BELLA

Depois de pegar meu carro na casa de Jacob, rodei sem rumo por algumas horas antes de tomar o caminho de volta pra casa.

Eu estava louca ou o que?

Como eu podia arriscar pôr tudo que me era mais essencial na vida a perder por um surto de paixonite adolescente que eu nem sabia de onde vinha?

Procurei em minha alma um sentimento que contradissesse que Edward era o homem da minha vida.

Não encontrei nada, nem um só pequeno motivo que fosse para achar que isso não era verdade. Ele continuava a ser o homem que eu amava. Mas eu não sentia mais esse amor... Como isso era possível?

Um desespero agudo por Jacob me tomava. Como se ele fosse o ar e eu estivesse sufocando. Precisava dele.

Eu não entendia essa necessidade. Surgira do nada, me consumindo inteira e me impedindo de raciocinar.

Eu senti que meu amor por Edward não tinha força suficiente no momento, para me impedir de ser tragada por essa atração irrepreensível que me dominava, e com a mesma intensidade, me afastava cada vez mais dele.

Tentei encontrar em mim a força de vontade para lutar contra isso.

Mas o sentimento vinha de meu âmago, comandando minhas atitudes.

Talvez eu não o amasse mais. Talvez restasse apenas a lembrança daquele amor que eu sentira quando ele me deixou. Talvez sua partida tenha feito um estrago maior do que eu detectara a principio e, provavelmente por medo de passar por tudo aquilo novamente, meu inconsciente tivesse me prendido àquela ilusão.

Quando entrei em casa, Renèe estava conversando com meu pai na sala, e o Phill estava na cozinha preparando alguma coisa. Não prestei atenção neles. Subi direto pro meu quarto, atirando o casaco ao chão com raiva, fechando a porta atrás de mim.

Duas batidas.

- Filha... Tá tudo bem?

Respirei fundo. Não confiava em minha voz naquele momento, mas precisava responder.

- Sim mãe, tudo ok... – Respondi tentando firmar a voz.

- Jacob ligou pra saber se você havia chegado bem... – Seu tom era de desconfiança e surpresa – Você foi vê-lo?

Claro que ela estava com a pulga atrás da orelha.

Dona Renée além de extremamente perceptiva, me conhecia muito bem, e ela devia ter percebido minha prostração quando entrei em casa.

Levantei da cama e abri a porta.

- Oh Bella! – Ela suspirou quando viu meus olhos inchados e vermelhos – Querida, o que aconteceu? Você estava chorando...

- Calma mãe... Eu só estou com um pouco de dor de cabeça. – Menti.

Como eu era uma péssima mentirosa e ela não era boba, me puxou até a cama me fazendo sentar. Colocou a cadeira de balanço de frente para mim e fechou a porta atrás de si antes de se sentar me encarando.

- Faz duas semanas que estou notando você cabisbaixa, o olhar sem vida... – Falou baixo – Além de Edward nunca estar por perto. Vocês tem se falado pouco e as raras vezes que o vi quando fui me encontrar com Esme e Alice na casa deles, ele me pareceu ainda mais abatido que você... O que está acontecendo?

Abri a boca para dar mais uma desculpa.

Mas a quem eu estava enganando? Eu precisava de ajuda, precisava desabafar, e eu não podia fazer isso com a Alice como fazia em relação a qualquer outro assunto, porque se tratava de mim magoando o irmão dela.

Fechei a boca.

Minha mãe esperou, percebendo a confusão que ia dentro de mim. Me deu tempo para que eu pudesse organizar as palavras antes de falar.

- Eu não sei o que está acontecendo, mãe... – Falei depois de quase dez minutos – Eu to me sentindo estranha...

- Estranha como, Bella?

- Eu... Não sei se quero mais me casar com o Edward. – Falei sem acreditar que tinha dito aquilo. Mas esse era o real sentimento.

- Oh! – Ela replicou surpresa.

Colocou minha mão entre as suas e suspirou. Demorou um tempo olhando em meus olhos, buscando alguma coisa.

