Intrusas na História - Lua Nova escrita por Miss_izinha, Liblika


Capítulo 17
Especial - parte 1


Notas iniciais do capítulo

Nossa, eu sei que eu demorei pra caramba xp Sorry, sorry, sorry, mas aí está o especial *,*



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Texas, Rockwood, 1862.

-Corra, Will!- ele gritou de repente olhando em direção ao tumulto no fim da rua cheia de comércios que se aproximava. Eu larguei a cesta de frutas que mamãe preparou para a  venda e corri o mais rápido que pude, e Heath vinha logo atrás de mim. As frutas rolaram e logo foram pisoteadas por cavalos que corriam em direção oposta ao tumulto.

            Gritos de crianças e mulheres eram ouvidos, e também os de disparos. Desesperados, corremos o mais rápido que pudemos, até um lugar escondido atrás de uma casa.

-Precisamos voltar! A mamãe está lá!- eu chorei sacudindo Heath.

-Ela vai ficar bem, Will, nós vamos encontrá-la. Se voltarmos agora, vamos morrer! Eles estão atacando nossa aldeia!- ele disse com lágrimas nos olhos. Apesar de ter alguma compaixão, Heath sempre fora o mais durão, e gostava de demonstrar isso por ser o mais velho.

Ficamos um bom tempo lá, atentos a qualquer tipo de aproximação, mas não houve nenhuma.

-Eles já devem ter ido! Vamos procurar a mamãe.- eu sussurrei esperançoso.

-Will...- ele olhou com dor nos olhos, mas depois virou a cara.- Certo, mas vamos esperar mais um pouco.- ele disse também sussurrando.

Já estava anoitecendo, e eu resolvi voltar lá mesmo que sozinho. Levantei bruscamente.

-Eu vou de qualquer jeito!- eu disse decidido.

-Você ficou maluco?!- Heath disse bravo.

Eu tirei a mão dele que segurava meu pulso.

-Ok, se você quer tanto. Mas eu vou com você- Heath era um tipo de irmão protetor pra mim, ele sempre estava lá pra me defender.

Andamos cautelosos de volta, olhando ao redor. Tudo estava deserto. E estava muito quente pelo calor do fogo e a fumaça. Voltamos até a vendinha em que mamãe havia ido levar alguns produtos, e procuramos em volta, até que a vimos ela estava de costas virada e havia alguma coisa em seu pescoço. Heath percebeu o que era e soltou um grito de terror.

-Mamãe? Mãe!- eu disse assustado. Encostei nela, e seu corpo se virou pendurado por uma corda que envolvia seu pescoço, seu olhos fitavam o nada e ela estava pálida.

Eu desabei desacordado depois de soltar um grito de pavor.

            Acordei ofegante, e finalmente me acalmei por reconhecer o lugar ao olhar ao redor.

-O que foi, Will? Outra vez o sonho?- perguntou Heath com sono.

Assenti, me deitando novamente.

-Você tem que esquecer, isso foi a 8 anos...- disse ele.

Eu sabia que já fazia oito anos, mas eu só tinha sonhado tanto com aquele dia a algumas semanas.

Tentei voltar a dormir, mas flash backs daquele dia me voltavam a mente a todo segundo.

-Você acha que se a gente tivesse ido procurá-la antes ela ainda estaria aqui?- eu perguntei após alguns minutos.

-Não. Nós estaríamos mortos agora.- ele disse limpando a garganta.

Eu fiquei em silêncio por mais um tempo até que ele levantou de repente.

-Você realmente devia esquecer isso, Will. Não faz bem a ninguém. Não adianta chorar pelo leite derramado.- ele saiu do quarto.

Ele não entendia. Nunca ninguém me entendia. Porque as pessoas tinham que ser tão insensíveis? Talvez por aqui todos já tivessem perdido alguém, e estavam acostumados com isso.

Me levantei também, e seguimos juntos para a loja.

A loja pertencia ao meu avô, e nós o ajudávamos vendendo os produtos de couro, e também fazíamos as entregas. Era nosso principal sustento. Não éramos de maneira nenhuma ricos, mas pelo menos tínhamos casa, emprego, comida e roupas. O necessário. Já estivemos bem pior. Quando nossa mãe morreu, passamos por maus bocados, e nosso vô nos trouxe pra Tulsa, em Oklahoma, para viver com ele.

Tivemos uma tarde igual a qualquer outra, eu e Heath fizemos algumas entregas enquanto vovô cuidava da loja, e o ajudamos a fechá-la quando já era mais tarde.

-Vocês vão direto pra casa hoje, garotos?- meu avô perguntou tossindo quando saímos da loja.

-Bem, combinamos com o Joseph de ajudá-lo no bar, vô. Mas não vamos chegar muito tarde.- disse Heath.

-O senhor está bem?- perguntei pela estranha tosse que vovô vinha tendo há uma semana.

-Certo. Não é nada, só um resfriado, filho.- ele disse tossindo novamente.

