Antes da Aurora escrita por LoaEstivallet


Capítulo 10
Uma última vez


Notas iniciais do capítulo

Galera,
os próximos dois caps são povs do último cap(Consternação) para que vocês compreendam um pouco mais o que está se passando com Bella. Este primeiro será a visão da própria Bella.



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BELLA

Eu abri os olhos a contragosto e mirei a luz pálida do novo dia que começava. Apenas quatro dias para o casamento. Senti um frio no estômago. Respirei fundo e olhei o relógio. Sete horas. Eu precisava conversar com Edward o quanto antes. E com Alice.

Levantei da cama de má vontade, peguei minhas coisas e fui para o banheiro.

Depois de uma higiene demorada, desci para tomar café.

Estava sem fome, mas não queria preocupar Charlie e Renée mais do que já tinha preocupado com minhas atitudes recentes. Me sentei na mesa com eles e Phill depois de um bom dia desanimado, peguei uma torrada e mordisquei amuada.

O celular vibrou no bolso e meu coração perdeu uma batida.

- Licença – falei sem graça a todos e me retirei para a sala.

Coloquei o aparelho no ouvido.

- Oi.

- Oi. – A voz dele era dura – Estou chegando em cinco minutos.

- Ok. – Falei confusa.

Ele desligou, enquanto eu ainda tentava entender seu tom.

Ele nunca havia usado aquele tom de voz comigo antes. Parecia estar com raiva de mim.

Bom o que eu queria? Alguma hora a mágoa vira cólera. Eu o estava ferindo muito e constantemente. Não podia esperar que ele fosse compreensivo pra sempre. Eu merecia aquele tratamento.

Avisei a todos que iria sair com o Edward, peguei minha bolsa e fui para a porta. Pelo que conhecia dele, cinco minutos era só força de expressão.

Assim que pus os pés fora de casa, seu carro apontou na esquina. Em menos de um minuto estava parado em minha frente. E em um piscar de olhos, Edward estava colado ao meu corpo, os lábios ferozes nos meus.

Eu correspondi confusa. Um batalhão de sentimentos debatendo-se dentro de mim.

Eu senti o desejo por ele, fraco, mas ainda ali. A ternura, o carinho, a eletricidade que se originava do nosso contato, pulsar em meu âmago. Mas ao mesmo tempo, sentia como se aquilo fosse errado, como se não devesse acontecer. Como se existisse algum impedimento para nós dois ficarmos juntos.

Quando Jacob surgiu em meu pensamento, cogitado como sendo o motivo, Edward se afastou, e eu dei graças a Deus por ele não poder ler a minha mente.

- Oi. – Seu tom era distraído.

- O-oi... – Respondi constrangida. Não sabia se por ter pensado em Jacob enquanto ele me beijava, ou pelo beijo avassalador que ele me deu.

Edward entrelaçou nossos dedos e me puxou para o carro.

 

Durante todo o caminho até a mansão dos Cullen, minha mente vagava até a conversa que eu teria com Edward dali a pouco. Ainda não me sentia preparada para aquilo, mas sabia que não dava mais para adiar.

Estava tão distraída e tensa que mal notei nossa chegada à sua casa.

Edward me arrastou pra dentro com um ar estranhamente sereno no rosto. Nada, nem sombra da dor que eu vinha vendo nas últimas semanas. Me senti um pouco mais confiante. Talvez fosse mais fácil resolver tudo do que eu imaginara. Talvez ele não sofresse tanto com minha decisão. Talvez ele compreendesse meus motivos e aceitasse tudo com placidez.

Me senti mais segura.

Demorei um pouco mais do que realmente precisava conversando com Esme e Carlisle. Não por querer adiar a conversa, mas porque verdadeiramente sentia falta deles. Eu os amava. Amava sua bondade, seu carinho comigo, admirava a devoção com os filhos adotivos, com a filosofia de vida que eles haviam assumido. Eu iria sentir saudades do contato com eles.

Senti falta de Alice, que não estava, e não deixei de notar que Jasper me fitava intensamente.

