Entardecer escrita por mileiide


Capítulo 1
O Primeiro Encontro


Notas iniciais do capítulo

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Meus pais e eu fomos até o aeroporto com as janelas do carro abertas. Fazia 30 graus no Rio de Janeiro, o céu de um azul perfeito e sem nuvens. Eu vestia minha blusa preferida – sem mangas, de renda vermelha; e eu a vesti como um gesto de despedida. Minha pouca bagagem de mão tinindo em meu colo por todo o caminho.


No interior do estado de São Paulo, na região metropolitana da capital paulista, há uma cidadezinha chamada Osasco, quase sempre debaixo de nuvens. Chove mais nessa cidadezinha do que em qualquer outro lugar do estado. Foi deste lugar e de suas sombras tristes que meus pais fugiram comigo quando eu tinha apenas alguns poucos meses de vida. Felizmente, nunca precisei voltar para lá. Até hoje.


Era em Osasco que eu agora teria de morar, uma atitude que aceitei com bastante medo. Eu detestava Osasco.


Eu adorava o Rio de Janeiro. Adorava o sol e o calor. Adorava a cidade alegre.


- Moni – disse minha mãe, pela centésima vez, antes de entrarmos no avião. –, sinto muito por você ter de fazer isso.


Minha mãe é parecida comigo, a não ser pelas rugas de expressão e o cheiro de biscoitos que sempre está em suas mãos. Sabia que ela estava detestando a idéia de ir embora do Rio de Janeiro tanto quanto eu, mas ela escondia bem para não deixar meu pai preocupado.


- Eu quero ir. – menti. Sempre menti muito mal, mas ultimamente ando contando tanto essa mentira que agora parecia quase uma verdade. – Não se preocupe comigo, vamos nos divertir lá. Vamos logo.


Ela me abraçou forte e um minuto depois nós entramos no avião, o meu pai á frente, mais animado que nós duas juntas.


Do Rio de Janeiro até São Paulo são apenas uma hora de vôo, depois aproximadamente trinta minutos em um pequeno avião até Osasco, e então teremos chegado ao meu pior pesadelo.


Estávamos indo para essa cidade por que papai havia recebido uma promoção no emprego e mandando para monitorar a pequena cidade. Ele era policial e agora estava encarregado de cuidar daquele fim de mundo.


Eu sabia que iria ser estranho naquela nova cidade. Apesar disso, eu já estava matriculada em das boas escolas da região.


Quando pousamos em Osasco, estava chovendo. Não vi isso como um mau sinal, apenas tentei me acostumar com a minha realidade. – eu já tinha dado adeus ao meu querido e quente sol.


A radiopatrulha que agora era do meu pai já nos aguardava no aeroporto. Eu também esperava por isso, já que papai era agora o novo xerife da cidade. Essa era a motivação principal minha e de minha mãe para juntarmos dinheiro e comprarmos outro carro, pois não queríamos circular pela cidade em um carro com luzes vermelhas e azuis no teto. Nada deixa o trânsito mais lento que policial.


Nós tínhamos apenas algumas poucas malas, já que nosso guarda-roupa no Rio de Janeiro era leve de mais para Osasco. Teríamos de comprar quase todas as nossas roupas nas lojas da cidade mesmo. Couberam todas as bagagens muito bem no porta-malas.


Os policiais que haviam nos trazido a viatura nos cumprimentaram e rapidamente foram embora em seu próprio carro.


- Logo iremos comprar um carro para vocês também. – comentou papai, quando saímos do aeroporto e dirigíamos para nossa nova casa.


Trocamos mais algumas palavras sobre o clima, que estava úmido, e a maior parte da conversa não passou muito disso. Eu e mamãe ficamos olhando tristemente para as janelas e papai fingiu prestar atenção na estrada.


A paisagem era linda, é claro. Tudo era verde: ás árvores, os troncos cobertos de musgo, os galhos cobertos de folhas. Até o ar parecia verde ali.


Era verde demais – como um planeta alienígena.


Por fim chegamos a nossa nova casa. Era uma casinha de dois quartos e com segundo andar, lugares para estacionar o carro e um lindo jaridm. Para minha surpresa, eu gostei. Podia-me ver morando ali.


- Caramba pai, eu adorei a casa. – falei tirando minhas poucas bagagens do porta-malas, esperando que meu pai abrisse a porta da frente, mais feliz com o comentário.


- Que bom que você gostou. – disse papai, bagunçando meus cabelos e abrindo a porta.


