O conturbado final de semana finalmente havia chegado ao fim. Manoela levantou-se assim que o despertador de seu celular tocou anunciando que uma nova semana de aulas se iniciava. Ao se olhar no espelho do banheiro, notou que era visível que havia dormido muito pouco, culpa da turbulência que se encontrava sua cabeça. Estava confusa, muito confusa com as atitudes tanto de Douglas, quanto com as pequenas mudanças de Gustavo.

     A garota retirou seu pijama, ligou o chuveiro e tomou um banho mais demorado que o habitual. Desligou o chuveiro e enrolou-se na toalha, escovou os dentes e ao terminar olhou sua imagem novamente no espelho. As olheiras continuavam ali, pegou seu estojo de maquiagens e passou um corretivo para disfarçá-las. O resultado fora satisfatório, saiu do banheiro, passando pelo closet e assim que chegou ao quarto assustou-se quando viu Giovana sentada sobre sua cama.

    - Bom dia! - disse ela sorrindo.  

    - Bom dia, Gi! - respondeu voltando ao closet e pegando seu uniforme juntamente com sua roupa íntima. Voltou ao quarto e pediu para a outra garota aguardá-la, pois ela iria se trocar e já retornava.

    - O que te traz ao meu quarto tão cedo, Gi? - perguntou Manoela assim que saiu do banheiro.

     - Vim-te esperar para irmos. - deu de ombros.

    - Hum... Só isso? - perguntou incrédula, enquanto colocava seu colar.

    - Na verdade, não. - Manu riu, já conhecia a "irmã" o bastante para saber quando ela queria conversar sobre algo.

    - O que aconteceu?

    - Se lembra do Alexandre? - Manu assentiu. - Então... Encontrei ele na festa e... - hesitou, mordeu o lábio inferior apreensiva.

    - E? - virou-se a morena em direção a outra e sentou-se ao lado dela, na cama, aguardando a continuação.

    - Nós conversamos e... - olhou para a garota de olhos verdes e concluiu: - Nos acertamos, acabamos ficando. - Manoela abraçou-a.

    - Fico muito feliz por você! - disse sincera.

    - E você, e esse coraçãozinho? - disse Giovana.

    - Ah! Continuo sozinha, você sabe...

    - Sei, mas não tem ninguém que te interessa? - Manoela olhou em direção ao relógio.

    - Estamos atrasadas, vamos. - disse se levantando já pegando sua mochila e colocando-a no ombro, fora a maneira que achara para fugir do assunto. Giovana revirou os olhos, já sabia o motivo pelo qual ela fugia do assunto: Gostava de Douglas.

    O percurso até o colégio fora tranquilo, Giovana não tocara mais no assunto e elas acabaram conversando sobre Alexandre. A garota de olhos cor de mel exclareceu que eles ainda não haviam voltado a namorar, mas que naquela tarde conversariam sobre o relacionamento deles e o rumo que este tomaria.

    Logo que colocou que chegou ao portão de entrada do colégio, avistou Gustavo e Vanessa, eles estão discutindo. Manu encaminhou-se para a sala de sua primeira aula. Caminhou mais rápido do que o de costume, não sabia qual seria sua reação se visse Rodrigo, depois do que ele havia lhe feito. E nem queria descobrir qual a seria essa reação.

    Juliana já se encontrava no corredor, onde seria a aula, próxima aos armários.

    - Oi! - disse Manoela parando ao lado da amiga.

    - Oi, Manu. O que aconteceu na festa? Por que você sumiu? Fiquei preocupada com você.

    Manoela contou resumidamente a história para a amiga, que ficou primeiramente perplexa e depois com revoltada.

    - Eu sabia que ele era um otário, mas não que fosse capaz de fazer algo tão baixo desse tipo. Que raiva dele. Você prestou queixa, não é?

    - Não, na verdade, nem parei pra pensar nisso.

    - Manu, ele não pode ficar solto por aí, vai saber se ele já não fez isso com outras garotas que não tiveram alguém intercedendo por elas.  

    - Eu sei, mas eu não quero pensar nisso, não por enquanto, pelo menos.

    - Tudo bem. Mas como assim foi o ogro do Gustavo que te salvou?

    A morena explicou novamente, enquanto a ruiva estava cada vez mais surpresa com a atitude de Gustavo. Manoela aproveitou e contou o que aconteceu depois quando retornaram para casa e também o que aconteceu pela manhã em seu quarto.

    - Não, peraí. Ele aceitou ir no orfanato?

    - Sim, e ainda me pediu desculpas por ter sido grosso comigo.

    - Será que o Rodrigo não bateu a cabeça do Gustavo em uma pedra, por que essa não é uma atitude normal dele. - As duas riram, mas Manoela concordou. Também estava surpresa com as últimas atitudes do garoto.

    As aulas daquela manhã passaram rapidamente, quando Manoela percebeu já estava tocando o sinal que indicava o final das aulas. Recolheu seus pertences, a sala já estava praticamente vazia, apenas mais cinco alunos estavam no local também. Quando Manu saiu da sala viu Gustavo encostado na parede, um pé estava apoiado nela assim como a cabeça.

    - Oi. - disse ela fazendo-o perceber a sua presença.

    - Oi. - disse ele permanecendo na mesma posição, apenas virou o rosto na direção de Manoela encarando-a.

    - Está apenas descansando ou venho me dar algum recado. - disse ela brincando.

    - Engraçadinha. - disse o rapaz saindo de sua posição inicial e parando em frente a ela. - A Giovana saiu mais cedo do cursinho, pois iria fazer algo com a mãe. Enfim, você terá que voltar comigo. - deu de ombros.

    - Hum, tudo bem. Vamos? - o garoto assentiu e encaminharam-se para o estacionamento. Entraram no carro. O silêncio predominou boa parte do caminho.

    - Sexta-feira. - disse Gustavo.

    - O que? - perguntou Manu confusa.  

    - O orfanato. Sexta-feira, pode ser?

    - Claro, vou ligar hoje avisando sobre a nossa visita.

    E novamente o silêncio predominou no automovel.