Pequena Flor de Lótus escrita por naathy


Capítulo 16
15. Recordações.


Notas iniciais do capítulo

Primeiro de tudo desculpa a edição do capitulo. =/
Eu sei que é horrível, mas ando sem tempo, mesmo.
E amanhã começa a faculdade e descobri que a UFRGS me liberou mais duas cadeiras eletivas de 4 créditos cada uma. Ou seja, a autora aqui vai ficar sem tempo para postar e vai se matar de estudar esse semestre. (Vida social, beijos. Te vejo em janeiro. hihi)

Mas NÃO me abandonem! Eu prometo que vou fazer, pelo menos, um post semanal nos findes.

Esse capítulo não foi tão fácil de escrever, ele ficou grande, NÃO tive tempo de revisar, por isso se, tiver erros, me avisem. Por favor!

beijo ;*



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Aquele lugar lhe trazia lembranças, mas nenhuma era triste. Era agradecida pelo cuidado que obtivera e pelas pessoas que conhecera ali. Pessoas que a ajudaram e a fizeram acreditar que um dia a felicidade poderia voltar a sua vida. E o início do caminho para isso fora naquele local. Através de um ato desumano que sofrera, que quase havia lhe causado a morte. Mas, parecia que Deus havia planejado que naquela manhã colocaria um anjo em seu caminho.

Manu sorriu, cumprimentando as enfermeiras que tanto a ajudaram. Abraçou uma a uma, agradecendo por tudo que fizeram a ela ali, naquele período difícil. Gesto, o qual, repetia sempre que ia ao hospital. Todas adoravam quando Manoela aparecia, “uma garota tão doce e ao mesmo tão forte”, este pensamento passava pela maioria das pessoas que a conheceram naquele período.

  •  
    • Vamos, querida. Está na hora. - disse Clara para Manu, interrompendo a conversa que havia iniciado entre a garota e as enfermeiras. Manoela assentiu se despedindo das simpáticas mulheres, prometendo que na próxima semana conversariam mais. Todas concordaram. Manoela e Clara se encaminharam até a sala da Dra. Sarah. - Quer que eu entre com você, querida? - disse Clara, acariciando o rosto da filha que Deus colocara em seu caminho, pois era como se sentia em relação a Manoela, uma mãe, seu amor pela garota já se equivalia ao que sentia por seus filhos biológicos.

    • Obrigada. Mas eu acho que preciso fazer isso sozinha. - disse a garota doce. Ambas sabiam que hoje seria um dia difícil, assim como aquela primeira consulta em que falara de sua trágica infância.

    • Entendo, querida. Mas qualquer coisa vou estar aqui. - disse em apoio a garota. Abraçaram-se fortemente. Sorriram uma para a outra.

    • A Dra. Sarah está me esperando. - disse Manu por fim, Clara concordou, desfazendo o abraço. A garota se virou, bateu na porta e obteve como resposta um “Pode entrar.” Manoela olhou mais uma vez para a mulher que aprendera a gostar e arriscaria dizer que até a amar. Sorriu mais uma vez. E Clara lhe correspondeu sorrindo e levantando as duas mãos para mostrar seus dedos cruzados, Manu riu balançando a cabeça e finalmente entrou na sala de Sarah.

    • Olá, Manu. Como você está?- disse a Médica se levantando e indo em direção a garota recebe-la. A recebeu lhe dando dos beijos em seu rosto, um de cada lado.

    • Oi, Dra. Muito bem e a senhora? - recebeu um olhar de reprovação por ter se referido a ela como “senhora”. - E você? - corrigiu a menina rindo.

    • Muito bem também. - disse voltando a sentar-se em sua mesa e lhe indicou a cadeira da frente para que Manoela se sentasse. Novidades, querida?

    • Voltei a estudar e fiz alguns amigos. - disse a garota sorrindo.

    • Muito bem, Manoela. Amigos e estudos serão de grande importância não só para o seu tratamento, como para a sua vida em si. - a garota assentiu risonha. - Hoje começaremos a segunda parte do tratamento, correto? - disse a médica analisando alguns papéis com suas anotações sobre Manoela e suas consultas anteriores.