-Se o senhor quiser eu posso...- eu ia lhe perguntar se queria que eu o acompanhasse, mas ele interrompeu me dando tapinhas no ombro:

-Não precisa, filho.- ele disse tossindo mais fortemente. Ele saindo caminhando em direção a nossa rua e, eu e Heath para o nosso pequeno “bico”.

O bar estava cheio como sempre, e nós logo assumimos nossos postos. Nós ajudávamos Joseph, o dono do bar, a servir os clientes, em troca, ele nos dava algum trocado.

-Ei, garoto.- um homem bem arrumado disse se aproximando enquanto eu terminava de servir um cliente. Quando me virei para fitá-lo, percebi o quão estranho ele era. Perfeito demais. Tinha a pele pálida, os olhos negros, e uma voz aveludada. Era estranho, mas ele me dava medo.

-Senhor?- eu perguntei cordialmente. Era sempre bom tratar bem esses ricaços.

-Você não estaria interessado em me dar uma mãozinha num... “serviço”, que preciso terminar logo? Eu pago bem.- ele disse com um sorriso presunçoso.

-Claro, onde o senhor mora?- eu perguntei querendo saber mais sobre o assunto.

-Não é longe, é só atrás do lago perto daqui. Num casarão grande. Sabe?- ele perguntou.

-Uhum.- eu concordei com a cabeça.

-Certo, então, o dono não quer bagunça de dia então será um pouco mais tarde. Se tiver mais alguns amigos jovens precisando pode levar também, nós precisamos de bastante gente. Amanhã, de noite pode ser?- ele destacou o “jovens”.

-Claro! Vou levar meu irmão também.- eu disse entusiasmado com a nova oportunidade.

-Conto com você, garoto.- ele disse com um cumprimento de chapéu.

-Estarei lá.- eu disse concordando e voltei a atender os clientes, enquanto o estranho homem se afastou andando com tamanha perfeição.

Depois de trabalhar por algumas horas, Joseph finalmente fechou o bar, e nos dispensou. Heath e eu voltamos pra casa.

-O que aquele cara estranho queria?- Heath perguntou após algum tempo.

-Ele nos chamou pra fazer um serviço naquele casarão atrás do lago. Diz que vai pagar bem. Eu aceitei.- eu respondi.

-Nossa, pensei que aquela fosse uma casa abandonada.- disse Heath fazendo careta.

Eu só concordei com um aceno de cabeça.

-Mas se paga bem...- eu disse por fim.

Quando chegamos, eu fui direto pro quarto e dormi profundamente de tão cansado.

O dia seguinte foi normal, acordamos cedo, tomamos café da manhã e fomos os doi pra loja pra mais um dia de comércio, já que vovô estava na cama mal conseguindo andar e tossindo muito. Eu iria atrás de um médico de tarde.

Após algumas vendas eu sai pra a entrega que ficava próxima da casa de um médico. Fui atrás dele, e ele prometeu passar em casa de noite pois tina muitos outros pacientes. Eu assenti, já que ele era o único por aqui.

Depois de fechar a loja de tarde, eu e Heath fomos pra casa ver como vovô estava e esperar pelo médico.

Eu nunca tinha visto meu avô tão mal, tinha a pele pálida, suava frio, e sua face parecia tão cansada. Meu coração doeu.

O médico chegou e o analisou. Não fez uma cara boa, e então saiu do quarto pra me dizer o veredicto. 

-Seu avô...Não tem muito mais tempo de vida. Sinto muito.- ele me deu tapinhas no ombro.

No fundo no fundo eu esperava isso. Pela aparência dele, mas custava a acreditar antes de ouvir de alguém. Isso me tirou o fôlego. Meu avô? Minha única família além de Heath, meu conselheiro...

Eu precisei me sentar antes que acabasse desabando.

-Will!- disse Heath espantado me ajudando a sentar.

-Bom, eu vou deixar isso aqui pra você dar a ele de horas em horas, mas só vai aliviar a dor. Eu já dei a dose de agora.

Heath assentiu para o médico e o levou pra fora. Eu me arrastei até a cama de meu avô e o observei enquanto ele parecia tão frágil.

Logo depois Heath abaixou-se ao meu lado, também o observando. Estávamos em seu leito de morte. Eu segurei forte sua mão, precisando mantê-lo ali. Não queria perdê-lo agora, não agora.

-Sejam felizes...- ele disse numa voz fraca que quase não consegui escutar.

-Vovô...- eu disse já com lágrimas nos olhos.

-Não chorem...- a voz dele não passava de um sussurro.- Eu morro por vocês.

E estas foram as últimas palavras dele. Ele soltou minha mão, e fechou os olhos.

O restante da noite foi turbulento, Heath resolveu o restante das coisas, como o funeral, enquanto eu me enterrei na cama em choque, e só realmente levantei de lá pra ir direto para o funeral.

Alguns dos amigos mais antigos dele apareceram, e também estavam lá alguns amigos nossos.

Estava tão absorto que ouvia o que me diziam, mas não entendia. Minha cabeça não conseguia ver significado em nada, mas eu já esperava o que eles iam dizer: “Sinto muito. Meus pêsames. Ele foi um bom homem...”

