direção.

-Nos vemos na próxima, Terri. – O som do meu coração abafou a voz de quem falou, mas era um homem, disso eu tinha certeza.