    • Exatamente.

Sarah pediu pelo telefone de comunicação interna do hospital, um copo de água para a garota. Lembrara-se bem do quanto fora difícil o início da primeira parte do tratamento, e exatamente por essa razão decidira dividi-lo em duas partes, para não ser tão pesado para a sua paciente.

Manoela e a psicologa encaminharam-se para uma outra parte da sala, onde havia um divã muito confortável, a garota caminho até ele e se sentou. Haviam algumas almofadas dispostas sobre ele, Manu pegou uma e depositou no local onde ficaria sua cabeça.

  •  
    • Deite-se, Manu. - Manoela obedeceu, em seguida Sarah pegou o copo de água e assim que a garota estava deitada confortavelmente, a psicologa entregou-o para ela.- Está pronta? - Manoela respirou fundo, sabia que não seria fácil recordar mais esse triste período de sua vida, assentiu a doutora. - Pode começar. - disse a doutora sentando-se em uma confortável poltrona, pegando o seu bloco de anotações e uma caneta.

    • Eu estava em estado de choque, ver a minha mãe sendo morta, por minha causa, despertou o pior sentimento, a pior dor: culpa. Me sentia extremamente responsável por tudo aquilo que tinha acontecido. Lembro dos policiais entrando no quarto e imobilizando o Pedro, ele não deveria ter esse nome, um nome bíblico, ele era um monstro que tirou de perto de mim uma das pessoas que mais amo. - fez uma pausa, ele conseguirá despertar em Manoela além da culpa que ela sentira, raiva. - Sim, amo, no presente, pois isso ninguém conseguirá tirar de mim. Eu a amo muito. Eu sinto tanto a falta dela. Dói demais aqui. - uma lágrima escorreu de seus olhos, enquanto Manoela batia no peito. Sarah assentiu, fazendo algumas anotações. Manoela respirou fundo se recompondo.

    • Minha ficha não havia caído ainda. Os policiais me levaram para fazer o exame de corpo de delito, confesso que nem prestei atenção no que acontecia ali, pensava apenas que tinha perdido a minha mãe, certa hora percebi que além de ter que cuidar de mim, tinha o meu irmão. Ele tinha apenas dois anos. - fez uma pausa. - Eu tinha doze, como poderia tomar conta de uma criança de dois anos? - levou as mãos a cabeça. - Lembro que após o exame nos encaminharam para o conselho tutelar. Ele chorava em meus braços, pedia pela minha mãe. Ali eu percebi que teria que ser forte. Rezei em silêncio para que Deus me desse forças. O Vitor dependia de mim agora. - sorriu triste. - Não sei por quanto tempo permanecemos ali. Havia conseguido acalmar o meu irmãozinho, ele dormia em me colo quando nos levaram para o orfanato. - tomou um pouco de água, olhou para Sarah. - Em menos de vinte e quatro horas, minha vida mudou completamente. Meu porto seguro havia sido assassinada em minha frente e eu não podia expressar tudo o que sentia, a dor que me consumia, tinha alguém para cuidar em um lugar estranho, com pessoas estranhas para nós. Nada mais fazia sentido para mim. Eu não entendia o que eu tinha feito de tão grave para que Deus tirasse as pessoas que mais me amavam ambos tão brutalmente. - Lágrimas escorriam pela face da garota.

