Ilusões de um Mundo de Morte:

O trio chega à casa de Câncer. Ela deveria estar vazia, mas há ali um poderoso cosmo, carregado com o cheiro da morte. Alguns passos adentro, e uma terrível imagem surge diante dos três que, um dia, já se viram de frente com o mesmo cenário. Boquiabertos, não acreditam em seus próprios olhos.

- Mas... É a encosta de Yomotsu Hira! A casa de Câncer se transformou na entrada para o Mundo dos Mortos?

- Impossível! Se avançarmos, chegaremos à encosta. – diz Shura.

- E cairemos no abismo da morte, de onde é impossível retornar. – sentencia Camus.

Era como se alguém lhes dissesse para voltar ao mundo dos mortos, mas Camus e Saga logo desconfiaram de que aquilo tudo seria uma ilusão, e mostrar a entrada para o mundo dos mortos àqueles que acabavam de retornar dele era um tanto quanto sarcástico. Mas quem seria capaz de produzir uma ilusão de tamanha magnitude, sem ao menos denunciar sua identidade?

Almas que vagavam perdidas entre os dois mundos brotam do chão, agarrando-se aos três, que se vêem em dificuldades, não para destruí-los, mas para se desvencilharem dos inacabáveis mortos vivos. Saga põe fim a tudo com uma "Explosão Galáctica", desaparecendo de vez com aquela ilusão. Vira-se depois para os companheiros.

- E os outros, ainda nos seguem?

- Sim. – responde Shura – Estão no nosso encalço.

- O cosmo de Aldebaran também desapareceu há pouco. – diz Camus – Um deles deve ter ficado para trás e o eliminado.

- Droga... É melhor eu acabar com eles aqui mesmo.

- Não. – rebate Saga – Isso seria ruim. Podemos fazê-lo a qualquer hora, mas agora temos que encontrar Atena o mais rápido possível.

Eles avançam, mas por um tempo indefinido, como no labirinto da casa de Gêmeos, correm como que em círculos sem encontrar saída enquanto, na entrada das doze casas, Shion parecia apreensivo com a demora dos três. O fogo da casa de Gêmeos estava se extinguindo, e o prazo tornava-se cada vez mais curto, para descontentamento do antigo Mestre do Santuário. Mas ele ainda se vê em colocação para sentenciar que, como na última Guerra Santa apenas ele e Dohko sobreviveram, nesta, nenhuma das 88 constelações teria Cavaleiro sobrevivente, a começar pelos dourados.

- Acho que você quer dizer 89, não é, Shion?

- Ah, sim... Um ano antes de minha morte, a constelação perdida voltou a brilhar nos céus. Cometi um erro, nenhuma das 89 constelações terá Cavaleiro sobrevivente.

Uma luz surge diante de seus olhos, fazendo-os pensar terem encontrado a saída da quarta casa. Correm em sua direção, mas o que vêem os deixa ainda mais boquiabertos. Um imenso Buda é o que encontram, e ele os segura na palma de sua mão como se, apesar de terem corrido por horas, para os Deuses é como se tivessem apenas corrido sobre a palma de suas mãos. Saga o identifica.

- Entendi... Só quem é capaz de fazer uma ilusão de tamanho poder, o homem mais próximo de Deus, Cavaleiro dourado de Virgem, Shaka!

Lança uma rajada de seu cosmo aos ares, atingindo a imagem e fazendo-a desaparecer. Mas logo após prometer que Shaka seria o próximo a morrer, as ilusões retornam. Era óbvio que Virgem queria prendê-los em Câncer até que o relógio se apagasse por completo, ganhando o tempo necessário. As mão dos mortos surgem do chão, uma visão tenebrosa a ponto de causar até mesmo um certo "tique" nos olhos de Shura. Para não cair na armadilha de Shaka, confrontando indefinidamente suas ilusões, como fizera antes em Gêmeos, Saga lança seu ataque na direção da casa de Virgem. O raio transpõe o céu sobre a casa de Leão e sobre os olhos surpreendidos e apreensivos de seu guardião, sem tempo para reagir. A sexta casa é transformada em ruínas, mas Saga já esperava que seu guardião não sucumbisse ao seu golpe. Uma parede protetora foi feita em volta de si, e Shaka não se mexeu um milímetro.

- Camus, Shura, Saga... Mesmo que tenham se tornado fantoches de Hades, não me esqueço que já fomos aliados, lutando por Atena. Por isso queria apenas mantê-los na casa de Câncer, mas parece que não tenho escolha a não ser eliminá-los.

Sentado na posição da lótus, une suas mão por um momento, entre as quais surge um forte brilho, que parece englobar o poder de toda uma galáxia. Seu cosmo o envolve na forma da flor sagrada, lótus, num tom rosado que, em botão logo se abre, liberando todo seu poder: "TESOURO DO CÉU!"

Ele atinge com toda a potência a casa de Câncer, fazendo com que os cosmos dos três espectros desaparecem num segundo. À frente da casa de Áries, Shion perde sua expressão confiante, e agora parece se encher de temor. "Se continuar assim, tudo terá sido em vão!"

- Eles devem ter voltado ao Mundo dos Mortos. Está preocupado, Shion? Com seus queridos companheiros?

Tomado de preocupação, vira-se ainda mais perturbado pelas palavras de Dohko, tomando o rumo das casas adiante. Mas seu antigo amigo o faz parar no meio do caminho, ainda teria de enfrentá-lo caso quisesse seguir.

- Dohko, você já foi meu amigo e companheiro de batalhas, pensei em adiar ao máximo este momento. Mas teria de matá-lo mais cedo ou mais tarde.

Eles tomam posição de combate, os dois mais experientes guerreiros dali entrariam em confronto e, provavelmente, começariam uma guerra dos mil dias. Então, a amizade de tantos anos teria de ser esquecida para sempre, naquele curto espaço de ínfimas horas?