Antes da Aurora escrita por LoaEstivallet


Capítulo 27
Tempo perdido


Notas iniciais do capítulo

Cap especial, feito numa enxurrada de inspiração que aconteceu do nada, no meio da madrugada...



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EDWARD

Quando Alice entrou em casa, sua mente estava absolutamente desprendida de Bella.

Ela pensava em Jasper, e no que ela planejava para a noite deles.

Argh!

Isso que dá se meter na mente dos outros... Ver coisas íntimas e desconcertantes que não nos dizem respeito.

Mas eu ainda queria falar com ela.

Desci as escadas sabendo exatamente para onde ela se dirigia.

Entrei na sala de TV, onde Emmet e Jasper jogavam videogame. Alice acabara de sentar no sofá ao lado do Jazz.

- Já te encontro lá em cima. – Ela falou sem me olhar – Assim que eu resolver uma coisinha com esse aqui.

- Shhh... – Jasper a silenciou – Se eu perder a culpa é sua.

- Estou esperando, Alice. – Falei sorrindo, enquanto saía da sala e seguia para meu quarto.

Dez minutos depois Alice encostava-se à soleira de minha porta, os braços cruzados no peito.

- O jazz perdeu? – Perguntei com um sorriso sarcástico.

- Por culpa minha... – Sua voz era maliciosa, e eu evitei seus pensamentos – Não devia ter falado com ele enquanto ele jogava. Mas vamos deixar o Jazz de lado.

- Você sabe por que está aqui.

- Ed... Eu não vou ficar expondo as coisas que ela me conta. Ela confia em mim e eu pretendo manter essa confiança.

- Eu sei. E preciso dizer que você está cada dia melhor em me esconder seus pensamentos.

- A prática leva à perfeição. – Ela suspirou e sorriu – Não se preocupe. Ela pretende conversar com você sobre o que conversamos hoje, então, você saberá de qualquer maneira. – Falou dando de ombros.

- Esse não foi o motivo pra que eu quisesse conversar com você.

- Não? – Ela perguntou espantada – Mas eu vi...

- Eu preciso saber mais detalhes daquela visão... Aquela em que eu vou embora com Zaniala.

Sua surpresa foi espantosa. Alice não tinha visto isso vindo?

- Acho que eu ando muito preocupada com o futuro de Bella. Por isso não tenho visto o que há relacionado a você. – Disse pensativa.

- Alice, eu ainda a amo... – Desabafei, sentindo minha voz sair carregada de emoção.

O ambiente se modificou de imediato.

O semblante de minha irmã se metamorfoseou para uma máscara de preocupação, enquanto eu sentia minha angústia se estampar em meu rosto.

- Eu sei. Por isso você anda exaltado. Eu entendo que a convivência não tem sido fácil meu irmão. Mas é necessária. Bella agora é parte de nós. Ela é uma Cullen. E, além disso, há Renesme.

- Eu estou pensando em ir embora Alice.

Eu falei isso assim, como se dissesse as horas.

O queixo de Alice caiu e ela colocou a mão minúscula sobre os lábios, num claro gesto de alarme.

- Eu não quero mais viver esse inferno.

- Você não pode! – Ela me interrompeu – E Nós, e Renesme?

- Seria bom para todo mundo Al. Pense bem. Eu procuraria uma explicação para o desenvolvimento dela, e poderia até mesmo encontrar a cura para o que quer que seja que origina isso. Além de que todos teriam um pouco mais de paz num ambiente menos hostil.

- Você e Bella são tão iguais... – Ela disse estreitando os olhos e caminhando em minha direção – E tão burros!

- Alice...

- Não. Me deixe falar. Ela veio com essa mesma idéia louca de ir embora porque não suporta mais essa animosidade entre vocês. Como você dois podem ser tão egoístas? Esquecem que têm uma filha pequena que ainda não entende nada do mundo, que dirá do nosso mundo. E vocês querem separar ainda mais a família que ela precisa ao lado dela para ampará-la? Porque não agem como os adultos que são e encontram um meio-termo? Vocês não precisam nem ser amigos para criarem ela juntos. Basta que se relacionem civilizadamente. Será que isso é tão difícil assim?