- Você não o ama mais? – Perguntou cautelosa.

- ... Eu não tenho mais certeza.

- Me diga o que sente, vamos analisar isso juntas.

- Eu não me sinto mais à vontade com ele... Quando estamos juntos eu tenho essa estranha sensação de que está errado... Meu coração sente a necessidade de sua presença, mas meu corpo... Eu sinto uma espécie de repulsa, não sei definir direito, mas é como se fosse errado estar com ele.

- Bella, você pode estar apenas nervosa com o casamento, querida... E essa criança que está chegando – Pôs a mão em minha barriga – Isso altera todo o nosso humor, a nossa essência. Ser mãe é uma grande evolução, um grande passo para uma mulher... Talvez você esteja assustada com tantos acontecimentos definitivos e não esteja sabendo lidar com isso.

- Eu já pensei nisso...

- Mas?

- Mas hoje a coisa mais bizarra aconteceu... Do nada eu senti uma vontade violenta de ver o Jacob... E quando estávamos junto eu senti... Senti como se estivesse no lugar certo, como se tivesse chegado em casa, entende?

- Sim – Ela falou dúbia.

- Acho que fiz tudo errado, mãe. De alguma forma eu me equivoquei quando escolhi voltar para o Edward...

- Querida, eu acho que isso é só uma síndrome do pânico... É muita informação para alguém de apenas vinte anos... E você sempre teve medo de casar... Isso é culpa minha – Falou mais para si mesma – Eu não deveria ter incutido meus princípios tortos em sua educação.

- Não mãe... Isso não é culpa sua... Isso é culpa minha. Eu me deixei levar pelo sonho não realizado... Pelo desejo que não foi atendido quando Edward me deixou. Talvez minha necessidade de provar que eu podia, que eu conseguia tê-lo...

- Bella, filha, eu conheço você melhor que ninguém... E eu sei o que vi em seus olhos quando você me contou toda a trajetória até o pedido de casamento. Eu sei o que vejo quando você olha para ele... Querida, não são muitas as pessoas que vivem isso Bella. Um amor dessa magnitude. Acho que você está equivocada agora.  – Falou tudo suavemente, me olhando nos olhos.

- Mas como eu posso estar errada agora se o que sinto me diz pra terminar tudo e voltar com o Jake? – Falei quase gritando, impaciente comigo mesma, com minha confusão – Como eu posso estar errada se nesse exato momento minha vontade é de largar Edward, casamento, planos e ir correndo até La Push me atirar em seus braços?

Minha mãe me olhava com surpresa e horror.

- Bella, pense melhor... – Falou depois de respirar fundo – Talvez você esteja confundindo as coisas, filha. Já ouvi muitas histórias de pessoas que, com medo de seus sentimentos, corriam na direção oposta, para se protegerem. Eu me lembro bem de como você agia com o Jacob da última vez que nos vimos, quando vocês ainda namoravam... Você nunca olhou para ele com a mesma devoção que olhava para o Edward...

- Aí é que está, mãe... Olhava! Eu não consigo voltar a ser o que eu era há duas semanas... Não consigo sentir mais aquilo.

- Querida, pense... – Ela falou séria, segurando meu rosto entre as mãos – Durma um pouco, tente analisar com calma toda a situação... – Deu um leve suspiro – Eu e seu pai a apoiaremos seja qual for a sua decisão, ainda que não concordemos com ela. Mas será que vale a pena deixar tudo pelo que você sofreu durante dois anos Bella, dois anos – Repetiu enfática – para correr atrás de algo que você acha que quer? E essa criança? Você acredita que ela será feliz se viver longe do pai? Lembre de tudo que você sofreu quando me separei do seu pai, Bella... Não quero dizer que você deva casar com o Edward apenas por isso... Mas eu realmente acredito que você está se enganado...

Me levantei e caminhei até a janela.

Ouvi Renée levantar e arrastar a cadeira até onde ficava.

- Vou deixar você com seus pensamentos... Estarei lá embaixo se precisar de mim.

Fiquei um bom tempo olhando a floresta sem realmente ver alguma coisa.