Apenas uma viagem foi preciso para levar todas as nossas coisas para os quartos. Os moveis que eram de nosso antigo apartamento estavam ali, um pouco bagunçados, porém nada que algum esforço não ajeitasse. O meu quarto era familiar, e a vista dava para o jardim da frente. O piso de madeira, as paredes azul-claras, o teto pontiagudo, as cortinas de renda amarelas na janela. Uma cama desforrada com lençóis dobrados por cima e uma escrivaninha que viera comigo do Rio de Janeiro, juntamente com meu velho e bom computador.


A mesinha de cabeceira agora tinha um telefone com o modem grampeado pelo chão até a tomada de telefone mais próxima. Isso era idéia de minha mãe, assim eu poderia manter contato com meus amigos do Rio de Janeiro com freqüência e não sentiria tantas saudades de casa. É claro que eu não iria dizer que não importava quantas vezes eu falasse com meus amigos, sempre sentiria saudades de casa.


Só havia um banheiro no segundo andar, que eu teria de dividir com meus pais. Eu estava tentando não pensar muito nisso.


Uma das melhores coisas dos meus pais é que eles não ficam me rondando o tempo inteiro. Eles me deixaram sozinha para desfazer minhas malas e me acomodar, e foram ajeitar a casa para que parecesse mais com um lar. Era legar ficar sozinha, sem precisar sorrir e parecer satisfeita; poder olhar com tristeza para a janela, observando a chuva cair e deixar algumas lágrimas rolarem. Eu não estava com vontade de ter um acesso de choro. Ia economizar para a hora de dormir, quando teria de pensar na manhã seguinte.


A Escola de Osasco tinha um total assustador de apenas 206 – agora 207 – alunos; no Rio de Janeiro, havia mais de trezentos alunos só do meu ano escolar. Todas as crianças aqui foram criadas juntas – seus avós engatinharam juntos. Eu seria a nova garota da cidade, a aberração.


Talvez, se eu parecesse uma garota carioca típica, pudesse tirar proveito disso. Mas fisicamente nunca me encaixei em lugar algum. Eu devia ser bronzeada, atlética, alta – uma jogadora de vôlei, talvez –, todas as coisas que quem mora no Rio de Janeiro normalmente é.


Mas em vez disso, apesar do sol, eu tinha uma pele pálida. E não tinha olhos claros ou cabelos ruivos que podiam me servir de desculpa. Sempre fui magra, mas meio mole, e com certeza não era uma atleta; pois não tinha equilíbrio necessário para praticar esportes sem me humilhar – e sem machucar a mim mesma e a qualquer pessoa que chegasse muito perto.

Quando acabei de guardar minhas roupas na cômoda de madeira, peguei minha nécessaire e fui ao único banheiro para tomar banho depois do dia de viagem. Olhei meu rosto no espelho enquanto escova o cabelo curto e castanho. Talvez fosse a luz, mas minha pele já parecia mais branca, cinzenta e doentia.


Ao ver minha imagem no espelho, tive de admitir para mim mesma que não era apenas fisicamente que não me encaixava. E quais eram minhas chances naquela cidade, em uma escola de duzentas pessoas?


Eu não me relaciono muito bem com pessoas da minha idade. Ou talvez a verdade seja que não me relaciono bem com pessoas, e ponto final. Acho que existe algum problema no meu cérebro.


Mas não importa a causa. Só o que importa são as conseqüências. E amanhã seria apenas o começo do meu pesadelo.



Não dormi bem naquela noite, mesmo depois de chorar. Eu conseguia ouvir o barulho de chuva que não parava nunca. Puxei o cobertor sobre a cabeça e mais tarde tentei tapar os ouvidos com o travesseiro. Mas só conseguir dormir de verdade muito mais tarde, quando a chuva finalmente parou.


Só o que conseguia ver pela minha janela de manhã era uma camada de nuvens cinzentas, e me senti como se nunca mais fosse ver o céu azul novamente; parecia uma gaiola. E talvez fosse.


O primeiro café-da-manhã na casa nova foi silencioso. Mamãe parecia triste de mais para fazer as panquecas de sempre, e apenas pois cereal com leite na mesa. Ela me desejou boa sorte na escola e me abraçou. Eu agradeci e, pendurando minha bolsa nas costas, fui com meu pai até a viatura – iria ter que ir com ele até que mamãe comprasse um carro –, e ele me deixaria na escola.