Eu sabia o que ele estava fazendo. Lendo meus sentimentos. Mesmo que eu quisesse não conseguiria escondê-los dele. Então, conversando ou não, Edward ficaria ciente de tudo que se passava dentro de mim ainda hoje.

Quando ele desculpou-se com os pais e me levou escada acima para seu quarto, minha determinação cresceu e se instalou em meu coração. Eu estava fazendo o certo. Sendo honesta comigo mesma e com ele. Era o melhor a fazer.

Ao cruzarmos a porta, que ele fechou atrás de si, Edward me girou de frente para ele, me envolvendo nos braços frios.

Eu sabia pelo seu olhar, carregado de desejo, que ele não nos permitiria uma conversa naquele momento.

Esbocei uma reação, tentei abrir a boca para lembrá-lo de que tínhamos combinado de conversar, mas foi impossível detê-lo.

Não porque ele era mais forte e mais rápido que eu. Mas porque quando senti seus lábios pressionarem os meus com desespero e volúpia, senti meu corpo mole, meu coração derretendo, uma confusão de emoções e sentimentos me invadindo, e tudo que mais quis, foi ser dele mais uma vez. Uma última vez.

Apesar disso eu demorei a ceder completamente. A repulsa era forte, e brigava com a vontade de me entregar. Enfim, os carinhos dele fizeram a repulsa perder a briga.

Mas fazer amor com Edward foi diferente dessa vez.

Eu não me sentia completamente ali, me sentia enganando ele e cedendo apenas ao desejo carnal, me sentia culpada por estar fazendo ele sofrer, e não encontrava em nós a ternura que nos envolvia em momentos tão íntimos como aquele.

Ele também não era o mesmo. Sua postura foi quase agressiva. Senti que ele se controlava e refreava seus impulsos o tempo todo, me tocando com uma possessividade que me pareceu dolorosa, enquanto seu olhar me mostrava toda a agonia que ia dentro dele, o que me deixou inquieta, desconfortável.

Depois de alcançarmos o clímax juntos, tudo que emanava dele era aflição.

Eu me deitei em seu peito, arquejando ainda, buscando seus olhos.

Mas Edward não olhou pra mim.

Me deslizou suavemente para a cama, se levantando em seguida.

Caminhou até a janela de seu quarto, onde espalmou as mãos contra o vidro, a cabeça baixa.

Eu o observei apreensiva.

Era chegado o momento da verdade. Eu precisava contar tudo a ele.

Me senti estranha quando percebi que estaria quebrando nosso vínculo, como se o vazio do buraco que existia em meu peito a dois anos atrás, ecoasse sua dor por meu corpo, me alertando sobre o perigo de deixá-lo.

Mas eu conhecia a verdade dos meus sentimentos. Fora justamente esse medo, o medo de sofrer com sua ausência, que me fizera voltar. Eu estava certa de que a ânsia por Jacob, aquela necessidade desesperadora por ele, era o sentimento mais forte que me consumia, e eu precisava dar vazão a ele. E só poderia fazer isso depois de deixar Edward.

 Caminhei até ele e toquei seu ombro. Não reagiu.

- Edward... – Chamei.

Senti seu corpo enrijecer sob minha mão. Ele estava tenso. Fiquei tensa também, imediatamente.

Precisava resolver logo aquilo. Não queria continuar ferindo-o daquele jeito.

Aquela não era a melhor situação para a conversa que eu pretendia ter com ele, mas eu não podia adiar mais, não enquanto ele sofria daquela maneira.

Me esgueirei entre o vidro da janela e ele e o olhei nos olhos, desejando que ele lesse ali a sinceridade das minhas palavras.

- Nós precisamos conversar. – Falei com suavidade.

- Eu não quero conversar. – Sua voz era rude.

Tamanha foi minha surpresa que perdi a linha de raciocínio por alguns segundos, enquanto ele sustentava meu olhar com os olhos cheios de raiva.

Fiquei desconcertada.

- Mas eu... – Comecei ainda com o pensamento confuso.