Pensei em nós quando nos conhecemos... Na época não quis admitir pra mim mesma, mas depois eu soube. Fora amor à primeira vista. E fora recíproco.

Lembrei daqueles seis meses em que éramos inseparáveis... O sonho que era ter aquele homem magnífico do meu lado... Me querendo... Me amando.

Depois senti a sombra da dor que me consumiu quando ele me deixou. Recordei os meses sombrios que se seguiram, minhas decisões... Meu recomeço.

Lembrei de cada pedacinho, cada pequeno detalhe da minha história com Jacob... A maneira como ele cuidou de mim e me protegeu de mim mesma... Os momentos especiais, as descobertas.

E então a volta de Edward...

Tudo que ele me contou, cada justificativa, cada momento de redescobrimento do nosso amor... Nossos momentos íntimos... O pedido... A descoberta da gravidez e a maneira como reagiu naquele primeiro momento.

A memória da pergunta que ele me fez ontem veio de repente, sobrepondo-se à ternura que sentia ao recordar tudo.

Ele tinha seus motivos e eu compreendia. Mas isso não queria dizer que estava menos magoada.

Quando olhei o relógio em meu criado-mudo já passava das dez.

Respirei fundo.

Eu já tinha tomado minha decisão.

Disquei o número.

Caixa postal.

Mais uma tentativa.

Desligado.

Ele deveria estar furioso. Talvez tenha desligado o celular para me castigar por não ter atendido às suas ligações o dia todo.

Mas eu precisava falar com ele.

Liguei para sua casa.

- Alô? – Era a voz de Esme.

- Oi Esme, é a Bella... – Falei um pouco constrangida. Fazia tempo que eu não falava com nenhum deles além de Alice e Edward.

- Oi querida! Como você está? – Sua voz era sempre amorosa.

- Estou bem... – Nem eu acreditei em mim mesma – O Edward está em casa?

- Sim querida. Já estou subindo para entregar-lhe o telefone, só um segundo...

E ouvi o assovio do ar contra o aparelho. Movimentando-se à velocidade normal de sua natureza.

Ouvi quando ela o chamou e disse que era eu. Ouvi também a voz de Jasper mas estava baixa para eu identificar o que ele havia dito.

- Bella – Ele falou num tom de alívio. Me senti culpada no mesmo segundo.

- Oi – Respondi indecisa e receosa – Tudo bem?

- Melhor agora que ouço sua voz... – Ele parecia tenso, mas contido.

- Edward, precisamos conversar sobre ontem... Eu...

- Não vamos falar por telefone, Bella – Me interrompeu – Me deixe chegar ai e falamos com calma.

Estremeci. Eu não podia falar com ele agora. Não estava preparada.

- Não Edward... – Falei temerosa – Melhor... Melhor amanhã. Eu não to legal. Preciso dormir um pouco.

- O que você está sentindo? Está passando mal? É o bebê? – Perguntou alarmado.

- Não... Não digo fisicamente. É só que, eu quero organizar tudo em minha cabeça antes de nos vermos.

- Mas você ia falar agora pelo telefone... – Insistiu suavemente.

- Eu só ia dizer que queria te ver amanhã. Me deixe pensar esta noite, e amanhã de manhã nós conversamos.

- Tudo bem. – Respondeu rápido. Se eu bem o conhecia estava ressentido.

- Boa noite.

- Bella – Chamou inseguro. Testando se eu ainda estava na linha.

- Sim?

- Eu amo você...

Meu primeiro impulso foi dizer “Eu também”, mas eu não tinha mais certeza disso. E não queria enganá-lo.

- Eu sei. – Falei o mais suavemente que pude – Até amanhã.

E desliguei rápido, antes que ele me perguntasse alguma coisa.

Um soluço violento subiu por minha garganta, e eu coloquei a mão firmemente sobre a boca, para evitar o grito. Me deitei de bruços na cama, afundando o rosto no travesseiro.

O pranto grave me fez perder as forças e a consciência. Me entreguei ao cansaço e a um sono pesado e sem sonhos.