Mellanie Dawson e o Reino de Salisbury escrita por Tadewi


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Depois de um pouquinho de enrolação tá aí o capitulo 2...



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Os raios do sol escaldante de junho entravam pela janela fazendo com que um calor quase insuportável tirasse totalmente a concentração dos alunos na sala quente. Todos tentavam prestar atenção no professor de química que escrevia a matéria da prova no quadro ao mesmo tempo em que a explicava, mas as férias iminentes faziam todos pensar sobre o que fariam quando saíssem dali…

         Mas havia uma garota que estava particularmente inquieta no fundo da sala. Tinha longos cabelos pretos, aos quais ela recentemente acrescentara algumas mechas brancas, e olhos de um azul intenso. Ela arrastou a cadeira para o lado, tentando fugir do sol que batia em suas costas e, inevitavelmente, um ruído fino ecoou nas paredes de pedra. O professor parou de falar e todos olharam para ela.

- Srta. Dawson, sabe que não gosto que me interrompam no meio da explicação!

         Alguns alunos riram. O professor deu um sorriso satisfeito quase imperceptível antes de se virar para o quadro e voltar a falar.

          Mellanie Dawson perfurava as costas do professor Collins com os olhos, desejando que aquele quadro desabasse sobre a cabeça grisalha dele. Não era justo! Ele só brigava com ela, como se a garota fosse a única que o estava atrapalhando. Nervosa, Mellanie rasgou uma folha do caderno sem se importar com o barulho, amassou-a e jogou pela janela. Não estava muito interessada em prestar atenção naquela aula, afinal Collins já havia dado aquela matéria e estava apenas revisando, Mellanie estudara tanto para a prova dele que sabia até o que ele ia dizer cada vez que abria a boca.

         Ela olhou para seu lado direito e seus olhos encontraram os castanhos de um garoto. Ele tirou os cabelos negros da testa e devolveu um olhar preocupado e assustado para Mellanie.

- Você enlouqueceu? –ele sussurrou –vai procurar encrenca com o Collins justo nas semanas de provas finais?
- Não precisa se preocupar –Mellanie respondeu no mesmo tom –eu sei como lhe dar com ele…
- Mas ele pode te dar uma nota baixa na prova só para se vingar!
- Relaxa, Mike! O Collins não pode fazer isso! E eu não procurei nenhuma encrenca com ele…

         O garoto chamado Michael Summerfield encolheu os ombros e voltou a atenção para o quadro negro. Mas Mellanie podia ver por sua testa enrugada que ele ainda estava um tanto preocupado. Muito exagero na opinião da garota…

         Mellanie não pôde evitar um leve sorriso. Mike, como costumava chamá-lo carinhosamente, era um amigo como ela nunca vira ou encontrara durante seus quinze anos. Quando a garota estava em uma situação difícil, como brigas na família ou passava por alguma humilhação no colégio, ele sempre estava lá para oferecer um abraço, um conselho ou simplesmente falar alguma besteira que a fazia rir. Mike também era cúmplice de tudo que Mellanie aprontava dentro e fora da escola, sem contar que tinha uma inteligência incrível.

- Ah, que tédio, não agüento mais ouvir o Collins repetir a mesma coisa pela terceira vez! Eu quero sair logo daqui!

         Mellanie e Mike olharam para a esquerda. Hellen Dickson, uma garota de cabelos castanhos e olhos verdes, cruzara os braços e tinha uma expressão de total ódio no rosto. Também era amiga de Mellanie, e tinha um gênio forte, quase incontrolável. Às vezes era difícil conviver com ela, principalmente quando estava de mal humor, como naquele momento.

- Calminha aí, Hellen –Mike sussurrou contendo uma risada –faltam dez minutos.
- Eu não suporto o Collins! Ele parece um gravador ambulante…
- Parece que serei forçado a pedir que os senhores se retirem da sala para que eu possa continuar minha aula…

         Os três amigos olharam para o professor parado de costas para o quadro. Os alunos olharam para eles outra vez e tinham sorrisos de deboche no rosto. Collins estava com aquele ar arrogante e superior que tanto irritava Mellanie.