Não queria chegar cedo de mais na escola, mas não tive escolha. Vesti meu casaco e me despedi do meu pai ao sair do carro, e ainda estava chuviscando quando me dirigi ao prédio com uma plaquinha na porta dizendo SECRETARIA. Decidi me informar lá dentro em vez de ficar dando voltas na chuva como uma idiota. Andei por um pequeno caminho de pedras e respirei fundo antes de abrir a porta.


Lá dentro a sala estava bem iluminada e mais quente do que eu esperava. Era um escritório pequeno, com apenas algumas cadeiras acolchoadas e o chão de madeira manchado, um relógio grande e barulhento lá no alto. Havia plantas em toda parte, como se não houvessem suficientes do lado de fora. Bem no meio da sala estava um balcão, com três meses por trás dele, apenas uma ocupada por uma loura de óculos que parecia ter lá seus 40 anos. Ela vestia uma camiseta roxa simples.


A loura olhou pra mim.


- Posso ajudá-la, querida?


- Meu nome é Mônica de Sousa. – disse, e logo vi pelo brilho de seus olhos que eu era esperada ali. A neta de antigos moradores da cidade que finalmente voltara para casa.


- É claro. – falou ela. Mexeu em uma pilha de papeis até encontrar o que estava procurando. – Seu horário está bem aqui, e há um mapa da escola. – ela trouxe várias folhas para me entregar.


Depois que minha sala de aula foi indicada pela secretaria loura, passando novamente pelo estacionamento e vendo carros estacionados. Ali, o carro mais legal era um Volvo prata. Enfiei todos os papeis na bolsa, passei a alça pelo ombro e disse a mim mesma que iria conseguir. Ninguém ali iria me morder. Suspirei e entrei no prédio onde ficavam as salas.


Meu casaco simples bege não chamava nenhuma atenção ali, e não demorei muito tempo para conseguir achar minha sala de aula. Era pequena e as pessoas na minha frente paravam junto á porta para pendurar os casacos em uma fileira de ganchos, e eu as imitei tentando me enturmar. Duas meninas me olharam, uma loura de pele pálida e uma outra ruiva igualmente branca. Ao menos minha pele não se destacaria ali.


Sentei em uma cadeira vazia no fundo da sala, pensando ser mais difícil ser notada ali, mas a escola tinha tão poucos alunos que todos perceberam que eu era novata e ficaram me olhando enquanto eu mantinha meus olhos fixos no livro que o professor – a aula era de Literatura – havia passado. Eu já lera aquele livro na minha antiga escola. Imaginei se mamãe havia trazido meus trabalhos antigos e se ela me deixaria usá-los aqui também.


Quando o sinal tocou, um garoto magricela com cabelo preto oleoso se virou para falar comigo.


- Você é Mônica de Sousa, não é? – ele parecia um viciado em xadrez.


- Moni. – corrigi. Todo mundo da minha fileira se virou para me tentar me olhar.


- Posso ir com você até a nossa próxima aula? – perguntou ele. – Eu posso lhe mostrar o caminho... Meu nome é Zé Luís.

Eu sorri para ele.


- Obrigada.


Pegamos nossos casacos e andamos pelos corredores, e eu podia jurar que as pessoas tentavam ficar perto de nós para ouvir o que dizíamos. Esperava não estar virando paranóica.


- E aí, aqui é bem diferente do Rio de Janeiro, não é? – perguntou ele.


- Muito.


- Chove muito por lá?


- Bem pouco.


- Puxa, como é isso? – falou ele, parecendo imaginar um mundo perfeito.


- Ensolarado. – eu disse.


- Você não é muito bronzeada.


- Minha mãe é muito branca.


Ele examinou meu rosto e eu suspirei. Parecia que tantas nuvens cinza estavam afetando o meu humor. Alguns meses ali e eu esquecia o que é ser engraçada.


Nós chegamos á uma sala e eu e Zé Luís entramos, e me deparei com uma sala cheia de computadores.


- Então, boa sorte. – disse ele enquanto eu escolhia meu computador. - Talvez agente se veja na próxima aula. – Zé Luís parecia esperançoso.


Sorri e ele se sentou em um computador do outro lado da sala.


Depois de duas aulas, comecei a reconhecer os rostos de várias pessoas em cada turma. Sempre havia corajosos que perguntavam se eu estava gostando de Osasco, e eu apenas mentia. Ao menos não precisei do mapa.


Uma menina sentou ao meu lado nas aulas de matemática e espanhol, e me acompanhou até a cantina na hora do lanche. Era baixinha, com cabelo ruivo e preso em marias-chiquinhas. Não consegui lembrar o nome dela, mas eu sorria e assentia enquanto ela tagarelava.


