BELLA

Eu me sentia feliz.

Um mês e meio, e apesar do relacionamento sem intimidade, devido à fragilidade da minha gravidez, a paixão só aumentava.

De alguma maneira obscura, eu sabia que aquela felicidade não poderia durar para sempre. Nada tão intenso e feroz dura tanto. E por isso eu temia. Um medo avassalador me rasgava inteira quando ele não estava por perto.

Cada dia que minha gravidez avançava, eu me sentia mais compelida a Jacob. Mas sentia também, como se a aproximação do nascimento do meu bebê representasse, de certa forma, uma libertação.

Eu não conseguia compreender esse sentimento, mas não perderia tempo com qualquer questão que me desviasse da alegria que sentia em estar ao lado dele.

Apesar disso eu tinha os meus fantasmas.

Alice, mais que meus pais, sempre surgia em minha mente. Seu magnífico rosto transformado na expressão angustiada da última vez que nos vimos, no dia em que vim para cá. E isso me fazia enterrar a cabeça no travesseiro abafando o pranto por horas.

Edward também não abandonou minhas lembranças. Mas dele eu sentia mais que saudade, mais que tristeza pela distância. A culpa me fazia sufocar.

Eu podia ver seu olhar de dor, ainda nítido em minha frente.

Nesses momentos a confusão era tamanha que eu poderia ficar cega. Os sentimentos se misturavam dentro de mim, fazendo arder meu peito.

Fisicamente eu estava fraca.

Meu corpo todo centrado na gestação daquela criança, que eu já amava com todas as forças do meu ser ainda que me ferisse e me sugasse a vida.

Por vezes eu passava horas imaginando seu rostinho. Se teria meus olhos ou os olhos verdes de Edward, quando ele era humano. Sua pele seria alva, com certeza, mas ela teria a fragilidade da minha ou a resistência da de seu pai? Seria ele um vampiro, um humano, ou um pouco das duas coisas?

Carlisle passara horas me falando das lendas, de tudo que ele tinha descoberto até agora em suas pesquisas sobre o assunto. Mas nada era esclarecedor o suficiente em relação ao bebê. Tudo que sabíamos é que não existiam mães sobreviventes para contar a história.

Eu não me importava que meu esforço resultasse em morte. Não me preocupava com o fato de correr o risco de não participar de seu crescimento. Ele teria um bom pai, uma boa família, e eu estaria feliz apenas com o fato dele conseguir nascer.

A morte não me assustava.

Me aterrorizava a idéia de não poder suportar tempo suficiente para que ele estivesse pronto para vir ao mundo.

Naquele dia Carlisle me intimou.

Segundo suas medições, estava na hora. Ele queria intervir e fazer uma cirurgia para retirar o bebê, enquanto eu queria esperar que ele viesse ao mundo pela via natural. Seu medo era que eu não sobrevivesse ao parto. Medo esse que eu não compartilhava com ele.

Jacob também estava temeroso. Tentou me persuadir a aceitar a idéia de Carlisle, mas eu consegui convencê-los a me dar mais um dia. Se estava realmente na hora, meu filho poderia se adiantar e nascer antes do prazo que estipulei. De qualquer forma, meu ex-sogro viria à noite para checar como eu estava.

Cansada como fiquei pelo simples exame, passei o resto do dia na cama.

Uma pontada.

Me sentei na cama grogue ainda, esfregando o sono dos olhos.

Outra pontada.

Tentei me levantar, mas a dor veio tão forte quanto a tontura.

Estava na hora, eu sabia.

Fiz um esforço e me levantei, mordendo os lábios com força para não gritar e assustar Jacob.

Praticamente me arrastei até a sala.

- Jake... – Falei o mais alto que pude – Ligue pro Carlisle.

Foi tudo que consegui dizer, antes de ser tragada pela escuridão.