    • A diretora da instituição sempre fora muito simpática e carinhosa com todos os órfãos. Vitor lindo e tranquilo como era, conquistava o carinho de todos. Nos primeiros dias ele chorava e pedia pela nossa mãe, me cortava o coração toda vez que via ele naquele estado. Apenas o pegava em meu colo e cantarola uma canção de ninar e dizia que tudo ia ficar bem, contei que mamãe tinha falecido da mesma forma que ela havia me contado da morte de meu pai. Ele me disse que ela seria a estrela mais brilhante, pois era a mulher mais linda do mundo todo. Eu apenas sorri triste e concordava com ele. - Manoela agora chorava. - Certo dia ele havia me perguntado sobre o seu pai. Eu não soube o que dizer. Não podia contar para o meu irmãozinho de dois anos que seu pai era um monstro, respondi simplesmente que ele estava bem e viajando. Eu me sentia pior ainda em mentir para ele, mas eu não iria destruir a imagem que ele tinha do pai. De certa forma, o fato de ter Vitor para tomar conta e proteger não me deixava cair. Não conversava muito com as outras meninas de lá. Apenas uma era super simpática comigo e me ajudava, seu nome era Larissa. Ela tinha dez anos e estava lá a cinco anos, tinha sido encaminhada para lá por sofrer maus tratos por seus pais. Mas nossa amizade durou apenas três meses, ela fora adotada por um casal. Eles pareciam ser legais. - Sorriu lembrando-se da menina negra que tanto lhe ajudara na adaptação a vida no orfanato. - Eu fiquei muito feliz por ela, ela até me mandara algumas cartas me contando o quanto estava feliz com a nova família.

    • Sabe, acho que Larissa fora mais alguém iluminado que surgiu no meu caminho, ela merecia ser muito feliz, exatamente da forma como ela estava sendo. - permaneceu sorrindo, até que se lembrou dos demais acontecimentos que passará lá.

    • Não demorou muito para Vitor ser adotado por um casal, porém eu era mais velha e eles não queriam adotar uma pré adolescente. Eles me prometeram que trariam meu irmão para me visitar, porém não foi o que acontecera. No dia em que eles levaram ele do orfanato, ele não queria sair com eles e me deixar ali, mesmo sem entender ao certo o que acontecia ali. - Começou a chorar novamente. - Tive que dizer a ele que eles só dariam uma volta e que eu não estava me sentindo bem para ir. Era difícil ver a única pessoa ainda viva que eu amo ir embora, mesmo acreditando que o casal cumpriria a promessa. - Tomou mais um pouco de água.

    • Você está bem, Manu? - perguntou Sarah, a garota assentiu. - Prossiga, querida.

    • Eu sentia um vazio, não tinha mais ninguém. Nem para cuidar de mim e nem para eu cuidar, sentia uma falta, uma dor. Acabei entrando em depressão, a senhora Laura, diretora do orfanato, apesar de atenciosa, tinha que tomar conta de cerca de cinquenta crianças, não era uma tarefa fácil. Ela e os funcionários do orfanato demoraram alguns meses para perceber o meu estado, acho que só perceberam quando eu tentei o suicídio.

    • Você tentou se matar, como?

    • Uma faca. Cortei um dos meus pulsos. Uma das garotas me viu inconsciente e avisou a diretora Laura, chamaram uma ambulância e fiquei no hospital cerca de uma semana. A partir daí comecei a receber mais atenção. Elas tinham medo que eu tentasse novamente. O hospital público não possuía mais vagas para psicologa, então eu ficava em constante vigilância. - fez uma pausa baixando a cabeça e alisando a cicatriz em seu pulso direito. Sarah nunca havia notado que a garota a possuía. - Essa atenção toda dedicada a mim, não fora bem vista por algumas das meninas. - Outra lágrima escorreu por sua face. - Certa noite, enquanto eu dormia, algumas delas se reuniram e cortaram o meu cabelo, o deixaram bem curto. O que acabou agravando a minha depressão, se eu já me sentia só, culpada por tudo que havia acontecido anteriormente, agora eu me sentia pior, pois elas precisavam tanto de atenção quanto eu. Elas eram tão sozinhas como eu. Eu não tinha raiva ou ressentimento delas, e sim de mim mesma. Entende? - Sarah assentiu e continuou fazendo anotações em seu bloco.

    • Eu sentia ainda mais vontade de deixar de viver, porém, certa noite sonhei com a minha mãe. Foi tão real, eu podia sentir seu abraço, o calor aconchegante que vibrava do corpo dela. Ela me disse que tinha que ser grata por ter a vida, que ela ficaria muito chateada comigo se eu desperdiça-se a vida. Eu tentava argumentar, porém ela me disse que eu ia ser feliz, talvez demorasse um pouco e viessem novos desafios, mas que eu tinha que ser forte, pois isso passaria e ela estaria sempre por perto. - seus olhos se fixaram em um ponto qualquer, a garota estava perdida em suas lembranças, a garota voltou a chorar. - No meu sonho ela ainda disse que me amava muito, que sempre seria a sua filhinha.