Sentamos em uma mesa cheia dos amigos dela, que ela me apresentou. Esqueci os nomes deles assim que ela os disse. Eles pareciam impressionados pela ruiva ter tido coragem de falar comigo. O menino que parecia gostar de xadrez, Zé Luís, acenou para mim do outro lado da cantina.


Foi ali, sentada na cantina, tentando conversar com estranhos, que eu os vi pela primeira vez.


Estavam sentados no canto da cantina, na mesa mais distante de todas. Eram cinco, e não estavam conversando e nem comiam, mas todos eles tinham em sua frente uma bandeja cheia. Eles não estavam me encarando, ao contrario de todos os outros alunos ali, por isso me senti segura ao olhá-los. Mas não foi nada disso que me chamou a atenção.


Eles não eram nada parecidos. Dos três meninos, um era grandalhão – musculoso com o cabelo escuro em um topete. O outro era mais alto, mais magro e ainda assim forte, e tinha o cabelo meio mel. O ultimo era alto, com um cabelo desalinhado preto. Era mais jovem que os outros.


As meninas eram o contrario. A alta era maravilhosa. Linda, do tipo que se ver nas capas das revistas, que fazia qualquer garota perto dela se sentir feia igual uma velha. O cabelo era louro, ondulado e caindo em cachos até o meio das costas. A menina baixa parecia uma fada, magra, o rosto delicadinho. O cabelo era preto e longo.


Apesar disso, eles eram de algum jeito parecidos. Eram todos brancos como neve, muito mais brancos do que eu, albina. Eles tinham os olhos muito escuros, apesar dos cabelos de cores diferentes. Também tinham olheiras – parecia que haviam passado noites em claro, ou que haviam acabado de levar uma bela surra.


Todos eles pareciam distantes – no mundo da lua, como minha mãe diria. Enquanto eu os olhava, a garota baixinha se levantou com a bandeja – o guaraná fechado, a maçã sem uma dentada – e andou com passos longos, rápidos, como se estivesse andando em uma passarela. Ela se afastou e eu observei ela largando a bandeja no lixo e rapidamente saindo da cantina.


Meus olhos voltaram para os que continuavam sentados.


- Quem são eles? – perguntei á ruiva, que ainda não lembrava o nome.


Ela olhava para ver de quem eu estava falando, e de repente ele olhou para ela, o rapaz mais jovem deles, de cabelo preto espetado. Ele olhou para a minha vizinha apenas por um segundo, e depois seus olhos escuros me encararam.


Ele desviou os olhos mais rápido que eu, e olhe que isso deve ter sido difícil.


A ruiva riu, encarando a mesa timidamente.


- São Cebola, Titi, Carmem e Quim Melo. A que saiu é Magali Melo. Todos moram com o Dr. Cebola Melo e a esposa. – ela disse isso em uma voz baixa, como se eles pudessem nos escutar apesar da distancia e barulheira da cantina.


Olhei de relance para a mesa dos Melo novamente, e eles estavam todos olhando para suas bandejas. Finalmente me lembrei que o nome da ruiva é Denise, um nome bastante comum.


- Eles são... Muito bonitos. – comentei.


- É. – concordou Denise, rindo. – Mas todos eles estão tipo juntos... Titi e Carmem, e Quim e Magali. E eles moram juntos.


- Eles não parecem parentes. – disse eu.

- Não são. O Dr. Cebola Melo é bem novo, e todos foram adotados. Carmem e Quim são irmãos gêmeos de verdade, mas são adotados também.


- Eles não são meio velhos para serem filhos adotivos, não?


- Agora são. Quim e Carmem tem 17 anos, mas estão com a Sra. Cebola Melo desde os 8. Ela é tia deles, alguma coisa assim.


- Isso é legal da parte deles, cuidarem de todas essas crianças.


- Acho que sim. – concordou Denise.


Em toda a conversa, eu continuava a lançar olhares para a mesa deles, mas eles nunca pareciam se mexer muito.


- Eles sempre moraram aqui em Osasco? – perguntei.


- Não. Eles se mudaram á uns dois anos, eram de Santa Catarina.


Senti pena deles, já que apesar de lindos, eles viam de fora e pelo visto não eram muito aceitos por aqui. Ao menos eu não era a única recém-chegada por aqui.


Enquanto eu os examinava, um dos Melo, se virou e encontrou meus olhos, e ele parecia bastante curioso.


- Quem é o garoto de cabelo preto espetado? – perguntei, espiando ele e percebendo que ele ainda estava me olhando.