Quando ela terminou de falar, seu rosto pequenino me olhava com gravidade e uma quase ira, de baixo do meu queixo, nossos pés se tocando.

Enquanto ela me encarava enfurecida, minha mente trabalhou racionalmente.

Alice estava coberta de razão.

Eu só estava preocupado com minha dor, olhando apenas para meu próprio umbigo, quando eu deveria estar mais preocupado com a felicidade e o bem-estar de minha filha.

Ela era mais importante que meu ego ferido. Que meu orgulho.

Eu tinha que fazer o esforço de conviver bem com a mãe dela. Era minha obrigação como pai. E no fim das contas, Bella não tinha culpa de não me amar mais. Minha raiva por seu amor pelo lobo era completamente descabida. Não seria difícil ter uma relação amigável. Difícil seria controlar meus sentimentos perto dela.

Olhei para baixo, direto nos olhos dourados de minha adorável e irritante irmãzinha preferida.

- Onde ela está? – Perguntei decidido.

- O que você vai fazer? – Perguntou com um tom mais ameno.

- Você não consegue ver? – Perguntei desconfiado.

Então eu vi o que ela via.

Nós três sentados na grama da colina, observando o pôr-do-sol.

Eu sabia, então, para onde eu tinha que ir.

- Sol. – Ouvi a voz de Renesme claramente, como se estivesse ao meu lado.

Eu estava já próximo do alto da colina.

Não corri. Escolhi caminhar a passos humanos até elas, planejando o que diria para Bella, me preparando.

- A mamãe ama muito você, meu docinho. Você é muito, muito especial. – Ouvi a voz de Bella cheia de ternura e amor.

Sua voz vibrava dentro de mim como uma canção, única e sagrada, que nunca deixaria de me tocar profundamente, de mexer com todas as minhas emoções.

Então eu faria o que Zaniala me aconselhara? Exporia meus reais sentimentos a ela e deixaria em suas mãos a decisão de meu destino?

Quando alcancei o topo ainda não fazia a mínima idéia do que iria dizer.

O céu já se fazia escurecido em grande parte, o sol deixando seus últimos rastros no horizonte já iluminado por estrelas numerosas.

- Papai. – Ouvi minha filha dizer, se voltando no colo da mãe em minha direção.

Sorri para ela, enquanto controlava o tremor de ansiedade que surgia em meu corpo em reação ao perfume inebriante de Bella.

Caminhei até elas, a aflição me tomando de assalto.

- Oi princesa. – Tentei manter a voz suave, sufocando minha insegurança.

Renesme estendeu os braços em minha direção, pedindo colo.

Parei ao lado de Bella que, sentada na grama com Renesme em suas pernas, me olhava espantada.

Recordei uma vez que vi aquela expressão em seu rosto.

A primeira vez que ela me disse sim, no estacionamento da escola em Forks, o olhar entre surpreso e deslumbrado, como ela mesma definira.

Não pude conter o sorriso de contentamento com a lembrança. Era uma memória doce e especial, daquelas que eu nunca me desfaria.

- Posso? – Perguntei tentando me desvencilhar daquele olhar hipnótico.

Bella assentiu, sem nada dizer. Parecia... Deslumbrada? Eu gostaria de pensar que sim, mas não podia me dar ao luxo de ilusões naquele momento. Precisava estar consciente para conversar com ela.

Peguei Renesme no colo, abraçando-a com satisfação. Era tão especial tê-la em meus braços. Eu a amava de uma forma que não seria capaz de explicar. Minha filha. Um pedaço da mulher da minha existência, o fruto do amor imensurável que vivemos e que eu ainda sentia por ela.

Sentei-me ao lado de Bella, vacilante.

Eu podia sentir que seus olhos ainda estavam em mim, me analisando, buscando o motivo para a súbita cordialidade depois de tanto tempo de afastamento.

Podia sentir também o peso da atração sobre mim. O desespero que nasceu em meu peito ao perceber que estávamos juntos o suficiente para nossos braços se tocarem, por um mero acidente que fosse, um movimento incalculado.

Permaneci em silêncio, buscando as melhores palavras para começar aquela conversa.