- Srta. Dawson, a senhorita novamente me interrompeu. Aliás, é só o que sabe fazer desde o início do ano. Tenho que confessar que minha paciência chegou ao limite. Não posso mais tolerar suas interrupções. A senhorita, por gentileza, se retire da sala…
- Mas o senhor não pode fazer isso! –Mike protestou levantando-se sem perceber –Mellanie não estava fazendo nada…
- Por favor, Sr. Summerfield, não se intrometa…
- Tudo bem, eu saio –Mellanie disse pegando sua mochila e jogando nas costas –e, professor, foi a minha paciência que chegou ao limite. Obrigada por me fazer o grande favor de pedir para sair dessa aula chata!

         Ela empurrou a cadeira e saiu dando passos largos para fora da sala. Bateu a pesada porta de carvalho e se encostou à parede ao lado dela. Sabia que estava encrencada, Collins arranjaria um jeito de avisar aos seus pais. Mas Mellanie não conseguia se controlar! Aquele homem sempre conseguia culpá-la por algo, na maioria das vezes em falso. E ninguém parecia ver isso!

         Mellanie se assustou ao ouvir o rangido da porta, e não podia acreditar no que via: Hellen e Mike saíram da sala com as mochilas nas costas, ambos irritados. O garoto jogou a sua no chão e escorregou pela parede até se sentar na pedra fria. Hellen estranhamente desfez a expressão irritada e deu um sorriso triunfante.

- Vocês dois podem me explicar o que estão fazendo aqui? –Mellanie perguntou perplexa com as mãos na cintura.
- Nós ficamos indignados, ora! –Mike exclamou –Collins não foi justo com você, então Hellen e eu decidimos sair da sala dele em forma de protesto.
- Ah, tá bom, me diz se o Collins alguma vez foi justo comigo? Se vocês forem protestar dessa forma toda vez que ele for injusto serão expulsos do colégio antes das provas finais chegarem…
- Claro que ele não gostou nada –Hellen disse tirando da mochila três envelopes brancos com o endereço do colégio impresso –e mandou esse presentinho para nossos pais…

         Mellanie pegou o envelope sentindo uma pontada no estômago. Já sabia o que tinha ali dentro. Um comunicado oficial de Collins chamando os pais dela para uma conversa bastante desagradável sobre o comportamento da filha.

         Então outra pontada feriu Mellanie, dessa vez no peito. Era uma pontada dolorosa de culpa: Mike e Hellen iam ficar encrencados por causa daquela atitude idiota dela. Não foi muito inteligente a forma com que Mellanie agiu antes de sair da sala, mas seus amigos também não foram tão brilhantes na escolha da forma de protesto. Mas isso era culpa dela e, se soubesse se controlar, nada daquilo estaria acontecendo…

- Não é justo que vocês levem bronca dos seus pais por minha causa –Mellanie sussurrou envergonhada.
- Ah, qual é, Mell? –Mike disse se levantando –Hellen e eu também estávamos conversando, nós três temos culpa nisso…
- Não adianta ficarmos discutindo isso agora –Hellen exasperou-se –vamos embora. O sinal já vai tocar, e seremos atropelados se ficarmos aqui no meio do corredor…

         Mike apanhou sua mochila no chão e os três seguiram pelo longo corredor cheio de armários e portas. Eles pararam em seus armários para guardar alguns livros e a campainha que anunciava o fim da aula encheu o corredor. Seguiu-se estrondos de portas se abrindo e o barulho das conversas e risadas dos estudantes. Para Mellanie essa era a pior parte do dia. Ali ela estava exposta aos olhos maldosos das garotas ricas e orgulhosas que adoravam fazer piadinhas sobre ela todas as vezes que a viam.

- E aí bruxa? Quem você vai atacar dessa vez?

         Parecia que Mellanie estava adivinhando. Ela fechou os olhos, respirou fundo e se virou para a garota que a insultara.