  •  
    • Quer parar por hoje?

    • Não, doutora. Preciso terminar. - tomou mais um gole de água, secou as lágrimas e continuou. - Acordei aquele dia feliz, fora real, fora tão real aquele sonho. Rezei. Eu já tinha treze anos, e já havia passado um ano de sua morte. Eu não tinha sonhado com ela até então. Daquele dia em diante eu decidi que eu iria viver, não tanto por mim, mas pela minha mãe. - sorriu ainda relembrando daquele dia.

    • Os anos foram passando, voltei aos estudos. Sentia muita falta do meu irmãozinho. Da minha mãe, um pouco da falta era suprimida pelos sonhos. Comecei a sonhar muito com ela. Passei a dedicar meu tempo vago aos estudos, e também a ajudar a cuidar das crianças mais novas. Surgiram alguns pretendentes para me adotar, mas por alguma razão, que eu desconheço, nunca dava certo. Talvez, não era o momento apropriado - disse a garota sorrindo lembrando da família que Deus tinha colocado em seu caminho. Sarah entendeu o motivo do sorriso e sorriu também.

    • Certo dia, dona Laura, havia me pedido para entregar algo em uma casa. Não sabia do que se tratava, não perguntei. Gostava de ajudar, me sentia útil, por isso aceitei prontamente. - a garota começou a chorar copiosamente.

    • Calma querida, não precisa continuar. - disse Sarah comovida.

    • Eu tenho que continuar. - disse a garota entre lágrimas, tentando conseguir se controlar. Precisava terminar a sua história naquele dia. Era uma meta que havia se colocado.

    • Eu levei o pacote até a casa, fazia sol e era cerca de 16hs quando cheguei ao local. Uma senhora muito simpática me atendeu, me convidou para comer uma fatia de bolo. Eu aceitei, afinal, era cedo e ela era muito simpática. Saí de lá cerca de 18hs. Me despedi e estava retornando para o orfanato. - voltou a chorar. Sarah tentou interromper mas a garota balançou a cabeça em negativa. - O tempo mudou muito rápido, o sol sumiu dando lugar a uma chuva, a principio fraca, e depois tornou-se uma forte chuva. Assim como começou a chover, também escureceu. Por um tempo, cerca de meia hora, fiquei parada na frente de uma loja. Nas ruas já não haviam muitas pessoas. Percebi que a chuva não pararia tão cedo e resolvi voltar logo, pois dona Laura já devia de estar preocupada comigo. - o choro se tornou mais intenso. - Comecei a andar, seguir o meu caminho, em um certo momento notei que tinha alguém fazendo o mesmo trajeto que eu. A principio não dei bola, continuei caminhando normalmente, dei uma olhada pra trás e percebi que o homem ainda me seguia, comecei a achar estranho, mas continuei. De repente ele me ultrapassou, não conseguia ver seu rosto, ele estava de chapéu e a chuva estava muito forte não permitindo enxergar muito. Ele parou bem a minha frente sacou um revólver. Pensei que se tratava de um assalto, disse que não possuía dinheiro. Ele gargalhou e começou a me encurralar até um beco sem saída. Estava em estado de choque. Não podia gritar, não tinha para onde correr. Ele era alto, e aparentava ser bem forte também. - chorava muito. Sarah entendeu que ali tinha acorrido o segundo estupro da vida daquela menina.

    • Querida, agora chega, não precisa me contar detalhes, eu sei o que esse homem fez com você. - disse indo até a garota e a abraçando, Manoela continuou a chorar, por mais que não precisasse contar os detalhes daquela noite para a psicologa, lembrou-se de todos. Ali naquela sala entendeu o que sua mãe havia lhe dito naquele primeiro sonho...

 

Continua...


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Notas finais do capítulo

Gostaram?

Obrigada pelos reviews!
Eles que me motivam a continuar escrevendo a fic. Me fazem muito feliz tbm. =)

Desculpem pelos possíveis erros gramáticais.

Beijo ;*
Naathy