- Eu preciso de um tempo para digerir isso, Bella. – Me interrompeu.

Eu o fitei em dúvida. Digerir o que? Eu não havia contado nada a ele... Ainda.

- Eu preciso compreender o porquê de você estar me evitando... – Edward explicou – O porquê de tudo entre nós ter mudado tanto e tão de repente... E o motivo por eu estar perdendo você... – Sua voz quebrou no final, me fazendo sentir um monstro.

Ele não merecia o que eu estava fazendo com ele.

Olhei para o chão.

- É justamente sobre isso que quero falar...  – disse amuada, pausando em seguida.

Eu procurei a melhor maneira de começar aquele assunto.

- Edward, eu... Me perdoe. – Falei num fio de voz.

- Pelo que, Bella? – Instigou áspero.

- Eu sei que estou te magoando... E, acredite, eu odeio fazer isso... Mas preciso te explicar o que está acontecendo...

Ele me olhou de cima, com um ar de indiferença.

- Bella, eu sei o que está acontecendo...

Minha respiração ficou suspensa pela surpresa. Então ele realmente sabia do que tinha acontecido ontem.

- Sei que estamos caminhando para o fim... – Esclareceu – E tenha certeza de que não impedirei você de fazer o que deseja...

Não. Ele não fazia idéia do que eu havia feito, mas parecia saber de minha decisão antes mesmo que eu dissesse qualquer palavra. Ele realmente me conhecia muito bem.

Edward olhou para a janela, um brilho duro no olhar.

- Eu só peço o motivo, e eu quero a verdade... Por mais dolorosa que ela seja... – Continuou com um tom sem emoção – E nós precisamos acertar como ficarão as coisas em relação ao meu filho. Espero poder ao menos conviver com ele.

- Edward, olhe para mim... – Pedi colocando as mãos em seu queixo, tentando puxá-lo para baixo.

Seu olhar pareceu congelar ainda mais.

- Eu estou te ouvindo. – Seu tom era gélido.

- Edward... Por favor, olhe para mim. – Repeti tentando, em vão, fazê-lo abaixar o rosto para olhar para mim.

Ele se libertou de minhas mãos sem nem me tocar, puxou a calça que estava no chão, vestindo-a, caminhou até a cama onde se sentou na borda, e cobriu o rosto com as mãos, os cotovelos apoiados nos joelhos.

Sua respiração era pesada. Ele parecia sentir dor.

Eu o estava magoando terrivelmente.

Caminhei até ele, me agachando até que meu rosto ficasse na altura do seu, e toquei suas mãos.

Novamente, nenhuma reação. Ele permaneceu na mesma posição em que estava.

- Edward, eu não tenho nenhuma intenção de afastar essa criança de você... – Comecei – Eu nunca faria isso. – Ele continuava sem me olhar. Respirei fundo – Eu preciso mesmo conversar com você, mas queria fazer isso olhando em seus olhos, quero que veja que estou sendo honesta com nós dois, que...

De repente, num daqueles movimentos vampíricos dele, Edward me segurou pelos cotovelos, as mãos duras contra minha pele, e se levantou bruscamente, me levando com ele. Meus pés não tocavam o chão e meu rosto estava a centímetros do seu.

O que eu estava falando se perdeu junto com o movimento que ele fez.

- Será que você não vê? – Sibilou, a voz tensa, transbordando cólera – A dor que está me causando é insuportável. Isso está me transformando, me alterando... Me fazendo ceder aos meus piores instintos.

Seu olhar era homicida.

Ele nunca havia me olhado assim.

Nem mesmo quando nos conhecemos, naquela fatídica aula de biologia, seu olhar era tão aterrorizante.

Senti o medo pulsar em todo o meu corpo. Senti meu rosto quente e meu coração acelerado em resposta à adrenalina que corria em minhas veias, denunciando meu temor.

Sua expressão então se modificou.

Agora ele estava horrorizado. Seu olhar me pareceu mortificado, e ele soltou meus braços de uma só vez, me fazendo bater os pés no chão com um baque mudo.