Com certeza existiam muitas garotas arrogantes e preconceituosas naquele colégio, mas Kate Murray era a pior delas. Uma loira de olhos verdes, que sempre usava roupas mínimas, e tinha uma mente muito pequena e cheia de malícia. Sempre usava os garotos mais idiotas e cegos por sua beleza para conseguir o que queria. Vinha de uma família muito rica, e Mellanie ainda não conseguia entender porque Kate a humilhava desde o primeiro dia de aula.

         Kate se aproximou do armário de Mellanie e arrancou da porta um papel com o desenho de um pentagrama que Mike uma vez desenhara. Olhou para ele com frieza e jogou-o no rosto da garota com um ar superior.

- Sua bruxa! Você não devia estar aqui –Kate vociferou gélida –você é ridícula! Nem sabe se vestir como uma pessoa normal –ela olhou Mellanie de alto a baixo –o que você fez para te aceitarem no colégio? Enfeitiçou o diretor?

         Os alunos atrás de Kate soltaram risadas que soaram evidentemente falsas para Mellanie. Eram todos imbecis, riam de qualquer coisa que ela falasse, mesmo que não fizesse sentido algum. Aquela garota dominara as pessoas de uma forma inacreditável. Como podia existir tanta gente sem nenhum caráter ou personalidade?

- Não, Kate –Mellanie disse em voz alta e ouviu as risadas cessarem –ao contrário de você, eu não preciso forçar as pessoas a gostarem de mim. Eu não preciso mudar meu jeito a cada vez que quero alguma coisa. E não preciso usar o corpo para conquistar um garoto…

         O silêncio pesou sobre todos. Ninguém sabia o que fazer ou dizer. Até mesmo Kate, que sempre parecia ter uma resposta na ponta da língua, ficara sem ação, e só conseguia encarar Mellanie com a boca entreaberta. Mas, para infelicidade da garota, Kate logo se recompôs e assumiu seu ar arrogante de volta.

- Olha, eu não sei como as pessoas conseguem chegar perto de você –ela lançou um olhar gélido para Mike e Hellen e seu sorriso debochado se alargou –mas, pensando melhor, seus amigos conseguem ser piores que você. Eles também fazem bruxarias?

         Mellanie sentiu seu sangue borbulhar e subir até sua cabeça como água em ebulição. Não suportava ouvir Kate falar de seus amigos daquela forma. E detestava quando ela debochava do gosto dos três por feitiços e magia.

         Mas Mellanie sabia que Kate tinha medo dela. Achava que ela era uma bruxa do mal, que sempre fazia algo para atrapalhar a vida alheia. E Mellanie muitas vezes se aproveitava disso. Era o que faria agora. Aproximou-se da loira com um olhar penetrante e assustador e sussurrou diabolicamente:

- É claro. Por que você acha que sua mente é tão vazia? Ou porque acha que perdeu seu namorado da semana passada? Ah, e tome cuidado, seu cabelo pode começar a cair sem motivo…

         Kate arregalou os olhos aterrorizada e levou a mão à cabeça, apalpando-a desesperada. Depois olhou furiosa para Mellanie, que a essa altura tinha um sorriso triunfante nos lábios.

- Sua bruxa! Se eu ficar sem meus cabelos mando o diretor te expulsar do colégio e processo você!
- Por que é que você não vai embora e leva sua turminha daqui? –Mellanie cruzou os braços –ou quer que eu tire mais alguma coisa de você?
- Isso não vai ficar assim –Kate ameaçou em voz baixa, apontando o dedo para ela –você vai se arrepender disso…

         A loira jogou os cabelos para trás e saiu de cabeça erguida. Seus seguidores fiéis a seguiram, todos olhando com desprezo para Mellanie. Ela suspirou exasperada e passou a mão nos cabelos.

- Você não vai fazer nada do que disse, vai? –Mike perguntou preocupado.
- Não vou perder meu tempo. E, mesmo que eu tentasse, não daria certo…
- Ah, corta essa, Mellanie! –Hellen disse parando ao lado de Mike –você sabe que todos aqueles feitiços que fez deram certo. Lembra quando você queria que o Collins ficasse doente? No outro dia apareceu um professor substituto dizendo que ele não daria aula porque havia pegado uma gripe muito forte. Isso é não dar certo?