- É o Cebola. El é lindo, mas não perca seu tempo com ele. Ele não namora, parece que nenhuma menina aqui é boa o suficiente para ele. – e ela fungou com dor-de-cotovelo.


Depois de alguns minutos, os quatro saíram da mesa, e o garoto chamado Cebola não olhou novamente para mim.


Eu fiquei sentada com Denise e os amigos dela por mais tempo que esperava. Estava ansiosa para não chegar atrasada nas aulas do meu primeiro dia. Uma das amigas de Denise, chamada Marina, tinha laboratório de biologia comigo no horário seguinte, e ela perguntou se eu queria que ela me levasse até a aula. Eu aceitei.


Quando entramos na sala, Marina foi se sentar ao lado de uma garota de cabelos loiros e escorridos. Na verdade, todos ali já tinham parceiros, menos eu e o tal do Cebola Melo, sentado sozinho na bancada.


Enquanto eu andava para me sentar ao lado dele, percebi que os seus olhos eram pretos mesmo. Tipo, muito pretos. Não olhei para ele quando pousei meus livros na mesa e sentei, mas pelo canto do olho vi sua postura mudar. Ele se afastou para o mais longe de mim, fazendo uma careta como se estivesse sentindo fedor. Cheirei meu cabelo curto e castanho, mas estava cheirando ao meu xampu. Decidi ignorar ele.


A aula era sobre uma coisa que eu já havia dado no Rio de Janeiro, mas mesmo assim fingi prestar atenção. Cebola não mudou sua posição nenhuma vez, as vezes jogando uns olhares maldosos para mim.

O sinal tocou e eu me assustei, quando olhei pro lado Cebola Melo estava fora da cadeira e em canto nenhum da sala. Eu fiquei com raiva, e, com medo de chorar, peguei meus livros de cabeça baixa e estava saindo da sala quando ouvi alguém fala comigo.


- Você não é Mônica de Sousa?


Olhei para cima e vi um garoto de cabelo loiro cacheado, sorrindo para mim tentando parecer simpático. Ele não parecia achar que eu cheirava mal.


- Moni. – corrigi rindo.


- Meu nome é Xaveco.


- Oi, Xaveco.


- Posso ir com você até a quadra de educação física?


- Tudo bem. – falei sorrindo.


Fomos para a aula juntos. Ele falava de mais. Tinha morado em Pernambuco até os 10 anos, então sabia como eu me sentia em relação ao sol. Era o garoto mais legal que tinha conhecido na escola.


Mas enquanto entravamos na quadra, ele perguntou:


- E aí? Qual o lance com o Cebola Melo? Nunca vi ele tão zangado.


Então eu não tinha sido a única á perceber. Aquele não era mesmo o comportamento normal de Cebola Melo. Eu decidi me fazer de burra.


- Era o meu parceiro de laboratório? – perguntei.


- Era – disse ele. –, e parecia estar sentindo dor.


- Nunca falei com ele.


- Ele é um cara estranho. – Xaveco demorou ao meu lado antes de ir se sentar com os seus amigos. – Se eu tivesse sorte e sentasse ao seu lado, conversaria com você.


Eu sorri para ele e fui me sentar no lado que só tinha meninas. O professor de educação física me deixou ficar apenas assistindo enquanto os outros jogavam vôlei, e quando o sinal tocou eu percebi que já podia voltar para casa – de ônibus. Caminhei para a secretaria, para devolver o mapa.


Assim que entrei na sala quente, quase me virei e voltei para fora.


Cebola Melo estava conversando com a secretaria loura e não pareceu ter me ouvido entrar. Fiquei encostada perto da porta, esperando que a mulher estivesse livre para que eu pudesse falar com ela.


Percebi do que eles estavam falando. Ele queria trocar a turma de laboratório por qualquer outra aula. Não acreditei que fosse por minha causa. Cebola Melo se virou para olhar para mim, os olhos cheios de ódio.


- Deixa pra lá – disse asperamente –, é impossível. Já vi que vou ter de agüentar.


E então saiu da sala como um raio, me deixando espantada. Fui até a mesa e entreguei o mapa, agradecendo.


- E como foi seu primeiro dia? – perguntou ela.


- Bom. – menti.


Saí do prédio da secretaria e, vestindo o casaco e apertando a mochila, fui até o ponto de ônibus por não querer esperar o meu pai vir me buscar. Estava frio e tive de lutar contra lagrimas durante todo o caminho.




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Notas finais do capítulo

espero q tenham gostado...comente pf



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