Automaticamente levei as mãos ao lugar onde ele havia segurado, esfregando o local. Não estava doendo, mas com certeza ficariam marcas.

Ele me olhava constrangido.

- Me perdoe... – Sussurrou – Eu não queria lhe machucar. Eu me excedi, me desculpe.

- Não me machucou. – Falei seca – Ao contrário do que você pensa, eu sei o que estou causando em você... – Pausei, encarando seu rosto e enxergando sua agonia evidente. Tentei suavizar o tom. – Sei que está sofrendo. Eu também estou. Só quero resolver isso.

- Então resolva Bella... – Disse numa voz derrotada – Fale o que tem para falar.

Me senti tensa de imediato.

Busquei minhas roupas que estavam espalhadas pelo quarto, me vesti e sentei no sofá de frente para ele, que ainda se mantinha de pé, no mesmo lugar.

Olhei-o nos olhos. Ele sustentou meu olhar.

Era fácil, até para quem não o conhecia, dizer que aquele era o brilho de um sofrimento profundo. Sua postura não era a que eu conhecia e admirava, altiva, imponente.

Edward estava com os ombros levemente arqueados para a frente, e as mãos pousadas nos quadris pareciam estar ali para sustentarem o peso que ele suportava com dificuldade.

Mais humano do que eu jamais havia visto.

Eu não gostava da dor que infligia a ele naquele momento, nem da que iria infligir depois que tudo estivesse dito.

Eu era mesmo a pior de todas as mulheres no mundo, e não merecia o amor que ele sentia por mim.

Tanto que eu o quis... E agora, eu só queria parar de feri-lo daquela forma.

Edward suspirou profundamente, esperando por minhas palavras.

A consternação visível em cada um dos seus gestos mais discretos.

Perdi completamente a coragem para terminar tudo.

Precisava estar melhor preparada para aquilo.

- Acho que agora não é mesmo o melhor momento... – Disse, decepcionada com minha covardia, atormentada com sua dor.

Ele não proferiu palavra. Eu não conseguia mais abrir a boca.

Senti um nó incômodo na garganta, e sabia que em poucos segundos meu rosto estaria banhado pelas lágrimas.

Me levantei e caminhei devagar até a porta.

Quando o olhei, já estava completamente vestido e calçado, mas não voltou seus olhos em minha direção. Me acompanhou, em minha velocidade, sem me tocar ou falar mais nada.

Quando estava nos últimos degraus, notei Alice no canto da sala, nos observando com um olhar preocupado.

- Alice! – Chamei-a sentindo um enorme alívio – Que bom que chegou.

Ela sorriu um sorriso que não alcançou seus olhos.

Senti a tristeza que ia nela aumentar a minha. Ela já deveria ter visto o que eu queria fazer em seguida.

Meus olhos arderam. Engoli o choro que queria sair, caminhei até ela e a abracei.

- Será que se importa de me levar em casa? – Perguntei baixo em seu ombro, apesar de saber que Edward ouviria, inquieta com a possibilidade dela não aceitar e eu ter de ir com ele, não suportaria mais nem um minuto daquela tensão – Preciso falar com você.

Alice não respondeu. Apenas me manteve em seu ombro até que eu percebi Edward deixar a casa, cabisbaixo.

Ver aquela expressão de ruína em seu rosto aniquilou qualquer chance de eu segurar o pranto por mais um segundo que fosse.

As lágrimas desceram quentes e profusas.

Consegui, a muito custo, conter os soluços que subiam por meu peito e irromperiam por minha garganta.

Me senti mole. E se não fossem os braços de Alice em minha cintura a me sustentar, talvez eu tivesse caído.

Ela me guiou até seu carro, me acomodou no banco do carona, entrou e seguiu para a estrada.

Assim que alcançamos o asfalto, ela estremeceu, o olhar vago.

Ela via alguma coisa além, algo no futuro.

Me resignei e esperei, até que fosse o momento de conversarmos.


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Notas finais do capítulo

Proximo cap na terça, com pov de Jasper e Alice.
Beijos



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