Um mês se passou desde a morte de meu avô, e eu até havia esquecido que tinha perdido aquele trabalho na casa atrás do lago. Fora só um bico perdido, nada perto de  uma grande perda.

Estava ajudando Joseph no bar como sempre, quando o mesmo homem estranho daquele dia apareceu.

-Ei, garoto. Porque não apareceu naquele dia?- ele parecia ter uma raiva contida.

-Ah, me perdoe senhor, meu avô faleceu naquele dia.- eu disse com sinceras desculpas.

-Bom, se quiser uma última chance pode aparecer hoje à noite depois que terminar aqui.- ele olhou em volta com nojo.

-Certo, com certeza estarei lá hoje.- eu disse parecendo firme.

Ele apenas me deu uma última olhada, e caminhou pra fora. Eu não me lembrava dele ter sido rude da última vez.

Depois de algum tempo, os clientes já estavam indo embora só faltava alguns.

-Pode ir, Will.- disse Joseph vendo minha impaciência.

-Obrigada.- eu sorri enquanto pegava o pagamento de hoje.

Procurei por Heath, e ele estava encostado na bancada enquanto flertava com uma mulher.

-Vamos, Heath.- eu o puxei pra fora enquanto ele soprava um beijo pra ela.

-Ah, qual é, Will.- ele bufou bravo.

Ignorei ele e continuei seguindo pro casarão atrás do lago, hoje não podíamos perder. Principalmente se pagava bem.

-Onde você vai?- ele perguntou confuso.

-Ah, esqueci de dizer. Aquele cara estranho apareceu de novo e disse pra irmos hoje.- eu dei de ombros.

-Nossa, mas que trabalho é esse?

-Não sei, mas temos que aproveitar as oportunidades.- eu disse continuando a andar.

O caminho não era tão longo, mas também não era perto. Estávamos quase lá depois de uns 5 minutos. Dava pra avistar o grande casarão, era grande e sombrio. Não imaginava onde eles precisavam que trabalhássemos ali.

-Vou confessar que estou ficando com medo, e se isso for...- Heath sussurrou.

-Ah, pare de bobagem! Você não era o durão?- eu disse rindo alto.

-É, sério, Will. O que acha que eles vão mandar a gente fazer? Esconder mortos? Vamos voltar, por  favor Will?- ele disse com a voz realmente séria.

-Ooooh! Vamos lá, esconder mortos e até matar alguns. Pare de ser maricas! Não vamos perder mais essa chance, eles vão pagar bem, Heath.- eu disse rindo da irônia.

Ele não riu, mesmo que estivesse escuro ainda dava pra ver pela luz do luar que ele mantinha as mandíbulas apertadas com uma expressão séria.

Quando chegamos mais perto pudemos ver um ponto mais iluminado por uma luz, lá estava o cara estranho ao lado de uma mulher extremamente bonita, e com as mesmas feições do homem. Parentes provavelmente.

Quando nos aproximamos, o homem nos cumprimentou. Na sua frente estavam mais alguns jovens em fila. Isso parecia treinamento militar.

-Bem-vindos!- ele disse sorrindo.

Eu o cumprimentei com a cabeça enquanto a mulher nos olhava especulativamente e sorria.

-Bem, acho que todos já estão aqui, vamos começar então...

Eu olhei em volta, talvez estivessem além de mim e Heath mais alguns dez jovens.

Voltei-me para o senhor, a pouca luz o deixando mais obscuro e só agora percebia seus olhos escuros, mas vermelhos como os olhos de uma besta.

Os dois sorriram e em uma velocidade inumana avançaram pra os homens que estavam nas pontas. Desesperando ao ver como atacaram-nos no pescoço enquanto eles gritavam, Heath e eu corremos, mas logo eles também estavam em cima de nós. Eles foram extremamente rápidos. E depois de sentir a mordida perto da clavícula, sabia que nunca deveria ter vindo, deveria ter escutado Heath e voltado pra casa... Mas já era tarde demais.

Logo depois a dor começou, era a pior dor que eu já havia sentido na vida, e nunca imaginei nada disso para nós. A dor era lancinante e era exatamente como ser queimado vivo. Eu podia ouvir os outros gritos junto aos meus, e parecia que eu havia sido arrastado para algum lugar, no fundo escutei também o grito de Heath e pensei ser o nosso fim.

Eu me concentrei na dor tentando encontrar alguma maneira de pará-la, mas ela aumentava cada vez mais, parecia que cada vez mais que eu resistia ela resolvia me castigar mais e mais. Bom, e aquele foi o pior dia da minha vida...

Longos dias se passaram, pareceram semanas, e quando a dor acabou finalmente me provando o contrário, que eu não ia morrer naquele fogaréu, tudo estava diferente.

Quando abri pela primeira vez meus olhos, eu podia ver tudo, absolutamente tudo, cada grão de poeira que se movia pelo ar, e cada detalhezinho da estrutura do que parecia ser um celeiro.


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Notas finais do capítulo

Me perdoem pela demora ;/ e aguardem a parte 2 ;]



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