         Mellanie olhou Hellen como se dissesse que aquele assunto havia acabado e começou a andar pelo corredor, que já estava deserto. Logo os três saíram para os gramados ensolarados do colégio. Como de costume, os alunos se sentaram à sombra das árvores e conversavam enquanto esperavam seus pais ou simplesmente não queriam voltar para casa.

- Então, Mell, topa tomar um sorvete? –Mike perguntou passando o braço pelos ombros dela carinhosamente.
- Não –ela sorriu –tenho que ir para casa e enfrentar meus pais. Vou entregar esse comunicado para eles. Além do mais, preciso estudar muito para a prova do meu querido professor…
- Tem razão –o garoto respondeu –então fica pra próxima!
- Por que você não vai com a Hellen? –Mellanie sugeriu animada –ela vai adorar, não é, Hellen?
- O quê? –a outra exclamou surpresa –eu… ah… claro!
- Tudo bem, então –Mike parecia meio perdido –vamos?
- Tá…

         Hellen passou por Mellanie e lançou-lhe um olhar de indignação. Ela apenas acenou com um sorriso enorme e, enquanto os dois seguiam pela rua, Mellanie tomou o caminho oposto e caminhou até sua casa.

         Ela soube, desde a primeira vez que Mike e Hellen se viram, que eles foram feitos um para o outro. Eles brigavam bastante, às vezes, porque Hellen reclamava que Mike era um pouco infantil, mas Mellanie sabia que a amiga só dizia aquilo por medo de assumir seu verdadeiro sentimento pelo garoto.

         Mike, no entanto, já havia confessado a Mell que sentia algo mais por Hellen. Mas como era muito orgulhoso, ele não queria procurar a garota para se declarar, e sofria calado por tê-la como simples amiga. Porém Mellanie sabia que, cedo ou tarde, eles acabariam se acertando.

         Mas, naquele momento, quem precisava acertar as coisas era a própria Mellanie. Já podia visualizar mentalmente a reação de seus pais quando recebessem aquele comunicado do professor Collins. Ela ia ouvir a mesma coisa que ouvia há muito tempo: que não dava valor ao que tinha, que precisava controlar seu gênio, e estudar mais.

         Então se seguiria o pior: seus pais começariam a brigar e o clima pesado que constantemente se instalava entre eles cairia pesado outra vez. As brigas entre Elizabeth e Nicholas eram praticamente diárias devido ao estresse dos dois provocado pelo trabalho intenso. Isso fazia com que Mellanie desejasse estar em qualquer lugar, menos em casa…

         Ela parou em frente à cerca baixa de madeira branca que cercava sua casa, e respirou fundo. Empurrou a portinhola e fez um caminho que parecia interminável entre os canteiros de flores até a porta de entrada.

         Quando subiu o ultimo degrau da varanda, Mellanie pôs a mão na maçaneta, mas os gritos de sua mãe feriram seus ouvidos, abafados pela porta. “Hoje começou mais cedo” a garota pensou antes de respirar fundo e entrar.

- Eu não agüento mais! –Elizabeth esbravejava –até quando você vai agir assim, Nicholas? Nós somos sua família, e você simplesmente parece que se esqueceu disso! Passa horas trancado naquele escritório, nem se importa com a Mell, o que ela faz ou deixa de fazer no colégio…
- Eu é que tenho que dizer que não suporto mais toda sua cobrança, Elizabeth! –Nicholas gritou –se eu trabalho dia e noite é para dar uma vida melhor para você e para Mellanie!

         Mellanie bateu o pé no chão, frustrada, um nó se formou em sua garganta e seus olhos arderam. A conhecida sensação da necessidade de chorar se apossou dela. Sem pensar ela correu escada acima, entrou em seu quarto e bateu a porta. Jogou a mochila no chão com um baque surdo e se deixou cair na cama.