Percebi que era a primeira vez que estávamos juntos. Como a família que deveríamos ser. Como a família que eu queria que fôssemos.

Meu peito se comprimiu com a dor que se instalou.

Nós nunca seríamos aquela família, a que um dia, juntos, desejamos ser. Eu nunca mais teria Bella para mim. E eu precisava aceitar e sublimar isso, para conseguir conviver pacificamente com a mãe de minha filha.

Muitos minutos se passaram.

A noite se alojou no céu escuro, enquanto Renesme ressonava em meus braços, um sorriso singelo estampado no rostinho corado da alegria de ter os pais juntos num momento especial.

Ela sonhava com nós três, uma família perfeita. O sonho que eu sonhara acordado tantas e tantas vezes, mas que acreditava não ser possível realizar.

Bella remexeu numa pequena sacola que tinha ao seu lado, e de lá tirou um lençol rosa cheio de babados e motivos infantis. Estendeu-o na grama e fez sinal para que eu entregasse Renesme em seus braços.

- Pode deixar. – Falei, me ajoelhando próximo à cama improvisada, deitando nela a minha riqueza adormecida.

Quando voltei a sentar, percebi Bella um pouco mais à frente na borda da colina, as mão enfiadas no bolso da calça jeans, a cabeça baixa.

Tomei coragem, me levantei e caminhei até ela.

Parei dois passos atrás.

Minha mão ardia, num desespero mudo de tocar seus cabelos soltos que dançavam com o vento. Seu cheiro rodopiava em torno de mim, me fazendo delirar de desejo.

Ela suspirou. Um suspiro dolorido que reacendeu em mim a raiva contida.

Eu estava aqui, ao seu lado. Mas ela provavelmente pensava nele. E sofria.

Não contive o impulso, mas fui capaz de manter minha voz suave, porém indiferente.

- No que você está pensando?

Ela não respondeu de imediato. E eu acreditei que queimaria em minha antiga pira de curiosidade pelos pensamentos dela.

Senti o sorriso em sua respiração.

- Eu me lembro quando era comum eu ouvir essa frase... Escuta-la agora foi como... Voltar no tempo. – Ela falou, e eu pude sentir a saudade saturando suas palavras.

Me senti gelado, petrificado. Ainda mais do que já era de minha natureza.

Então ela sentia saudade daquele tempo? Do tempo em que éramos um do outro?

A curiosidade foi maior que a prudência.

- Você fala como se sentisse saudades daquele tempo. – Falei num tom que não pude evitar ser de cobrança.

Bella se voltou para mim, me surpreendendo com a proximidade de nossos corpos.

Ela olhou firmemente em meus olhos, como se quisesse ler o que eu pensava.

Aquela atitude me desconcertou. Eu não estava preparado para aquilo. E por alguns segundos eu me senti entregue, totalmente transparente para ela. A máscara sutil de indiferença que eu carregava escorregou, dando lugar ao portal aberto dos meus olhos para minha mente. Eu podia perceber que em meu rosto estava estampada toda a surpresa e o contentamento por aquele gesto tênue.

Eu não sei o que ela procurava, ou o que encontrou, mas sua voz doce em resposta me fez estremecer.

- Eu sinto. – Murmurou, baixando o olhar.

O que aquilo queria dizer? Ela ainda sentia alguma coisa por mim?

A dúvida me consumiu flamejante.

Eu deveria expor meus sentimentos a ela, faze-la ciente da realidade de minha angústia? Zaniala teria razão?

- Eu gostaria de lhe perguntar algo, se me permite. – Ela falou, formal, ainda sem me encarar.

- Você sempre pôde, e ainda pode me perguntar o que quiser Bella.

Falar seu nome, depois de tanto tempo, fez minha garganta queimar. Uma estranha sensação, como um calafrio, subiu a minha espinha.

- Porque não podemos ao menos ser... Amigos? – Seu tom era constrangido e conflituoso.

Ela levantou o olhar ao meu, a íris rubi dura, indecifrável.

A pergunta me pegou de surpresa.

Não que eu estivesse preparado para responder qualquer pergunta que ela me fizesse, mas ali, naquele simples questionamento, ela não estava deixando clara a sua vontade?