         Não impediu as lágrimas de virem. Era como se aquele nó em sua garganta fosse explodir. Tapou os ouvidos com as mãos e caiu em um choro compulsivo, soluçando alto.

         Por que tudo aquilo tinha que acontecer na vida dela? Sua mãe exigia todos os dias mais atenção de seu pai com a família. De acordo com ela, o descaso de Nicholas era o principal motivo da “rebeldia” de Mellanie. Provavelmente ela diria isso outra vez quando visse a surpresa que a filha tinha…

         Talvez fosse melhor não mostrar o comunicado. Mas Mellanie não gostava de fugir de seus problemas. Só quando não tinham solução…

         Ela enxugou o rosto e apurou os ouvidos: seus pais não estavam mais brigando. Levantou-se e pegou o envelope na mochila. Desceu até a sala e viu seu pai sentado no sofá lendo um jornal, mas um tanto desconcentrado. Sua mãe voltara para a cozinha e Mellanie temeu que ela quebrasse os pratos, tamanha a força com que aparentemente jogava-os na mesa.

- Pai –Mellanie chamou-o hesitante –ah… o professor Collins pediu para lhe entregar isso… acho que ele precisa conversar com o senhor e a mamãe…

         Nicholas olhou a filha de um jeito que ela não gostava. Arrancou o envelope da mão dela com raiva e jogou-o de lado no sofá.

- Sabe, Mellanie, eu já estou tão acostumado com isso, que nem preciso mais ler –ele passou a mão no rosto e suspirou –por quê? O que acontece com você, minha filha? Será que eu nunca te ensinei nada? De onde vem essa raiva incontrolável?
- Olha, pai, eu não sei! –Mellanie disse sentando-se –eu sou assim! E eu não vou mudar meu jeito só porque tem um professor encrenqueiro pegando no meu pé!
- Mas você tem que mudar se quiser continuar estudando naquele colégio! –Nicholas gritou novamente, o rosto vermelho –estou avisando, Mellanie, minha paciência está se esgotando. Se você continuar se descontrolando desse jeito, juro que mudo você daquela escola! Nossa situação financeira está difícil e aquele colégio é um dos mais caros de Londres. Eu não vou gastar tanto dinheiro assim para ficar ouvindo reclamações de professores a seu respeito!
- Mas pai…
- Eu não quero saber de desculpas! Ou você muda seu jeito, ou eu vou tomar minhas providências!

         Mellanie lançou um olhar de mágoa e raiva para o pai. Levantou-se e saiu a passadas largas até a porta, batendo-a ao sair para o ar frio do entardecer de Londres.

         A garota corria sem rumo. Não tinha mais vontade de chorar, suas lágrimas pareciam ter secado. Seus pés pareciam saber para onde ela queria ir. O único lugar onde Mellanie se sentia protegida de certa forma, onde não era incomodada por ninguém.

         Ela chegou a um parque arborizado, bem longe da rua de sua casa. Era como uma grande praça circular, cercada de árvores altas que projetavam sombras longas no chão. Alguns brinquedos foram montados ali, como um balanço, escorrega, gangorra. Mas aquele lugar fora esquecido, tudo estava enferrujado e quebrado. A grama batia nos joelhos de Mellanie, e ela não se importou de deixar-se cair no meio dela, paralisada mentalmente, sem conseguir chorar ou levantar.

         Então toda sua frustração subiu por sua garganta. Tudo o que Mellanie conseguiu fazer foi deixar escapar um grito alto, agudo e doloroso, deixando expressar toda angústia que sentia. E, sem aviso, o choro compulsivo voltou, e ela se entregou àquele momento de limpeza da alma.

         Queria ter outra vida, longe de tudo aquilo. Queria saber voar ou simplesmente fazer uma poção que a fizesse sumir para sempre. Seu futuro era um túnel escuro, ela não conseguia ver o que a esperava à sua frente, nem sabia se queria chegar até seu fim. Tinha medo do que ia encontrar lá…

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