Eu estava pronto... Não, eu estava me preparando para me expor, para dizer a ela que ainda a amava, que a queria de volta se existisse a mínima chance de que ela correspondesse meu sentimento.

E então ela me dá a resposta que eu procurava às minhas últimas indagações, numa pergunta simples.

Eu não precisava dizer nada a ela. Não estava evidente o que eu sentia?

Ela sabia que eu ainda a queria, que nada tinha mudado para mim. Era notório em minha feição, em meus gestos, em meu tom.

Então, desviando-se do constrangimento de me rejeitar abertamente, ela iniciava as discussões para nosso entendimento, sem dar margem para mal-entendidos.

Muito justo.

Ela ainda esperava minha resposta, o olhar confuso por minha demorada ponderação.

Respirei fundo, contendo a decepção pelo cerceamento do fio de esperança que ainda me movia.

- Podemos ser amigos... Se você assim desejar. – Consegui dizer com dificuldade.

Ela meneou a cabeça para o lado, suspirando em seguida.

- Sei que essa é uma conversa difícil... É evidente que esta situação não é confortável para nenhum de nós. Mas precisamos pensar no bem de minha... De nossa filha.

- Eu concordo, e por isso a procurei. – Falei com a voz um pouco mais firme – Sei que não tenho sido cortês, e que minha atitude hostil vem dificultando nossa convivência, mas acredito que você compreende os meus motivos. – Finalizei, certificando-me.

- Eu... Compreendo. – Disse com a voz um pouco rouca.

Sim. Ela sabia dos meus motivos. Eu estava certo.

- Peço desculpas... E prometo que isso não tornará a se repetir.

- Não precisa se desculpar Edward. – Ela falou, levantando a palma de uma das mãos para mim num gesto de censura, enquanto eu estremecia por dentro ao ouvir meu nome em sua voz. – Eu também não facilitei a situação... É que eu ainda...

- Eu sei... Está sofrendo.

Eu podia ver em seus olhos, no tom de sua voz, em cada um de seus gestos.

- Então você compreende? Todas as vezes que fui rude...

- Eu conheço você bem demais para não reconhecer seus mecanismos de defesa. Isso não mudou com a transformação.

Ela sorriu.

Um lindo sorriso de marfim, brilhando o reconhecimento e o contentamento por ainda termos alguma sintonia.

O que aquilo significava?

Eu apenas sorri de volta, aliviado pela aura leve que nos envolveu de repente.

- Então podemos ser amigos? – Ela perguntou, ainda sorrindo.

Então aquilo era tudo que eu teria.

Percebi que era melhor ter Bella em minha vida, ainda que não fosse da maneira que eu queria. Melhor que de maneira nenhuma.

E se esse era o meu papel, se esse era o pedaço dela que me restava, eu o aceitaria de bom grado.

Por minha filha. Por nossa Renesme... E por mim.

- Sim. – Respondi simplesmente.

Houve então um momento embaraçoso em que ambos não sabíamos como agir.

Bella estendeu a mão e eu a retive entre as minhas, num gesto de aquiescência.

Renesme balbuciou palavras ininteligíveis, e percebemos que era hora de voltar.

Carreguei-a no colo e caminhei, ao lado de Bella, todo o caminho de volta para casa em um silêncio pacífico.

Restava-me agora seguir com a parte de minha vida que não a teria.

Segui incerto da capacidade de preencher o vazio daquele pedaço dela que não me pertencia mais.


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Notas finais do capítulo

Agradecimentos ESPECIALISSIMOS a minhas queridas leitoras:
Kly - NCullen - N_yes - microbia - mbscr - TaTa B-P - Minha linda Kakau Pimentinh - Amada Rapha Paiva - Aline Xu - Marluce Cullen (Aaamoo) - Lidyoliveira - jrocha - Kahh_rv - ThaisOliveira - LakinhaG - Minee_Cullen
Assíduas nos reviews!
A todas as leitoras que não tiverem seu nome aqui, o meu muito obrigado também, é claro!
Essa fic seria NADA sem vocês!
Um beijasso, até semana que vem!